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Encontro AVALIAÇÃO DA INTERVENÇÃO DE ATIVIDADES

Revista de Psicologia
LÚDICAS EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS
Vol. 16, Nº. 24, Ano 2013

RESUMO

Juliana Francisca Cecato O envelhecimento populacional e o surgimento cada vez maior de


Faculdade de Medicina de Jundiai - FMJ instituições de longa permanência fazem com que medidas eficazes tanto em
cecatojuliana@hotmail.com políticas públicas quanto em saúde sejam direcionadas para tal população.
Um corpo frágil e debilitado pela senilidade, uma mente associada a
enfermidades psíquicas e em alguns casos degenerativas, compõem um
José Eduardo Martinelli cenário de muitos idosos estagnados em instituições, desprovidos de
Faculdade de Medicina de Jundiai - FMJ cuidados familiares, de convívio social, de uma exclusão que lhes é imposta
julicecato@yahoo.com.br por diversos fatores. O adaptar-se a uma rotina diferenciada e a um local que
não lhes é familiar, acarretam inúmeras dificuldades, sintomas como,
depressão, desesperança e consequentemente, perda da qualidade de vida,
José Maria Montiel fazem com que a institucionalização do idoso torne-se sinônimo de doença e
Centro Universitário FIEO - UniFIEO desamparo, onde o envelhecer não é somente uma consequência biológica,
montieljm@hotmail.com mas está necessariamente associada a enfermidades. O presente estudo
pretende demonstrar por meio de uma revisão teórica a relevância das
atividades lúdicas para a qualidade de vida de idosos institucionalizados,
Daniel Bartholomeu onde o despertar da criatividade e da espontaneidade, qualidades estas
Centro Universitário Salesiano de São dispersas no processo de institucionalização, ao serem resgatadas podem
Paulo - UNISAL Americana beneficiar a saúde física e mental, promover a criação de novos vínculos ou
d_bartholomeu@yahoo.com.br estabelecer outros, tornando a convivência prazerosa e significativa para
aqueles que lá residem.
Vandercy Soares de Lacerda
Palavras-Chave: avaliação psicológica; idosos; instituição de longa
Anhanguera Educacional permanência.
projeto_neuropsicologia@yahoo.com.br

Melissa Picchi Zambon


ABSTRACT
Universidade Federal de São Carlos -
UFSCar The aging population and the increasing emergence of long-stay institutions
luanasilvaluz@gmail.com make effective both in public and health policies are directed to this
population. A frail and weakened by senility, a mind associated with mental
illness and in some cases degenerative form a backdrop for many elderly
Janaina S. G. Fernandes stuck in institutions, deprived of family care, for social interaction, an
Centro Universitário FIEO - UniFIEO exclusion that is imposed upon them by several factors. The adapt to a
janainagoncalves80@yahoo.com.br different routine and a location that is familiar to them, cause numerous
difficulties, symptoms such as depression, hopelessness and consequently
loss of quality of life, make the institutionalization of the elderly become
synonymous with disease and helplessness, where the aging is not only a
biological consequence, but not necessarily associated with disease. This
research intends to demonstrate through a theoretical review the relevance
of play activities for the quality of life of institutionalized elderly, where the
Anhanguera Educacional Ltda.
awakening of creativity and spontaneity, qualities they dispersed in the
Correspondência/Contato process of institutionalization, when redeemed may benefit physical health
Alameda Maria Tereza, 4266
Valinhos, São Paulo and mental health, promote the creation of new bonds or establish other,
CEP 13.278-181 making life more enjoyable and meaningful for those who live there
rc.ipade@anhanguera.com
Coordenação Keywords: assessment psychology; elderly; long term institution.
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Artigo Original
Recebido em: 30/04/2013
Avaliado em: 25/07/2013
Publicação: 02 de dezembro de 2013 121
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1. INTRODUÇÃO

