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Trabalho de Conclusão de Curso

1. SUMÁRIO

1. SUMÁRIO 2
2. TÍTULO, RESUMO E ABSTRACT 3
3. INTRODUÇÃO 5
4. DESENVOLVIMENTO 6
5. CONCLUSÃO 14
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 15

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1. OS CONFLITOS NAS RELAÇÕES DE PODER NA SOCIEDADE.

Marcos Silva Vieira

RESUMO

Neste artigo, pretendo apresentar os conflitos nas relações de poder na sociedade desde a
revolução industrial até os dias contemporâneos. A sociedade entendida na construção do elemento
poder entre dominador e dominado, as desigualdades, as causas e conflitos tanto no âmbito pessoal,
quanto profissional. Levantar questões reflexivas quanto as teorias de Max Weber e Robert Michels,
relacionando com a historicidade da violência com o poder em nossa sociedade e suas implicações
no mundo atual, mostrando que mesmo com os estudos profundos destes dois teóricos desde o
início, pouco foi feito quanto a problemática existente na atualidade, que os motivos são históricos
e, que a mudança precisa existir de forma gradual e efetiva. Michel Foucault e Pierre Bourdieu,
estarão relacionados neste artigo, ligando as relações, individuais ou trabalhistas enquanto
sociedade. Nesta etapa, procuro apresentar as visões destes grandes sociólogos quanto às questões
de violência do opressor e do oprimido na sociedade contemporânea, tanto no âmbito pessoal, de
gênero quanto político. Mostrar que uma das violências mais evidentes em nossa sociedade atual é a
violência simbólica, ligado ao poder simbólico, que desde sua conceitualização por Pierre Bourdieu,
tornou-se prática comum, considerada normal. Trazer também as conclusões e possíveis soluções
para os conflitos que ainda estão na sociedade atual ligadas às teorias citadas, passando sobre como
era e, como é hoje, verificando quais as mudanças observadas e quais ainda persistem socialmente
nas relações de poder, autoritarismo e preconceito.

Palavras-chave: poder, cultura, desigualdade, preconceito, autoritarismo, Max Weber,


Robert Michels, Michel Foucault, Pierre Bourdieu.

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ABSTRACT

In this article, I intend to present the conflicts in power relations in society from the
industrial revolution to the present day. The society understood in the construction of the element of
power between the dominant and the dominated, the inequalities, the causes, and conflicts both in
the personal and professional spheres. To raise reflective questions about the theories of Max Weber
and Robert Michels, relating the historicity of violence with power in our society and its
implications in today's world, showing that even with the deep studies of these two theorists since
the beginning, little has been done about the problem that exists today, that the reasons are historical
and that change needs to exist gradually and effectively. Michel Foucault and Pierre Bourdieu, will
be related in this article, linking the relations, individual or labor as a society. In this step, I try to
present the views of these great sociologists regarding the issues of violence of the oppressor and
the oppressed in contemporary society, both in the personal, gender, and political spheres. To show
that one of the most evident forms of violence in our society today is symbolic violence, linked to
symbolic power, which, since its conceptualization by Pierre Bourdieu, has become common
practice, considered normal. Also bring the conclusions and possible solutions to the conflicts that
are still in the current society linked to the cited theories, going over how it was and, how it is
today, verifying which changes were observed and which still persist socially in power relations,
authoritarianism and prejudice.

Keywords: power, culture, inequality, prejudice, authoritarianism, Max Weber, Robert


Michels, Michel Foucault, Pierre Bourdieu.

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1. INTRODUÇÃO

Quando tratamos de relações de poder e de gênero, somos barrados em um conceito


histórico de que o homem é senhor e tutor. Contextualizando o problema podemos refletir na
questão da cultura patriarcal que é introduzida por valores e conceitos educacionais familiares
repassados de geração em geração.

