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Análise da peça a ver estrelas (1985) de João Falcão

de CamilaCampos | trabalhosfeitos.com

Este estudo constitui na análise da peça A ver estrelas (1985) de João Falcão, para
isso, há sido observado as características da estrutura do texto, assim como, seus
personagens, espaço e tempo da ação dramática, além de observarmos os conflitos e
reflexões apresentadas pelo autor.
João Barreto Falcão Neto, João Falcão, nasceu em São Lourenço da Mata em 1958, é
conhecido, atualmente, não somente pelo trabalho como autor, mas também como
diretor. Iniciou sua carreira em Recife, mudando-se depois para o Rio de Janeiro, onde
começou seu trabalho como encenador e diretor de TV. Entre seus textos para o
teatro estão Xilique Peba Piriquito Xique, 1982, Um Pequenino Grão de Areia, 1983 e
A ver estrelas, 1985. Na década de 90, foi para o Rio de Janeiro e estreou A Ver
Estrelas, texto que mistura uma estrutura da fábula tradicional - um menino sai pelo
mundo em busca de uma personagem misteriosa - a um nonsense bem-humorado.
Nos anos seguintes, João Falcão realizou diversos trabalhos como diretor de teatro,
tais como, a adaptação do texto de Moliére, O Burguês Fidalgo, protagonizado por
Marco Nanini.
Segue com outras montagens de sucesso, como, A Dona da História, 1998, vencedora
do prêmio Shell e o monólogo com Marco Nanini em Uma Noite na Lua, 1999, que
permaneceu três anos emcartaz e ganhou o prêmio Sharp de melhor espetáculo. Em
2000, estreou A máquina, de Adriana Falcão onde adaptou o texto para o teatro. Em
2001, encenou Cambaio, escrito em parceria com Adriana Falcão, com músicas de
Chico Buarque, e direção musical de Lenine. Em 2002, dirigiu outro texto de sua
autoria, Mamãe Não Pode Saber, que contava com Drica Moraes no elenco. Além dos
trabalhos de direção, João Falcão ficou conhecido por sua adaptação para a TV do
texto de Ariano Suassuna, O auto da compadecida, levada ao ar em 1998, e outros
trabalhos para o cinema, como, Fica comigo essa noite, 2005 e Clandestinos – o
sonho acabou, 2010.