Segundo Bee (1997) o percentual da população acima de 65 anos tem aumentado


rapidamente nas últimas décadas, e continuará a aumentar no próximo século. Pessoas
consideradas idosas no Brasil, contam em média 18 milhões, atualmente o percentual é de
10,2% de idosos na população. A estimativa é que em 2020 cerca de 50% da população
brasileira será de idosos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, essa etapa da vida
começa oficialmente aos 65 anos ainda que alguns se sintam bem jovens nessa idade e
outros comecem a sentir certos desgastes bem antes (MATTOS, 2009). A saúde é o fator
isolado que determina a trajetória do estado mental ou físico de uma pessoa após os 65
anos. As pessoas com mais de 65 anos que tem algum tipo de doença crônica, apresentam
um declínio mais rápido do que as pessoas que começam a apresentar sintomas na fase
final da vida. O declínio é parte da manifestação dos próprios caminhos da enfermidade.
Os hábitos de saúde que são importantíssimos na fase adulta para manutenção e bem
estar antes dos 65 anos de idade, são indispensáveis e trazem efeitos diretos na
longevidade dos idosos acima dessa faixa etária (BEE, 1997). Para Bee (1997) e Olds e
Papalia (2000), um fator importante no impacto econômico de uma população em
envelhecimento é a sua proporção que é saudável e fisicamente capaz, embora se queira
viver muito, ser “velho” traz conotações de fragilidade física, mentalidade estreita,
incompetência e perda de atratividade. Para as autoras, muitos problemas que
costumavam ser considerados parte da idade avançada, são atualmente atribuídos não ao
envelhecimento propriamente dito, mas a fatores de estilo de vida ou a doenças que
podem acompanhar ou não o envelhecimento.

As transformações propícias ao processo de envelhecer são geradoras de novos


riscos tanto para a sociedade como para os indivíduos, entre eles podemos destacar, como
ressalta Quaresma (2006), os riscos sociais, provocados pelas mudanças na forma de
convivência e sociabilidade que levam a isolamento e solidão; os riscos ambientais,
originados pela falta de acessibilidade da população idosa à vida urbana; e entre outros,
os riscos de saúde, devido às doenças crônicas que podem levar a dependência. Neri
(2001) assinala que uma boa qualidade de vida na velhice não é um atributo do indivíduo
biológico, psicológico ou social, nem uma responsabilidade individual, mas sim, um
produto da interação entre pessoas em mudança, vivendo numa sociedade em mudança.
A terceira idade é um período normal do ciclo de vida, com seus próprios desafios e
oportunidades de crescimento, e embora algumas habilidades possam diminuir, as
pessoas física e intelectualmente ativas podem manter-se muito bem na maioria dos
aspectos e até mesmo melhorar sua competência (OLDS; PAPALIA, 2000).

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Segundo Andrade (2004), a alimentação adequada, a prática de exercícios físicos,


a exposição moderada ao sol, a estimulação mental, o controle do estresse, o apoio
psicológico, a atitude positiva perante a vida e o envelhecimento são alguns fatores que
podem retardar ou minimizar os efeitos da passagem do tempo. Também relevante no
processo de envelhecimento são as mudanças ocorridas nos aspectos, psicológico e social
que envolve tal população, como a dificuldade de se adaptar a novos papéis, a dificuldade
de se adaptar a mudanças rápidas, a falta de motivação, a dificuldade de planejar o
futuro, as alterações psíquicas, baixas autoimagem e autoestima, a não aceitação da atual
realidade, aposentadoria, perdas diversas e a diminuição dos contatos sociais. Tais
mudanças atingem toda a população de idosos, o que difere um do outro são a maneira
como este passou pela fase anterior de sua vida, e o que está levando para a fase atual
como fator relevante e motivador no processo de envelhecimento (ANDRADE, 2004).

