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FORMAÇÃO, TRANSGRESSÃO E RUPTURAS NA

LITERATURA NEGRO-BRASILEIRA ESCRITA POR


MULHERES

FORMATION, TRANSGRESSION AND RUPTURES


IN BLACK-BRAZILIAN LITERATURE WRITTEN
BY WOMEN

Mirian Cristina dos Santos


miriansantos@unifesspa.edu.br

do Xingu. Autora do livro


"Intelectuais Negras: prosa negro-brasileira
Dossiê
contemporânea" (Malê, 2018).
Ressonâncias de escrevivências:
literatura, antirracismo e educação
literária

Resumo/Abstract
Organizadoras: Palavras-chave/Keywords
Dra. Adriana de F. A. L. Barbosa
No encalço da “escrevivência”, conceito criado a partir da obra de Con-
Dra. Milena Britto de Queiroz ceição Evaristo, a proposta deste artigo é refletir sobre formação,
transgressão e rupturas na literatura negro-brasileira escrita por mu-
Dra. Ana Flávia Magalhães Pinto
lheres, por meio de um olhar para a produção literária das escritoras
Maria Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus, Miriam Alves, Con-
ceição Evaristo, Cristiane Sobral, Eliana Alves Cruz e Jarid Arraes.
v. 30, n. 57, dez. 2021
Brasília, DF
ISSN 1982-9701 Escrevivência; Literatura negro-brasileira; Formação; Transgressão;
Ruptura.

10.26512/cerrados.v30i57.38264 In the pursuit of “escrevivência”, a concept created from the work of


Conceição Evaristo, the purpose of this article is to reflect on forma-
Fluxo da Submissão tion, transgression and ruptures in black-Brazilian literature written
Submetido em: 30/05/2021 by women, through a look at the literary production of women: Maria
Aprovado em: 26/11/2021 Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus, Miriam Alves, Conceição
Distribuído sob
Evaristo, Cristiane Sobral, Eliana Alves Cruz and Jarid Arraes.

"Escrevivência"; Black-Brazilian literature; Formation; Transgression;


Rupture.
SANTOS

Formação, transgressão e rupturas na literatura negro-brasileira escrita por mulheres

melhor solução para se relacionar com a


“Creio que conceber escrita e vivência,
escrita e existência, é amalgamar vida e
literatura de maneira não naturalizada seria
arte, Escrevivência” pensá-la como forma inclusiva.
Cabe imaginar que a todo momento
(Conceição Evaristo) um escritor desconhecido pode estar
emergindo como força inaudita, capaz de
Ao refletir sobre a autoria negra entrar em plena interlocução com outros
feminina, percebe-se que ainda hoje a autores” (NASCIMENTO, 2009, p. 70).
produção literária dessas mulheres resiste Assim, a necessidade de uma nova
em um território de tensão. Em Literatura configuração da literatura, apontada pelo
Brasileira: um território contestado (2012), a professor Evando Nascimento,
professora Regina Dalcastagnè, após quinze possibilitaria de fato uma literatura mais
anos de estudo sobre a narrativa representativa e inclusiva nas mãos dos
contemporânea, aponta que o perfil do leitores.
escritor brasileiro se constitui de “homem,
branco, aproximando-se ou já entrado na Se a ideia de literatura [...] não se resume
mais à desgastada noção de cânone; se
meia idade, com diploma superior, morando mais e mais produções não-canônicas
no eixo Rio-São Paulo” (p. 162). Ademais, a devem ser relacionadas, catalogadas e
pesquisa minuciosa ainda denuncia o caráter consultadas no acervo literário, que se
restritivo das representações, uma vez que torna assim um corpus em permanente
as personagens são de maioria branca, com a expansão, então é preciso pensar o porvir
da literatura como de fato ainda e sempre
recorrente estereotipização de outros por-vir (NASCIMENTO, 2009, p. 71).
grupos, isso quando esses são representados.
Exemplo disso são figurações de mulheres De fato, movimentar e ampliar o
negras majoritariamente como domésticas e cânone literário, de forma a “mudar cor da
de homens negros como criminosos. literatura”, para a escuta de outras vozes já
Nessa mesma vertente reflexiva, a existentes, e as que ainda estão por vir,
escritora e pesquisadora Conceição Evaristo significa questionar o status quo acerca dos
apresenta em sua produção intelectual uma lugares do saber, o que de certa forma são
leitura crítica da literatura canônica. Em também sustentados por esta mesma
um dos seus artigos, por exemplo, ao fazer a literatura que exclui a maioria e privilegia
releitura de obras canônicas da literatura um único grupo – mantendo-se o caráter
brasileira, a escritora aponta que em estático dessa seleção.
hipótese nenhuma o negro é associado à É fato que “o aporte trazido pelos
gênese brasileira, constituindo-se apenas Estudos Culturais, possibilitando o
como “um corpo escravo” (EVARISTO, questionamento do cânone, e trazendo para
2009, p. 21). Evaristo ainda aponta a a ordem do dia textos, assuntos e valores,
referência constante dos negros enquanto que ainda não tinham recebido a devida
analfabetos e destituídos de linguagem, em consideração, é decisivo e ajudou a
muitas das obras, como fator complicador reconfigurar a paisagem literária das últimas
para o não reconhecimento do texto literário décadas” (NASCIMENTO, 2009, p. 83). No
escrito por negros. entanto, essa nova configuração do cenário
Dessa forma, um universo de literário ainda é percebida enquanto restrita,
representações estereotipadas, limitadoras e uma vez que os escritores negros ainda não
equivocadas ainda subjaz o dorso da leitura foram acolhidos de forma consistente pelo
dos brasileiros, tornando-se substancial sistema literário, principalmente ao
refletirmos sobre a necessidade do considerarmos o mercado editorial.
movimento da crítica literária e do mercado Publicar ainda significa um desafio
editorial na acolhida de novas vozes. “A para os escritores negros, que, para trazer a

