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Apresentação .....................................................................................................................3
Conclusão.........................................................................................................................14
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Apresentação
O autor do livro Raz esàdaàC íti a ,àpu li adoàe à àpelaàedito aàJo geà)aha ,à
do Rio de Janeiro, Luiz Camillo Osório apresenta credenciais consistentes para falar
sobre crítica de arte no Brasil. Além de uma intensa vida acadêmica voltada para a
Filosofia desde a graduação até o doutorado e da opção por pesquisas relacionadas à
estética e à crítica de arte, ele é crítico militante com atuação no jornal O Globo, do Rio
de Janeiro, desde 1997. Portanto, não apenas pesquisa as questões relacionadas à
crítica, com produção acadêmica materializada na forma de livros, capítulos em livros
e artigos publicados em periódicos, como também vive, fora da Universidade, as
vicissitudes e alegrias da crítica de arte – com a publicação de no mínimo duas críticas
por mês, como ele informa em seu currículo. Portanto, sem desconsiderar outros
estudiosos, Osório é um pesquisador que merece ser lido por quem pretende estudar
a crítica de arte contemporânea no Brasil.
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que não apenas conseguisse alcançar o objetivo desejado, como que suas reflexões e
seus pontos de vista pudessem ser aceitos como válidos.
Possibilidades metodológicas
Em Razões da Crítica, Osório não explicita o método utilizado, o que nos impõe a
necessidade de identificar a partir de pistas disponíveis no texto, à luz das
características e especificidades dos métodos que compõem a epistemologia aplicável
às ciências sociais.
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A escolha metodológica do autor
Se fosse possível reduzir o livro inteiro de OSÓRIO a apenas uma frase, esta seria:
aà íti aà àes itaàpa aàoàpú li o,à asàaàse viçoàdaàa te . (2005:17) Contudo, a leitura
sequencial da obra revela um autor em busca de respostas para a condição atual da
crítica, em suas palavras, pressionada entre a desinformação generalizada e o
isolamento provocado pela linguagem especializada. O autor começa apontando como
possível causa para a crise da crítica – e também da política, irmanadas que estão
ambas pelo debate – uma possível falta de disposição para a reflexão, que levaria as
pessoas comuns a rejeitarem o que veem nas galerias e museus de arte
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contemporânea, condição perfeitamente compreensível no contexto da pós-
modernidade niilista,à doà desejoà deà ada,à o teà e à vida, falta de valores para agir,
des e çaàe àu àse tidoàpa aàaàexist ia ,à asàpalav asàdeàJair Ferreira Santos, autor
do livro O que é pós-modernidade, publicado pela Editora Brasiliense na Coleção
Primeiros Passos. (1986:72)
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SANTOS (1986:88) defi eàaàso iedadeà o te po eaà o oàu aà assaà satu adaàdeà
i fo aç oà eà se viços ,à i dife e teà aà tudoà ueà oà lheà e efi ieà i dividual e te,à
total e teà ap ti aà f e teà aosà g a desà p o le asà so iaisà eà hu a os . OSÓRIO
considera esta indife e çaà o oàu à et o essoà ivilizat io ,à ueàali e taàu à li aà
antiintelectual. A crítica, ao contrário, é apontada como salvaguarda contra a
desorientação (2005:11).
“eàaàa teàte àmudado radicalmente, desde pelo menos a década de 1960, seja do
ponto de vista dos procedimentos, seja das expectativas de recepção, é fundamental
que a crítica também se ponha em questão, redefina seus métodos, interesses e
fo asàdeàdisse i aç oàpú li a (Idem 2005:13),
com o que concorda Maria José JUSTINO, crítica de arte, professora e pesquisadora
nas áreas de Estética e Ciências das Artes, pa aà ue à áà iseàdoà ito,àdaà iaç o,àdaà
originalidade, das narrativas históricas, da desmistificação das ideologias, da afirmação
daà itaç oàeàdoàe letis o,à e la a àu aà ovaà íti a (2005:30). Ora, a definição do
que é ou não arte é justamente um dos problemas a ser equalizado pela crítica
contemporânea, que deve ser capaz não apenas de se posicionar em relação aos
objetos e/ou aos conceitos por eles representados e expandir as suas possibilidades de
leitura, como também de aquilatar seus valores intrínsecos e situá-los no contexto
geral da época, de modo que sejam assimiladas pela história da arte. Neste sentido,
OSÓRIO (2005:16) sugere uma escrita crítica que seja muito menos sobre a obra e
muito mais com a obra,
pa ti ipa doà doà p o essoà a e toà deà iaç oà deà se tido ,à o que implica numa
substancial mudança de paradigma, na qual a crítica se desloca da posição de juiz
para a de testemunha atenta que traz os fatos [artísticos] a público, sob a
justifi ativaà deà ueà aà íti aà à es itaà pa aà oà pú li oà [ ueà aà l à osà jo ais],à asà aà
se viçoàdaàa te à(Idem, 2005:17).