De acordo com Miguel et al. (2007) a percepção da velhice em nossa sociedade


tem se mostrado fortemente associada à figura da pessoa decadente e dependente, que
vive à margem em casas de repouso, hospitais e outras instituições afins. Esses fatos
podem determinar uma prática de cuidado calcada no “fazer por”, retirando dos idosos o
direito de exercer sua autonomia, tornando-os, a cada dia, mais dependentes. Apesar de
apresentar uma capacidade de se adaptar a novas condições de vida, o ser humano, e
mais especificamente a pessoa idosa, diante da ocorrência de declínios funcionais e de
perdas que resultam em dependência, acaba por se isolar e perde completamente a
capacidade de participar e de se expressar frente aos problemas do cotidiano. Ressalta
Martinez e Brêtas (2004), que indubitavelmente o melhor lugar para viver a velhice é no
espaço do próprio lar, seja ele o da família ou não, pois congrega a somatória das
experiências vividas até então pelo idoso, entretanto, existirão situações em que a
internação será inevitável. Independentemente de onde estejam, em seus lares ou em
instituições, vale ressaltar, que, se quisermos aprender a entender, respeitar e valorizar os
idosos devemos nos conscientizar de alguns pontos básicos, tais como: respeitar as
individualidades, evitando as generalizações; não infantilizá-los; não tratá-los como
incapazes; oferecer-lhes cuidados específicos para sua faixa etária; preservar sua
independência e autonomia; ajudá-lo a desenvolver aptidões; ter paciência, pois seu
tempo é outro, são mais lentos; trabalhar suas perdas e seus ganhos; promover
estimulação biopsicossocial (ANDRADE, 2004).

Embora a legislação brasileira enfatize a família como a principal responsável


pelo cuidado do idoso, estando tal fato expresso na Constituição Federal de 1988,
reforçado na Política Nacional do Idoso de 1994, e no Estatuto do Idoso, e que a
manutenção do idoso em ambientes familiares é mais adequada para o seu bem-estar,

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recomendações estas de comum acordo entre os especialistas, é fato reconhecer a


necessidade de se estabelecer políticas públicas que visem o atendimento institucional a
determinados idosos, como os de idade mais avançada, com comprometimento físico ou
mental, com carência de renda, sem família ou em condições de maus-tratos familiares
(CAMARANO; PASINATO, 2004). As instituições de longa permanência em sua
modalidade constituem a mais antiga e geral forma de atendimento ao idoso, mas,
somente no inicio do século XX, tiveram seu espaço ordenado, suas responsabilidades
abordadas no Estatuto do Idoso, seus princípios discorridos no artigo 49, enfatizando a
preservação dos vínculos familiares, o atendimento personalizado e em pequenos grupos,
a observância dos direitos e garantias dos idosos, a preservação da identidade do idoso e
oferecimento de ambiente de respeito e dignidade (CAMARANO, 2007). Para as autoras
Papalia e Olds (2000), a maioria dos idosos não quer viver em clínicas ou instituições, e a
maioria dos familiares também não quer isso. Contudo, em função das necessidades de
uma pessoa mais velha ou das circunstâncias de uma família, essa parece ser a única
solução.

Por outro lado, idosos saudáveis que vivem em instituições, por carecerem de
apoio social, podem apresentar deficiências em habilidades sociais, além de baixa
qualidade de vida e, consequentemente, níveis mais elevados de depressão. A depressão
pode ter diversas causas as quais podem atuar em conjunto. Algumas pessoas podem ser
geneticamente predispostas a ela devido a um desequilíbrio bioquímico no cérebro, sendo
que acontecimentos estressantes ou solidão podem dispará-la. Os idosos muitas vezes
sentem que a colocação numa clinica é sinal de rejeição, e os filhos geralmente internam
seus pais com relutância, cheios de desculpas e com muita culpa. A questão dos esquemas
de vida torna-se mais premente quando um ou ambos ficam debilitados, enfermos ou
inválidos, ou quando um dos cônjuges morre. (CARNEIRO et al., 2007; PAPALIA; OLDS,
2000). Desta forma, como destacam Papalia e Olds (2000), se os idosos já não dispõem de
possibilidades de manejo do próprio ambiente físico, é necessário que os membros da
família ou das instituições por eles frequentadas cuidem desses aspectos. Neri (2001)
assinala que, a adoção de providências que visem facilitar e promover a interação física,
social e psicológica do idoso com o ambiente pode aumentar a sua eficácia e assim a
qualidade de vida real e percebida do idoso.