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público suas produções ainda recorrem negras enquanto intelectuais, a partir de


quase sempre a financiamentos próprios, suas escritas literárias, uma vez que em seus
contando com o apoio de amigos e livros elas “abordam as principais demandas
divulgação nos canais de internet, ou da mulher negra na contemporaneidade, dão
ainda, a publicações coletivas, na esperança visibilidade às culturas africanas e afro-
de baratear custos e romper as barreiras da brasileiras, denunciam a condição
publicação (Cf. SILVA, 2011). Apoiando marginalizada e subalternizada do negro e
tais produtores, existem no país algumas fazem dessa literatura escrita por mulheres
pequenas editoras e livrarias trabalhando local de força, resistência, afirmação e
especificamente com a temática étnico- denúncia” (SANTOS, 2018, p. 15).
racial. Sendo assim, escritores independentes Nessa discussão, reivindicar o espaço
e editoras menores “cientes das barreiras intelectual para mulheres negras literatas,
comerciais junto a grandes redes, têm nesses adveio principalmente de um diálogo estreito
espaços, não só uma oportunidade de com o conceito de Literatura negro-
divulgar as suas marcas, assim como os brasileira, do poeta e ensaísta Cuti, em que o
nomes que fazem parte de seus catálogos autor relocaliza a escrita de autoria negra na
que dificilmente conseguem ser lançados em crítica, a partir de um lugar político de
outros espaços” (SILVA, 2011, p. 51), em pertencimento. Além disso, as reflexões da
virtude de um mercado editorial racista e pensadora norte-americana bell hooks1
sexista (Cf. DALCASTAGNÈ, 2012). Dessa (1995), ao pensar a necessidade de
forma, refletir sobre a escrita de mulheres descolonizar, desandrogenizar e desnortear a
negras perpassa também os (des)caminhos concepção eurocêntrica de intelectual,
da publicação. também estiveram no fio da abordagem,
Considerar as relações de poderes que se visto que não é concebível que ainda hoje
perpetuam no campo do saber aponta também nosso entendimento de intelectualidade ainda
para a necessidade de novos parâmetros e esteja congelado na figura de homens brancos
concepções para a leitura da produção das acadêmicos, cis, do centro do mundo. Dessa
mulheres negras. Ao tratar das peculiaridades do forma, considerar o caráter transgressor e
texto negro-feminino, a poeta, pesquisadora e pedagógico, para além das paredes
professora Lívia Maria Natália de Souza observa acadêmicas, da produção literária das
que “instrumentos e paradigmas de análise que intelectuais negras torna-se pertinente.
comumente são acionados nos estudos de Refletir sobre a literatura negro-
literatura não seriam suficientes para abarcar a brasileira escrita por mulheres traz para a
complexidade das representações e das opções discussão o registro do presente da trajetória
éticas e estéticas oferecidas pelos textos destas de um segmento populacional relegado ao
mulheres” (SOUZA, 2015, p. 91), uma vez que subemprego, considerado como formado por
tais textos trazem uma “teorização própria” analfabetos e destituídos de capacidade de
ainda pouco considerada na teoria literária utilizar adequadamente a linguagem. Nessa
brasileira. discussão, antes é importante ponderar que
Consoante tais apontamentos, em o próprio ato da escrita carrega a
“Intelectuais Negras: prosa negro-brasileira insubordinação. “Quem nos deu permissão
contemporânea” (2018), considerando que a para escrever?”, indagou Glória Anzaldúa
acolhida de textos de autoria negra ainda em sua famosa carta às mulheres do terceiro
está em um processo incipiente pela crítica mundo. Há quarenta anos, a ativista já nos
literária, alvitrei a leitura das escritoras convocava a esquecer o teto todo seu, de

