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RESUMO - O presente artigo traz um recorte dos estudos e discussões realizados durante a
disciplina de Seminário Avançado da Linha de Pesquisa “Práticas Pedagógicas e suas relações
com a Formação Docente/ Linha II”, do Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado
em Educação da Universidade Católica Dom Bosco – PPGE/UCDB. O principal objetivo foi
refletir e problematizar, por meio dos estudos realizados, e leituras de artigos, as relações dos
professores com o seu fazer pedagógico no contexto da pandemia de COVID-19, especialmente
com o uso do aplicativo WhatsApp como espaço de ensino e aprendizagem no município de
Campo Grande. Além disso, traz considerações acerca dos processos que envolvem a prática
do professor, bem como algumas percepções e concepções em relação a esse ambiente
(aplicativo), durante o período de ensino remoto. Como método utilizamos uma pesquisa de
dados bibliográficos, através dos estudos oferecidos durante a disciplina acima citada e faremos
algumas considerações desse contexto. Por meio desse artigo pretendemos auxiliar e fomentar
o estudo sobre o contexto do ensino remoto em tempos de pandemia.
1. INTRODUÇÃO
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Scavassa, Giovana B.N.. Mestra em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco – UCDB. Doutoranda em
Educação pela mesma instituição.
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aprendizagem, os quais pudessem suprir, mesmo que remotamente e a partir das tecnologias
digitais, a demanda do ensino, que passaria a ser remoto, devido ao contexto da pandemia.
Não houve muito tempo para qualquer tipo de formação ou estudo acerca disso tudo.
Muito menos para o uso de tecnologias ou ferramentas que pudessem auxiliar no processo desse
contexto, sendo assim, muitas mudanças aconteceram e um dos maiores desafios enfrentados
pela escola/professores e alunos, foi justamente a imposição e a exigência de uma nova forma
de dar aulas, e/ou receber aulas, fora do espaço físico escolar. Os professores conheceram e
receberam essa nova realidade instantaneamente, sem preparo, sem tempo, e em boa parte sem
conhecimento das estratégias ou meios com os quais deveriam ou poderiam dispor para realizar
seu trabalho. Tiveram então que se adaptar a uma forma de ensino remoto e levar aos seus
alunos, os seus ensinamentos que de alguma forma proporcionassem algum aprendizado.
No caso do município de Campo Grande a escolha do caminho a ser trilhado foi feita
pelas próprias instituições de ensino e o aplicativo do WhatsApp foi o instrumento de
comunicação escolhido pela escola onde a pesquisa acontece. É justamente sobre o uso dele
que iremos promover nossas discussões, visto que o maior desafio passou a ser a metodologia
a ser usada a partir dessa ferramenta, que apesar de proporcionar tão rápida e eficiente forma
de comunicação e por ter sido considerada a melhor e mais viável ferramenta para atingir um
bom número de alunos, também apresentou limitações e diversas situações que reduziriam esse
atingimento, tais como a falta de aparelhos celulares nas famílias dos alunos (muitas vezes esse
aparelho era da mãe ou pai que utilizavam para o trabalho e além disso mais de um filho
dependia do mesmo equipamento para acompanhar as aulas, etc), aparelhos que não permitiam
um uso constante devido ao curto espaço de memória, pacote de dados, baterias que não
suportavam o tempo de uso, etc.
Com esse cenário e a necessidade de adequação do fazer pedagógico, foi preciso que as
instituições buscassem o que fosse possível em termos de capacitação rápida, organização,
planejamento e currículo, de modo que a prática ficasse, mesmo que minimamente alinhada e
pudesse amparar o trabalho do professor, que em sua grande maioria sequer tinha domínio dos
recursos tecnológicos disponíveis ou possíveis para desenvolver suas aulas. Alguns outros
meios e recursos como plataformas do google, aplicativos de produção de vídeos, imagens, etc,
passaram a fazer parte do trabalho do professor como ferramentas indispensáveis naquele
momento. Outros recursos usados, também foram: vídeos já gravados do YouTube, vídeos
conferências, plataformas como google class, google meet, google forms, e a busca por outras
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possibilidades que acabou se estendendo ao longo dos dias, pois o professor ainda estava se
apropriando de aprendizagens/habilidades e conhecimentos que não tinha. E as formações
foram feitas pelas próprias instituições de ensino com os recursos que dispunham e
conhecimentos que se agregavam entre os profissionais, que em sua maioria passaram a ser
auto didatas na busca desses recursos, além das trocas de experiências que passaram a fazer
parte do cotidiano, inclusive pelo próprio WhatsApp.
