Você está na página 1de 15

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

GRADUAÇÃO EM DIREITO

ANA MARIA MOLINARI


VITORIA PERES FERNANDES DE AZEVEDO

A TEORIA WEBERIANA E A PROPAGAÇÃO DE FAKE NEWS E


DESINFORMAÇÃO À LUZ DA TEORIA DE MAX WEBER

MARINGÁ
2023
ANA MARIA MOLINARI
VITORIA PERES FERNANDES DE AZEVEDO

A TEORIA WEBERIANA E A PROPAGAÇÃO DE FAKE NEWS E


DESINFORMAÇÃO À LUZ DA TEORIA DE MAX WEBER

Atividade apresentada a disciplina de Sociologia do curso


de Graduação em Direito, Centro de Ciências Sociais
Aplicadas, da Universidade Estadual de Maringá como
avaliação parcial do bimestre.

MARINGÁ
2023
3

INTRODUÇÃO

Na era da informação digitalizada, a disseminação de informações falsas emergiu


como um desafio complexo, lançando sombras sobre a integridade da informação e minando a
confiança nas instituições e na própria realidade. À medida que o ciberespaço se torna um
campo de batalha para a manipulação da verdade, é fundamental recorrer a teorias
sociológicas para lançar luz sobre esse fenômeno complexo e suas implicações sociais e
políticas.
Nesse contexto, a teoria sociológica de Max Weber oferece uma lente perspicaz para
compreender as raízes profundas desse fenômeno. Weber, renomado pela análise das
dinâmicas sociais e políticas, fornece insights valiosos sobre como as fake news se entrelaçam
com a busca pelo poder, a ação social, a ética da responsabilidade e o papel crucial das
instituições na sociedade digital.
Deste modo, será explorado como as ideias e conceitos de Weber sobre poder,
dominação, ação social, ética da responsabilidade etc. podem ser aplicadas para a era da
desinformação digital, onde fake news se propagam com extrema facilidade e agilidade, além
de buscar entender melhor as dinâmicas por trás desse fenômeno.
4

1. A TEORIA WEBERIANA

1.1 O ESTADO
Max Weber ofereceu uma valiosa definição de Estado que continua a
influenciar o pensamento político e social até os dias atuais. Para Weber, o Estado é
uma entidade que reivindica com sucesso o monopólio do uso legítimo da força dentro
de um determinado território. Essa definição ressalta o papel central da coerção como
característica distintiva do Estado, estabelecendo-o como a única instituição autorizada
a empregar a força de maneira legal. Além disso, o sociólogo enfatiza a legitimidade
como um componente crucial desse monopólio de força.
A legitimidade é obtida através da aceitação geral da autoridade do Estado pela
população, seja por meio de tradição, legalidade racional ou carisma. Nesse contexto,
o Estado é visto como uma instituição que detém o poder não apenas devido à sua
capacidade de coerção, mas também por sua capacidade de convencer os cidadãos de
que suas ações são justas e legítimas.
Portanto, a definição weberiana de Estado vai além da mera estrutura
burocrática e territorial. Ela aborda a natureza do poder e da autoridade, destacando a
importância da legitimidade para a estabilidade e funcionamento de uma sociedade.
Ao compreender o Estado como uma entidade que controla o uso da força de maneira
legítima e mantém a confiança da população, pode-se explorar as dinâmicas
complexas que governam as relações de poder e a governança em nossas sociedades
contemporâneas.

1.2 O PAPEL DA SOCIOLOGIA


A Sociologia desempenha um papel fundamental na obra de Max Weber. Seu
trabalho é marcado pela profunda análise da sociedade e da ação social, e ele
contribuiu significativamente para o desenvolvimento da Sociologia compreensiva.
O papel de Weber na Sociologia reside na sua abordagem interpretativa e na
ênfase que ele deu à compreensão dos significados e motivos subjacentes às ações
individuais e coletivas. Ele via a sociedade como um complexo de interações humanas
carregadas de significado, que não poderiam ser reduzidas a meras leis objetivas. Essa
perspectiva compreensiva permitiu a Weber capturar a diversidade e a subjetividade
das ações humanas, indo além das análises estritamente positivistas da época.
5