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No segundo capitulo, Crítica e estética em Kant: de volta ao começo, OSÓRIO
estabelece a concepção moderna de crítica ligando-a ao pensamento do filósofo
alemão Immanuel Kant e às suas Críticas, a saber, Crítica da razão pura, Crítica da
razão prática e Crítica da faculdade do juízo, nas quais discute o conhecimento e a
apreciação estética dos fenômenos pelos indivíduos. Segundo o autor, Kant entende a
íti aà daà az oà o oà u à ovi e toà deà deli itaç o à (2005:21) que pressupõe o
esta ele i e toà deà fi sà pe ti e tesà aà adaà itoàdoà espí itoà hu a o,à aà i ia, a
ética e a arte – aàve dade,àoà e àeàoà elo .
áà íti aàdeàa teàdeixaàdeàse àto adaà oàse tidoà o atizado à ueàdete i avaàoà
modo de ser das obras, e passa a ser um esforço reflexivo que busca qualificar uma
expe i iaàsi gula àdoà u do (Idem, 2005:24).
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impressões sejam aceitas universalmente. A questão é transposta pelo autor com a
afi aç oàdeà ueà oà ueài po taà oà àseàaàu ive salidade vai se dar de fato, mas que
elaàseàd àdeàdi eito à(OSÓRIO, 2005:26) sob o argumento de que o juízo de gosto é um
prazer subjetivo que não diz nada, preliminarmente, em relação ao objeto,àouàseja,à oà
juízo de gosto é subjetivo, mas isto a princípio só implica o fato de ele ser uma
expe i iaà se tidaà peloà sujeitoà eà oà u à p edi adoà doà o jeto à (Idem, 2005:27).
Estranhamente, o autor não relativiza esta afirmação, pois apesar do gosto estético ser
de fato subjetivo e não influir diretamente sobre as características gerais do objeto, o
juízo do crítico reconhecido publicamente como tal, tende a ser acompanhado por
uma grande quantidade de pessoas, número que cresce exponencialmente quando a
crítica é publicada em veículos jornalísticos de grande circulação. Afinal, esta é uma
das formas como as ideias se legitimam no contexto da cultura de massa: os indivíduos
seà o ve e à deà algoà aà pa ti à dosà po tosà deà vistaà deà age tes autorizados à e
tornados públicos em veículos de grande circulação. Referindo-se à construção da
realidade no contexto da comunicação de massa, DEFLEUR e BALL-ROKEACH afirmam:
E uditosà eà pes uisado esà ueà estuda à oà p o essoà eà efeitosà daà o u i aç oà deà
massa criaram diversas formulações baseadas no princípio de que significados e
interpretações da realidade são construídos socialmente1. Cada vez vem se
tornando mais claro que, como os homens na caverna de Platão, estamos
crescentemente experienciando um mundo intermediário em vez da própria
ealidade à 1993:277).
No terceiro capítulo, A arte como crítica e a crítica como arte, OSÓRIO discute a
natureza da arte e da crítica na perspectiva kantiana, afirmando que aàfo aç oàdoà
gosto [em relação à obra de arte] vai se dar com a participação e a circulação no
espaçoà pú li oà e à ueà seà p oduze à osà juízos .à Le a doà ueà Ka tà afi aà ueà oà
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Grifo acrescentado.
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gosto à ape asà u aà fa uldadeà deà ajuiza e toà eà oà u aà fa uldadeà p odutiva ,à ouà
seja, o que resulta do gosto não se materializa em obra de arte, o autor propõe que
nãoà astaà seà fia à oà gostoà pa à ajuiza à asà o asà deà a te,à se doà e ess iaà u aà
disposição reflexiva, e até mesmo criativa, que ponha em movimento a imaginação, o
e te di e toàeàaàse si ilidade (2005:37) para que seja possível produzir uma crítica
que de fato amplie as possibilidades de apreensão da obra.
As relações entre obra de arte e crítica são aprofundadas pela afirmação de que
aài agi aç oà ueàatuaà oàfaze àdoàg io,àatuaàta à aà e epç oàdaào a (Idem,
2005:41), indicando a necessidade de o crítico estar imbuído da mesma motivação
transformadora do artista – que o impele em busca de novos olhares e novas poéticas
– para que possa se entregar à íti a,à espo sa iliza do-se pelo exercício
expe i e talàsu ja e teàaoàp o essoà iativo (Ibidem, 2005:42).