A escola não se limitou no que sempre vinha fazendo. Ela se reorganizou e transformou
o seu fazer em favor do uso de novas metodologias, mudando sua prática para atender a
necessidade do momento. Nesse contexto, os professores podiam agregar novos fazeres em suas
aulas, sem causar tantos danos ao ensino. Com a adoção de novas estratégias e metodologias
de atuação pelo professor, o pensamento de Moran (p.31) se fortalece na medida em que ele
afirma que “na educação, o mais importante não é utilizar grandes recursos, mas desenvolver
atitudes comunicativas e afetividade favoráveis e algumas estratégias de negociação com os
alunos”. E foi exatamente o que fizeram os professores, abriram mão de uma prática já
consolidada para aprender e conquistar outras maneiras de atingirem objetivos de aprendizagem
com seus alunos.
Além da reorganização desse fazer, outra necessidade era manter o vínculo entre escola
e aluno/família, pensar nas questões sociais, emocionais, econômicas, entre outras, visto que
diversas fragilidades iriam interferir no processo da educação formal como um todo. Então,
vale refletir sobre a citação de Moran (2017) que diz que:
aulas remotas, porém nos fez pensar sobre a importância dessa modalidade de ensino de forma
completa, bem como sua importância no contexto social e educacional, independente de
situações emergenciais, como foi o caso da pandemia.
Tudo o que se apresenta em tempos de pandemia nos aponta para a realidade do quão é
difícil dar aulas em modalidade remota, pois para isso é necessário um cuidado maior na
preparação, organização, planejamento dessas aulas, o que transpõe as habilidades profissionais
do professor. Esse período também nos trouxe um olhar diferente e talvez mais cuidadoso para
a importância do profissional do ensino à distância em sua categoria e em sua formação. Daí, a
intenção desse estudo em analisar o uso dessa ferramenta – WhatsApp - pelo docente, no
período pandêmico, sem perder de vista as terminologias corretas, como enfoca Mill (2012, p.
21), sobre a distinção entre o termo educação virtual e educação ou ensino à distância, onde ele
destaca que:
É preciso ter clareza de que, nesse caso, as tecnologias serviram apenas como um meio
e não um fim, de realizar algum trabalho. Sendo necessário então, repensar em termos de
transformar a crise do ensino, em tempos de crise da saúde pública e geral, especialmente nesse
momento em que o trabalho do professor se torna extremamente fragilizado e vulnerável. Nesse
caso, analisar as dificuldades enfrentadas pelo professor, será nosso maior desafio no uso das
novas tecnologias como forma de ensino a partir do ensino remoto em tempos de pandemia de
Covid 19.
Tendo todo esse contexto a ser pensado criticamente, não é tão simples a tarefa da
educação. Pois, assumir esse compromisso social sobre o ensino em tempos de pandemia, nos
leva a refletir também sobre a construção do nosso fazer fora dela, que independente de
qualquer época ou situação, tem se mostrado fragilizada em relação a compromissos éticos,
políticos e sociais. É preciso haver mais clareza do trabalho docente em relação aos seus
saberes, à docência virtual, a elaboração dos planos de trabalho, de aula, relação entre as
competências do “ser professor”, bem como questões do próprio trabalho em si (direitos e
deveres).
A partir desses saberes, que são diversos, muitos fatores foram agregados aos saberes
docentes, os quais podiam se basear nas próprias práticas e vivências dos professores, bem
como no conhecimento adquirido em seu meio institucional, social e de formação, fossem eles
relacionados à disciplina, aos conteúdos, ou currículos, ou mesmo às suas experiências
individuais.