Ademais, Weber introduziu o conceito de "ação social", que destaca a


importância dos motivos e intenções das pessoas por trás de suas ações. Ele classificou
as ações em quatro tipos ideais: ação tradicional, ação afetiva, ação racional com
relação a fins e ação racional com relação a valores. Essa tipologia permitiu uma
compreensão mais profunda das motivações humanas e das formas como elas moldam
a vida em sociedade.
Outro aspecto crucial da contribuição do sociólogo é sua teoria da burocracia e
do processo de racionalização. Ele analisou como as organizações burocráticas se
tornam uma parte central das sociedades modernas, enfatizando a natureza eficiente,
mas também frequentemente alienante, desse tipo de organização. A racionalização,
para Weber, representava a crescente aplicação de lógica e eficiência em várias esferas
da vida, o que poderia levar à desencantamento do mundo.
Destarte, o papel da Sociologia para Max Weber é o de proporcionar uma
abordagem interpretativa profunda da sociedade, enfatizando a compreensão das ações
humanas, suas motivações e os efeitos da racionalização.

1.3 O PAPEL DO INDIVÍDUO


Weber atribui um papel central ao indivíduo na compreensão das dinâmicas
sociais. Para ele o indivíduo desempenha um papel fundamental na construção e
transformação das estruturas sociais, diferentemente de outras abordagens que tendem
a focar apenas em fatores macroestruturais.
Ele argumenta que a ação individual é guiada por motivos e significados
subjetivos, o que ele chamou de "ação com sentido". Esses significados conferidos
pelo indivíduo às suas ações têm um papel crucial na formação de grupos, instituições
e na sociedade como um todo, acreditando que era necessário compreender a
interpretação que os indivíduos fazem das situações a fim de entender os padrões
sociais que emergem.
Além do mais, Weber enfatiza a importância dos tipos ideais, que são
construções mentais que ajudam a analisar e compreender as complexidades da
realidade social. Aqui novamente, o papel do indivíduo é evidente, pois são as ações e
pensamentos individuais que contribuem para a formação desses tipos ideais.
No entanto, é importante ressaltar que Weber não negava a influência das
estruturas sociais, ele as considerava interagindo de maneira dinâmica com a ação
individual. Assim, o papel do indivíduo é ativo na medida em que ele não apenas se
6

submete passivamente às forças sociais, mas também as influências por meio de suas
ações e escolhas.
Ante o exposto, o papel do indivíduo para Weber é de protagonismo na
construção, interpretação e transformação da sociedade. Sua ênfase na ação individual,
nos significados subjetivos e nos tipos ideais enfatiza a importância de entender a
complexidade das interações sociais através das lentes das motivações e intenções dos
indivíduos.

1.4 PODER, DOMINAÇÃO E AÇÃO SOCIAL


Max Weber trouxe uma abordagem profundamente analítica para compreender
a complexidade das interações humanas dentro de contextos sociais e políticos. Sua
visão sobre poder, dominação e ação lançou luz sobre como esses elementos estão
intrinsecamente entrelaçados e moldam as estruturas sociais.
Em primeiro lugar, Weber estabeleceu uma distinção crucial entre poder e
dominação. Enquanto o poder se refere à capacidade de um indivíduo ou grupo de
impor sua vontade sobre os outros, a dominação é um tipo específico de poder que é
legitimado por normas sociais e aceito pelos governados como justo e apropriado.
Esse conceito evidencia que a autoridade e a obediência são aspectos intrínsecos à
dinâmica da dominação, permitindo que ela se perpetue mesmo quando os detentores
do poder mudam.
Weber classificou três tipos ideais de dominação: tradicional, carismática e
legal racional. A dominação tradicional se baseia em valores ancestrais e costumes,
sendo transmitida de geração em geração. A carismática, por sua vez, emerge da
devoção aos atributos excepcionais de um líder, enquanto a dominação legal-racional
está ancorada em regras e regulamentos impessoais. Essa tipologia revela como
diferentes formas de dominação podem coexistir e influenciar ações individuais e
coletivas.
Já a ação, de acordo com o sociólogo, é central para entender a relação entre
poder e dominação. Ele definiu quatro tipos de ação social: racional com relação a
fins, racional com relação a valores, afetiva e tradicional. Esses tipos de ação moldam
a maneira como os indivíduos respondem à dominação. A ação racional com relação a
fins envolve a busca calculada de objetivos, enquanto a ação racional com relação a
valores se pauta por crenças e princípios. A ação afetiva é guiada pelas emoções, e a
ação tradicional segue padrões estabelecidos ao longo do tempo.
7