Apesar dos avanços tecnológicos e sociais deste século, o que explica a permanência dessa
disparidade e da segregação nas relações de poder na sociedade? Porque uma das violências mais
evidentes em nossa sociedade atual é a violência simbólica? Como o poder simbólico, desde sua
conceitualização tornou-se prática tão comum e até mesmo considerada normal? Tenho como
objetivo mostrar que a sociedade de hoje foi construída no elemento poder entre dominador e
dominado, com desigualdades e conflitos tanto no âmbito pessoal, emocional e profissional. E, que
a explicação para a permanência deste fenômeno deve ser buscada em características
histórico-estruturais da sociedade e num conjunto de mudanças, sociais, econômicas, políticas e
culturais, relacionadas com as transformações mais recentes do capitalismo, a globalização
econômico-financeira, reduzindo as barreiras para o movimento do capital em escala mundial; a
reestruturação produtiva, com a introdução do modelo de acumulação flexível; e a revolução
tecnológica com a convergência entre comunicações, telecomunicações e informática, sem a qual os
fenômenos da aceleração do tempo de produção, circulação e consumo e da compressão do espaço
não teriam sido possíveis.

Esta pesquisa tem como metodologia diversos estudos sobre poder, tratando das questões
relacionadas aos processos democráticos, levando em consideração as teorias contemporâneas sobre
poder chegando até a naturalização da chamada violência simbólica.

Procuro mostrar que cada vez mais precisamos entender a motivação que levou a situação de
desigualdade de poder na atualidade, e quais os caminhos devemos percorrer para desconstruir essa
situação entre dominador e dominado que perdura em nossa sociedade. Penso que ela é de total
relevância para estas e as novas gerações que conhecerão como foi e de que forma criar uma
estrutura política e social mais igualitária.

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1. Relações de poder e contexto histórico-teórico de Weber e Michels

Quando falamos em parâmetros sociais para entender o poder não podemos deixar de citar
Max Weber, sua racionalidade burocrática e as várias formas que o poder assume nas relações e no
funcionamento do Estado moderno.

A teoria política de Weber, e quando escrevo política não significa a política em si, mas o ser
humano como ser político, é predominantemente em um processo de desencanto do mundo, visto
que ele tinha uma visão pessimista devido às tensões relativas à guerra que se tornava iminente. Isto
visto pela ótica Weberiana dentro do contexto histórico geográfico vivido por ele. Diante disso, as
relações de comunidade, orientadas em um conjunto de esferas relativamente autônomas, lógicas e
sistemas de valores, normas e crenças, mantêm um espaço onde os indivíduos em suas relações
agem de acordo com o que entendem como sociedade. É nesse contexto que Weber cria conceitos
políticos para a divisão de poderes, onde ele identifica os três elementos: classes, estamentos e
partidos. Entender estas instâncias ajuda a compreender a distribuição de poder e suas teorias sobre
dominação, inclusive sobre gênero, dado a situação relevante de industrialização imediata que a
Europa estava vivenciando. Weber vivenciou a questão da atividade industrial das mulheres em pé
de igualdade com os homens na questão atividades, porém percebendo salários muito menores e,
com carga horária maior. Entendo que a organização do processo industrial ampliou a
burocratização da vida social, criando assim uma racionalização e normalização das questões
relacionadas ao homem como ser social colocando aí as primeiras questões de desigualdade de
gênero relacionadas ao processo de industrialização:

A legitimidade de uma dominação deve naturalmente ser considerada apenas uma


probabilidade de, em grau relevante, ser reconhecida e praticamente tratada como tal. [...] O
decisivo é que a própria pretensão de legitimidade, por sua natureza seja ‘válida’ em grau
relevante, consolide sua existência e determine, entre outros fatores, a natureza dos meios
escolhidos (WEBER, 1994, p. 140).

Weber define que cada um dos três elementos tem sua organização de acordo com seus
devidos princípios. As classes seguem a lógica da aquisição de bens e de relações de produção,
sendo assim o motor impulsor da máquina consumista. Lembrando que esta relação de produção
nem sempre é justa tornando assim o processo de consumo também desigual no que se refere às
questões de gênero. O estamento por sua vez, teriam o princípio de consumo de bens de acordo com
o modo de vida de cada grupo, sendo assim, por determinação, teríamos este consumo de bens de

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forma desigual, sendo que as camadas com maior poder teriam melhor poder de consumo. Por fim
os partidos estariam voltados exclusivamente para a obtenção do domínio, tomando portanto posse
do poder institucional. Deve se considerar aí que os partidos citados por Weber tinham de certa
forma o poder irrestrito à máquina da industrialização, sendo assim, detinham tanto o poder de
produção quanto seu consumo.

Dentro de toda essa questão formulada, estavam as classes menos favorecidas, mulheres e
crianças, tidas como mais frágeis e fracas diante das mudanças nas relações de trabalho, foram já,
inicialmente nesse processo, marginalizadas pela sociedade patriarcal em todas as esferas sociais,
nos meios de produção e consumo direto, principalmente nas relações trabalhistas e comerciais.