1 bell hooks (grafado em letras minúsculas, opção da autora) é o pseudônimo de Glória Jean Watkins. Adotou esse pseudô-
nimo em homenagem à avó materna, como um ato político, uma vez que esse nome garantiria um direito de expressão au-
tônomo, que o nome Glória Watkins não permitiria (Cf. RIBEIRO, 2012).

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“escrevivência”, cunhado no rastro da


Virginia Woolf, e assumir a força do verbo
literatura de Conceição Evaristo para esta
advindo das margens: “Esqueça o quarto só
conversa: “Escrevivência, em sua concepção
para si – escreva na cozinha, tranque-se no
inicial, se realiza como um ato de escrita das
banheiro. Escreva no ônibus ou na fila da
mulheres negras, como uma ação que
previdência social, no trabalho ou durante
pretende borrar, desfazer uma imagem do
as refeições, entre o dormir e o
passado” (EVARISTO, 2020, p. 30). Dessa
acordar” (ANZALDÚA, 2000, p. 233).
forma, uma escrita-liberdade ecoa dos gritos
Aqui, a pensadora considera as limitações de
antes agarrados em gargantas diaspóricas,
tempo, de lugar e de espaço que estão entre
vozerio aproximado por um lugar de
a escrita, o papel e a materialidade do texto
intersecção atravessado pela tríade, gênero,
de quem ocupa a base da pirâmide.
raça e classe – e também pela “dororidade,
Contudo, há urgências no imperativo de que
pois contém as sombras, o vazio, a ausência,
assumamos as nossas próprias histórias:
a fala silenciada, a dor causada pelo
“Escrevo porque a vida não aplaca meus
racismo” (PIEDADE, 2017, p. 16).
apetites e minha fome. Escrevo para
Nessa perspectiva, a princípio,
registrar o que os outros apagam quando
“escrevivência” parece dispensar definição,
falo, para reescrever as histórias mal escritas
uma vez que essa escrita que se quer
sobre mim, sobre você. [...] Para desfazer os
comprometida com a vida aparenta exigir
mitos de que sou uma profetisa louca ou uma
de escritoras negras uma consciência do seu
pobre alma sofredora” (ANZALDÚA, 2000, p.
lugar e suas especificidades na sociedade
232). Assim, o convite para assumir nossas ideias,
enquanto mulheres e negras: “creio que a
histórias e teorias remete à necessidade de
gênese de minha escrita está no acúmulo de
preenchimento das lacunas da história única
tudo que ouvi desde a infância. O acúmulo
e deixemos de ser meros objetos amorfos de
estudos. das palavras, das histórias que habitavam
em nossa casa e adjacências” (EVARISTO,
Reverter os silêncios em palavras
2020, p. 52). Relacionando “escrevivência”
nem sempre se apresenta como tarefa fácil
com literatura, percebe-se que uma
ou palpável. Para além disso, a pensadora
aproximação entre literatura e vida real
norte-americana Audre Lord nos convida a
propicia uma confusão entre ficção e
transformar o silêncio em linguagem e em
realidade, desconsiderando por vezes o
ação:
trabalho estético. O diálogo entre o texto
literário e a experiência de vida requer mais
Para aquelas de nós que escrevem, é
necessário esmiuçar não apenas a verdade
que uma mera repetição da realidade,
do que dizemos, mas a verdade da própria conforme apontado pela pesquisadora
linguagem que usamos. Para as demais, é Cristiane Côrtes:
necessário compartilhar e espalhar
também as palavras que nos são A perspectiva da “escrevivência” alcança
significativas. Mas o mais importante uma dimensão cultural e política, mas
para todas nós é a necessidade de sem recair nas armadilhas da literatura
ensinarmos a partir da vivência, de puramente engajada, preservando a
falarmos as verdades nas quais potência da realidade social na ficção. É
acreditamos e as quais conhecemos, para uma literatura que suplementa aquela
além daquilo que compreendemos habitual, não deseja golpeá-la, mas
(LORDE, 2019, p. 54-55). sabotá-la, repetir para transformá-la
(CÔRTES, 2016, p. 54).
Parece bastante oportuno aproximar
o chamado de Lorde com a escrita-ação das Nesse sentido, a escrita dessas
escritoras negras brasileiras. Aqui, é mulheres negras aparece articulada com
impossível não trazer o conceito de experiências vividas, aspirando trazer para