A VER ESTRELAS
O texto A ver estrelas, 1985, trata-se de um texto voltado para o público infantil e conta
a história de Jonas, um garoto que vive no bairro da Solidão dias sempre iguais,
fazendo as mesmas coisas sem se dar conta daquilo que vive, como nos é
apresentado no prólogo: Todo dia de Jonas/é igual ao de amanhã/(...) Oh, Jonas, Oh,
Jonas/Todo dia quase tudo igual. (FALCÃO, 1985: p. 2).
No entanto, um certo dia, algo diferente acontece e o menino percorre um longo
caminho até descobrir uma nova maneira de aproveitar os dias, o caminho a ser
percorrido é apresentado metaforicamente, pois Jonas é de um reino chamado A ver
estrelas, vive sonhando,olhando para as estrelas da janela do seu quarto, após a
aventura vivida por ele, fica a reflexão: é melhor viver vendo estrelas ou navegando?
A peça propõe uma distância física a Jonas, que é sair do seu reino para encontrar um
rapaz chamado Grampo e entregar-lhe A Rosa dos Ventos, acontece que a forma de
percorrê-lo não se dá de maneira objetiva, andando ou correndo, mas sim através da
sua imaginação, do modo de enxergar as coisas; no caminho, Jonas, que não dava
valor ao tempo, conhece vários personagens que acabam oferecendo-lhe desafios,
lições e apresentam a ele valores que até então na sua vida corrida e monótona não
tinha percebido.
A peça ocorre em apenas um ato e sua estrutura está organizada de uma forma
convencional, ou seja, nos é apresentado o começo, o meio e o fim de modo linear,
primeiramente, nos é exposto a situação, a partir do prólogo, apresentando quem é a
personagem principal e como vive; logo o conflito vivido por ela ao aparecer pela
janela do seu quarto alguns marinheiros, sugerindo assim uma ruptura com o
convencional, além de estabelecer o conflito da personagem, que é entregar a Rosa
dos Ventos (esquecida pelos marinheiros) a uma personagem chamada Grampo, é a
partir desse conflito que inicia-se a ação do texto, pois Jonas possui um objetivomaior
e por isso vai encontrando os outros personagens, o desfecho ou a solução do conflito
termina em aberto, já que a peça nos propõe, ao final, uma reflexão sobre a forma
pela qual vivemos nossa rotina, ao convidar todos a navegar e não somente admirar
as estrelas.
TEMPO E ESPAÇO
Num espaço pouco definido se desenrola a ação, assim é que, tempo e espaço são
postos sem maiores especificações. O tempo não é determinado, sabe-se, apenas,
que se trata de mais uma noite na vida de Jonas, e a ação inicia-se no momento em
que Jonas escuta um ruído, sem saber de onde vem. A partir daí, ocorrem várias
entradas e saídas de personagens, gerando uma considerável movimentação cênica.
A ação aqui apresentada ocorre dentro da casa de Jonas, contudo, nas cenas
seguintes não fica determinado o espaço da ação, o único dado apresentado pelo
autor é que Jonas pula a janela e vai à procura dos marinheiros (FALCÃO, p.8). Com
efeito, a ação é agitada, posto que após sua saída há o encontro com muitas
personagens, e cada uma delas oferece a Jonas uma informação sobre onde ele está
(país do navegar) e “dicas” para que ele resolva seu conflito, durante essas ações é
interessante como a personagem vai entrando no jogo dos outros, aprendendo a
brincar e a sair da situação a qual está metido, como na suaconversa com um dos
personagens em que ele quer fugir:
Jonas: Foi um prazer conhecer vocês. Vocês foram muito simpáticos e grandes
caçadores. Os dois. Mas eu tenho um compromisso e depois a gente se fala.
(CORRE). (FALCÃO, p. 15)
AS PERSONAGENS
As personagens apresentadas são: Jonas, um menino quieto que vive num bairro
chamado Solidão e que não valoriza muito seus dias, vivendo-os sempre igual,
fazendo as mesmas coisa, mas que guarda um segredo, enquanto olha as estrelas,
seu coração se põe a navegar, além dessa personagem, os outros são secundários,
pois não são apresentados de forma aprofundada, eles apenas aparecem e em
seguida saem de cena, alguns deles não possuem nomes, como os marinheiros
(dizem se chamar Jonas), as desconhecidas, a mãe, a filha (Sônia), os pajens e a
bruxa, há dois personagens que são caracterizados pelo autor, Débora, Sua cabeça é
escondida por uma abóbora com os buracos dos olhos, nariz e boca, por onde ela
solta a fumaça tragada por sua elegante cigarrilha e Flai, Tem o aspecto de um
mágico, entra no topo de uma escada puxada por um pajem. (FALCÃO, p. 15)
Embora as personagens não sejam caracterizadas por grandes significação em si
mesmas, cada uma delas apresenta um papel importante para o desenvolver da ação,
pois, são elas que trazem asinformações para que Jonas resolva seu conflito. Sendo
assim, poderíamos dizer que tais dados são apresentados da seguinte forma:

Marinheiros – esquecem a Rosa dos Ventos que deve ser entregue a Grampo.
Desconhecidas (primeira e segunda) – Afirmam saber onde está Grampo, mas não
dizem, no entanto essa informação leva a Jonas crer que Grampo existe.
Mãe – Diz que é preciso Jonas se apressar porque já e quase meia noite.
Débora e Flai – Jonas precisa encontrar a bruxa que o levará até Grampo.
Bruxa – Diz que ela é do país de navegar e ele do reino de ver estrelas, além disso,
diz a ele que precisa ir a torre esperar que Grampo lhe entregue a Rosa dos Ventos.

Ao final, os marinheiros afirmam que ele, Jonas, é o Grampo. Além, dessas


personagens, há a voz que aparece em dois momentos, no princípio o cumprimente e,
depois, pede a ele paciência para não por tudo a perder, se pensarmos que toda a
história ocorre na imaginação de Jonas, poderíamos, então, dizer que tal voz é sua
consciência.
Sendo assim, a peça de João Falcão nos apresenta por meio de Jonas uma reflexão
sobre o tempo e imaginação, trazendo a cena alguns personagens dos antigos contos
infantis, como o marinheiro, aquele que conhece outros mundos, saem em busca de
aventura e que no texto todos afirmam serJonas também, a mãe procurando um sapo
que vire príncipe para sua filha, Débora com sua cabeça de abóbora e Flai um mágico,
ambos caçadores que brigam entre si e brincam de rimar e, por fim, a bruxa que pensa
ser uma goiaba e que se descobre bruxa com a ajuda de Jonas e que ao contrário das
histórias não é má, além disso, está no papel da princesa que fica na torre. Deste
modo, podemos dizer que se trata de uma peça leve e que sua encenação ou mesmo
leitura para o público infantil, pode mostrar que a imaginação é um campo fértil e que
podemos criar, brincar e utilizar tal qual fez Jonas, pois navegar por entre histórias,
ainda que nos sonhos, é melhor que estar apenas vendo estrelas.

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