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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

EPISTEMOLOGIA DA EDUCAÇÃO I

MARIA FERNANDA FEMINELLA CAMPOS

Síntese da obra: DA MATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia


social. Petrópolis: Vozes, 1981. Primeira parte, p. 17 - 46.

Ao iniciar o capítulo, “A antropologia no quadro das ciências”, Roberto DaMatta,


apresenta uma das principais diferenças entre o estudo das ciências sociais e naturais e
declara a antropologia como ciência. Para o autor, os estudos das ciências sociais são
complexos, visto que estudam fenômenos em planos de causalidade e determinação
complicadas. Já as ciências naturais estudam fatos simples que são facilmente isoláveis e
com isso, podem ser reproduzidos dentro de condições de controle, como por exemplo,
em laboratórios. Para DaMatta, o problema da ciência em geral não é o de desenvolver
teorias, mas o de testá-las, logo, o autor mostra como as ciências naturais se consolidaram
ao longo do tempo e espaço, pois são possíveis de testes e assim, compreendeu por muito
tempo que fazer ciência era fazer ciências naturais. A ciência social só se consolidou no
século XIX e XX. Para o autor, fazer ciência social é complexo devido:

(...) as condições de percepção, classificação e interpretação são


complexas, mas os resultados em geral não têm consequências na
mesma proporção da ciência natural. São poucas as teorias sociais que
acabaram tornando-se credos ideológicos, como o racismo e a luta de
classes, adotados por nações e transformados em valores nacionais
(DAMATTA, 1981, p. 20).

Logo, é possível compreender a complexidade das ciências sociais devido a


impossibilidade de prever causas, de ser testada e reproduzida em condições controladas.
Essa complexidade e impossibilidade se dá porque os eventos que são matéria-prima do
cientista social não estão frequentemente ocorrendo. Além disso, ao trabalhar com
fenômenos das ciências sociais nem sempre o pesquisador vai chegar nos mesmos
resultados de pesquisa, como é comum nas ciências naturais. Para mais, os resultados
gerados pelas ciências naturais são rápidos em comparação aos resultados de pesquisas
em ciências sociais. Em muitas situações, um pesquisador pode permanecer cinco, dez,
quinze anos pesquisando algo que não terá um resultado de forma instantânea, além de
obter resultados que não têm tantas consequências na mesma proporção das ciências
naturais. Ao longo do texto, o autor também traz outro ponto que contribui para
compreensão da complexidade de se fazer ciências sociais. Para ele, nas ciências naturais
o objeto pesquisado não pode questionar as teorias criadas pelos pesquisadores/cientistas,
apresentando uma realidade muito diferente para as ciências sociais que, os objetos de
estudo, isto é, comunidades, grupos, sujeitos, entre outros, podem questionar os
“resultados” de uma pesquisa, pois nas ciências sociais os pesquisadores/cientistas
trabalham com fenômenos que estão perto de si. Para abordar isso, o autor traz o exemplo
das baleias explicando que ao pesquisá-las, o cientista pesquisador nunca saberá de fato
o que as baleias sentem e como é ser baleia, visto que ele não é da mesma espécie. Além
disso, DaMatta diz que o pesquisador pode teorizar à vontade sobre elas, pois as baleias
nunca contestarão as teorias e os resultados de suas pesquisas. Entretanto, nas ciências
sociais isso não ocorre, visto que “tanto o pesquisador quanto sua vítima compartilham,
embora muitas vezes não se comuniquem, de um mesmo universo das experiências
humanas” (DAMATTA, 1981, p. 24).

Em seu texto, DaMatta também diz que se faz necessário relativizar o


conhecimento, visto que o pesquisador não deve interpretar algo a partir do seu
conhecimento, cultura ou linguagem. Sendo assim, percebemos outra complexidade em
fazer ciências sociais.

A raiz das diferenças entre ciências naturais e ciências sociais fica


localizada, portanto, no fato de que a natureza não pode falar
diretamente com o investigador; ao passo que cada sociedade
humana conhecida é um espelho onde a nossa própria existência
se reflete (DAMATTA, 1981, p. 27).

Devido a isso, o pesquisador das ciências sociais deve observar a cultura diversa,
percebendo a sua própria cultura e com isso relativiza-se o conhecimento, pois relativiza
o sistema a qual se pertence. A partir das compreensões do autor, aqui apresentadas alguns
pontos, percebo que fazer ciências sociais pode ser considerada uma forma de resistência
de transformação, além disso, vejo que as ciências sociais são sempre inconclusas, logo,
é um trabalho coletivo pois sempre haverá novas conclusões, novos relatos, sempre de
forma aberta.

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