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A narrativa como opção metodológica de pesquisa e formação de professores


Maria Goreti da Silva Sousa*
Carmen Lúcia de Oliveira Cabral**

Resumo
O presente artigo é fruto das discussões gestadas na disciplina Pesquisa Narrativa em Educação do Doutorado
em Educação do PPGED-UFPI, o principal objetivo é refletir sobre as contribuições da narrativa no contexto da
pesquisa e da formação de professores. A narrativa de formação tem se constituído no cenário educacional como
uma das opções metodológicas dentre os diversos métodos que já apresentam campo estabelecido. É, por sua
natureza, carregada de significados e características próprias, permitindo-nos entender como seus componentes
desencadeiam e proporcionam aos sujeitos a problematização, a revelação, a compreensão e o processo de
reflexão sobre a prática docente através de diferentes técnicas e instrumentos. A construção de narrativas, sua
leitura, análise, discussão, em contextos de formação inicial e contínua, consubstanciam-se em potencialidades
no desenvolvimento pessoal e profissional dos professores, contribuindo para o processo de profissionalização
docente.
Palavras-chave: Narrativa de formação; Formação de professores; Profissão docente.

A narrative as option and research methodology teacher education

Abstract
This article is the result of discussions conducted in the class of Narrative Research in the Doctorate in
Education PPGED - UFPI Education, the main objective is to reflect on the potential of narrative in the context
of research and teacher education. The narrative of training has been constituted in the educational scene as one
of the methodological choices among the various methods that have already established field. It is, by its nature,
full of meanings and characteristics, allowing us to understand how its components trigger and provide the
subjects the questioning, revelation, understanding and reflection on the teaching practice through different
techniques and tools. The construction of narratives, its reading, analysis, discussion, in the contexts of initial
and continuing training, embodies the potential in personal and professional development of teachers,
contributing to the teaching professionalization.
Keywords: Narrative training; Teacher education; Teaching profession.

Introdução como uma estratégia para os cursos de formação de


professores e para o desenvolvimento profissional.
Este estudo resulta dos debates Alguns gêneros são mais comuns, quando presentes
desenvolvidos na disciplina Pesquisa Narrativa em na maneira como essa narrativa se expressa, dentre
Educação do Doutorado em Educação do PPGEd – os quais podemos destacar os diários de aula, as
UFPI, cujo objetivo é refletir sobre ascontribuições notas de campo, os memoriais, as cartas
da narrativa no contexto da pesquisa e da formação pedagógicas, os ateliês biográficos, as entrevistas
de professores. No decorrer das últimas décadas, narrativas e outros.
passou-se a reconhecer nocampo educacional, de Para o desenvolvimento desta investigação,
forma crescente, a importância da narrativa como buscamos fundamentação em diversos autores que
metodologia de investigação e de desenvolvimento discutem a narrativa no contexto da pesquisa
pessoal e profissional de professores. educacional. Destacam-se, dentre outros: Bolivar
Podemos dizer que a narrativa comporta (2002), Nóvoa (1992), Passeggi (2012), Benjamin
dois aspectos essenciais: uma sequência de (1993), Sousa (2012), Zabalza (2004).
acontecimentos e uma valorização implícita dos Este artigo está estruturado em quatros
acontecimentos relatados (PRADO; SOLIGO, partes: a primeira foca a introdução,
2003). No tocante às alternativas presentes na contextualizando o estudo; a segunda parte se refere
literatura, o uso das narrativas tem se apresentado à discussão sobre a narrativa como opção

