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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

Departamento de Artes – Teatro

Texto entregue pelo acadêmico Jorge


Alessandro ao professor Carloman Bonfim
para obtenção de crédito na disciplina
Expressão corporal II.

Textos estudados:
● A dramaturgia do ator e o processo de composição cênica, de Andréa Stelzer
● Dramaturgias de Ator: puxando fios de uma trama espessa, de Alice Stefânia
Curi
● Stanislavcki e as ações físicas: das partituras corporais até a dramaturgia do ator
, de Gisele Soares de Vasconcelos

A compreensão de Dramaturgia do ator torna-se efetiva quando entendemos o corpo


do ator, sua ação, como principal responsável pela escritura poética que, em contato com
os demais elementos do teatro, criam os signos que alimentam o espectador.
Se durante muitos séculos o texto dramático ocupou o lugar mais privilegiado do
discurso teatral e o gesto do ator previa o ilustrativo e o realista, ao longo do século XX, o
teatro moderno se converteu fundamentalmente na arte do ator. Foi pensando neste
deslocamento das prioridades da cena que diretores como Meyerhold (biomecânica) e
Decraoux (mímese corporal) pensaram em técnicas para acordar e dar consciência ao
corpo do ator para que este pudesse dar conta da escritura de que seu corpo, agora, está
destinado e não é mais função apenas do dramaturgo ou encenador.
O treino constante da consciência e expressão deste corpo atuante é o que
possibilita o processo criativo. No treino, o ator pode entrar em contato mais consciente com
sua subjetividade e com o seu próprio modo de se manifestar, ao mesmo tempo que
confronta com o coletivo, que interage com outras subjetividades em jogo para buscar uma
criação orgânica e dinâmica. Deste trabalho coletivo que comporta mais paradoxos que
paradigmas, nasce a criação coletiva. O texto nasce dos jogos espontâneos durante os
ensaios, de experiências narradas, imagens e cabe aos atores mesmos capturarem,
compreenderem e comporem os seus personagens.
A Improvisação é outro caminho para compreender a dramaturgia do ator, pois no
espaço de improvisar, seja na cena ou nos jogos, revela-se o domínio da linguagem
corporal e cênica além da capacidade de criar relações. Assim, mesmo a Comedia dell’arte
poderia ser aqui destacado como um exemplo de dramaturgia com ênfase no ator que,
orientado por um canovaccio, dirige sua cena, cria sua partitura corporal, sua voz na
história, sua forma de relacionar-se com os outros e com a plateia. Enrique Buonaventura
chega a afirmar que a Commedia dell’arte foi o apogeu deste teatro do ator.
O teatro moderno e contemporâneo retomou este protagonismo do corpo do ator na
composição teatral. Antonin Artaud foi fundamental no vigor desta perspectiva de
vanguarda. Como todo artista de visão, Artaud foi incompreendido, reprimido e comprimido
por ultrapassar as ideias lineares da dramaturgia de então. Sua visionária percepção do
teatro não foi posta, por ele, em prática, mas determinou fortemente o teatro
contemporâneo que destronou o patriarcado do texto e a lógica da narrativa.
Assim, na dramaturgia com centro no ator, cabe a ele assumir a articulação entre as
diferentes dramaturgias que estão em cena e criar a partitura de gestos e signos que
produzirão no público o seu sentido.

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