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CONTEMPORANEIDADE
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Acadêmica do Curso de Psicologia. Centro Universitário Barriga Verde –
UNIBAVE. daniela.danipizoni@gmail.com
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Acadêmica do Curso de Psicologia. Centro Universitário Barriga Verde –
UNIBAVE. camilofernanda7@gmail.com
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Professora do Curso de Psicologia. Centro Universitário Barriga Verde –
UNIBAVE. mariafernandapsistemica@gmail.com
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Professora do Curso de Psicologia. Centro Universitário Barriga Verde –
UNIBAVE. alexandra.sombrio@gmail.com
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Núcleo de Estudos Aplicados à Saúde (NEAS). Centro Universitário Barriga
Verde - UNIBAVE. neas@unibave.net
Introdução
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bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e
enfermidades". É isso que buscamos atualmente, saúde e qualidade de vida
O envelhecimento pode ser divido em biológico e psíquico. Segundo Fontaine
(2000) esses aspectos podem ter idades diferentes, assim as separou em idade
biológica, as alterações no organismo, modificação no funcionamento de
determinados órgãos e diminuição de alguns sentidos. Idade social, referente aos
hábitos da pessoa, suas relações. E a idade psicológica, que diz respeito ao
comportamento, motivação e as respostas as mudanças ambientais. Apesar de essa
divisão ser real, podemos dizer que há uma inter-relação entre elas.
Quando esses aspectos são danificados, ocorrem fortes interdições na vida
dessa pessoa, principalmente pela condição de fragilidade que foi imposta
socialmente. Ainda há certos preconceitos que rodeiam a pessoa na terceira idade.
A sexualidade é um exemplo. Erroneamente é vista como algo deslocado, o que
acaba prejudicando a continuação das práticas sexuais. Conforme ressaltam
Gradim, Souza e Lobo (2007), envelhecer não está atrelado a enfraquecer, ficar
triste, ou ser assexuado. Porém algumas atitudes sociais, principalmente
relacionadas à sexualidade são carregadas de discriminação.
A fuga do assunto, o conformismo com as atribuições preconceituosas fazem
da sexualidade e o envelhecimento parecerem antônimos. Para Hogan (1985) a
atividade sexual deve ser mantida em todas as fases da vida, pois a sexualidade é
uma dimensão do desenvolvimento humano de grande importância.
O Ministério da Saúde (2013) em seu Caderno da Atenção Básica, que trata
da saúde sexual e reprodutiva, reforça que a Legislação Internacional e Nacional já
apresentam conceitos que defendem e garantem a vivência da sexualidade como
direito e cidadania. Afirma “[...] que a sexualidade é uma importante dimensão da
vida, abrangendo aspectos biológicos, psíquicos, sociais, culturais e históricos. Não
se restringe à meta reprodutiva, sendo constitutiva das relações amorosas e do laço
afetivo entre as pessoas”. O mesmo documento traz as principais conquistas em
alcançadas nas últimas duas décadas. Dentre os direitos sexuais estão o direito de
vivenciar livremente a sexualidade sem vergonha, medo ou sentimento de culpa; de
escolher o parceiro sexual; de expressar a orientação sexual; de ter relação sexual
independente do objetivo reprodutivo ou das condições físicas, idade ou estado civil,
dentre outros.
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Fernandes (2009) também explica que falar de sexualidade vai além das
questões meramente biológicas e fisiológicas que objetivam o sexo. A sexualidade
envolve múltiplas questões: cultura, sociedade, subjetividade de cada indivíduo,
suas questões psicológicas e espirituais. Bozon (2004) esclarece que a vida sexual
deixou de estar relacionada somente à fertilidade e a procriação. É uma esfera do
comportamento humano que está ligada às relações sociais, à concepção que se
tem do corpo, à feminilidade e à masculinidade, às questões históricas que marcam
uma sociedade e da experiência ao longo da vida de cada pessoa.
Por ser expressão de uma vida saudável, vivenciar a sexualidade na terceira
idade é de grande importância. Como lembra Fernandes (2009) é a cultura
enraizada na sociedade que trata o idoso como alguém assexuado. No entanto, a
realidade é outra e estes tabus precisam ser superados. A idade traz mudanças na
maneira como ela é vivenciada, mas é essencial que continue sendo uma expressão
de saúde na vida de um indivíduo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).