*Instituição de Ensino UFPI/Teresina. Endereço eletrônico: mgsmoises@hotmail.com


**Instituição de Ensino UFPI/Teresina. Endereço eletrônico: elisabethlattes@gmail.com
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metodológica no contexto da formação de como missão extrair o significado dos constituintes


professores; a terceira apresenta recorte de algumas da narrativa no todo de um enredo, o qual, por sua
técnicas e instrumentos mobilizadores das vez, deve ser extraído da sucessão de eventos.
narrativas; e a quarta trata das considerações finais Situação essa bem evidente no filme Narradores de
acerca do estudo. Javé. Infere-se, daí, que uma história é composta
por uma rede de intenções, de ações, de vivências,
Caracterizando a narrativa no âmbito de uma e, nesse contexto, os personagens representam e
metodologia de pesquisa e de formação de experienciam situações em movimento nas quais se
professores transformam. Nessa perspectiva, há ação e reação
dos sujeitos envolvidos na tessitura da narrativa.
A narrativa faz parte da história da É esse caráter flexível da memória, tecida
humanidade e, portanto, deve ser estudada dentro na relação com o outro, que permite aos sujeitos
dos seus contextos sociais, econômicos, políticos, refazerem suas histórias, nas suas lembranças,
históricos, educativos. É comum ouvir através de resistindo àquilo que os incomoda, acrescentando
narrativas diversas que os seres humanos são, por fatos oriundos do seu desejo de que tivesse sido
natureza, contadores, narradores de história, e que diferente, como novas possibilidades para suas
gerações e gerações repetem esse ato quase que vivências. Assim, entendemos que as situações
involuntariamente uns aos outros. Narradores de narradas são revividas e reelaboradas no processo
Javé é um bom exemplo que se aplica a esse de rememoração. A discussão remete-nos [nos
contexto de discussão, tratando-se, portanto, de um leva?], também, a estabelecer uma relação com a
filme brasileiro de 2003, do gênero drama, dirigido obra, Guilherme Augusto Araújo Fernandes, de
por Eliane Caffé, que narra a verdadeira história dos autoria de Mem Fox. Na obra, um garoto busca,
habitantes de um pequeno vilarejo do Vale de Javé e através de alguns dispositivos, resgatar a memória
o medo destes moradores em relação a uma represa de uma senhora que vivia em um asilo e assim
que precisa ser construída, representando a trazer à tona sua memória. É essencial também
inundação do vilarejo pelas águas. E a única chance compreender essasequência espaço temporal
que os moradores têm para não ficarem presente na narrativa. Desse ponto de vista, o enredo
desabrigados é provando que esse lugar tem uma é situado relacionado a determinado contexto
história, uma identidadeprópria a ser preservada. espacial e temporal, gerenciado numa sinergia de
Nesse enredo, retratara importância da eventos.
rememoração como forma de reconstrução de Ainda no tocante à memória, Galzerani
histórias de vida, tanto numa perspectiva individual (1999), seguindo Benjamin, afirma que é,
quanto social, é fundamental. Nesse sentido, há o sobretudo, experiência vivida. A rememoração
reconhecimento de todos de que a tradição oral se permite que dimensões pessoais esquecidas possam
fortalece quando vinculada à escrita, pois faz com ser recuperadas e situadas no tempo. A referida
que as palavras sejam viabilizadas através da ação. autora também compara a memória a um cenário no
Consubstancialmente, os acontecimentos qual se entrecruzam as lembranças, o passado, o
narrados de uma história tomam da totalidade os presente e também o futuro. Além da simples
seus significados. Esse todo narrado vai sendo lembrança, a memória constitui uma viagem no
tecido a partir das partes selecionadas, “[...] tempo, e narrar é, dentre outras, rememorar
portanto, a narrativa não é apenas o produto de um experiências diversas quer da vida pública ou da
‘ato de contar’, ela tem também um poder de vida privada. Tais percepções evidenciam que a
efetuação sobre o que narra” (DELORY, 2012, p. unidade narrativa é constituída de vivências e
82). Assim, a narrativa constitui-se no ato de contar experiências, adquiridas e construídas no decorrer
e de revelar o modo pelo qual os sujeitos concebem da história de vida do ser humano que cristalizam e
e vivenciam o mundo. se constituem em imagens que são retomadas em
Por conseguinte, o papel do intérprete é situações cotidianas.
fundamental na narrativa, haja vista que ele tem A referida unidade não se configura como