O autor começa o capítulo lembrando que um dos efeitos colaterais da crítica foi
esta passar a ser vista como censura à liberdade de expressão artística, cujos pareceres
acabavam tolhendo o desejo do artista de experimentar o novo. Segundo OSÓRIO, isso
resultou da incompreensão da distinção que Kant faz entre juízo cognitivo e juízo
estético, sendo o primeiro o julgamento orientado por conceitos e, o segundo, o
julgamento baseado na singularidade dos fenômenos. Ora, a primeira forma de juízo
procura esquadrinhar as obras de arte apoiada em conceitos pré-existentes. Nessa
perspectiva, quanto mais as obras de arte se aproximem de parâmetros pré-
estabelecidos, melhores são do ponto de vista artístico. Já o julgamento estético se
prende à obra em si, julgando justamente pelo dissenso, buscando a diferença
(diferencial) e evitando o consenso.
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Ora, se não há mais parâmetros válidos para que a crítica possa avaliar a obra,
não caberia ao próprio artista a tarefa de criticar a sua arte? O autor rebate a tese de
forma contundente – á ha à ueà ue àfaz,àouàseja,àoàa tista,àte à aisà o diç oàpa aà
julga à doà ueà osà de aisà à u aà fal iaà e o e te (OSÓRIO, 2005:43) – e completa
adia te:à Oà espe tado à julgaà o oà espe tado à eà oà o oà ato .à Istoà lheà d à u aà
liberdade fundamental para retirar da capacidade de julgar os entraves normativos da
consciência moral e, assim, poder encarar os fenômenos na sua singularidade e não na
sua concord iaà o àaàlei (Idem, 2005:45).
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No último capítulo, A crítica genética e as transformações da arte, OSÓRIO
discute os desafios da crítica contemporânea ante a possibilidade de tudo poder ser
arte. Na verdade, esta condição – ausência de limites claros entre arte e não-arte –
eleva o papel da crítica, cuja atuação potencializa o surgimento do novo e a descoberta
de novos significados para o já existente, aumentando o vocabulário coletivo.
“e doà aà a teà algoà a e toà aà to a -se outra coisa, a inventar maneiras de ser
distintas daquelas que haviaà sidoà pe sadaà peloà seuà iado (2005:56), sempre será
e ue ido,à e t o,à aà e epç o,à algu à tipoà deà exe í ioà iativo,à algu à esfo çoà
i te p etativo,àalgu aàe t egaàespi itual (idem) na medida em que a arte deixa de ser
algo meramente a ser visto, asà ta à aà se à se tidoà eà t a alhado à de maneira
peculiar por cada indivíduo, tanto com o corpo como com o intelecto. Na arte
contemporânea a função simbólica toma cada vez mais força, indicando leituras que
oà seà expli ita à i ediata e te,à exigi doà u à engajamento interpretativo, uma
dispo i ilidadeài te aàeàu aàate ç oàe p ti aàeà íti aàespe ífi a à Idem, 2005:55).
Esta arte que tende sempre a se tornar outra coisa, a ser diferente inclusive daquilo
que foi pensado por seu criador exige também uma crítica capaz de interpretá-la
desde a sua gênese e aprofundar à exaustão suas possibilidades interpretativas. O
auto à o luià afi a doà ueà aà a teà oà veioà pa aà expli a à ouà pa aà o fi a à ada,à
mas para nos fazer pensar e falar à Ibidem, 2005:64) indicando a relevância da crítica,
principalmente diante de horizontes tão amplos propostos pela arte.
Conclusão
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exigindo do crítico uma atualização constante; por outro, o desafio de cumprir
satisfatoriamente com o seu papel de interface do mundo das artes com o grande
público, cada vez menos afeito aos longos textos analíticos. Como refletir
suficientemente sobre a arte, cumprindo o papel da crítica de aumentar suas
possibilidades interpretativas e estabelecer conexões históricas, se o público se
interessa cada vez menos por estes assuntos? Será um problema de linguagem? Ou
será a abordagem que está equivocada? Ou, quem sabe, o jornal diário não seja mais o
suporte adequado para os problemas da arte? Estas e outras são questões levantadas
pelo autor e que também permeiam o meu projeto de pesquisa.
Referências bibliográficas
JUSTINO, Maria José. Criticar... é entrar na crise. IN: GONÇALVES, Lisbeth Rebollo;
FABRIS, Annateresa (Org.) Os lugares da crítica de arte. São Paulo : ABCA : Imprensa
Oficial do Estado, 2006.
OSÓRIO, Luiz Camillo. Razões da crítica. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Editor, 2005.
SANTOS, Jair Ferreira. O que pós-modernidade. São Paulo : Ed. Brasiliense, 1986.
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