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Profª : Ábia Camacho

LITERATURA são apresentados na ordem dos acontecimentos;


AULA 01 ou psicológico, que se refere ao tempo
pertencente ao mundo interior do personagem.
O Texto Literário Quando lidamos com o tempo psicológico, a
técnica do flashback é bastante explorada, uma
Conceito: Todo texto literário é uma narrativa, vez que a narrativa volta no tempo por meio das
estes têm função artística, prezando pela recordações do narrador.
estética. Ele é composto por foco narrativo ou
ponto de vista do narrador, enredo, personagens, Espaço: É o espaço no qual transcorrem as
tempo – que pode ser psicológico ou ações, onde os personagens se movimentam.
cronológico – e espaço. Auxilia na caracterização dos personagens, pois
pode interagir com eles ou por eles ser
Explanando o assunto: O texto literário é transformado. Pode ser a sala, a cozinha, a casa,
composto por: vemos, por exemplo, no romance “Rumo ao
Farol” de Virgínia Woolf em que o farol e a
Foco narrativo e narrador, que podem ser: casa são espaços de interação das personagens.

a) Narrador-Personagem – Ele conta e


participa dos fatos ao mesmo tempo. Exercícios:
Neste caso a narrativa é contada em
primeira pessoa. [ENEM 2013 – QUESTÃO 124]
b) Narrador-Observador – Apenas limita-
se em descrever os fatos sem se envolver Tudo no mundo começou com um sim. Uma
com os mesmos. Aí predomina-se o uso molécula disse sim a outra molécula e nasceu a
da terceira pessoa. vida. Mas antes da pré-história havia a pré-
c) Narrador-Onisciente – Esse sabe tudo história da pré-história e havia o nunca e havia o
sobre o enredo e os personagens, sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que
revelando os sentimentos e pensamentos o universo jamais começou. [...]Enquanto eu
mais íntimos, de uma maneira que vai tiver perguntas e não houver resposta
além da própria imaginação. Muitas continuarei a escrever. Como começar pelo
vezes sua voz se confunde com a dos início, se as coisas acontecem antes de
personagens, é o que chamamos de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia
Discurso Indireto Livre. os monstros apocalípticos? Se esta história não
existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir
Enredo: O enredo é a estrutura da narrativa. O é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o
desenrolar dos acontecimentos gera um conflito que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi
que, por sua vez, é o responsável pela tensão da palavra mais doida, inventada pelas nordestinas
narrativa. que andam por aí aos montes.