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homogênea, nem lógica, visto que há conflitos e sobre a forma de aprender dos professores. Por
tensões que deixam impressões na vida do conseguinte, considera-se que a abordagem
indivíduo, ou seja, as vidas pessoais injetam (auto)biográfica ou biográfico-narrativaimprime a
situações que fazem parte de um conhecimento organização da trajetória pessoal e profissional, a
pessoal, fruto de episódios passados e de contextos reflexão sobre as práticas, a construção de novos
específicos. Ao relacionar todos os componentes conhecimentos.
descritos com a formação de professores, tem-se A narrativa torna-se, portanto, relevante
elementos contundentes que configuram o professor para o contexto de formação em que se concebeo
como um narrador, um sujeito ativo da sua própria professor como narrador-personagem-escritor de
história de vida e de formação. histórias que se constituem a partir de diversas
A opção pela narrativa, como uma das situações de formação. As pesquisas revelam que os
possibilidades para esta discussão, fundamenta-se professores, quando os falam sobre os dilemas
também em Benjamin (1993, p. 201) quando afirma imbricados no seu fazer docente, transportam, ao
que o “[...] narrador retira da experiência o que ele mesmo tempo, dados de sua trajetória de vida. Isso
conta [...]”, sendo, portanto, essas experiências, aponta para diferentes modos de ver, conceber a
conforme o autor, as fontes originárias de todo prática profissional e promover avanços
narrador. Assim, as experiências vivenciadas pelos significativos na formação docente.
sujeitos desta investigação vão intercambiar-se com De acordo com Goodson (1992), ao ouvir a
diferentes momentos da sua vida pessoal e de voz dos docentes, podemos reconhecer queos dados
formação profissional. Faz-se referência também a de suas vidas são relevantes, na medida em que os
Sousa (2012, p. 46), quando revela que “[...] narrar projetos pessoais estão articulados a outros de
histórias e contar a vida caracteriza-se como uma natureza coletiva; o contexto social, cultural,
das possibilidades de tecer identidade, de econômico e político influencia na constituição da
compreender como nos tornamos professores e das pessoa e do profissional; a história de vida pessoal e
configurações que nos são forjadas nos nossos profissional de cada um coaduna-se com sua
percursos de vida-formação”. prática; são importantes elementos no sentido de se
Discutir narrativas no âmbito da formação é pensar a maneira pela qual pode se realizar seu
considerá-la também, dentre as diversas utilidades, desenvolvimento profissional.
uma investigação, ao se levar em conta que: As discussões em torno das narrativas
ancoram-se também nos postulados de Abrahão;
La investigación narrativa se utiliza cada Passeggi (2012, p. 61) quando defendem que:
vez más en estudios sobre ala experiencia
educativa. Tiene una larga historia O uso de narrativas [...] em contextos de
intelectual tanto dentro como fuera de La formação inicial, e continuada, ancora-se
educación. La razón principal para El uso no pressuposto dessa automização, no
de La narrativa em La investigación sentido em que o ato de explicitar para si
educativa es que los seres humanos somos mesmo e para o outro os processos de
organismos contadores de historias, aprendizagem, adotando-se um
organismos que, individual y socialmente posicionamento crítico, é suscetível de
vivimos vidas relatadas (CONNELLY; conduzir a pessoa que narra à compreensão
CLANDININ, 1995, p. 11). da historicidade de suas aprendizagens e,
portanto, de autorregular seus modos de
Essa metodologia de formação valoriza o aprender num direcionamento
desenvolvimento profissional dos professores como emancipador.
adultos, levando em conta o seu autoconhecimento,
seus diferentes saberese suas experiências As narrativas, nesse aspecto, levam-nosà
constituídas ao longo de uma vida. Esses estudos, compreensão da historicidade do sujeito, do voltar
reflexões e discussões incitamnova forma de pensar para si num processo de reflexão.

