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VICENTE

a) JUSTIFICAÇÃO DO TÍTULO DO CONTO


A personagem principal neste conto é um corvo que simboliza os homens, daí o seu nome humano.
Vicente: Significa “o que vence”, “aquele que conquista”, “vencedor, conquistador”.
Vicente é originado a partir do nome em latim Vincentius, deriva de vincente, particípio passado do verbo
vincere, que significa “vencer”.

b) IDENTIFICAÇÃO DA MENSAGEM DO CONTO

Vicente era um corvo negro que desafiou Deus, não cumprindo o seu dever de servidor, fugindo da arca
de Noé para alcançar a sua autonomia. Através do conto “Vicente”, Miguel Torga representa a
insatisfação dos homens através de um corvo, e evidencia que os homens não devem ter medo, quando
lutam pelas suas causas e pelos seus ideais. O corvo é corajoso, rebelde e destemido e acredita que
não será controlado por ninguém, a não ser por ele próprio. Não será intimidado e luta para ser livre,
arriscando a sua vida pelo seu projeto pessoal. A noção de um Deus poderoso e castigador é
substituída: neste conto surge uma alternativa libertadora, concede-se autonomia ao ser criado, surge
uma outra forma de salvação. O autor põe também em relevo a solidão e o isolamento causados pelo
desejo de alcançar a todo o custo objetivos pessoais.

c) IDENTIFICAÇÃO DA CRÍTICA SOCIAL

Neste conto, Miguel Torga apresenta a sua crença não num Deus Todo-poderoso, mas sobretudo nos
seres por Ele criados, em autonomia e liberdade, rejeitando a imagem desse Deus opressor e
valorizando o papel da Natureza no acolhimento e amparo do Homem. Para o autor o conhecimento e o
entendimento do mundo e dos anseios humanos, passam pelo restabelecimento da ligação com a Terra.
Transmite uma alternativa para o Homem de livremente escolher o caminho que quer seguir, pondo no
entanto em relevo que perdendo um apoio exterior a si próprio, a sua vida não se torna mais fácil.

Podemos também identificar o autor com o protagonista do conto, pois o seu pseudónimo TORGA vem
de uma planta rasteira que se agarra à rocha para poder sobreviver, assim como o corvo Vicente,
agarrado a uma nesga de terra, enfrentando as 3 vagas da morte.

Este é o último conto de Bichos e há quem nele veja um recado político de Torga: a vida só vale a pena
com liberdade, a liberdade de sermos nós com ou sem Deus, a liberdade de sermos nós com ou sem…
um ditador? (não esqueçamos a época em que a obra foi publicada e a postura de Torga face ao
fascismo). A liberdade é pois o grito que encerra a obra.

d) IDENTIFICAÇÃO DA ATUALIDADE DO CONTO (da mensagem, da crítica...)

Neste conto, Torga revisita o mito bíblico. Apesar do texto ser adaptado de uma obra com mais de 2000
anos (episódio do “Dilúvio” na Bíblia Sagrada), o autor transformou-a. A pomba é substituída pelo corvo.
A pomba regressa à arca, o corvo não regressa. Em «Vicente» evidencia-se a eterna necessidade do
homem de alcançar a sua identidade própria e de se libertar da ideia de um Criador que se impõe
totalmente.
f) IDENTIFICAÇÃO DA ZOOMORFIZAÇÃO/ANTROPOMORFIZAÇÃO NO CONTO

Neste conto, os animais recebem características e sentimentos humanos (refletem, falam e sentem).
Estes elementos permitem associar os animais do conto aos homens a fim de facilitar a passagem da
mensagem. O evento narrado é não só um grande momento para a humanidade, mas também para os
animais, o que estabelece uma relação entre estes dois. Vicente pode ser todo e qualquer ser humano
por tudo o que anteriormente se disse.

Características do texto narrativo

1. Transcreve do conto “Vicente” um exemplo representativo de cada um dos modos de representação


do discurso.

