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UNIRIO – UNIVERSIDADE FEDERAL DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ALUNO: MARCELO APARECIDO DA CRUZ PRATES

MATRÍCULA: 20212415007

DISCIPLINA: CRÍTICA DE INTERVENÇÃO

PROFa: FLORA SUSSEKIND


UNIRIO – UNIVERSIDADE FEDERAL DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Fui ver a peça mecânica “Espectros (Cadeira 17)” de Nuno Ramos que esta em
cartaz na Galeria Anita Schwartz, na Gavea, Rio de Janeiro, como exercício da
disciplina Critica de Intervenção do Curso de Estética e Teoria de da Unirio, sendo que
após deveríamos analisar nossa experiencia a respeito da obra.

A peça é uma instalação mecânica que funciona sem a presença de atores ou


espectadores, criando uma atmosfera de fantasmagoria e mistério. Os objetos que Teatro
compõem a cena - uma cortina vermelha, três cadeiras e uma corneta militar - são
acionados por um sistema de roldanas e contrapesos, em sincronia com vozes gravadas
de diversas personalidades da cultura brasileira, como atrizes, cantores, políticos e
jornalistas. A cada objeto é associado um conjunto de vozes, que revelam fragmentos de
discursos, canções, notícias e confissões. O título da peça remete ao drama do escritor
norueguês Henrik Ibsen, “Os Espectros”, e à cadeira ocupada pela atriz Fernanda
Montenegro na Academia Brasileira de Letras, cujo discurso de posse é uma das fontes
de inspiração do trabalho. Nos é apresentado uma sobreposição de camadas, de
texturas, de cores, de sons e de sentidos, que criam uma tensão entre os elementos
heterogêneos e antagônicos que compõem a cena, que se relacionam de forma
conflituosa e harmônica ao mesmo tempo, criando efeitos visuais e sonoros
surpreendentes. A apropriação dos objetos e sons do cotidiano, da política, da cultura
popular e da história são ressignificados provocando novos questionamentos e
interpretações pessoais.

Pela minha percepção, a peça de Nuno Ramos pode ser vista como uma
homenagem ao teatro, mas também como uma crítica à sua decadência e à sua
substituição por outras formas de comunicação e entretenimento. Ao utilizar objetos
inanimados como protagonistas da cena, o artista se aproxima da proposta de Craig de
eliminar o ator e criar uma supermarionete, um ser artificial que seria pura criação
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ESTADO DO RIO DE JANEIRO

teatral, sem qualquer afetação ou representação humanizada da vida. Craig defendia que
o teatro deveria ser enunciado por um único criador, o diretor, que teria o controle
absoluto sobre os materiais e os efeitos da cena. A peça de Nuno Ramos é, nesse
sentido, uma obra autoral, que dispensa a intervenção de outros colaboradores e que se
baseia na manipulação de elementos plásticos, sonoros e luminosos.

Por outro lado, referida obra me remeteu também ao estudo de Maurice


Maeterlinck, sobre o teatro de andróides, que consistia em criar personagens
marionetizados, que não teriam consciência da vida, que estão perdidos, que não
conhecem nem passado nem futuro. Maeterlinck defendia um drama estático, em que a
ação exterior seria menos importante do que a ação interior dos personagens, revelada
por um diálogo subentendido, imperceptível, escondido nas entranhas da convenção. A
peça de Nuno Ramos cria um diálogo entre as vozes gravadas, que se sobrepõem, se
interrompem, se contradizem, se complementam, criando um sentido oculto, que sugere
uma reflexão sobre a identidade, a memória, a história e a cultura brasileiras. As vozes
são como espectros, que assombram a cena e o espectador, que evocam o passado e o
presente, que questionam o papel do teatro e da arte na sociedade.

A peça de Nuno Ramos poderia facilmente pelo meu ponto de vista ser uma obra
que se encaixaria na tradição do teatro simbolista, que busca criar uma linguagem
poética, misteriosa, sugestiva, que transcende a realidade imediata e que se aproxima do
sonho, do inconsciente, do sagrado., apesar da contemporaneidade dos temas em
questão. Assistir a esse espetáculo me propiciou uma experiência estética e sensorial,
que me desafiou como espectador a participar ativamente da construção do sentido, me
convidando a entrar em um universo paralelo, onde os objetos ganham vida e as vozes
ganham corpo. A peça é uma obra que celebra o teatro, mas que também o questiona,
que o renova, mas que também o destrói, que o ressuscita, mas que também o mata.
Nuno Ramos, é um dos artistas que mais admiro da atualidade por ser um artista de
multilinguagens, que explora diferentes formas de expressão artística, com uma obra
marcada pela diversidade de materiais, pela experimentação, pela provocação.
contribuindo para a renovação da linguagem artística com sua abordagem crítica e
poética dos temas do contemporâneo. E, com Espectros não é diferente, a obra se
comunica com diferentes públicos e culturas, se mantendo super relevante na arte
contemporânea brasileira.

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