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Face ao exposto, compreende-se que as importante documento para o desenvolvimento


narrativas são fundamentais para o desenvolvimento pessoal pela sua riqueza de informações que
profissional e que as vidas dos professores estão seopõeà dimensão descritiva com a dimensão
entrelaçadas com a história da própria sociedade. reflexivo-pessoal e “torna-se [...] um grande recurso
Logo, a cultura da escola, enquanto instituição para explicar os próprios dilemas em relação à
educadora e da profissão, possibilitacompreender a atuação profissional”.
dimensão singular e complexa da prática docente, No sentido de integrar o vivido através do
significando e ressignificando os processos de narrado num processo de reflexão, pontua-se em
formação. que medida os diários impactam positivamente na
A seguir, elegeram-se alguns instrumentos prática docente. Para Zabalza (2004, p. 16-27),
mobilizadores das narrativas como processos de quatro âmbitos de impacto podem ser significativos
reflexão sobre a prática docente, na perspectiva do nesse gênero textual:
desenvolvimento pessoal e profissional.
1. O acesso ao mundo pessoal dos
Recorte de algumas técnicas e instrumentos professores;
mobilizadores das narrativas 2. Os diários como um grande recurso para
explicitar os próprios dilemas em relação a
As pesquisas narrativas são constituídas, atuação profissional;
geralmente, por relatos ou registros escritos que se 3. Os diários como recurso de acesso a
apresentam através de diferentes técnicas e avaliação e ao reajuste de processos
instrumentos. A seguir, um esboço de alguns deles: didáticos;
4. Os diários como recurso para o
Os diários de aula desenvolvimento profissional permanente.
Pensar a produção do diário de aula como
instrumento metodológico da prática educativa para A meu ver, nos diários de aula, há uma
mobilizar as narrativas num processo de pesquisa e integração da narrativa como umametodologia de
formação é fundamental nesta discussão. formação que contribui para o desenvolvimento
Conforme postulam Porlán; Martín (1997, profissional de professores por meio da memória, da
p. 18), o “[...] Diário de aula apresenta-se como escrita, do afastamento da ação docente, da reflexão,
instrumento que permite ao professor investigar e não mais na ação, mas sobre as ações. Esse processo
refletir sobre a prática educativa, testemunho permite ao profissional um conhecimento de si,
biográfico da sua experiência”. Segundo esses tendo em vista a perspectiva de questionamento
autores, a escrita do diário, com certa periodicidade, mais sistemática, de compreensão de pontos que o
permite ao professor refletir sobre seu plano de aula incomodam e de aprofundamento do conhecimento,
e suas ações educativas. Corrobora Zabalza (2004, num movimento contínuo que permitirá a melhoria
p.13): “os diários de aula [...] são documentos em da sua atuação docente.
que professores e professoras anotam suas Nesse sentido, a narrativa promove a
impressões sobre o que vai acontecendo em suas reflexão. A concepção de Zabalza (2004) reafirma a
aulas [...]”. Em razão desse entendimento, o diário contribuição dos diários, a partir de um trabalho de
se torna uma espécie de guia, em que sempre é formação e de investigação realizado com docentes.
possível voltar aos registros para rever o que foi Esse autor fez uso dos diários de aula para
realizado, possibilitando uma constante reflexão do identificar os dilemas presentes na prática desses
fazer docente. profissionais erealizou estudo focando várias fases
Os autores definem o significado dos diários do trabalho desses protagonistas, apresentando
de aula como instrumentos de formação. Zabalza também resultados sobre quais eram os dilemas que
(2004, p. 18) destaca ainda que os diários são os docentes pesquisados enfrentavam. Os diários
instrumentos que se constituem em narrações feitas tornaram-se, portanto, importantes recursos para
por professores. Enfatiza que o diário é um elucidar o contexto da prática docente e para

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compreender o pensamento dos docentes. os acontecimentos pertinentes ao memorial. Assim,