Essas relações mostram que o poder dominante estava em quem detinha o capital e por fim
os meios de produção, que ditavam as regras trabalhistas e coordenavam os recursos destinados aos
trabalhadores. Sendo assim, mantinham a ordem de consumo de acordo com suas visões de classes
mais ou menos favorecidas.

Saindo das relações de produção e trabalho, Weber no campo da política, preocupou-se em


estudar o estado e suas relações quanto a sociedade, em todos os níveis. Estudou profundamente de
que formas o poder é estabelecido e, especificamente, os tipos de dominação elas podem exercer.
Para isto desenvolveu a teoria de que um líder pode exercer dominação sobre outro indivíduo por
três tipos de dominação a qual chamou de dominação legítima. Isso se encaixa perfeitamente nesse
artigo pois exemplifica o que ocorria na época de Weber, tanto no âmbito político quanto nas
relações trabalhistas e porque não dizer entre indivíduos como um todo. Quando Weber enumera os
três tipos de dominação legítima afirma que o fundamento da legitimidade dessa dominação pode
ser:

1. de caráter racional: baseada na crença na legitimidade das ordens estatuídas e do direito


de mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercer a
dominação (dominação legal), ou;

2. de caráter tradicional: baseada na crença cotidiana na santidade das tradições vigentes


desde sempre e na legitimidade daqueles que, em virtude dessas tradições, representam a
autoridade (dominação tradicional); ou por fim,

3. de caráter carismático: baseada na veneração extracotidiana da santidade, do poder


heróico ou do caráter exemplar de uma pessoa e das ordens por esta reveladas ou criadas
(dominação carismática) (WEBER, 1994, p.141).

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A explicação se desenvolve sob um instrumento de coerção e dissuasão definido por ele
como monopólio da violência legítima e, diante disso, formula os três tipos de dominação legítima.
Essa dominação legítima teorizada por Weber perpassa por todas as esferas sociais e de gênero,
mantendo a dominação principal de acordo com as classes e gêneros. A primeira seria a
racional-legal e sua legitimidade é exercida por um conjunto de leis e normas e da racionalização
nos processos sociais. É o exemplo moderno de dominação que temos na sociedade atual dentro da
política, democrática ou não. A segunda seria a tradicional que é legitimada por costumes e
tradições patriarcais com hierarquização definida entre lideranças e subordinados. Novamente
vemos aqui a desigualdade entre poderes relacionando o patriarcalismo que determina a posição
social e política de gênero dentro do ambiente social e político. A terceira, por mim considerado a
mais perigosa, é a carismática, onde o componente afetivo é o meio de dominação, não importando
portanto que tipo de regras, normas ou leis existam, porque na teoria, o carismático necessita apenas
de suas atribuições, sejam elas heróicas, intelectuais ou de oratória. Por muitas vezes, a dominação
carismática perpassa o elemento de coerção e passa a ser algo transcendente, sobrepondo a leis e
regras, quase criando uma situação de deidade no entorno dele. De certa forma esta dominação
explica, não justifica, certos tipos de relações tóxicas, sejam elas sociais, emocionais ou políticas,
onde se assume a função de dominado por aquele que vê o carismático como única solução para
seus problemas, sem enxergar suas próprias necessidades, conceitos e autonomia.

Esses três tipos de dominação seguem ideia weberiana dos tipos ideais, mas sempre será
possível que duas ou mais combinações ocorram em um mesmo ambiente. Isso porque se percebe
que elas nunca ocorrem sozinhas, estão ligadas e interligadas pela questão normalmente de
dominância absoluta, que muitas vezes questiona regras da sociedade como impróprias ou liberais
demais ao mundo contemporâneo. A questão aqui citada trata segundo Weber de questões políticas
analisadas em sua época mas, que continuam a ser retratadas socialmente nos dias de hoje nas
questões de dominância entre gênero relacionadas ao âmbito social e trabalhista (WEBER, 1994).