Simões (2016) destaca que, segundo as projeções do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE, o número de pessoas com 60 anos ou mais crescerá
mais de 200% até 2050. Por isso torna-se urgente a preocupação com a qualidade
de vida desta população. E a sexualidade está diretamente ligada à saúde mental e
física de um indivíduo. Portanto, estudar estas questões, a fim de diminuir
preconceitos e estimular uma relação saudável com o próprio corpo e nos
relacionamentos afetivos, é de grande importância.
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até dificuldades em aceitar as mudanças funcionais que estão acontecendo em si
mesmo.
Freitas (2002) define a idade psicológica com a relação que existe entre a
idade e as capacidades exercidas, tais como percepção, atenção, afetividade,
aprendizagem, memória e até sua conduta social.
O envelhecimento ainda é erroneamente tratado como sinônimo de
incapacidade, decadência, perdas biológicas e sociais (GROISMAN, 2002).
Obviamente não podemos descartar que surgem certas vulnerabilidades orgânicas,
mas seria uma definição equivocada associá-la integralmente a isso.
No século XX, Neto (1997) diz que o envelhecimento passa a ser estudado de
forma ampla, não apenas limitando-se aos aspectos biológicos, mas também nos
sociais e psicológicos. Porque, existe uma intensa ligação desses fatores, as
transformações físicas e psicológicas irão refletir no comportamento de forma geral.
A sexualidade deve ser compreendida como parte do indivíduo, na sua
individualidade, sem importar em qual fase da vida está. A sexualidade não diz
respeito somente ao sexo, mas sim uma fusão de sentimentos, como afeto, respeito,
desejo, autoestima e prazer (HOGAN, 1985). É de grande importância manter essas
relações na terceira idade, pois todos os sentimentos envolvidos promovem bem
estar e saúde.
As alterações hormonais e emocionais irão interferir diretamente na vida
sexual, os principais causados dessas mudanças são a menopausa e andropausa,
que dificultam as práticas sexuais. Apesar da andropausa não marcar o fim da
fertilidade masculina, assim como faz menopausa nas mulheres, ela diminui os
níveis de testosterona, e a velocidade da ereção. Mas isso não são barreiras para
manter uma vida sexual ativa.
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jovens, e isso acaba representando uma consequente inibição ao tratar o assunto
atualmente. No entanto, o interesse continua existindo, com particularidades em
cada gênero e cultura.
As condições físicas e hormonais também caracterizam a vivência da
sexualidade na terceira idade. Santana, Chagas e Miranda (2014) relatam algumas
destas mudanças. Os homens não têm ereções espontâneas tão rápida e facilmente
e a mesma rigidez que possuíam na juventude. O tempo necessário para ejacular
também diminui. Já as mulheres podem sentir diferenças relacionadas à diminuição
dos níveis de estrogênio, como irritabilidade, secura vaginal, menor libido, fogachos,
entre outros, que variam individualmente (TRENCH; ROSA, 2008).
No entanto, vale ressaltar que a menopausa não é uma patologia, como
pensa o senso comum. Pode ser vivida de forma saudável, sem influenciar
diretamente na vivência da sexualidade. Do mesmo modo que a frequência das
relações sexuais pode diminuir e a sexualidade ser expressa por contatos físicos
diversos, que demonstrem carinho e afeto, e não somente o ato sexual em si
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).
Do mesmo modo, homens com dificuldades de ereção podem receber
tratamentos adequados a sua situação e ter uma vida sexual ativa. Importante
lembrar que essa disfunção pode ser causada por tabagismo, alcoolismo, uso de
antidepressivos, benzodiazepínicos, opioides ou doenças crônicas como
aterosclerose e insuficiência vascular (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).
Outro ponto importante sobre a sexualidade da pessoa idosa refere-se às
doenças sexualmente transmissíveis (DST’s). Como a preocupação com
anticoncepção não é mais primordial, as práticas sexuais sem proteção são comuns.
Muitas vezes as campanhas de prevenção e conscientização sobre essas doenças
não atingem esse público, por uma desconsideração de que idosos tem vida sexual
ativa (SANTANA; CHAGAS; MIRANDA, 2014).
