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Tema 1: Introdução ao estudo da História  Tópico 1.3: Como se escreve a História?
História  Professor José E. M. Knust
1° ano do Ensino Médio Integrado.
Como se faz a história? Teoria e Método
Adaptado de: Fábio Frizzo, Uma história do pensamento histórico do século XIX. Curitiba: Intersaberes, 2019, p.38-41.
A partir do século 19, a construção de relatos sobre o
passado passou a ser tarefa especializada de um grupo
profissional: os historiadores. A definição deste grupo
esteve desde o início ligada a uma forma específica de
exercer esta tarefa. Mas o que diferenciava a história
produzida por profissionais daquelas memórias
produzidas por quaisquer outras pessoas? Uma das coisas
que passou a valorizar o tipo de escritos sobre o passado
executado pelos profissionais da história foi o uso de
fontes primárias, ou seja, vestígios deixados pela
sociedade que interessava uma determinada pesquisa. Os
historiadores e historiadoras eram os responsáveis por
construir uma narrativa sobre o passado a partir da análise
desses vestígios.
Pode-se falar que o trabalho da História era (e ainda é)
o de desvendar um quebra-cabeça com uma determinada
imagem de uma sociedade passada. Nesta metáfora, as
fontes primárias seriam as peças soltas do todo. Todavia,
um dos problemas que os historiadores e historiadoras têm
que lidar é o fato de que nunca temos todas as peças dessa
imagem. Independente do período do passado estudado,
seja na história da Antiguidade ou do mundo
contemporâneo, as fontes são sempre partes incompletas e
fragmentadas da totalidade. Para piorar a situação, as
mesmas peças podem ser encaixadas em lugares
diferentes, gerando imagens distintas sobre o passado.
Uma dificuldade adicional é que, ao contrário daqueles
que se divertem montado quebra-cabeças, historiadores e
historiadoras não contam com uma imagem inicial, como
aquelas que ilustram as tampas das caixas dos jogos e são
usadas para guiar o trabalho de montagem.
Como, então, partindo da inexistência de uma imagem
inicial, da falta de peças e da multiplicidade de lugares em
que elas podem ser encaixadas, podemos montar nosso
quebra-cabeça? Esta é a discussão sobre teoria e método
da História.
Num sentido mais amplo, uma teoria pode ser definida
como um conjunto de ideias gerais sobre como funciona o
mundo. Considerando que a história que fazemos é sempre
o relato de uma determinada sociedade humana, suas
ações e formas de organização, ao olhar para o passado
sempre temos algumas ideias de como funciona uma
sociedade. Uma teoria é uma elaboração consciente e
racional destas ideias prévias. Se a teoria é uma forma de
compreender o funcionamento das sociedades (e da
natureza também), pode-se afirmar que ela faz parte de
uma visão de mundo. Consequentemente, ela é o elemento
fundamental que serve para historiadores e historiadoras
orientarem seu trabalho.
Como um sistema explicativo da realidade, a teoria
serve como um modelo* para guiar o processo de
montagem das peças no quebra-cabeça. Como não
contamos com todas as peças e como elas podem se
encaixar em vários lugares, a montagem do quebra-
cabeças só será possível se esse modelo teórico nos der
possíveis desenhos para os buracos entre os conjuntos de
peças, estabelecendo onde as peças podem se encaixar e
completando os espaços deixados pelas peças que faltam.
Nossa realidade social é diversa e cheia de conflitos e
contradições. Assim, há diferentes visões de mundo em
disputa e distintas formas de compreender a sociedade
disponíveis para a construção de modelos teóricos. Estas
visões de mundo diversas estabelecem desenhos prévios
diferentes. Por isso, a partir das mesmas fontes, mas com
imagens diferentes usadas como guia na montagem,
chegaremos a distintas respostas. O que define a validade
de cada uma dessas possíveis respostas sobre como era o
passado depende também dessas disputas sociais.
Esclarecido o papel da teoria, voltemo-nos para a
compreensão da importância do método. A metodologia é
a maneira de fazer a pesquisa. Segundo o historiador Julio
Aróstegui, o método é um “conjunto de prescrições* que
devem ser observadas e decisões que devem ser tomadas
em certa disciplina para garantir, na medida do possível,
um conhecimento adequado de seu objeto*”.
Retornando à nossa metáfora do quebra-cabeça,
podemos afirmar que, se a teoria serve como a imagem que
guia o trabalho de conexão entre as peças para a criação
da imagem do passado, o método é o caminho mais
eficiente para chegar a esse objetivo. Desde crianças,
aprendemos que há uma forma de proceder correta que nos
auxilia a resolver melhor os quebra-cabeças: primeiro
seleciona-se as peças das margens e a partir da montagem
do perímetro* é que passamos a desvendar as partes
internas. Isto é um método. Outro método possível seria a
separação por cores, por exemplo. De qualquer forma, o
mais importante permanece: estamos sempre partindo das
fontes, nossas peças do quebra-cabeça sem as quais não
conseguimos montar uma imagem do passado. O fazer
histórico moderno, portanto, está relacionado a estes
elementos: as fontes, a teoria e o método.
Glossário:
Modelo: no sentido usado no texto, um esquema teórico
para representar como um conjunto de coisas funciona ou
se comporta.
Objeto: no sentido usado no texto, o assunto ao qual uma
determinada ciência dedica seus estudos.
Perímetro: limite externo ou contorno de uma forma.
Prescrições: regras sugeridas para a realização correta de
algo.