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Uma teoria do surgimento das lutas no mundo é o materialismo histórico dialético, formulada por Karl Marx.

Segundo essa
teoria, toda forma de sociedade humana tem um determinado modo de produção, que é a maneira como os seres humanos
satisfazem suas necessidades materiais, sendo produzindo alimento, roupas e bens de consumo.
Para a teoria do materialismo histórico dialético, essas contradições surgem da própria natureza do modo de produção, porque
ele tende a se reproduzir constantemente e, no entanto, ele se baseia em um sistema de relações sociais que não consegue
acompanhar o modo como ele se desenvolve.
Esse distanciamento entre as relações sociais e o modo de produção gera tensões e conflitos, até que uma nova força
(geralmente, os trabalhadores) irrompe e desafia a ordem existente, estabelecendo um novo modo de produção, que por sua
vez terá suas próprias contradições, sendo assim a ciclicidade das formas de sociedade.
Como esse processo irá gerar tensões e conflitos, a teoria do materialismo histórico dialético diz que o surgimento das lutas
políticas e sociais é uma parte indissociável do desenvolvimento da história.
Em cada nova forma de sociedade, há novas classes sociais e, dentro dessa estrutura, as classes mais ricas e dominantes tendem
a atuar de modo a que o status quo seja manter, enquanto as classes mais pobres e subalternas tendem a atuar de modo a que
haja mudanças, em busca de melhores condições de vida.
Assim, há uma relação dialética entre as classes, em que as relações de dominação e dependência entre elas geram tensões.
Quando essas tensões se acumulam, tendem a alcançar um ponto crítico e geram novas modificações na estrutura da
sociedade, potencialmente o surgimento de novas classes sociais.
Isso leva a conclusão de que o progresso histórico é um processo histórico de constante revolução, em que as forças de
mudança e aquelas de manutenção da ordem estabelecida se enfrentam constantemente, gerando alterações. Por isso, para
Marx, é impossível pensar o progresso histórico sem as lutas sociais.
Uma das teorias mais conhecidas é a de Max Weber, que identificou outros fatores como determinantes do surgimento das
lutas. Para ele, não são as relações de produção ou as classes, mas o tipo de dominação e sua justificação.
Esse tipo de dominação pode ser justificado de várias formas. A principal delas é a razão, quando aqueles que governam
apresentam suas decisões como baseadas em racionalidade. Outra forma de justificação é a tradição, quando aqueles que
governam usam justificativas baseadas em práticas sociais e culturais.
Outras justificativas são a carisma e a força, quando os governantes se baseiam em seus próprios carismas ou em sua força para
legitimar suas decisões. As lutas entre as classes surgem a partir de disputas entre essas formas de justificação, quando um
grupo tenta forçar uma outra forma de justificação.
Por fim, para Weber, as lutas entre as classes se dão a partir das relações políticas, econômicas, ideológicas e sociais. Na política,
há a luta pelo poder, no econômico pela distribuição dos recursos, na ideológica pela hegemonia cultural e no social por
questões como a cultura e a moral.
A teoria sociológica de Niklas Luhmann. Para Luhmann, as lutas sociais não se dão pelas razões econômicas ou políticas, mas
pelo fato das sociedades serem sistemas, ou seja, agrupamentos de atividades e estabelecimentos de regras de como essas
atividades devem ser executadas.
A luta de classes, para Luhmann, se dá pelo fato das pessoas disputarem essas regras de como as coisas devem ser feitas.
Quando um grupo social quer fazer as coisas de uma forma, ele entra em conflito com outros grupos, que desejam fazer as
mesmas coisas de outras maneiras.
Esse conflito de regras leva à formação de camadas sociais diferentes, com demandas e objetivos diferentes. Como as
sociedades se desenvolvendo, o conflito torna-se cada vez mais amplo e complexo, gerando novas lutas e demandas. As
demandas das classes mais poderosas tendem a prevalecer, conforme Luhmann, o que gera a permanente mudança das
estruturas sociais.
No sistema de Luhmann, a luta de classes não é uma luta da classe trabalhadora contra a classe burguesa, como defendido por
Marx, mas sim uma luta constante entre os diversos setores sociais, no sentido amplo das palavras, como a classe artística, a
classe acadêmica, a classe administrativa e os demais setores da sociedade.
A teoria de Hannah Arendt. A teoria dela analisa as lutas sociais a partir de seu conceito de totalidade. Para Arendt, as lutas
sociais se dão quando os grupos sociais se sentem ameaçados na sua totalidade, quando eles sentem que sua existência, sua
maneira de viver, está ameaçada por algum outro grupo social.

A Arendt, essas lutas surgem a partir da fragmentação da realidade: ao invés da vida ser um todo integrado, com as pessoas
tendo diversas funções e sentidos, ao longo do tempo elas tendem a ser fragmentadas, se tornando cada vez mais
especializadas em determinada função, tornando-se cada vez mais difícil articular essas funções num todo.
As classes sociais são entendidas por Arendt como atividades humanas fragmentadas que exercem uma atração mutua em cada
um dos membros, que se tornam dependentes umas das outras, pois todas as outras classes sociais, em sua atividade, fornecem
recursos à outra. Essa situação de dependência fragiliza as classes, que sentem a ameaça da fragmentação de suas atividades.
Para Arendt, essa dependência é entendida como uma aflição e, em momentos de crise ou instabilidade, a atenção dessas
classes migra da atividade especializada para a própria existência.

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