O memorial O êxito da escrita do memorial se realizaria


O memorial é um texto em que o autor quando o autor explora o potencial da
relata a própria história de vida, evidenciando fatos refletividade autobiográfica e se deixa
que considera mais relevantes no decorrer de sua envolver pelo encantamento estético e ético
existência. O Memorial de formação é umdos do fazer da vida intelectual e profissional
modos de expressão de narrativas autobiográficas um texto acadêmico como arte
que se generaliza no Brasil, a partir dos anos 1990, autoformadora de si mesmo como
seja como trabalho de conclusão de curso (TCC), profissional (PASSEGGI, 2011, p. 36).
seja como prática reflexiva no contexto institucional
de formação de professores (ABRAHÃO; As memórias inserem-se, assim, nas
PASSEGGI, 2012). abordagens (auto)biográficas de formação-
Um memorial de formação é acima de tudo investigação; o foco que trazem à tona são as
uma forma de narrar nossa história por escrito para histórias de vida e/ou que focalizam diferentes
preservá-la do esquecimento. Configura-se o lócus aspectos da trajetória do narrado.
da contação de uma história oculta aos olhos dos Na visão de Bolívar (2002), as histórias
mais diversos leitores – a da experiência vivida por pessoais podem configurar-se como um meio para
cada um de nós. Quando narramos nossa conhecer a prática, ao oportunizarem a
experiência de vida quer seja pessoal ou compreensão; como um método para aprender a
profissional, é possível produzirmos no nosso partir da prática, possibilitando a revisão e a crítica
semelhante não só a percepção, mas sobretudo a tanto da ação como da prática, pois, ao repensá-la,
compreensão daquilo que estamos fazendo e do que existe a oportunidade de criar, de mudar e de
pensamos sobre o que fazemos. A produção é rica explorar os limites da experiência.
de acontecimentos referentes à experiência de No trabalho com memórias, muita coisa
formação, à prática profissional e também à vida. entra em jogo. O sujeito aciona seus conhecimentos,
As pesquisas revelam que o memorial se crenças, valores, alegrias e tristezas, decepções e
define, dentre outras possibilidades, pela formação; conquistas e expõe sua identidade, fruto de
circunscreve, dentre outras possibilidades, a diferentes contextos, os quais se entrelaçam numa
formação em um período da vida em que o discente sucessão do tempo que ora aproxima-se e ora
imprime suas memórias, quer seja no transcurso de distancia-se do seu eu. Bolívar (2002), apoiando-se
um curso uma disciplina, programa, trajetória em Nóvoa (1992), intima-nos a vero “balanço de
profissional (registrar a prática docente num vida”, como reflexão crítica, como algo
processo evolutivo) ou formação humana geral. indispensável para se compreender como o adulto
Nesse sentido, a escrita de um memorial de vai constituindo a sua formação e como as diversas
formação é sempre a partir do campo da educação. experiências de vida pessoal e profissional
A questão principal é articular formação e prática fundamentam-se em pilares para o processo
docente, haja vista ser o sujeito ator e personagem formativo e autoformativo.
ao mesmo tempo.
A referência principalna escrita de um Entrevista narrativa
memorial é sempre o lugar profissional que se Dado o valor formativo que a entrevista
ocupa. Nesse percurso de resgate, às vezes faz-se carrega, é importante observar que tal técnica pode
necessário lançarmos mãos de memórias significar importante contribuição para a pesquisa.
relacionadas a outras experiências vivenciadas com A relevância da entrevista como técnica utilizada
nas pesquisas qualitativas é amplamente
outros sujeitos, familiares ou não, desde que
reconhecida, especialmente nas pesquisas
contribuam para esse processo formativo. É
educacionais.
importante destacarmos passagens que retratem A Entrevista Narrativa configura-se como
experiências positivas e/ou negativas, ou seja, todos uma técnica de coleta de dados utilizada na