A dinâmica entre poder, dominação e ação é complexa e dinâmica, pois as


sociedades estão em constante evolução. A legitimidade da dominação pode ser
questionada, , levando a movimentos de resistência e transformação. Além disso, as
mudanças nas estruturas de poder podem alterar os tipos de ação social prevalecentes.
A análise de Max Weber sobre a relação entre poder, dominação e ação
continua a ser uma base sólida para a compreensão das dinâmicas sociais e políticas.
Suas categorias analíticas oferecem ferramentas conceituais para explorar como
diferentes formas de poder se manifestam, como a dominação é legitimada e como os
indivíduos e grupos respondem a essas estruturas. A teoria de Weber permanece uma
contribuição valiosa para a sociologia e as ciências políticas, permitindo-nos
interpretar os padrões e transformações nas relações de poder ao longo do tempo.

1.5 INDIVIDUALISMO METODOLÓGICO E A SOCIOLOGIA


COMPREENSIVA
O individualismo metodológico e seu papel na sociologia compreensiva de
Max Weber desempenham um papel fundamental na compreensão das ações e
interações humanas dentro de um contexto social. ele defendia a ideia de que a análise
sociológica deveria se concentrar nas ações individuais e nas motivações que as
impulsionam, a fim de compreender a complexidade da vida social.
O individualismo metodológico proposto por Weber destaca a importância de
considerar as ações individuais como unidades básicas de análise. Ele argumentava
que, ao compreender os significados subjetivos que os indivíduos atribuem às suas
ações, é possível capturar a lógica por trás das interações sociais e das estruturas que
emergem delas. Dessa forma, Weber buscava ir além de simples correlações
estatísticas, explorando os motivos e intenções que moldam os comportamentos
sociais.
Na sociologia compreensiva de Weber, o papel do individualismo
metodológico é crucial para desvendar a complexidade das sociedades. Ao se
concentrar nas experiências e perspectivas dos indivíduos, Weber permitiu uma análise
mais profunda das relações sociais, das instituições e das mudanças culturais. Ele
acreditava que essa abordagem permitia uma compreensão holística da sociedade,
evitando generalizações simplistas e considerando a diversidade de motivações que
influenciam as ações humanas.
8

No entanto, é importante destacar que o individualismo metodológico de


Weber também recebeu críticas. Alguns argumentaram que essa abordagem pode
negligenciar estruturas sociais mais amplas e desigualdades sistêmicas, focando
excessivamente na subjetividade individual. Ademais, a metodologia de Weber pode
ser desafiadora de aplicar em contextos em que as motivações individuais não são
facilmente discerníveis ou podem ser influenciadas por fatores ocultos.
A relação entre o individualismo metodológico e a sociologia compreensiva de
Max Weber reside na ênfase na compreensão das ações individuais e das motivações
subjacentes como forma de desvendar a complexidade da vida social. Embora esta
abordagem tenha suas limitações, ela desempenhou um papel essencial no
desenvolvimento da sociologia e na busca por uma compreensão mais profunda das
interações humanas.

2. A PROPAGAÇÃO DE FAKE NEWS E A DESINFORMAÇÃO À LUZ DA TEORIA


DE MAX WEBER
Na era digital, a disseminação de informações falsas tem se mostrado um desafio
crescente para a sociedade contemporânea. Através da ótica da teoria sociológica de Max
Weber, é possível compreender como esse fenômeno complexo se encaixa no contexto social
e político atual.
De acordo com Weber, a sociedade é caracterizada por uma pluralidade de grupos
sociais, cada um com seus próprios interesses e objetivos. Nesse contexto, a disseminação de
fake news pode ser vista como um reflexo da luta pelo poder e pela influência entre esses
diferentes grupos. A manipulação da informação e a propagação de narrativas falsas muitas
vezes visa criar coesão interna e legitimidade, fortalecendo sua posição perante outros.
O sociólogo também introduziu o conceito de “ação social”, enfatizando que os
indivíduos agem com base em suas próprias interpretações e compreensões da realidade, isso
se torna evidente quando observamos como as pessoas compartilham informações que
confirmam suas crenças preexistentes, mesmo que essas informações sejam falsas. Isso reflete
a tendência humana de buscar informações que reforcem suas visões de mundo, contribuindo
para a disseminação e perpetuação da desinformação.
A “ética da responsabilidade” de Weber também lança luz sobre o problema das fake
news. Ele argumentava que os indivíduos deveriam considerar não apenas suas intenções, mas
também as consequências previsíveis de suas ações. Muitos indivíduos compartilham
informações sensacionalistas ou enganosas sem avaliar as potenciais ramificações para a
9