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Nesse sentido, ler, analisar e


a discussão as experiências da população
interpretar a produção literária dessas
negra de forma humanizada, que esteve à
mulheres é de suma importância, “porque a
margem da literatura oficial. Assim, “suas
literatura pode dar a ver situações que são
experiências pessoais são convertidas numa
tornadas ‘invisíveis’ e, assim, contribuir
perspectiva comunitária. O seu discurso
minimamente para a sua discussão, [sendo]
sabota o oficial porque cria um devir mais
importante que sejam inseridas novas vozes,
justo e coerente com o povo que quer
provenientes de outros espaços sociais, em
representar” (CÔRTES, 2016, p. 56). É
nosso campo literário” (DALCASTAGNÈ,
importante considerar que essa
2014, p. 299). De forma que o acesso a obras
aproximação entre trabalho intelectual e
de autoria negra feminina possibilitará uma
experiências vividas não abrange uma mera
releitura sobre a literatura e a sociedade
transposição de realidades ou de trocas de
brasileiras, visto que “ser mulher e ser negra
papéis entre personagens brancas e negras
marca um espaço de interseccionalidade –
em suas representações. Essas narrativas, a
onde atuam diferentes modos de
partir da compreensão da realidade
discriminação – que ainda é pouco
experiencializada pela população negra,
reconhecido” (op. cit.).
trazem a dor, a falta e a violência no âmago
Sendo assim, um rápido
da fruição.
levantamento da literatura negro-brasileira
a escrevivência extrapola os campos de escrita por mulheres revela um mundo plural
uma escrita que gira em torno de um e um outro modo de representação de espaços
sujeito individualizado. Creio mesmo que e corpos antes desconsiderados ou, quando
o lugar nascedouro da Escrevivência já
sim, submersos em uma representação
demanda outra leitura. Escrevivência
surge de uma prática literária cuja estereotipada.Para essa discussão, dialogarei
autoria é negra, feminina e pobre. Em com a escrita das autoras Maria Firmina dos
que o agente, o sujeito da ação, assume o Reis, Carolina Maria de Jesus, Miriam
seu fazer, o seu pensamento, a sua Alves, Conceição Evaristo, Cristiane Sobral,
reflexão, não somente como um exercício
Eliana Alves Cruz e Jarid Arraes, que, a
isolado, mas atravessado por grupos, por
uma coletividade (EVARISTO, 2020, p. meu ver, contêm marcas que possibilitam
38). formação, transgressão e rupturas no campo
literário.
Traçar linhas sobre a literatura negro
Sendo assim, observa-se que a -brasileira escrita por mulheres exige
literatura de autoria feminina negra destacar os pioneirismos de Maria Firmina
extrapola o individual, abrangendo uma dos Reis. Úrsula, seu romance, publicado em
escrita coletiva. Ou seja, ela parte de uma 1858, constitui-se do primeiro romance
subjetividade, mas abarca uma abolicionista brasileiro, além de ser
subjetividade coletiva diaspórica. “Assim, considerado o primeiro romance escrito por
quando uma intelectual negra fala a partir uma mulher no território nacional (LOBO,
de um eu, ela não fala a partir do fetiche 2014). Em sua narrativa, duas personagens
autolaudatório da autobiografia, ela negras são apresentadas de forma
delimita, nessa fala, as fronteiras de um país humanizada e de maneira bastante
desconhecido, que vai se construindo no significativa para o desenrolar do enredo.
texto” (SOUZA, 2020, p. 218). É o que pode Além de apresentar em Túlio a nobreza de
ser observado na literatura feminina negro- cavaleiros medievais, a autora o constitui
brasileira, ao trazer histórias não contadas e como “base de comparação” (DUARTE,
“descobrir” espaços e corpos antes não 2014, p. 56) para o herói protagonista
considerados, mesclando vida e arte, a partir branco. O romance expõe ainda de forma
de uma “subjetividade coletiva”.