Quanto a Robert Michels, jamais deixou de observar os malefícios da concentração de poder


por parte da dominância. Absorveu o olhar crítico de Max Weber, relacionando essa concentração a
uma falta de democracia, estava certo, pois a democracia ocorre em primeira instância dentro do
núcleo familiar. Sendo assim muitas das teorias usadas por Robert Michels podem ser relacionadas
a toda e qualquer questão social. Usou a ciência social para pesquisar processos políticos da
sociedade e formular a chamada teoria das elites que se aproxima muito da teoria de Weber sobre os

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trẽs tipos de dominação legítima. Nela Michels elabora o conceito de lei de ferro das oligarquias.
Dentro dessa teoria, a democracia tinha cada vez menos espaço, pois a vontade soberana do povo
seria mera formalidade. Ele propunha uma teoria que diz que a batalha pelo domínio institucional e
político é tarefa das elites que, ao consolidarem suas posições na sociedade através de meios
persuasivos tendem a afastar-se dos grupos dominados. Michels manifesta sua preocupação com a
validade do ambiente democrático, pois o poder sempre estará ligado à disputa das elites e estas têm
o domínio do ambiente social, levando este domínio a todas as esferas, sejam elas políticas,
trabalhistas e sociais. Voltamos ao conceito de Max Weber, reforçado por Michels, sobre a teoria
política, sua racionalidade burocrática e as várias formas que o poder assume nas relações e no
funcionamento do Estado moderno. (MICHELS, 1982).

Nisso vê-se que a questão principal da teoria das elites formulada por Michels se refere ao
fato, da elitização ocorrer até mesmo no interior de organizações ditas comprometidas com os
princípios de igualdade e democracia, citando os partidos políticos de massa e os sindicatos
organizados, existindo também dentro dos núcleos sociais mais simples como a família. A teoria
das elites demonstra o predomínio elitista majoritário, muitas vezes patriarcalista e hierarquica.
Isso se dá principalmente pelo fato dos membros da classe dirigente constituírem um grupo
homogêneo e solidário entre si, seja por afinidade de interesses ou por outros motivos. Dessa forma
Michels explica que as massas têm a necessidade de ter chefes, mas que elas se prendem menos a
discussões sérias que ao discurso do espetáculo. Isso mostra que para Michels, num partido político
o maior apego das massas é a forma do discurso ao invés do conteúdo formulado (Michels, 1982, p.
39).

2. A contemporaneidade sobre o poder segundo Foucault e Bourdieu

Michel Foucault e Pierre Bourdieu foram autores que se dedicaram a examinar e redescobrir
as práticas de dominação, autoridade e democracia, além dos limites da soberania popular. Suas
teorias e ideias ainda são base para o entendimento dos meios de dominação, que não ocorre apenas
pela via da racionalidade.

Michel Foucault, que citarei primeiramente, investigou as origens dos sistemas disciplinares

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e concluiu que o poder não é algo apenas relacionado a uma organização política ou um conjunto de
instituições, sejam elas públicas ou privadas. Segundo ele, o poder é dinâmico e estará nas relações
cotidianas, exercido desde a dimensão micro principalmente ao que Foucault chamou de biopoder,
onde a disciplina e controle se dá de maneira sutil na maioria das vezes com base no que o
dominador tem em saber e, nas técnicas de linguagem que na maioria das vezes se sobressai ao
dominado. Essa sutileza existe e coexiste nestas relações e, é possível perceber no meio social como
foco dinâmico desse poder. No livro Microfísica do poder (1979), Foucault é objetivo ao escrever:
“não é possível que o poder se exerça sem saber, não é possível que o saber não engendre poder”.

Segundo Foucault (São Paulo: Martins Fontes, 1999, p.3): […]Em outras palavras, como a
sociedade, as sociedades ocidentais modernas, a partir do século XVIII, voltaram a levar em conta
o fato biológico fundamental de que o ser humano constitui uma espécie humana.

Dado os estudos sobre poder e biopoder poderemos entender que de certa forma as
instituições dominantes têm de forma sutil determinado o crescimento populacional, a concentração
de trabalhadores ou até mesmo a manutenção da produtividade. Tudo isso no foco nos detalhes, na
criação de normas e imposições apoiado na vida biológica e suas nas estatísticas. Dentro desse
ponto estão ainda as questões relacionadas ao gênero e cor, na qual ainda se percebe a desigualdade
social diante de questões relacionadas à vida e sociedade.

