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O ENSINO DE FILOSOFIA E O USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS: RELATO

SOBRE O ENSINO REMOTO EM TEMPOS DE COVID-19

Autor: José Bruno Paula Moreira1


Coautor: Selisvaldo Pereira Lima Filho2
Coautor: Thyago Teixeira Farias3

RESUMO
Este trabalho pretende apresentar o ensino de filosofia para turmas de Ensino Médio
considerando o cenário gerado pela Covid-19, tendo presente o uso de tecnologias digitais em
sala de aula, num contexto em que o ensino presencial não é possível, e que, portanto, é mais
do que necessária a (re) construção e (re) significação da experiência pedagógica a partir do
ensino remoto. Assim, o objetivo desse artigo é verificar os resultados adquiridos do uso de
recursos tecnológicos, mediado pelas metodologias ativas na disciplina eletiva de Filosofia para
o Enem, ministrada na EEMTI Dom José Tupinambá da Frota, CREDE 06 / Sobral-CE.
PALAVRAS CHAVE: Covid-19. Tecnologias digitais. Educação. Filosofia. Pandemia.

ABSTRACT
This work intends to present the teaching of philosophy to high school classes, considering the
scenario generated by Covid-19, have in mind that the use of digital technologies in the
classroom, in a context in which face-to-face teaching is not possible, and that, therefore, the
(re)construction and (re)signification is more than necessary of the pedagogical experience
from remote teaching. Thus, the objective of this article is to verify the results acquired from
the use of technological resources, mediated by active methodologies in the elective course of
Philosophy for the Enem, taught at EEMTI Dom José Tupinambá da Frota, CREDE 06.
KEYWORDS: Covid-19. Digital tecnologics. Education. Philosophy. Pandemic.

1
Graduado em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE. Atualmente professor temporário
de Filosofia da EEMTI Dom José Tupinambá da Frota (CREDE 6 / Sobral-CE). E-mail:
brunomoreira2402@gmail.com.
2
Bacharel em Direito pela Faculdade Luciano Feijão – FLF, Graduando em Letras Habilitação em Língua Inglesa
pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, Pós-Graduando em Penal e Processo Penal pela UVA/ESMP
(Escola Superior do Ministério Público), Radialista e Ativista Digital. Atualmente no Apoio ao Protagonismo na
CREDE 6. Email: selisvaldoplf@gmail.com.
3
Graduado em Letras e Artes e Especialista em Arte-Educação pela UVA - Universidade Estadual Vale do Acaraú.
Introdução

Em sua origem a filosofia mostra interesse pela compreensão da realidade, o que


Giovanni Reale aponta como um “querer explicar a totalidade das coisas” (REALE, 1993,
p.28). A dedicação à reflexão filosófica a partir do que ela tenta conhecer – sua estrutura
gnosiológica – é, portanto, uma tentativa de compreensão da realidade histórica, social e
cultural dos homens. Assim, o ensino de filosofia deve começar da articulação entre a
conceptualização filosófica e a concretude da vida.
O ensino de filosofia, tomado como instrumento de construção de uma consciência
crítica, preocupa-se com o atual cenário educacional, e, atendendo as orientações do Conselho
Estadual de Educação, no parecer nº 0205.20204, vem se adequando às novas possibilidades de
educação apresentadas pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
Ora, no que diz respeito à educação, pode-se observar que desde o ano de 2020, nós
professores vimos uma espécie de reinvenção de nossas práticas pedagógicas. O próprio
Conselho Estadual de Educação já havia apontado para esse momento de criatividade (CEE,
2020, p.2):

A pandemia tem revelado fragilidades dos sistemas de ensino e das instituições


escolares e, também, evidenciado a necessidade de mudanças urgentes na sua
organização, na formação dos professores e técnicos da educação e no fazer
pedagógico cotidiano. Reconhece, por outro lado, que a pandemia está descortinando
a capacidade criativa e a resiliência dos professores, assim como a participação e a
autonomia dos estudantes para encontrarem alternativas de superação das dificuldades
pedagógicas e tecnológicas e minimizar maiores prejuízos.

Aqui falamos de um momento único na educação, onde professores e alunos têm usado
de recursos tecnológicos para amenizar os impactos do novo coronavírus. Como tentativa de
compreensão do mundo, a reflexão filosófica aqui se apresenta como espaço de construção de
novas possibilidades do agir pedagógico.
Em suma, este trabalho pretende aproximar o leitor da experiência do uso de tecnologias
digitais bem como de metodologias ativas no ensino de filosofia, tendo em conta o contexto da

4
O referido documento foi aprovado em julho de 2020, disponível em https://www.cee.ce.gov.br/, orientando
instituições de Educação Básica, Educação Profissional Técnica de Nível Médio e Superior, do Estado do Ceará
a darem continuidade às atividades letivas por meio remoto até 31 de dezembro de 2020, ainda que autorizadas
para a retomada das atividades presenciais.
Covid-19 e os desafios que se apresentam tanto a educadores quanto a educandos, e, atentando
também para uma reconstrução e reinvenção de nossas práticas pedagógicas.