Personagens: Os personagens são aqueles que Como eu irei dizer agora, esta história será o
participam da narrativa, podem ser reais ou resultado de uma visão gradual – há dois anos e
imaginários, personificar elementos da natureza, meio venho aos poucos descobrindo os porquês.
ideias, etc. Dependendo de sua importância na É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se
trama, os personagens podem ser principais ou mais tarde saberei. Como que estou escrevendo
secundários. na hora mesma em que sou lido. Só não inicio
pelo fim que justificaria o começo – como a
Tempo: A duração das ações apresentadas morte parece dizer sobre a vida – porque preciso
numa narrativa caracteriza o tempo (horas, dias, registrar os fatos antecedentes.
anos, assim como a noção de passado, presente
e futuro). LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de
O tempo pode ser cronológico, quando os fatos Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).
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verdade, tivemos outros de pouca dura; não
A elaboração de uma voz narrativa peculiar tardava que o céu se fizesse azul, o sol claro e o
acompanha a trajetória literária de Clarice mar chão, por onde abríamos novamente as
Lispector, culminada com a obra A hora da velas que nos levavam às ilhas e costas mais
estrela, de 1977, ano da morte da escritora. belas do universo, até que outro pé de vento
Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade desbaratava tudo, e nós, postos à capa,
porque o narrador. esperávamos outra bonança, que não era tardia
nem dúbia, antes total, próxima e firme (...)”.
a) Observa os acontecimentos que narra sob
uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e (Fragmento do livro Dom Casmurro, de
às personagens. Machado de Assis)
b) Relata a história sem ter tido a preocupação
de investigar os motivos que levaram aos A narração dos acontecimentos com que o
eventos que a compõem. leitor se defronta no romance Dom
c) Revela-se um sujeito que reflete sobre Casmurro, de Machado de Assis, se faz em
questões existenciais e sobre a construção do primeira pessoa, portanto, do ponto de vista
discurso. da personagem Bentinho. Seria, pois, correto
d) Admite a dificuldade de escrever uma dizer que ela apresenta-se:
história em razão da complexidade para escolher
as palavras exatas. a) fiel aos fatos e perfeitamente adequada à
e) Propõe-se a discutir questões de natureza realidade;
filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de b) viciada pela perspectiva unilateral assumida
ficção. pelo narrador;
c) perturbada pela interferência de Capitu que
[FUVEST] “(...) Escobar vinha assim surgindo acaba por guiar o narrador;
da sepultura, do seminário e do Flamengo para d) isenta de quaisquer formas de interferência,
se sentar comigo à mesa, receber-me na pois visa à verdade;
escada, beijar-me no gabinete de manhã, ou e) indecisa entre o relato dos fatos e a
pedir-me à noite a bênção do costume. Todas impossibilidade de ordená-los.
essas ações eram repulsivas; eu tolerava-as e
praticava-as, para me não descobrir a mim Ver Resposta
mesmo e ao mundo. Mas o que pudesse [ENEM 2010 – QUESTÂO 118]
dissimular ao mundo, não podia fazê-lo a mim,
que vivia mais perto de mim que ninguém. Texto I
Quando nem mãe nem filho estavam comigo o Logo depois transferiram para o trapiche o
meu desespero era grande, e eu jurava matá-los depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes
a ambos, ora de golpe, ora devagar, para proporcionava. Estranhas coisas entraram então
dividir pelo tempo da morte todos os minutos da para o trapiche. Não mais estranhas, porém, que
vida embaçada e agoniada. Quando, porém, aqueles meninos, moleques de todas as cores e
tornava a casa e via no alto da escada a de idades as mais variadas, desde os
criaturinha que me queria e esperava, ficava nove aos dezesseis anos, que à noite se
desarmado e diferia o castigo de um dia para estendiam pelo assoalho e por debaixo da ponte
outro. e dormiam, indiferentes ao vento que
circundava o casarão uivando, indiferentes à
O que se passava entre mim e Capitu naqueles chuva que muitas vezes os lavava, mas com os
dias sombrios, não se notará aqui, por ser tão olhos puxados para as luzes dos navios, com os
miúdo e repetido, e já tão tarde que não se ouvidos
poderá dizê-lo sem falha nem canseira. Mas o presos às canções que vinham das
principal irá. E o principal é que os nossos embarcações...
temporais eram agora contínuos e terríveis.
Antes de descoberta aquela má terra da
Profª : Ábia Camacho
AMADO, J. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia
das Letras, 2008 (fragmento). MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro:
Aguilar, 1994 (fragmento).
Texto II
TEXTO II
À margem esquerda do rio Belém, nos fundos João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio,
do mercado de peixe, ergue-se o velho ingazeiro transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que,
– ali os bêbados são felizes. Curitiba os como o Capibaribe, também segue no caminho
considera animais sagrados, provêm as suas do Recife. A autoapresentação do personagem,
necessidades de cachaça e pirão. No trivial na fala inicial do texto, nos mostra um Severino
contentavam-se com as sobras do mercado. que, quanto mais se define, menos se
individualiza, pois seus traços biográficos são
TREVISAN, D. 35 noites de paixão: contos escolhidos. sempre partilhados por outros homens.
Rio de Janeiro: BestBolso, 2009 (fragmento).
SECCHIN, A. C João Cabral: a poesia do menos. Rio de
Sob diferentes perspectivas, os fragmentos Janeiro: Topbooks, 1999 (fragmento).
citados são exemplos de uma abordagem
literária recorrente na literatura brasileira Com base no trecho de Morte e Vida
do século XX. Em ambos os textos: Severina (Texto I) e na análise crítica (Texto
II), observa-se que a relação entre o texto
a) A linguagem afetiva aproxima os narradores poético e o contexto social a que ele faz
dos personagens marginalizados. referência aponta para um problema social
b) A ironia marca o distanciamento dos expresso literariamente pela pergunta
narradores em relação aos personagens. “Como então dizer quem fala / ora a Vossas
c) O detalhamento do cotidiano dos personagens Senhorias?“. A resposta à pergunta expressa
revela a sua origem social. no poema é dada por meio da
d) O espaço onde vivem os personagens é uma
das marcas de sua exclusão. a) Descrição minuciosa dos traços biográficos
e) A crítica à indiferença da sociedade pelos do personagem-narrador.
marginalizados é direta. b) Construção da figura do retirante nordestino
como um homem resignado com a sua situação.
[ENEM 2011 – QUESTÃO 99] c) Representação, na figura do personagem-
narrador, de outros Severinos que compartilham
TEXTO I sua condição.
O meu nome é Severino, d) Apresentação do personagem-narrador como
não tenho outro de pia. uma projeção do próprio poeta, em sua crise
Como há muitos Severinos, existencial.
que é santo de romaria, e) Descrição de Severino, que, apesar de
deram então de me chamar humilde, orgulha-se de ser descendente do
Severino de Maria; coronel Zacarias.
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias,
mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Profª : Ábia Camacho

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