Assim, as questões pertinentes ao biopoder começam a tomar forma por Foucault em 1978
no curso Segurança, território, população, onde conduz suas análises sobre o biopoder definindo-o
como "o conjunto dos mecanismos pelos quais aquilo que, na espécie humana, constitui suas
características biológicas fundamentais, vai poder entrar numa política, numa estratégia política,
numa estratégia geral do poder" (Foucault, 2008a, p. 3). Neste contexto entendemos que a definição
de biopoder está ligada ao fato biológico do ser humano e ao fator político social que existe dentro
de uma sociedade .

O alvo do biopoder é a população propriamente dita que é submetida a processos próprios da


vida humana, processos estes pertencentes a espécie como nascimento, morte, produção ou doenças
e, esse poder disciplinar introduz uma série de vigilâncias e normas que regem os mecanismos
simples de punição e controle, permitindo que as regras disciplinares sejam comandadas por uma
normalização que deveria ser a referência para ações biopolíticas. Dentro deste pensamento,

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segundo Foucault, a partir do século XVII surge essa nova organização de poder. No raciocínio, “o
direito de morte tenderá a se deslocar ou, pelo menos, a se apoiar nas exigências de um poder que
a
gere a vida e a se ordenar em função dos seus reclames.”(Foucault, 1976/2010 , p.148). Ou seja,

entende-se que antes era legítimo provocar a morte ou deixar viver e, a partir dessa citação, os
mecanismos do poder devem produzir vida, diretamente articulada a possibilidade de deixar morrer.
A diferença aí está na forma como colocamos a questão de deixar viver, nela vemos que o fator
determinante de poder não significa demonstrar a força de viver ou morrer, mas a liberdade de
decidir entre viver ou morrer. Podemos citar como exemplo o custo de prevenção ao crime em
determinada classe social ou gênero. Seria vantajoso reduzi-lo para zero? Ou seria mais adequado
reduzir as taxas de mortalidade para uma taxa de normalidade já estabelecida e aceita pela
sociedade? Dessa forma podemos pressupor que aquele valor referência é o que aceitamos como
justo para aquela população dentro daquele contexto social.

Levando esse contexto em consideração, podemos dizer que Foucault estava certo,
confrontos ao longo de séculos testemunham a favor de situações cruéis. Massacres, extermínios
estão ligados a um poder que tem como meta aperfeiçoar a vida. Na era do biopoder a morte de uns
assegura a vida de outros e assim por diante, o mais fraco, sucumbe diante do mais forte, e isso faz
com que seja visto como perdas aceitáveis. Essa maneira de equivalência entre vida e morte, que
está na base do biopoder, explica alguns fenômenos atuais como o racismo de Estado, algo
emergente desde a virada do século XIX. Esse racismo de Estado, que está de certa forma inserida e
velada em nossa sociedade, retoma o antigo e tradicional ódio social, e consiste basicamente em
uma maneira de purificar a “raça”, através da eliminação de determinados grupos étnicos ou de
gênero. Esse poder pode ser exercido principalmente pelas estruturas de governo vigente, e está
ligada a uma falsa noção de prosperidade ou extermínio, vivenciado principalmente pelo poder
dominante. Esse extermínio não está apenas ligado à "morte" física, mas também perpassa pela
morte política, cultural, expulsão e rejeição. Dessa forma, racismo de Estado estaria ligado
principalmente à "morte" de grupos e culturas tidos como inferiores, anormais diante de uma
sociedade moldada com o modelo de raça mais sadia e mais pura. Assim entendemos como o
biopoder age, de forma sutil como abordado no início, mas pondo à margem os indivíduos que não
estão adequados aquela sociedade.

Quando falamos desse biopoder, descrito por Foucault, vamos nos lembrar de mecanismos
politicos radicais como o stanilismo e o nazi-fascismo, a perseguição e morte aos negros nos

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Estados Unidos ou ate mesmo a negação de migrantes de estados ditos inferiores. As atrocidades
cometidas e apoiadas por um ideal de perfeccionismo de raça levaram a situações de ditadura,
mesmo em nações ditas democráticas. Nesse contexto surgem grandes partidos políticos que
defendem essa forma de poder levando ao surgimento de aparatos policiais e instrumentos de
repressão.

Filósofo e Sociólogo francês, assim como Michel Foucault, Pierre Bourdieu é considerado
um dos principais sociólogos do século XX, e um dos mais influentes pensadores do período.
Bourdieu é um dos clássicos da teoria social, com sua obra estrutural, histórica e política mas não
militante; marxista quanto à base, porém weberiana para ter a legitimação da ciência social.
Pensador proeminente do pensamento social e com vasta produção intelectual, Bourdieu traz
significativas contribuições para a compreensão dos fenômenos sociais. Vemos no pensamento de
Bourdieu uma grande variedade de noções, objetos de investigação e vigor nas análises sociais, o
que possibilita a utilização de sua obra em diversas áreas do conhecimento.