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pesquisa; seu nome deriva da palavra latina narrare, Essa técnica de pesquisa de cunho
relatar, contar uma história. Segundo Jovchelovitch; qualitativa, denominada não estruturada, contrapõe-
Gaskell (2010), a entrevista narrativa (EN), se ao tradicional modelo pergunta-resposta da
sistematizada por Schütze, estimula quem vai ser grande maioria das entrevistas que definem a
entrevistado a narrar episódios importantes da vida, estrutura das entrevistas, ordena as perguntas e as
configurando-se esse ato de contar/narrar e escutar faz a partir de seu próprio vocabulário.
histórias em um método para atingir seus objetivos. Jovchelovitch e Bauer (2010) defendem que
Nesse sentido, a narrativa é incitada por questões existe uma estrutura na narrativa, que eles chamam
específicas, a partir do momento em que o narrador de paradoxo da narração, a qual se consubstancia
começa a contar sua história, conservando ele nas exigências das regras implícitas que permitem o
próprio a fluição da narrativa. contar histórias. Portanto, faz-se necessário
Desse modo, a entrevista narrativa permite estabelecer a EN como técnica de entrevistas, com
ao narrador contar a história sobre algum regras claras, por exemplo: como ativar o esquema
acontecimento relevante de sua história de vida e do da história; como incitar as narrações dos
contexto do qual faz parte: “[...] sua idéia básica é entrevistados; e depois de iniciada a narrativa,
reconstruir acontecimentos sociais a partir da conservar a narração, seguindo a mobilização do
perspectiva dos informantes, tão diretamente quanto esquema autogerador. A seguir, um quadro com as
possível” (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2010, p. fases principais da entrevista narrativa:
93).

Quadro 1 – Fases principais da Entrevista Narrativa

Fases Regras
Preparação Exploração do campo (leitura de documentos, notas relatos, etc.);
Formulação de questões exmanentes (aquelas que refletem intenções do pesquisador,
suas formulações e linguagens. As questões exmanentes distinguem-se das imanentes
(temas, tópicos e relatos de acontecimentos que surgem durante a narração [...])
1 Iniciação Formulação do tópico inicial para a narração;
Emprego de auxílios visuais (dispositivos da memória fotografias, objetos, imagens e
outros).
2 Narração central Não interromper;
Somente encorajamento não verbal para continuar a narração;
Esperar para os sinais de finalização (coda).
3 Fase de perguntas Somente “Que aconteceu então?”;
Não dar opiniões ou fazer perguntas sobre atitudes;
Não discutir sobre contradições;
Não fazer perguntas do tipo “por quê?”.
4 Fala conclusiva Parar de gravar;
São permitidas perguntas do tipo “por quê?”;
Fazer anotações imediatamente depois da entrevista.
Fonte: Fases principais da Entrevista Narrativa (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2010, p. 97).

Compreendemos que do trabalho com a EN enquanto pesquisador e que tenham relação com o
emergirão dimensões nem sempre previstas pelo objeto de estudo. Na fase de iniciação, o
pesquisador; no entanto, ao eleger a Entrevista pesquisador apresenta uma questão gerativa
Narrativa, é necessário que o entrevistador tenha o narrativa que seja clara e específica, que estimule
domínio da técnica e de suas particularidades. Na uma narração extemporânea, e não respostas
fase de preparação, é fundamental o conhecimento pontuais, podendo fazer uso de alguns dispositivos
do campo da pesquisa empírica, seguida da de memória.
elaboração das questões que lhe interessam No percurso da narração central,

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recomenda-se não interromper o fluxo da narrativa e professores.