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Nesse contexto e para Tardif (2002), a relação dos docentes com os saberes não é restrita
apenas à função de transmissão de conhecimentos, mas a uma prática que integra diferentes
saberes e que mantém diferentes relações com eles. Ele ainda define o saber docente "[...] como
um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da
formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais" (p. 36). Ele define
os saberes profissionais constituídos temporalmente, de forma plural e personalizada de forma
heterogênea, e que carrega as marcas de vida/vivências de cada indivíduo (professor). Para ele,
são esses saberes que o conectam ao seu conhecimento e com seus alunos, o que em períodos
remotos possibilitou, agregar muito de suas experiências individuais, a partir das quais foi
possível transformar e reinventar a sua prática, manifestando suas ideias sobre currículo e
disciplina, realizar trocas que enriqueceram o grupo do qual fazia parte e, além disso
proporcionar para si e para os outros uma formação com o auxílio entre os saberes práticos e o
fazer pedagógico como um todo.
virtuais”, ou não. Pensar sim sobre uma mudança nos processos pedagógicos e de ensino e
aprendizagem.
Talvez seja esse o momento oportuno para suscitar novas, ou mais intensas reflexões e
discussões sobre a construção de um currículo de formação de professores, ou políticas públicas
que também sejam pensadas diante das demandas sociais, políticas, econômicas e educacionais
já sinalizadas até aqui e que, sem sombras de dúvidas, foram bastante impactadas e impactantes
nesse período de pandemia, além de transformadas e transformadoras pelas vivências tão breves
e intensamente acumuladas, num curto prazo de tempo. E talvez seja esse, o momento de deixar
um pouco de lado a teorização sobre o fazer docente e a formação do professor, passando a
enxergar o profissional da educação, não apenas como um professor que dá aulas, mas como
um produtor do saber, produtor do conhecimento, que constrói e ajuda a construir esse
conhecimento a partir da prática, estabelecendo relações com seus alunos e buscando meios
para isso, inclusive em uma pandemia que poderia ter paralisado suas ações.
Para situar melhor esse foco no professor, Oliveira traz, em seu artigo “As políticas de
formação e a crise de profissionalização docente: por onde passa a valorização”, que
Nota-se aqui, que as questões apontadas por Oliveira, mostram claramente que ao
situarmos o professor como centro de todo o problema educacional do país e principal
responsável pelo fracasso de todo um sistema, estamos fechando nossos olhos para três
elementos importantes que interferem na condição profissional desse professor, como por
exemplo a remuneração, a carreira e as condições de trabalho, além disso, o processo de
formação inicial e continuada desses profissionais. Oliveira (2013) ainda enfoca que:
Para o autor, buscar soluções para esse contexto implica numa perspectiva de “encontrar
bons professores (quase super-heróis, dependendo do contexto em que ensinam) para resolver
os problemas da educação.” Ele também discute em seu artigo a pauta da OCDE – (Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que trata de encontrar bons professores para
se ter bons resultados acadêmicos, porém sem levar em consideração outros fatores que
interferem diretamente nesses resultados, como por exemplo, questões sociais, contextos
culturais, condições de trabalho nas escolas, gestão escolar, entre outros. Daí essa tendência de
culpabilização do professor para os resultados existentes se torna algo totalmente fora da
realidade e, portanto, inaceitável.
Portanto e a partir da pesquisa de Oliveira podemos observar que a relevância dada nas
últimas décadas, para as políticas de formação docente no Brasil, só foram mesmo
intensificadas devido às demandas de exigências de titulação dos professores que atuavam na
Educação Básica e também para cuidar da expansão da obrigatoriedade do ensino básico e
assim formar novos professores. Nesse contexto, passa-se a dar maior ênfase às políticas de
formação docente e pouca atenção à carreira propriamente dita.
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O que precisamos pensar sobre essa abordagem é que ela parece deixar de lado os
diversos fatores que interferem diretamente nos resultados de uma sala de aula e da
aprendizagem dos alunos. Podemos dizer que, nesse caso, elevar o nível de rendimento e do
desempenho dos alunos, esperando e contando com a capacidade da escola de mudar os destinos
das pessoas é algo um pouco equivocado, visto que, ignora totalmente os fatores estruturais do
processo de ensinar e aprender. Sendo assim, é preciso pensar que, independentemente do
contexto histórico ou social a formação continuada do professor deve ter perspectivas na
mudança e não apenas na prática pedagógica. É preciso, inclusive pensar na formação como
um direito do professor, além de dar a ele a possibilidade de trabalhar as competências de seus
alunos para o desenvolvimento de um trabalho didático que cuide das estruturas mínimas, bem
como das condições necessárias para que o ensino aconteça.