Metodologia

É inegável que o mundo sinta o quão desafiante e exigente está sendo a pandemia de
Covid-19, e, enquanto educadores, somos provocados a criar meios que diminuam seus
impactos negativos na vida dos estudantes. Estamos num mundo onde nossa competência
profissional diz respeito não só à prática educacional, mas também à habilidade de recriar nossa
própria profissão.
O tema desse trabalho foi escolhido a partir de vivências da disciplina eletiva Filosofia
para o Enem, ministrada na EEMTI Dom José Tupinambá da Frota, pertencente à CREDE 06
/ Sobral-CE, que vem a ser o “laboratório” da disciplina. Assim, o que é exposto nestes
parágrafos é o resultado da relação entre o ensino de filosofia e o uso de metodologias ativas
que toquem as tecnologias digitais no cenário da pandemia.
Servindo-se de metodologias ativas – estratégias que buscam envolver ativamente o
aluno no processo ensino-aprendizagem – buscou-se construir na disciplina eletiva de Filosofia
para o Enem um espaço de colaboração participativa, onde o aluno se sinta corresponsável por
sua formação. Especificamente, foram usadas quatro estratégias ativas nas aulas em que o
presente trabalho foi desenvolvido, a saber, o modelo de sala de aula invertida, o design
thinking, a pedagogia maker e a proposta steam.

Resultados e Discussões

O desenvolvimento de competências digitais vem sendo um dos assuntos mais


discutidos entre professores, seja pelo reconhecimento de nossas dificuldades em lidar com
uma sala de aula virtual, ou pela aceitação de que este é um caminho sem volta. Com a
pandemia, muitos de nós precisamos nos reinventar, reformando nossas práticas e laçando mão
de tantas ferramentas que o mundo digital tem a nos oferecer. Vivemos o momento da
“simbiose de práticas curriculares mediadas pelas tecnologias” (SALES, 2014, p.231), ou seja,
estamos num momento ímpar da história da educação, onde ferramentas estereotipadas como
inimigas da prática educacional se tornam aliadas do processo ensino-aprendizagem.
A filosofia, colaboradora do processo de desenvolvimento da consciência crítica, vê no
atual contexto uma oportunidade tanto de investigação – especialmente no que diz respeito às
relações ético-políticas por trás da pandemia – quanto um momento de reafirmar sua
importância para a formação integral do homem, sujeito convidado ao exercício consciente de
sua cidadania.
No desejo de garantir esse processo de desenvolvimento da consciência e da autonomia
de cada aluno, a disciplina eletiva de Filosofia para o Enem, desde o mês de fevereiro de 2021,
vem promovendo encontros semanais de forma virtual, utilizando o serviço de comunicação
por vídeo Google Meet. Além desse serviço, a disciplina também se serve de outras ferramentas
próprias do Google, tais como Google Forms, Google Jamboard e Google Classroom, onde por
meio de atividades assíncronas (fóruns, estudos dirigidos, atividades colaborativas e
questionários objetivos e/ou subjetivos) os alunos complementam sua carga horária semanal.
Outros recursos como o canva, quizizz, padlet, mentimeter, quizur, wordwall e miro foram
frequentemente usados durante as aulas.
Enquanto resultado do que vem sendo desenvolvido na escola, verifica-se que os alunos
inscritos na disciplina eletiva vêm mostrando maior rendimento nos componentes curriculares
da área de Ciências Humanas e Sociais, bem como melhor capacidade dissertativo-
argumentativa. Para além das competências cognitivas, nota-se também que os alunos têm
desenvolvido competências digitais como a habilidade em pesquisar, acessar e processar
informações, comunicar de forma objetiva e clara os resultados de pesquisas e a discussão de
problemas filosóficos éticos, políticos e tecnológicos.

Considerações finais

O processo ensino-aprendizagem cada vez mais tem exigido adequações, e, o uso de


ferramentas digitais tem sido um caminho para a reinvenção de nossas práticas pedagógicas.
Somadas às metodologias ativas, as ferramentas digitais vêm sendo uma garantia de bons
resultados no ensino de filosofia, tanto no que diz respeito ao rendimento quantitativo quanto
ao desenvolvimento de uma postura crítica e consciente em cada aluno.
A pandemia nos obrigou ao isolamento social, o que nos preocupou pelo rompimento
de processos já iniciados. Contudo, a articulação entre estratégias pedagógicas e tecnologias
digitais foram decisivas para a reinvenção de espaços não-físicos, onde a interação entre aluno
e professor pudessem ser tecidas de forma colaborativa.
Assim, em face do que foi apresentado, posso concluir três coisas, a saber, a primeira,
que o ensino de filosofia na pandemia é tão importante quanto quaisquer outros componentes
curriculares, haja visto que sua estrutura gnosiológica está na compreensão da realidade; a
segunda, a educação está sempre se reinventando, e a pandemia nos favoreceu ao criar um
ambiente para a reflexão de nossas práticas; e, a terceira, que o processo de construção da
consciência crítica do homem está relacionado com a problematização de aspectos concretos
da vida em seus aspectos históricos, sociais e culturais.
REFERÊNCIAS

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Acessado em 15 de junho de 2021.

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Disponível em: https://educacaointegral.org.br/wp-content/uploads/2015/01/livro-
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