Posso aqui antes de relacionar o texto ao autor, chamar antecedentes que remetem ao pensar
dos conceitos de “poder”, relacionando-os ao conceito de “cultura”, para finalmente relacionar ao
pensamento de Pierre Bourdieu. Início com o conceito de “Cultura” sendo o lugar das operações
humanas; dos saberes e dos fazeres; e dos saberes-fazeres particulares e seus significados, que
sustenta a vida humana e suas relações, no tempo, espaço e na história, e como herança não
biológica (ORTEGA Y GASSET apud MORAIS, 1992), compreendida como expressão de
produção material e simbólica. Neste contexto, podemos também dizer que “cultura” também está
relacionada como lugar onde as identidades são criadas, recriadas, modificadas e apresentadas
(HALL, 2006); lugar de construção de lutas, das relações sociais de dominação e resistência às
formas e conteúdos de dominação e subalternização, de conciliações e acomodações com as
dominações, típicas das operações humanas (CASTELLS, 2001).

Quanto ao “poder” podemos dizer que como conceito geral é compreendido como a
capacidade de uma pessoa de impor sua vontade a outros. Esse é um conceito generalizado quanto
a expressão utilizada neste artigo. Quando entramos na história do pensamento político, filosófico e
social, a palavra poder é teorizada de uma forma muito mais ampla, passando pelos teóricos Weber
e Michels, chegando a Foucault com seu biopoder e finalmente ao poder citado, teorizado e muito
bem relatado por Bourdieu. Para Bourdieu, o poder tem uma posição mais abrangente, pois se trata
de um poder que quase não se deixa ver ou até, se torna invisível, de certa forma sutil mas não
menos eficiente. Ele é exercido muitas vezes pela ausência da importância de notar sua existência,

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por muitas vezes ignorado, mas que movimenta vários outros poderes e atos que são muito mais
contundentes. Normalmente cunhado nas entrelinhas, e quando é reconhecido, segundo Bourdieu,
chamamos de “poder simbólico"(BOURDIEU, 1989, p.7). “O poder simbólico é, com efeito, esse
poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que
lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem” (BOURDIEU, 1989, p. 7).

A maneira como se manifesta, os seus mecanismos, como funciona, são relatados pelo
sociólogo através do que ele conceituou como sistemas simbólicos. A religião, a arte, a linguagem,
a cultura, fazem parte desse sistema, e dessa forma esse poder simbólico se revela ou é
demonstrado. Assim o poder simbólico cria uma realidade baseada no tempo e no espaço onde se
constrói a sociedade. Essa sociedade se provê desse poder para criar limites e desigualdades na
sociedade que muitas vezes não são percebidas, ou porque não querem ser notadas ou, porque não
se dá o real valor a ele. Outra forma na qual o poder simbólico funciona está no momento em que
uma comunidade linguística, artística ou religiosa concorda com o que irá circular nesta sociedade,
contribuindo para a reprodução de paradigmas e ideias de uma ordem social. Isso, o sociólogo
chamou de instrumentos de integração social. (BOURDIEU, 1989, p. 10). Estes símbolos são parte
do modo como representamos a realidade, cria e reafirma os valores expressados em certa cultura,
muitas vezes em detrimento das demais culturas, criando valores normativos que definem o que
deve ser o politicamente correto para adequar-se à sociedade.

Neste formato, Bourdieu explica que os sistemas simbólicos, são responsáveis por
produções simbólicas que moldam os instrumentos de dominação. Esses instrumentos de
dominação estão relacionados diretamente com os interesses da classe dominante e privilegiada:

A cultura dominante contribui para a integração real da classe dominante […]; para a
integração fictícia da sociedade no seu conjunto, portanto, à desmobilização (falsa
consciência) das classes dominadas; para a legitimação da ordem estabelecida por meio do
estabelecimento das distinções (hierarquias) e para a legitimação dessas distinções
(BOURDIEU, 1989, p. 10).