Segundo dados do Ministério da Saúde (2013) a AIDS acomete cerca de
2,1% da população idosa e a relação sexual desprotegida é a principal forma de
contágio. Outras DST’s também são percebidas como sífilis e gonorreia. No entanto
o Ministério (2013, p.73) afirma “Não é a atividade sexual que torna as pessoas
vulneráveis às DST e ao HIV/Aids, mas as relações sexuais que são realizadas de
forma desprotegida, e este é um pressuposto válido para todas as idades”.
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Sobre a questão de gênero na vivência da sexualidade, Rozendo e Alves
(2015) concluíram a partir de estudo realizado com pessoas idosas, que os homens
são mais adeptos das práticas sexuais fora de um relacionamento fixo do que as
mulheres. Elas ainda pensam o assunto com um único companheiro, e se dizem
mais satisfeitas com a avida sexual atual do que na juventude. Outra diferença
apontada por Fernandes (2009) é que homens idosos não tem nenhum problema
em relacionar-se com mulheres jovens, como forma de afirmar sua virilidade. No
entanto, para as mulheres idosas, ter um parceiro mais jovem possui forte conotação
negativa na sociedade. Isso demonstra que a desigualdade de gênero permanece
nesta etapa da vida no que concerne à sexualidade.
A vida sexual na terceira idade possui singularidades, como em qualquer
etapa da vida. Vantagens e desafios vividos pelos indivíduos em suas relações. O
importante é ressaltar que esta vida sexual existe e como apontam Vasconcellos et
al (2004, p.414) “ [...] haja uma evolução social e cultural e uma mudança das
mentalidades capaz de integrar a sexualidade das pessoas idosas harmoniosamente
em tais avanços”.
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A sexualidade, o envelhecimento e a qualidade de vida, são aspectos
socialmente desenvolvidos, e devem-se desmitificar muitas das questões
envolvidas. Segundo Bernardino (2011), é preciso enfatizar a sexualidade, pois
assim estaria dando visibilidade ao idoso, e conduzi-lo ao lugar de sujeito desejante.
Para obtenção desses resultados, é preciso um novo olhar para as questões sociais,
pois abrange um sistema de valores, ideias, práticas e crenças.
Para a OMS, qualidade de vida é “a percepção do indivíduo de sua posição
na vida, no contexto da cultura e sistema de valores em que vive, e em relação as
suas metas, expectativas, padrões e conceitos” (WHO/QOL, 2005). O termo pode
ser relacionado a vários significados, de acordo com a cultura e época que se vive.
Mas compreende-se que QV engloba o bem-estar econômico, físico, mental e social.
Paschoal (2005) ressalta que é um conceito tão variado, que muda até entre os
próprios indivíduos, é um construto determinado a partir de suas particularidades.
As mudanças das funções biológicas e da plasticidade em pessoas idosas é
um entendimento de todos. A busca por meios de envelhecer com qualidade de vida
tornou-se uma preocupação de diversas pesquisas científicas.
O grande avanço dessas pesquisas sobre sexualidade foi realizado por
Masters e Johnson em 1988, considerados pioneiros nos estudos fisiológicos das
respostas sexuais, já acreditavam que para uma compreensão profunda sobre o
assunto era necessário observar além do biológico, e considerar os dados
psicológicos e sociais.
A associação de sexualidade e qualidade de vida é algo comprovado, manter
uma vida sexual ativa proporciona bem-estar físico e mental, pesquisas apontam os
benefícios para o sistema cardiovascular, além de contribuir para a autoestima e
fortalecer relações.
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Papalia e Feldmann (2006) apontam que os estereótipos de que os idosos
são pessoas exaustas, doentes, sem coordenação motora, isolados socialmente,
mal-humorados e com manias estranhas acabam determinando esses preconceitos.
As mudanças físicas que chegam com a terceira idade acabam exigindo
uma nova adaptação do indivíduo, um aprendizado de como lidar com seu próprio
corpo. Estas exigências acabam por vezes representando dificuldades para manter
o padrão sexual que é exigido pela sociedade, relacionado à virilidade e à busca
constante do prazer (VASCONCELLOS et al., 2004).
Santana, Chagas e Miranda (2014) relembram que até pouco tempo, falar
sobre sexualidade era um grande tabu em qualquer idade. O assunto era tratado
como algo moralmente reprovável. Desta maneira é possível compreender que para
as pessoas que viveram em uma época de tanta repressão seja difícil manifestar a
vivência da sexualidade como algo saudável.