Para Bleger (1984), a partir do ponto de vista psicológico, a instituição forma


parte da personalidade do idoso, e na medida em que isto ocorre, tanto como a forma em
que isto se dá, configuram distintos significados, sendo o meio pelo qual “os seres
humanos podem se enriquecer ou se empobrecer e se esvaziar como seres humanos”.
Uma instituição de longa permanência constitui basicamente um grupo psicológico,

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forma-se principalmente pela proximidade física e também pela identidade de pontos de


vista de seus constituintes e, à medida que a interação continua valores, objetivos, papéis,
normas, vão se formando progressivamente, tem uma atmosfera própria, sendo integrado
por pessoas que se conhecem, que procuram objetivos comuns, possuem ideologias
semelhantes e interagem com frequência (RODRIGUES et al., 2008). Em se tratando de
idosos institucionalizados, pode-se constatar um grau de poder e controle dos cuidadores,
comparável ao grau de poder que só os pais têm sobre os filhos pequenos. Este tipo de
controle leva as pessoas a tratarem os idosos como crianças, principalmente dentro das
instituições. Em nome da eficiência, da rapidez e da perfeição do trabalho, as tarefas que
ajeitada ou desajeitadamente poderiam ser executadas pelos idosos vão sendo, aos
poucos, delegadas e perdidas, principalmente no contexto de institucionalização.

Para Araújo et al. (2006, p.238), as instituições de longa permanência representam


um ambiente psicossocial, caracterizadas em sua maioria, por idosos abandonados por
seus familiares e que geralmente são carentes de relacionamento social e afetivo, no
entanto, o confinamento social e afetivo a que são submetidos, “torna a velhice sinônimo
da espera/preparação para a morte, uma vez que não há a participação em atividades
sócio recreativas, e as redes de apoio social são quase inexistentes”. Relevante também,
como descreve Neri (2001, p.168), é a adoção de providências que visem facilitar e
promover a interação social, física e psicológica do idoso com o ambiente, o, que segundo
a autora, “pode aumentar a sua eficácia e assim a qualidade de vida real e percebida do
idoso”. Nesse momento é imprescindível que a instituição asilar acumule também
atributos positivos capazes de maximizar a independência funcional dos idosos ameaçada
ante as deficiências físicas e cognitivas, assegurando ao máximo a sua autonomia e
estimulando um envelhecimento ativo dentro das possibilidades de cada indivíduo
(MARTINEZ; BRÊTAS, 2004). Os objetivos deste estudo foi demonstrar a relevância das
atividades lúdicas para a qualidade de vida de idosos institucionalizados, despertar a
criatividade e a espontaneidade, qualidades estas dispersas no processo de
institucionalização, e que, se resgatadas poderão beneficiar a saúde física e mental dessa
população.

2. MÉTODOS

Foram analisados seis participantes, de ambos os sexos, com idades entre 60 e 80 anos. Os
critérios de inclusão foram idosos institucionalizados, que apresentavam preservação
cognitiva para desenvolver atividades lúdicas, como por exemplo: participar da “hora do
conto”, conseguir identificar figuras, jogos, etc. Idosos que apresentassem

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comprometimento cognitivo grave (Clinical Dementia Rating ≥ 3), acamados, com


comprometimento visual e auditivo grave, com sequela de acidente vascular encefálico
que comprometessem a cognição e idosos que não aceitassem participar das atividades
foram excluídos da pesquisa. A coleta de dados ocorreu por meio de conversas informais
e observações científicas junto aos idosos, onde foram desenvolvidas as atividades
lúdicas. Primeiramente, foram feitas observações científicas na instituição e foram
anotados os comportamentos mais frequentes identificados nos participantes (Tabela 1).
Posteriormente, foram desenvolvidas atividades lúdicas que objetivavam a interação
social, criatividade, espontaneidade e satisfação de estar engajado em algo produtivo.

Tabela 1. Representação dos comportamentos observados durantes as


observações científicas antes das atividades lúdicas.