Nessa abordagem ainda podemos contar com as referências de Alves (2005) que traz a
perspectiva de Levy com enfoque maior na reorganização e modificação da ecologia cognitiva
dos alunos para a promoção e construção das funções de memória, atenção, criatividade e
imaginação. Para Alves, dentro dessa perspectiva não cabe um olhar apenas instrumental das
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Vale destacar, que diante da corrida que exigiu de nós, professores, uma certa rapidez
em nos apropriar do que não nos apropriamos do uso dessas tecnologias com o tempo, também
parece nos ter feito reféns dessas ferramentas como se elas fossem a solução de todos os
problemas do ensino nesse período. Porém, esquecemos que ter o acesso a essas redes ou
recursos, nem sempre garantiria a aprendizagem por parte dos alunos, ou mesmo o ensino para
eles. É preciso pensar que, nada disso, nenhum desses artefatos bastariam se o professor não
repensasse também sua prática pedagógica, bem como como desenvolvê-la, de maneira
significativa, de forma remota e contando apenas com um aplicativo de celular, no caso do
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WhatsApp, com dados móveis limitados em um número reduzido de alunos participando dessas
aulas. E conforme enfoca Alves (2016):
(...) não basta ensinar aos alunos a usar essas tecnologias, evidenciando uma
prática instrumental. O diferencial surge mediante a construção de práticas de
atribuição de sentidos que valorizem a autonomia e a autoria dos sujeitos
aprendentes, aproximando-se dos seus desejos e demandas, para resgatar o
prazer de aprender no universo da escola. (...) além disso, ressaltamos que a
mudança de perspectiva em relação à interação com as distintas tecnologias
digitais e telemáticas nos espaços escolares exige uma implicação e um
engajamento dos sujeitos, desafiando-os a ir além do lugar de meros usuários
que aprendem a utilizar a tecnologia, alfabetizam-se e tornam-se letrados nas
suas interfaces. (Alves, 2016, p. 581)
Logo podemos concluir que o grande diferencial nesse momento, seria ser letrado nesses
ambientes, pois isso poderia garantir sentido maior ao universo tecnológico vinculado às
práticas do professor e do aluno, que inclusive em sua grande maioria já está mergulhado nesse
espaço, faltando então que o professor esteja atento a essas produções nesses ambientes das
redes sociais e digitais. Nos parece então, que o pensamento de Nóvoa (2012, p.12) surge
permeado de muitas provocações quando ele traz a ideia de “Devolver a formação de
professores aos professores – para sugerir mudanças que parecem urgentes”, e quando diz que
Labare tem razão ao dizer que ainda somos muito ineficazes na concretização de nossas
intenções de formação.
Então Labare (2003), aponta que há quatro razões para isso, pois além de estatutos de
formação desvalorizados, o ensino é profissão que exige muito, os pedagogos são repetitivos
até a exaustão de temas recorrentes, além de serem vistos como lutadores por causas e utopias
irrealizáveis. Daí a necessidade de sairmos desse comodismo e partirmos para formações que
tragam novo sentido ao ensino, bem como possamos realizar algo que nos faça sair do comum
para o criativo, para que esse criativo nos favoreça em quaisquer circunstâncias da vida,
inclusive de uma pandemia. Para que possamos buscar, conforme sugere Nóvoa (2012, p.13)
uma formação de professores a partir de dentro; que valorize o conhecimento docente; que
possibilite a criação de uma nova realidade organizacional e que reforce o espaço público de
educação, reforçando inclusive os professores no seu papel e na sua capacidade de decisão e de
ação e tendo a escola como o lugar dessa formação dos professores, assim como o espaço de
análise de partilha dessas práticas.
Portanto, agora não podemos pensar a educação e os professores fora do uso e acesso
das tecnologias e ao mundo virtual. As conexões são ilimitadas, mas é necessário haver lucidez,
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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