sociedade, assim, essa falta de responsabilidade ética, contribui para a disseminação de


desinformação, prejudicando o tecido social e enfraquecendo a confiança nas instituições.
A importância das instituições na sociedade moderna, outro conceito central em
Weber, é indispensável na batalha contra a desinformação. As plataformas digitais, hoje, são
instituições de grande influência na disseminação de informações. A falta de regulamentação
eficaz nessas plataformas permite que fake news se espalhem rapidamente, prejudicando a
integridade da informação e desafiando a legitimidade das instituições estabelecidas. No que
tange a isso, a teoria de Weber nos lembra da responsabilidade dessas instituições em regular
a disseminação de informações e garantir a precisão dos conteúdos compartilhados.
Nesse contexto, o carisma, que de acordo com Weber refere-se à capacidade de um
líder ou indivíduo influenciar outros com base em qualidades pessoais excepcionais e
carismáticas, desempenha um papel intrigante. Na era digital, os disseminadores de
informações falsas podem, em certos casos, utilizar seu carisma para atrair seguidores e
ampliar o alcance de suas narrativas enganosas.
É importante destacar que os indivíduos carismáticos têm uma capacidade natural de
cativar a atenção das pessoas, tornando-as mais suscetíveis à sua mensagem, mesmo que seja
falsa. As características carismáticas, como confiança, eloquência e carisma pessoal, podem
fazer com que as pessoas se sintam atraídas por aqueles que as apresentam. Isso significa que
mesmo informações falsas podem ganhar credibilidade quando apresentadas por esses
indivíduos.
Além disso, as pessoas são frequentemente atraídas por líderes ou figuras carismáticas
que parecem expressar suas próprias frustrações e visões de mundo. Isso pode criar um
vínculo emocional entre o líder e seu público, levando as pessoas a compartilharem essas
informações enganosas porque se identificam com o indivíduo carismático por trás delas. Isso
reflete, mais uma vez, a tendência humana de buscar informações que confirmem suas crenças
preexistentes.
Ainda nesse raciocínio, os disseminadores dessas falsas informações podem ser
diversos, variando desde indivíduos comuns até figuras públicas, políticos, grupos
organizados e até mesmo bots de redes sociais. É importante entender que não há um único
perfil de disseminador de fake news, mas várias categorias que contribuem para a propagação
dessas informações enganosas.
Pessoas comuns frequentemente compartilham informações falsas, muitas vezes
inadvertidamente, movidas por suas próprias crenças e emoções. Isso pode ocorrer devido à
falta de verificação de fontes confiáveis ou à influência de conteúdo que ressoa com suas
10