Comportamentos observados antes das atividades lúdicas Antes Depois das atividades

Apatia 6 3
Isolamento 5 2
Inativade 5 3
Desejos de morte 4 2
Desânimo 6 3
Desesperança 6 3

3. RESULTADOS

Os resultados evidenciam uma diminuição nos comportamentos negativos como mostra o


Gráfico 1 e a Tabela 1. Pode-se observar que as intervenções com as atividades lúdicas
diminuíram em 50% os sentimentos de apatia, desejos de morte, desânimo e
desesperança. Observa-se uma diminuição apenas de 40% do sentimento de isolamento e
uma diminuição considerável em relação à inatividade, onde pode-se verificar uma
diminuição de 60% (Tabela 2).

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Gráfico 1. Representação gráfica em dois momentos do trabalho na instituição: a linha azul representa os
relatos antes da intervenção e a linha em vermelho evidencia os relatos após as atividades.

Tabela 2. Representação da diminuição em porcentagem dos comportamentos


após intervenção com atividades lúdicas.
Comportamentos observados antes das Diminuição dos
atividades lúdicas comportamentos (%)
Apatia 50%
Isolamento 40%
Inativade 60%
Desejos de morte 50%
Desânimo 50%
Desesperança 50%

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos primeiros encontros o que realmente chamou a atenção, foi o fato de estarem isolados
entre si, logo, um duplo isolamento, pois estando em uma Casa de Repouso, o primeiro
isolamento que ocorre, é com a sociedade, com o mundo exterior, fora daquele local, e, o
segundo isolamento, entre si, uma vez, que pelas dificuldades motoras e psíquicas ali
encontradas, a comunicação já se torna prejudicada. Pode-se observar que como estão de
certa maneira, há muito tempo, naquele tipo de ambiente, teria que primeiro observá-los e
percebê-los em seu meio, apenas uma observadora empírica de uma realidade específica,
não aceitariam uma “invasora”, a maioria deles, são reservados e sistemáticos, até mesmo
como garantia para serem respeitados em sua privacidade, afinal, não é algo simples nesta
altura da vida, acostumar-se com o coletivo e com as regras impostas pelo local, podendo
levar o idoso “a atitudes de não aderência ou à falta de cooperação” (MIGUEL et al.,
2007).

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Não estão desprovidos dos cuidados materiais e físicos, banho, comida, fraldas,
medicação, mas das relações humanas, portanto, estabelecer a rotina de visita e tratá-los
de forma individual e única, dispondo-me a ouvi-los, e dentro do retorno oferecido por
cada um, um contato físico como um abraço ou um beijo, foi o elo que tornou possível os
primeiros contatos. Para tanto, a inserção de maneira sutil no ambiente, no tempo e
espaço concedido por cada um deles, tornou possível estabelecer vínculos sem que se
dessem conta, até porque para o idoso torna-se difícil abrir espaço para pessoas estranhas,
e para alguns ali, que estão em situação de dependência, é ainda mais constrangedor, sua
privacidade está limitada, também seus direitos e desejos tem horários para se
concretizarem. Se inicialmente mostravam-se apáticos e distantes, ao longo dos encontros
e das rodas de conversa, fora possível perceber certa expectativa e motivação pelas
atividades.

E a confirmação de que a motivação para a realização das atividades era possível,


veio pelo primeiro momento lúdico proposto, onde músicas de época de vários estilos
foram selecionadas e tocadas no intuito de levá-los a memórias passadas, inclusive à
partilha de vivências, os idosos cantarolaram e relembraram situações da infância e
juventude. A cada encontro fora ficando mais dinâmico propor algo para realizarem
juntos. E mesmo nas dificuldades físicas apresentadas por alguns, era possível perceber o
desejo em participar, para tanto as atividades eram selecionadas de maneira a levar a
todos à participação. No decorrer das atividades propostas, fora possível constatar um
misto de alegria e satisfação, de criatividade e espontaneidade, mas também de incertezas;
aqueles momentos faziam a diferença, se divertiam, sentiam-se livres, mas sabiam que
eram apenas algumas horas, e que logo após estariam envoltos na realidade local.