Narração “Naquela tarde, à hora em que o céu…” (l. 1) “Novamente o Senhor paralisara as
consciências e o instinto, e reduzia a uma pura passividade vegetativa o resíduo da matéria palpitante.”
(l. 36 - 37)
Descrição “Calado e carrancudo, andava de cá para lá numa agitação continua, como se aquele grande
navio…” (. 5 - 6)
Diálogo “Noé, onde está o meu servo Vicente?” (l. 33) “Vicente!… Ninguém o viu? Procurem-no!” (l. 41)
Monólogo “Chegara! Conseguira vencer!” (l. 107)

2. Assinala com V (Verdadeiro) ou F (Falso) cada uma das alíneas seguintes, corrigindo as falsas.
a. No conto “Vicente”, a ação contém os seguintes momentos-chave: situação inicial, conflito e
desenlace. V
b. No conflito integra-se a fuga de Vicente, a reação do Senhor e a decisão fechar “as comportas do céu”
(l. 52). F
c. A ação principal refere-se ao aprisionamento na Arca dos animais como castigo divino. F
d. A ação secundária não possui elementos relevantes para o desenrolar da ação principal. V
e. Podemos afirmar que a ação do conto é aberta. F
f. O conto desenrola-se nos seguintes espaços físicos: Arca, penhasco e céu. F
g. O ambiente social do conto é a Arca. V
h. “Vicente” é um conto cujas personagens principais são Vicente, Noé e o Senhor. F
i. Podemos considerar os restantes animais como figurantes. V

1. Identifica e caracteriza física e psicologicamente a personagem principal do conto.


A personagem principal do conto é Vicente, o corvo. Fisicamente, o autor diz-nos que ele é um corvo, o
que nos diz imediatamente que ele é negro, e que é dono de uma figura negra e seca; relativamente à
caracterização psicológica sabemos que é alguém “calado e carrancudo” e que no seu espirito não havia
paz, por essa mesma razão se revolta e foge da Arca. A sua decisão diz-nos que é determinado e
temerário.

2. Indica resumidamente a situação inicial, as peripécias ou conflito e o desenlace de “Vicente”.


A situação inicial resume-se à apresentação das personagens e do local em que se encontram, isto é,
refere-se ao momento em que o autor nos diz que se encontram há quarenta dias na arca e nos revela o
estado de espírito de Vicente. As peripécias dizem respeito à fuga de Vicente e consequente reação do
Senhor. E, por último, o desenlace relaciona-se com a cedência do Senhor.
5. Completa o seguinte texto com informação relativa ao conto.

A ação, no conto “Vicente”, é fechada pois, o desenlace é conhecido, ao contrário do que


acontece nos contos cujo desenlace se desconhece, por isso mesmo se diz que a sua acção é aberta.
Ainda quanto à ação, mais concretamente quanto à articulação das sequências narrativas, consideramo-
lo um conto de encadeamento visto que as sequências surgem ordenadas temporalmente. Dos três
tipos de espaço possíveis de existir num texto narrativo, o que mais se destaca no nosso conto é o
espaço físico, que podem ser os montes da Arménia ou mesmo o pequeno penhasco, a par do espaço
psicológico. O primeiro está intimamente ligado ao segundo, uma vez que aquele é o reflexo do estado
de espírito do personagem principal. Temos ainda o espaço social, a Arca de Noé.
A personagem principal como sabemos é Vicente. No entanto, outra figura, ainda que não com
o mesmo grau de destaque, se revela importante, o Senhor. Será verdadeiro afirmarmos que esta
personagem e Noé são personagens secundárias com a divindade, e que esta, por sua vez, se
socorre de Noé para averiguar onde ela se encontra. Os restantes animais como não intervêm na
história são considerados figurantes.
No conto existem essencialmente dois tempos, o histórico, o ano de 2235 a.C., ano em que
aconteceu o dilúvio e o tempo cronológico, quarenta dias.
Por último, temos o narrador, aquele que narra a história. Quanto à sua presença pode ser
participante ou não participante, no nosso conto ele é não participante posto que se limita a narrados
acontecimentos. Porém, é subjetivo já que expressa o seu ponto de vista ainda que não o faça de
forma clara.

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