opiniões preexistentes. Por outro lado, figuras públicas e políticos podem deliberadamente
espalhar fake news como uma tática para atingir objetivos políticos ou pessoais, aproveitando
sua influência para amplificar informações enganosas e moldar a opinião pública. Grupos
organizados, como grupos de interesse e organizações políticas, frequentemente empregam a
disseminação dessas desinformações como parte de suas estratégias para promover agendas
específicas, financiando campanhas de desinformação e utilizando táticas elaboradas para
alcançar seu público-alvo. Os bots automatizados nas redes sociais representam uma ameaça
significativa, pois podem espalhar falsas informações em grande escala, criando tendências
artificiais e influenciando discussões online ao se passarem por humanos. Adicionalmente,
plataformas de mídia falsa ou sensacionalista são frequentemente os criadores originais de
fake news, produzindo conteúdo enganoso com o objetivo de gerar tráfego para seus sites e
lucro por meio de anúncios. Ademais, influenciadores digitais também têm impacto, já que
sua grande audiência nas redes sociais os torna propagadores eficazes de desinformação, seja
por ignorância ou por interesse próprio.
Portanto, a combinação do carisma com a disseminação de informações falsas destaca
a importância de abordar não apenas a informação em si, mas também quem a está
divulgando e com que motivações carismáticas. Para combater eficazmente a disseminação de
informações falsas é crucial promover uma cultura de responsabilidade ética e incentivar uma
análise crítica das fontes de informação, independentemente de quão carismáticas possam
parecer.
Um exemplo literário que ilustra o tema da disseminação de informações falsas e sua
influência nas relações sociais é o livro "1984" de George Orwell. Nesta obra, observa-se um
cenário sombrio e distópico no qual um governo totalitário controla a realidade ao manipular
informações. Essa trama exemplifica vividamente a disseminação de informações falsas e
seus impactos na sociedade. Sob o regime do Partido, a "duplipensar" é utilizada para
reescrever o passado e alterar a verdade, mostrando como a distorção deliberada da
informação pode moldar as percepções e crenças das pessoas. Os "ministérios da verdade"
espalham mentiras convincentes, reforçando assim a relevância do conceito de Max Weber
sobre a manipulação da informação para consolidar poder e influência.
Além disso, o protagonista, Winston Smith, trabalha no Ministério da Verdade, onde
sua função é reescrever documentos históricos para se alinharem com a narrativa do Partido,
ilustrando a noção de manipulação de informações para atender a objetivos políticos. A leitura
crítica do livro destaca como as fake news podem ser usadas como ferramenta para reforçar
uma ideologia e suprimir perspectivas contrárias.
11

Os indivíduos nesse mundo distópico compartilham a tendência destacada por Weber


de buscar informações que confirmem suas visões preexistentes, ignorando ou rejeitando
informações contrárias. Essa dinâmica é exemplificada através das personagens que
internalizaram as mentiras do regime, escolhendo acreditar nelas, mesmo que a realidade
sugira o contrário. Isso ressalta a dificuldade em corrigir a disseminação de informações
falsas quando estas se alinham às crenças arraigadas.
O conceito de "ética da responsabilidade" de Weber também encontra ressonância no
mundo de "1984". A ausência de responsabilidade ética por parte do Partido ao manipular
informações para controlar a população resulta em consequências devastadoras para a
sociedade, minando a confiança nas instituições e corroendo a base da verdade.
Portanto, "1984" serve como um exemplo literário poderoso que ecoa as ideias de Max
Weber sobre a disseminação de informações falsas, a manipulação da realidade e os efeitos
sociais e políticos resultantes. Essa obra ressalta a importância de uma sociedade bem-
informada e vigilante para combater a ameaça das fake news e preservar a integridade da
informação e das instituições.
O filme "Rede de Intrigas" (1976), dirigido por Sidney Lumet, oferece um olhar
penetrante sobre a disseminação de informações falsas e suas implicações na sociedade. Na
trama, o protagonista, um âncora de televisão chamado Howard Beale, é explorado por seus
empregadores que percebem o potencial de lucro ao capitalizar sobre suas expressões
emocionais e discursos desequilibrados. Gradualmente, Beale passa de um âncora
convencional a um propagador de mensagens sensacionalistas e fictícias, que capturam a
atenção do público e geram altos índices de audiência.
O filme retrata vividamente a dinâmica apontada por Max Weber, na qual a luta pelo
poder e pela influência entre grupos sociais diferentes pode levar à manipulação da
informação. A busca incessante por maior audiência e lucro por parte da emissora de televisão
é análoga ao desejo de grupos sociais de reforçar sua posição através da disseminação de
narrativas falsas. A disseminação deliberada de desinformação não apenas atrai um público
cativo, mas também serve para criar coesão interna dentro da organização, à semelhança do
que Weber descreveu em relação aos grupos sociais.
Além disso, o filme explora como as pessoas são atraídas a compartilhar e acreditar
em informações que confirmam suas crenças preexistentes. A transformação de Beale em um
veículo de desinformação é acelerada pela receptividade do público a suas mensagens
sensacionalistas e por sua busca por uma voz que ecoe suas próprias frustrações e raiva. Esse
12

