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FICHA DE RESUMO / CONTEÚDO INDIVIDUAL

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INSTITUIÇÃO: Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Letras e Ciências Sociais – Departamento de Ciência Política e Administração Pública

Curso de Licenciatura em Ciência Política Ano: II Período: Laboral

Disciplina: Teorias de Estado Docente: Dr. Jaime Guiliche (PhD Semestre: I


Candidate)

Número de Estudante: 20230563 Nome do Estudante: SanaShamir Faruk Daud

IDENTIFICAÇÃO DO TEXTO

Título do capítulo ou artigo: Origem e Formação do Estado Editora/Publicadora: Local de edição:

Capítulo do Programa da cadeira: Estado na Teoria sociológica University of Chicago


clássica Chicago Press
Subtema da cadeira: Marx e a dupla teoria sobre o Estado; Durkheim: O Estado e a divisão social do trabalho; Weber
e a racionalidade Ocidental do Estado.
Autor(a/as/es) Bertrand Badie and Pierre Birnbaum Ano Páginas Resumidas

1983

INDICAÇÃO DAS PALAVRAS-CHAVE DO TEXTO (no máximo 5)

Palavras-chave: Estado, divisão do trabalho, relações, sociedade.

NOTAS SOBRE O AUTOR

Bertrand Badie e Pierre Birnbaum são dois renomados acadêmicos franceses que marcaram seus nomes no campo das
ciências sociais, embora com especialidades distintas. Bertrand Badie (nascido em 1950) é um estudioso proeminente
das relações internacionais. Considerado um dos maiores especialistas em sociologia das relações internacionais das
últimas décadas, seus trabalhos se debruçam sobre esse tema específico. Pierre Birnbaum, por outro lado, possui
interesses mais amplos dentro da sociologia. Apesar das trajetórias individuais, Badie e Birnbaum colaboraram em uma
obra que ganhou grande importância: Sociologie de l'État (Sociologia do Estado), publicada originalmente em 1979.

ASSUNTO
As teorias sociológicas do Estado conforme desenvolvidas por três importantes sociólogos: Marx, Durkheim e Weber.

RESUMO/ARGUMENTO

Neste capítulo, Badie e Birnbaum começam por falar das duas teorias do estado em Marx e sua relação com a
interpretação marxista tradicional. A primeira teoria, expressa principalmente em obras como “O Capital”, enfatiza que
a estrutura econômica de uma sociedade é a base sobre a qual emergem suas instituições políticas e legais, formando
uma superestrutura.
Isso significa que as relações de produção e o modo de produção de uma sociedade determinam as instituições políticas
e legais que surgem dela. Essa teoria, muitas vezes, é entendida de maneira simplista, como se o Estado fosse apenas
uma ferramenta da classe dominante para manter sua posição de poder. No entanto, Marx reconheceu a complexidade
da relação entre a base econômica e a superestrutura política e legal, sugerindo que a influência é recíproca e dialética.
Marx também apresenta uma segunda teoria mais complexa do estado, que reconhece a diversidade das formas estatais
e sua relação com as circunstâncias históricas específicas de cada sociedade. Por exemplo, ele observa que o estado na
Prússia, com seu passado feudal, adquiriu uma autonomia relativa em relação à sociedade civil, enquanto nos Estados
Unidos, onde não havia um legado feudal, o estado permaneceu subordinado à sociedade burguesa.
Marx enfatiza a importância da diferenciação do trabalho na formação do estado e critica a burocracia como uma
instituição parasitária que serve aos interesses das classes dominantes.
Os autores também mencionam a crítica de Marx à burocracia estatal, destacando como, em certos contextos, o Estado
pode se tornar independente da sociedade civil e servir como um instrumento de dominação das classes dominantes.
Isso é exemplificado pelo Estado bonapartista na França, onde a burocracia estatal se torna um poder independente e
opressivo.
No entanto, a interpretação tradicional do marxismo tende a simplificar a teoria do estado de Marx, reduzindo-a a uma
visão determinista e economicista na qual o estado é visto apenas como um instrumento das relações de produção. Esta
interpretação negligencia a complexidade das ideias de Marx sobre o estado e sua relação com as condições históricas
específicas de cada sociedade.