nem dificultá-la com perguntas, intervenções diretas De acordo com Camini (2012), as cartas são
ou avaliações. Na fase seguinte, seguem-se as escritas e se impuseram na história como
investigações da narrativa, os fragmentos ainda não documentos, evidências históricas. Segundo ela, ao
detalhados devem ser investigados, evitando opinar se fazer uma retrospectiva na história da
e fazer juízo de valor. A fala conclusiva humanidade, é visível que escrever cartas é uma
consubstancia-se no final da gravação, e agora tradição secular e que foram escritas com diferentes
perguntas do tipo “por quê?” podem complementar propósitos, como o de informar grandes
algumas questões, seguidas de anotações imediatas descobertas, declarar amor ou saudade, articular
após a finalização da entrevista. uma guerra, descrever lugares... Como exemplos, a
Em relação à análise de entrevistas Carta de Pero Vaz de Caminha, o Manifesto
narrativas, Schütze (1997, 1083) citado por Comunista (1848), a Carta da Terra, a Carta do
Jovchelovitch; Bauer (2010, p.106) propõe seis Chefe indígena (1854) e a Carta dos Sem Terra,
passos: dentre outras.
1. Transcrição detalhada de alta qualidade A carta é uma forma de comunicação.
do material verbal. Estabelece uma ligação direta entre o leitor e o
2. Divisão do texto em material indexado escritor e é um dos gêneros literários mais antigos.
(expressam referência concreta a ‘quem fez É uma forma de comunicação manuscrita ou
o quê, quando, onde e por quê’) e impressa que pode ser destinada a uma ou mais
proposições não-indexadas (que vão além pessoas.
do conhecimento e expressam valores, De acordo com Lemos (2004), citado por
juízos e toda forma de uma generalizada Portal (2012), pelas cartas comenta-se, informa-se,
‘sabedoria de vida’ dentre outros aspectos). elogia-se, “[...] ofende-se, apresenta-se, cobra-se,
3. Uso de todos os componentes indexados enfim, conjuga-se a infinidade de verbos que
para analisar o ordenamento dos exprimem a riqueza contida no amplo contínuo que
acontecimentos para cada indivíduo, vai da trivialidade à nobreza da vida” (LEMOS
denominada de‘trajetórias’. apud PORTAL, 2012, p. 79).
4. As dimensões não-indexados são A carta é também um instrumento
investigativas como‘análise do pedagógico de uso fácil. A linguagem da carta é
conhecimento’ (opiniões, conceitos e determinada pela intenção comunicativa e pela
teorias gerais, reflexões e divisões entre o relação existente entre os pares. Dependendo da
comum e o incomum, que permitem intenção, pode ser descritiva, persuasivo-
reconstruir teorias operativas sobre o argumentativa e narrativa. Nesse particular, a carta
objeto de estudo). se inscreve, neste trabalho, como narrativa e por
5. Agrupamento e comparação das contar alguma coisa relacionada à história de vida
‘trajetórias’ individuais. pessoal e profissional dos diferentes sujeitos.
6. Trajetórias individuais colocadas dentro Segundo Camini (2012, p. 29-30), um
do contexto e semelhanças são grande educador brasileiro que utilizou essa forma
estabelecidas permitindo a identificação de de comunicação foi Paulo Freire. Nos seus escritos,
trajetórias coletivas. três importantes obras são reveladas,

Os procedimentos adotados por Schütze, a [...] ‘ensaios em forma de cartas’; a


partir dos seis passos descritos, permitem ao primeira, Cartas à Guiné-Bissau (1978); a
pesquisador analisar as narrativas estabelecidas, segunda, Cartas a Cristina (1994) e, a
seguindo fases distintas que permitirão a terceira, Professora Sim, tia não: cartas a
compreensão do fenômeno investigado. quem ousa ensinar (2002). Através destas,
de forma coloquial, estabelece um profundo
Cartas diálogo com o leitor/a e com sua própria
O gênero carta é instrumento de prática.
comunicação na sociedade há décadas e portador
dos mais diversos conteúdos, sendo fundamental De acordo com a autora, as cartas de Paulo
como instrumento de pesquisa e na formação de Freire, compiladas nestes livros, ressignificam a

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importância da narrativa e da comunicação, implica entender que as narrativas são fundamentais