aspecto ecoa o conceito de "ação social" de Weber, enfatizando que os indivíduos agem com
base em suas interpretações pessoais da realidade.
A "ética da responsabilidade" de Weber também se relaciona diretamente com o filme,
à medida que Beale e seus empregadores negligenciam as consequências das informações
falsas que estão transmitindo. O foco na audiência e nos lucros imediatos obscurece a
avaliação das ramificações sociais e éticas de suas ações, ilustrando como a falta de
responsabilidade ética pode contribuir para a disseminação de desinformação e prejudicar o
tecido social.
Assim como na teoria de Max Weber, "Rede de Intrigas" ressalta a importância das
instituições na sociedade moderna. No filme, a emissora de televisão exerce um poder
considerável na disseminação de informações, sem uma regulamentação eficaz para manter a
integridade das notícias. A falta de supervisão leva à rápida disseminação de informações
falsas, prejudicando a confiança nas instituições e destacando a necessidade de
regulamentação para garantir a precisão das informações compartilhadas.
O filme "Rede de Intrigas" é um exemplo impactante que espelha as ideias de Max
Weber sobre a disseminação de informações falsas, a manipulação da realidade e suas
implicações sociais e políticas. Através dessa obra cinematográfica é evidenciado os desafios
atuais relacionados à desinformação na era digital e da importância de uma sociedade bem-
informada e vigilante para preservar a integridade da informação e das instituições.
Em conclusão, a teoria de Max Weber oferece um arcabouço teórico robusto para
compreender os desafios contemporâneos da desinformação e fake news. Ao analisar esses
fenômenos sob a ótica da busca pelo poder, da ação social, da ética da responsabilidade e da
importância das instituições, podemos entender melhor as causas subjacentes e suas
consequências. A luta contra a desinformação requer uma abordagem multifacetada que
valorize a informação precisa, a responsabilidade ética e a regulamentação das instituições
digitais, a fim de preservar a integridade da informação e promover uma sociedade mais
informada e coesa.
13
14

CONCLUSÃO
A análise dos desafios da desinformação e das fake news através da lente teórica de
Max Weber fornece visões profundas sobre a complexidade desse fenômeno na era digital.
Através dessa ótica percebe-se que a disseminação de informações falsas não é apenas um
problema de conteúdo, mas também um reflexo das dinâmicas sociais, políticas e éticas em
jogo. A busca pelo poder, a influência dos líderes carismáticos, a tendência humana de
confirmar crenças preexistentes, etc. são todos elementos-chave que contribuem para a
propagação da desinformação.
Para combater eficazmente esse desafio, é indiscutível adotar uma abordagem holística
que envolva educação, regulamentação e responsabilidade individual, promovendo uma
cultura de análise crítica da informação, incentivando a verificação de fontes confiáveis e a
consideração das consequências éticas das ações.
A obra literária "1984" de George Orwell e o filme "Rede de Intrigas" dirigido por
Sidney Lumet oferecem exemplos poderosos de como a manipulação da informação pode ser
usada para consolidar poder e influência, bem como as consequências devastadoras que isso
pode ter para a sociedade. Essas obras servem como lembretes vívidos da importância de
preservar a integridade da informação e da necessidade de uma sociedade vigilante e bem-
informada.
A batalha contra a desinformação é uma tarefa contínua que exige esforços coletivos e
um compromisso com a verdade, a ética e a integridade. A teoria de Max Weber nos
proporciona uma estrutura valiosa para compreender os mecanismos subjacentes desse
desafio, mas é por meio da ação coletiva e da promoção de uma cultura informacional
responsável que é possível efetivamente combater a disseminação de informações falsas e
salvaguardar a qualidade da informação para a sociedade.
15

REFERÊNCIAS
RAMOS, Alberto Guerreiro. A sociologia de Max Weber . In: RAMOS, Alberto Guerreiro.
Revista do Serviço Público. Brasília: ENAP, 1946.

SELL, Carlos Eduardo. Max Weber. In: SELL, Carlos Eduardo. Sociologia clássica: Marx,
Durkheim e Weber. Petrópolis: Editora Vozes, 2009. p. 45-69.

Você também pode gostar