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Objetivo
O texto deve ser escrito para a eficácia do espetáculo. Não admite apenas
uma reação a posteriori, que o espectador sentiria ao voltar para casa. Meditam-se
certos aspectos, sem dúvida, numa reflexão que sucede ao cair da cortina. O prazer
estético sente-se, globalmente, no decorrer da representação, e não se consegue
revivê-lo, mais tarde, se não se manifestou na presença do ator.
O imediatismo do efeito teatral reclama da peça uma série de características.
Os diálogos precisam sugerir que são os únicos que poderiam ser pronunciados,
naquela situação. A fala harmoniza-se com o conjunto do desempenho, não
sufocando o ator, pela demasia, até amarrar-lhe os gestos e os movimentos. As
sutilezas da frase, cuja percepção não se coaduna com a rapidez das réplicas,
vivem mal no palco. A síntese poderosa capta o público pelo choque.
Escreveu-se com abundância que uma peça deve ser verossímil. Esse
pressuposto contribuiu muito para, na dramaturgia de propósitos realistas, se
abolirem os monólogos, já que não é natural que as pessoas falem sozinhas. A
conversão do monólogo em diálogo passou a expandir-se, também no teatro
renascentista, com o objetivo de se alcançar maior dramaticidade. Ao invés de
monologarem, os protagonistas da tragédia de Racine dialogam com seus
confidentes.
Colocar a verossimilhança como padrão de valor excluiria do teatro os
enredos fantásticos ou fantasiosos, que muitas vezes convencem mais a platéia.
Toda a comédia aristofanesca não poderia ser aferida pelo cânone do verossímil,
porque ninguém acredita que um mortal funde, acima das nuvens, uma cidade
imaginária, como sucede em Os pássaros. Os entrechos inventados por Aristófanes,
contudo, servem muito bem às teses que ele advoga. É curioso observar, por
outro lado, que acontecimentos verdadeiros, saídos da realidade, tornam-se
inverossímeis, ao serem transpostos para uma peça. O autor não conseguiu insuflar-
lhes credibilidade, O texto deve, portanto, chegar à convicção artística, diversa da
simples realidade, e cujo aproveitamento literal define apenas a reportagem.
Quando uma obra tem garra, não se pergunta se os seus antecedentes ou o
seu entrecho são ou não verossímeis. Só mais tarde, numa análise fria do
espetáculo, cabem certas indagações, e entre elas, por exemplo, se os
pressupostos da história de Édipo seriam possíveis. As dúvidas sobre a veracidade
real da situação tratada por Sófocles não são absurdas, e obedecem antes a lógica
irrepreensível. Sem contar a fatalidade que já o marcou, no nascimento, como Édipo
poderia desconhecer o modo pelo qual morreu o antigo rei de Tebas, seu
antecessor, e deixar de concluir que foi seu assassino? Essa objeção, levantada
num esmiuçamento posterior, não invalida o alcance da tragédia. Gouhier explica
muito bem o motivo da eficácia de Édipo-Rei, independentemente desse problema:
“o que produz a arte do dramaturgo não é uma impressão de verossimilhança, mas
esse sentimento de presença que, justamente, dispensa de situar a questão da
verossimilhança” (obra citada, p. 47). Desagrada nas peças fracas a falta de
credibilidade (não de verossimilhança), que anula o efeito da presença em cena. E,
desde que tenha vida no palco, o texto preenche o seu objetivo primordial.
O ator
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