sobretudo diante das demandas e convulsões sociais para o desenvolvimento pessoal e profissional e
da era da tecnologia da comunicação, haja vista proporcionam a reflexão sobre a ação docente, haja
existir ainda um contingente de pessoas, vista que esses sujeitos são considerados atores
especialmente no campo ezonas periféricas das sociais que, ao narrarem suas histórias de vida,
pequenas e grandes metrópoles, sem acesso à constroem nessa atividade, sua vida e sua
internet e sem acondição de vir a acessar esse meio profissionalização.
de comunicaçãoem curto prazo. Destaca-se ainda que os diferentes
As duas primeiras obras, segundo Camini, instrumentos e técnicas apresentados, dentre outros
foram narradas em dois contextos distintos e em de que a narrativa dispõe para que se tornem o seu
diferentes condições, foram dirigidas canal de revelação, podem constituir fontes
intencionalmente a dois leitores: ao povo de Guiné- consubstanciais de inspiração e de conhecimento,
Bissau e a Cristina. Todavia, nenhuma dessas obras proporcionando aos leitores um processo de
ficou aprisionada e represada a esses leitores, reflexão profundo sobre as vidas dos outros e a sua
somente. Em seguida, se tornaram públicas e própria vida.
divulgadas a milhares de pessoas, quepuderam e Acreditamos que a narrativa, como opção
podem acessá-las até hoje. metodológica de pesquisa e de formação de
Camini (2012, p. 32), ao falar das Cartas professores, insere-se na vertente investigação-
Pedagógicas (CP) de Paulo Freire, postula que essas formação, ao proporcionar aprendizagens, reflexão,
“[...] revelam a expressão da profunda humanidade revisitação ao passado, questionamentos sobre o
de Freire” e que são expressivas narrativas por meio presente numa visão prospectiva, permitindo a esses
das quais ele dialoga com pais, educadores, profissionais do ensino a revisão de posturas e
discutindo os problemas contemporâneos, sugerem crenças que foram se estabelecendo no decorrer da
reflexões sobre o mundo, sobre a vida, sobre as formação e da prática docente.
pessoas, sobre a escola. Essa narrativa fala de
cidadania, de posicionamento político, de
indignação, de transformação, de esperança. Referências
Consubstancialmente, são cartas que proporcionam
aprendizagens, reflexão, imergir no passado, liberar
tensões a questionar o presente numa visão ABRAHÃO, M. H. M. B; PASSEGGI. Maria. As
prospectiva. narrativas de formação, a teoria do professor
As cartas têm sido utilizadas por professores reflexivo e a autorregulação da aprendizagem: uma
como uma das estratégias pedagógicas. Portal possível aproximação. In: SIMÃO, V.; FRISON;
(2012, p. 90) postula que “[...] as cartas podem ser ABRAHÃO. Autorregulação da aprendizagem e
um instrumento desvelador na construção do ser narrativas autobiográficas. Natal: EDUFRN: Porto
professor”. Revela-nos que, ao dispor publicamente Alegre: EDIPUCRS, 2012.p. 53-71.
de seus relatos escritos de vivência e de
experiências significativas, alunos, professores e BAUER, M; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa
educadores colaboram para reconstruir a memória com texto, imagem e som: um manual prático.
pedagógica de suas trajetórias ou de certas práticas Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
educativas em certo espaço, em um determinado
momento histórico.
BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações
sobre a obra de Nikolai Leskov. In: _________.
À guisa de conclusões
Ao refletir sobre as potencialidades da Obras escolhidas. Magia e técnica, arte e política.
narrativa no contexto de pesquisa e formação de v.1, São Paulo: Brasiliense, 1993.p.197-221.
professores, compreendeu-se que essa metodologia
constitui-se em espaço privilegiado de investigação, BERTAUX, D. Narrativa de vida: a pesquisa e seus
de aprendizagem profissional, experimentadas pelo métodos. Natal, RN: Ed. UFRN, São Paulo: Paulus,
professor em processo de formação, tanto inicial 2008.
como continuada.
O aporte teórico, discutido neste artigo, BOLÍVAR, A. Profissão professor: o itinerário

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Sobre as autoras

Maria Goreti da Silva Sousa é Doutoranda em Educação, Mestre em Educação, Especialista em Psicopedagogia
vinculada ao Programa de Pós- Graduação em Educação- PPGED-UFPI

Carmen Lúcia de Oliveira Cabral é Professora do Curso de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em


Educação da Universidade Federal do Piauí. Membro do Núcleo de Pesquisa sobre Formação e
Desenvolvimento Profissional em Pedagogia – NUPPED.

Recebido em dezembro de 2014.


Aprovado em maio de 2015.

Horizontes, v. 33, n. 2, p. 149-158, jul./dez. 2015

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