Podemos dizer que as classes que detém esse poder conseguem de certa forma cumprir sua
função social e política justamente pelo acúmulo de poder material. Não só a classe privilegiada,
mas todas as demais classes coabitam neste sistema social em constante luta, buscando um certo
monopólio desses espaços de produção simbólica. Dessa forma se abrem várias vertentes de busca
do próprio poder simbólico e porque não dizer violência simbólica, tornando isso instrumento de
conhecimento da realidade social. Levamos assim as questões relatadas no início, passando pelo

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conceito de poder dado por Weber e Michels, enriquecendo com a teoria do biopoder formulada por
Foucault e chegando ao poder simbólico de Bourdieu. Todas essas teorias juntas mostram a
gravidade da sociedade atual. onde antes tínhamos um poder físico e econômico como dominante,
agora temos um poder sutil e muitas vezes invisível, mas que causa os mesmos males quando
falamos de questões de gênero, etnia ou classe social.

É assim que os sistemas simbólicos cumprem a sua função política de instrumentos de


imposição ou de legitimação da dominação, que contribuem para assegurar a dominação de
uma classe sobre a outra (violência simbólica) dando o reforço da sua própria força às
relações de força que as fundamentam e contribuindo assim, segundo a expressão de Weber,
para a domesticação dos dominados (BOURDIEU, 1989, p. 11).

Percebemos então que na teoria de Bourdieu o poder simbólico se mostra invisível na


maioria das vezes, mas atuante como massificação de uma cultura de violência. Violência discreta,
mas funcional dentro dos aspectos culturais, políticos e sociais. Segundo Bourdieu esse mesmo
poder serve para domesticação dos dominados e lembra muito a questão dos corpos dóceis de
Foucault que retrata o efeito esperado pelo poder disciplinar.

3. CONCLUSÃO

Os quatro teóricos citados acima contribuíram de forma eficiente para a conceituação do


poder na sociedade e, este artigo tem a finalidade de alertar quanto a consistência desse tipo de
poder na sociedade atual. Podemos até entender, que o poder é necessário para a organização social,
mas de certa forma ele tem causado violência desmedida entre as partes. Guerras, cartéis, religiões,
políticas desiguais, tudo isso afeta a sociedade como um todo e é preciso ser revisto, como principal
causa de desigualdades históricas e monumentais. Citado por último Pierre Bourdieu, foi de maior
relevância para entender que passamos por tipos variados de poder na sociedade e, que muitas
destas percepções de poder perpassam o “poder simbólico” (BOURDIEU, 1989), chegando a uma
violência simbólica que aparece como propulsor de todas as outras violências conhecidas, sejam
elas físicas ou emocionais. Esta violência simbólica, oriunda de um poder simbólico, às vezes
desconsiderada por não ser visível, eu considero a mais perigosa, por estar livre todos os dias em
noticiários, propagandas, produções artísticas, culturais, políticas e religiosas e, apesar de todos os

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avanços tecnológicos do século XXI, que tornaram a sociedade humana mais globalizada, me
parece que não perdemos aquela necessidade ancestral de dominação do homem sobre o homem,
citaria aqui Thomas Hobbes (1588 - 1679) quando diz “ O homem é o lobo do homem” e que
significa literalmente que o ser humano pode cometer as maiores barbaridades e atrocidades contra
seu semelhante, diferentemente dos outros animais irracionais que parecem entender que mesmo
essa irracionalidade não pode ultrapassar os limites de “humanidade animal”. Assim sendo, temos
que rever conceitos sociais relacionados à obtenção e manipulação do poder para que a sociedade
como um todo tenha igualdade de oportunidades em todas as esferas sociais. A política econômica
precisa ser revista quanto às questões de gẽnero e etnia para que não haja uma maior disparidade
entre os indivíduos.

Percebo a necessidade de dar continuidade na sociedade, começando pelas escolas, a


desconstrução de certos modelos sociais que conseguem se manter dentro de uma pequena redoma,
onde somente quem pactua da mesma visão continua fazendo parte da sociedade que vivemos. Isso
cria um abismo cultural que retoma o início do século XIX onde quem detinha o capital, tinha a
possibilidade de manipular a sociedade em prol dos interesses do grupo dominante. Acredito que o
processo de desconstrução de modelos de poder criados a séculos, depende de uma educação que
inclua a sociedade como um todo e não somente uma parte dela, e nesse contexto outras formas de
pesquisa sobre o assunto devem ser formulados para tornar nossa sociedade futura, mais igualitária
e menos individualista.

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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