Risman (2004, p.15) aponta que “a fase do idoso, entretanto, continua, de
certa forma, a ser percebida como um período de “não sentir”, do “não desejo”, do
“não querer”, entre outros rótulos que a sociedade costuma enfatizar”. O autor ainda
descreve uma cultura secular, ligada à religiosidade, que trata da sexualidade do
idoso como pecaminosa e vergonhosa. Daí viriam os preconceitos atuais.
Vasconcellos e colaborados (2004) abordam ainda algumas questões que
podem estar ligadas à redução ou a não vivência da sexualidade na terceira idade,
como por exemplo a saúde física, a baixa autoestima em relação ao próprio corpo e
à manifestação da sensualidade, o conhecimento sobre as novas condições físicas,
a falta de um parceiro disponível e os preconceitos sociais.
Fernandes (2009, p.420) ainda aponta que as experiências individuais ao
longo da vida determinam também a vivência sexual na terceira idade. Desta forma
“Se, ao longo da vida, sentiu vergonha de exercer a criatividade e a espontaneidade
no âmbito sexual, a tendência é aumentar a inibição, temer fracassar (no caso
masculino) ou não agradar (no feminino)”.
Sendo assim, os tabus envolvendo a sexualidade da pessoa idosa acabam
reforçando a dificuldade dos indivíduos, mesmo que saudáveis, vivenciarem esta
dimensão de suas vidas. Papalia e Feldmann (2006, p.680) reforçam: “a expressão
sexual pode ser mais satisfatória para pessoas de mais idade se tanto jovens quanto
velhos a reconhecerem como normal e saudável”.
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Procedimentos Metodológicos
O presente artigo foi desenvolvido por meio de dados bibliográficos,
pesquisados nos bancos de dados como o Scielo, em revistas científicas,
monografias, teses e livros, sem a utilização de algum critério específico na seleção
dos mesmos. Fonseca (2002, p. 32) destaca que “A pesquisa bibliográfica é feita a
partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios
escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web, sites. ”.
A pesquisa bibliográfica é o ponto de partida, através dela explana-se o
conhecimento sobre o assunto determinado. Para a realização da pesquisa foram
selecionados textos que coincidissem com os objetivos e o problema estabelecidos
inicialmente. Nem todos abordavam a questão da sexualidade propriamente dita, por
meio de uma fusão das pesquisas encontradas obtiveram-se os resultados
esperados.
Considerações Finais
Atualmente ainda há preconceitos e uma alienação social para determinados
assuntos, como a vida sexual da pessoa idosa. Como citado por alguns autores,
muitas pessoas as condicionam como seres assexuados. O que é claramente
errôneo. As necessidades sexuais permanecem com os seres humanos até o fim da
vida, acredita-se que com o passar dos anos as relações sexuais tornam-se mais
maduras, envolvendo muito mais os fatores emocionais.
A sexualidade envolve variados fatores que contribuem de forma significativa
para a vida das pessoas, melhora a autoestima, a saúde física, mental, e até a
aceitação com as mudanças ocasionadas pela idade. Os objetivos estabelecidos
buscavam saber quais eram os desafios encontrados para conciliar a vida sexual
ativa durante o processo de envelhecimento. Pode-se notar como o assunto é amplo
e logo ganha vários direcionamentos, mas abrangendo o foco principal do artigo,
foram listados algumas dificuldades, uma das mais citadas, foi o preconceito e a
negação das práticas sexuais na terceira idade.
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Com as descobertas da tecnologia já foram desenvolvidos métodos de
reposição hormonal e tratamentos para casos de disfunções eréteis, e também para
amenizar os sintomas da menopausa. A busca por esses tratamentos tem crescido
nos últimos anos, o que pode surtir um efeito positivo na saúde dessas pessoas, já
que a sexualidade caminha junto à qualidade de vida.
Referências
BALLONE, G.J. Sexo nos idosos. Psiq Web Psiquiatria geral, 2002.
PASCHOAL. S.M.P. Qualidade de vida Em W. Jacob Filho, & G.R.J. Amaral. (eds).
Avaliação global do idoso. São Paulo: Atheneu. 2005.
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