É plausível que uma equipe multidisciplinar também faria toda a diferença no


local, além do psicólogo, um terapeuta ocupacional, um fisioterapeuta, um
fonoaudiólogo, profissionais que acompanhariam de maneira mais próxima os idosos,
levando-se em conta “a importância dos demais aspectos envolvidos no cuidado como a
promoção da independência, a preservação da autonomia e a manutenção de um
ambiente estimulante” (MIGUEL et al., 2007). É importante considerar que os idosos ao se
envolverem nas atividades lúdicas propostas, experimentam momentos de liberdade
física e mental, ressaltando o que Andrade (2004) propõe “a sensação subjetiva de saúde e
de bem-estar, influi mais do que a situação real da funcionalidade física e cognitiva”, a
que estão expostos, onde o despertar da criatividade e da espontaneidade, promovidos
pela realização de tarefas descontraídas e divertidas, farão com que tais qualidades,
dispersas no processo de institucionalização, ao serem resgatadas auxiliem a saúde física e
mental desses idosos.

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Cabe mencionar que o aumento da população idosa requer estudos peculiares no


sentido de atualizar-se constantemente em relação ao que se pretende oferecer enquanto
profissional, uma vez que, cada geração trará diferentes necessidades e anseios de acordo
com sua época. Pode-se concluir as atividades lúdicas quando devidamente propostas,
podem contribuir de maneira promissora para um efetivo trabalho com idosos
institucionalizados, o brincar, simplesmente pelo prazer de brincar, sem compromisso ou
regras formais pode proporcionar ao idoso um novo olhar sobre seu momento,
despertando espontaneidade e criatividade; onde conteúdos internos são revividos,
tornam-se emergentes, permitindo novos significados às suas vivências.

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Nobre. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

Juliana Francisca Cecato


Psicóloga, Bióloga pela Universidade São
Francisco. Mestrado em Ciências da Saúde pela
Faculdade de Medicina de Jundiaí, e Pós
Graduanda em Psicopedagogia pela Anhanguera
Educacional.

José Eduardo Martinelli


Graduação em Medicina pela Faculdade de
Medicina de Jundiaí, mestrado em Gerontologia
pela Universidade Estadual de Campinas e
doutorado em Educação pela Universidade
Estadual de Campinas. Médico responsável pela
disciplina de Geriatria e Gerontologia da
Faculdade de Medicina de Jundiaí - FMJ e pelo
Instituto de Geriatria e Gerontologia Comendador
Hermenegildo Martinelli

José Maria Montiel


Possui graduação em Psicologia, especialista em
Diagnostico e Triagem. Mestre e Doutor em
Psicologia com ênfase em Avaliação Psicológica
em Contextos de Saúde Mental pela Universidade
São Francisco. Tem experiência na área de
Psicologia, com ênfase em Psicologia Cognitiva e

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Neuropsicologia, atuando principalmente nos


seguintes temas: avaliação psicológica, avaliação
neuropsicológica com ênfase em transtornos
mentais e problemas de aprendizagem,
desenvolvimento de instrumentos para avaliação
psicológica e neuropsicológica e intervenções
psicológicas.

Daniel Bartholomeu
Psicólogo, Mestre e Doutor em Avaliação
Psicológica em Contexto de Saúde Mental pela
Universidade São Francisco. É colaborador do
Laboratório de Pesquisa em Psicologia do Esporte
(Lepespe) e coordenador do Laboratório de
Psicodiagnóstico e Neurociências Cognitivas
(LaPeNC). Atualmente leciona no Centro
Universitário Salesiano de Americana.

Vandercy Soares de Lacerda


Psicóloga e Pós graduanda em Psicopedagogia
pela Anhanguera Educacional.

Melissa Picchi Zambon


Psicóloga, Mestre e Doutoranda em Educação
Especial (Educação do Indivíduo Especial) pela
Universidade Federal de São Carlos. Tem
experiência na área de Psicologia, com ênfase em
Psicologia Escolar e Educação Especial, atuando
principalmente nos seguintes temas: motivação
acadêmica, autoconceito, atribuição de
causalidade, metas de realização, aprendizagem
cooperativa e inclusão escolar.

Janaina S. G. Fernandes
Mentranda do Programa de Pós Graduação
UNIFIEO.

Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 16, Nº. 24, Ano 2013  p. 121-131

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