Na segunda parte do capítulo, Durkheim: a Divisão do Trabalho e o Estado, Badie e Birnbaum debruçam sobre
Durkheim e sua concepção do estado em relação à divisão do trabalho, é essencial entender que sua abordagem não
pode ser reduzida a uma visão simplista de um sociólogo conservador, em oposição direta a Marx. Enquanto Marx
focava principalmente nas questões de classe e luta de classes, Durkheim explorava o papel da divisão do trabalho na
sociedade.
Durkheim, influenciado pelo pensamento organicista do século XIX, via a divisão do trabalho como crucial para
explicar o desenvolvimento social. Ele argumentava que, assim como os organismos biológicos se especializam para
realizar funções específicas, as sociedades também se desenvolvem através da especialização contínua das funções
sociais. No entanto, ao contrário dos organicistas estritos, Durkheim reconhecia que as estruturas sociais podem mudar
de função ao longo do tempo, mostrando assim uma abordagem mais flexível.
Para Durkheim, a divisão do trabalho não era apenas um fenômeno conservador, mas sim um instrumento da
modernidade que dava origem a novas estruturas sociais e formas de poder. Entre essas novas formas de poder está o
estado moderno, que, segundo ele, surge inevitavelmente à medida que a sociedade se desenvolve e a divisão do trabalho
aumenta. Durkheim via o estado como um órgão que se desenvolve junto com a sociedade, assumindo cada vez mais
funções e centralizando o poder.
Vale dizer que Durkheim pode ser criticado por sua visão evolucionária da formação do estado, que o leva a não
considerar adequadamente a diversidade de processos históricos que levam à centralização política. Ele tende a
generalizar a formação do estado, ignorando as particularidades de diferentes sociedades e seus caminhos históricos
únicos.
Embora ele reconheça que o estado pode se tornar um agente de dominação excessiva quando cresce demais, ele não
explora completamente as implicações políticas desse fenômeno. Ele tende a ver o estado como um órgão funcional
que reflete o progresso da sociedade, em vez de considerar mais profundamente como o estado pode ser influenciado
por diferentes grupos de interesse e como isso pode afetar sua legitimidade e eficácia.
Enquanto Durkheim enfatiza a importância do estado na promoção da solidariedade social e na emancipação dos
indivíduos, ele também reconhece os perigos de um estado superdimensionado que tenta controlar todos os aspectos da
sociedade civil. Nesse sentido, sua visão se assemelha mais à de Tocqueville do que à de Marx, já que ambos estão
preocupados com os efeitos do crescimento do estado sobre a sociedade.
No entanto, Durkheim poderia ter explorado mais profundamente as implicações políticas de suas ideias e considerado
mais cuidadosamente como o estado poderia ser influenciado por diferentes forças sociais. Sua visão evolucionária da
formação do estado e sua tendência a ver o estado como um órgão funcional podem limitar sua análise das
complexidades do poder político na sociedade moderna.

A terceira e última parte do capítulo, intitulada Weber: o Estado e a Racionalidade Ocidental, postula Max Weber
como um dos principais teóricos da sociologia política moderna, diferenciando-se de Marx e Durkheim ao colocar o
Estado como uma preocupação central em suas reflexões. Enquanto Marx e Durkheim deixaram lacunas em suas teorias
sobre o Estado devido à sua ênfase em outras questões, Weber abordou os fenômenos políticos como entidades distintas,
com lógica e história próprias.
Weber concentrou-se principalmente em temas como dominação, subordinação, autoridade e poder. Sua análise
histórica baseou-se na investigação das formas de governo e na classificação tipológica da dominação legítima. Ele
identificou três formas principais de dominação legítima: carismática, tradicional e racional. A dominação carismática
é caracterizada pela liderança de indivíduos dotados de carisma sobrenatural ou super-humano, que podem ser
considerados “mensageiros de Deus” ou líderes carismáticos. Weber enfatizou que o poder carismático é estranho à
economia e pode se transformar em dominação tradicional ou racional ao longo do tempo.
Weber usou uma abordagem analítica e histórica para estudar a evolução das formas de dominação e do Estado. Ele
rejeitou interpretações evolucionistas simplificadas e reconheceu a diversidade de padrões reais de evolução social. Por
exemplo, ele observou que o feudalismo foi uma forma de rotinização do poder carismático em certas sociedades,
enquanto outras desenvolveram formas de dominação distintas.
Além disso, Weber destacou que a burocracia estatal nem sempre representa uma forma eficaz de governo racional. Ele
mostrou como as burocracias reais podem ser politizadas e perder sua imparcialidade e eficiência. Weber reconheceu
que nem todas as formações estatais historicamente conhecidas foram altamente burocratizadas, citando o exemplo do
Império Romano e do Estado inglês.
TRANSCRIÇÃO DE CITAÇÕES MAIS RELEVANTES

“Na verdade, Marx estava perfeitamente ciente de que em diferentes sociedades o estado assume formas diferentes..”
(Badie & Birnbaum, 1983).
“O papel do estado ‘não é expressar os pensamentos não considerados da multidão, mas sim oferecer a eles
pensamentos mais maduros, que, precisamente por serem mais maduros, não podem deixar de ser diferentes.’”
(Badie & Birnbaum, 1983).

CRÍTICA E CONTRIBUIÇÃO
Embora o capítulo forneça uma visão geral das ideias de Weber, ele poderia se beneficiar de uma contextualização mais ampla,
tanto em termos históricos quanto em relação ao desenvolvimento do pensamento sociológico. Isso poderia ajudar os leitores a
entenderem melhor o contexto em que as teorias de Weber, por exemplo, foram desenvolvidas e como elas se relacionam com
outras correntes de pensamento.

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