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Outra escritora imprescindível na


detalhada e bastante sensível a história de
discussão sobre o caráter transgressor e
Mãe Suzana, mulher negra escravizada, que
educador da literatura negro-brasileira
carrega nos olhos memórias de seu corpo
escrita por mulheres é Carolina Maria de
livre em África, e também as violências da
Jesus. Baluarte da autoria negra, a autora
travessia.
de diários, romances, contos, peças teatrais,
Meteram-me a mim e a mais trezentos letras de músicas, influenciou inúmeras
companheiros de infortúnio e de cativeiro escritoras negras da contemporaneidade.
no estreito e infecto porão de um navio. “É através da escrita que Carolina torna-se
Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta
sujeito de si mesma, uma vez que põe no
absoluta de tudo quanto é mais
necessário à vida passamos nessa papel seus dramas e angústias, seus medos e
sepultura até que abordamos às praias frustrações; e através dela torna-se sujeito
brasileiras. Para caber a mercadoria social ao retratar a pobreza e a miséria
humana no porão fomos amarrados em pé presente no ‘quarto de despejo’” (LOPES,
e para que não houvesse receio de revolta,
2010, p. 171). É impossível negar a potência
acorrentados como os animais ferozes das
nossas matas, que se levam para recreio da escrita de Carolina Maria de Jesus, que
dos potentados da Europa. Davam-nos a ainda hoje, sessenta anos após o lançamento
água imunda, podre e dada com de seu primeiro livro, se faz tão atual ao pensar
mesquinhez, a comida má e ainda mais o Brasil também do presente.
porca: vimos morrer ao nosso lado muitos
companheiros à falta de ar, de alimento e
de água. É horrível lembrar que criaturas
humanas tratem a seus semelhantes Eu estava pagando o sapateiro e
assim e que não lhes doa a consciência de conversando com um preto que estava
levá-los à sepultura asfixiados e famintos! lendo o jornal. Ele estava revoltado com
Muitos não deixavam chegar esse último um guarda civil que espancou um preto e
extremo – davam-se à morte. amarrou numa árvore. O guarda civil é
Nos dois últimos dias não houve mais branco. E há certos brancos que
alimento. Os mais insofridos entraram a transforma preto em bode expiatório.
vozear. Grande Deus! Da escotilha Quem sabe se guarda civil ignora que já
lançaram sobre nós água e breu fervendo, foi extinta a escravidão e ainda estamos
que nos escaldou e veio dar a morte aos no regime da chibata? (JESUS, 2000, p.
cabeças do motim. 96).
A dor da perda da pátria, dos entes caros,
da liberdade foi sufocada nessa viagem
pelo horror constante de tamanhas Revisitar o diário de Carolina,
atrocidades (REIS, 2018, p. 74).
mesmo considerando marcas temporais e
espaciais de gêneros textuais datados,
Torna-se relevante também apontar o provoca ainda movimentos. Suas reflexões e
pioneirismo de Maria Firmina dos Reis em questionamentos rompem estruturas
narrar a diáspora africana em um Brasil engessadas e subvertem a ordem,
escravista, uma vez que o referido romance ultrapassando as amarras literárias, uma
é escrito e publicado antes da “abolição”. vez que sua escrita multifacetada atravessa
Embora aqui não se pretenda, e nem seja tempos e áreas. Dessa forma, o teor do
possível, esgotar a potência da escritora excerto citado, referente à 11 de agosto de
maranhense, é preciso frisar que a temática 1958, pouco difere da violência policial
da escravidão também é presente em outros diuturnamente presenciada ainda hoje no
textos da autora. No conto “A escrava”, país de norte à sul. A aproximação, de
publicado em 1887, por exemplo, a forma irônica, da violência policial na
personagem escravizada Joana enlouquece abordagem do corpo negro ao regime
após ter dois de seus filhos vendidos. escravocrata também revela a sofisticação

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delineadas as linhas do romance Bará na


das reflexões de Carolina – uma pensadora
trilha do vento (2015), de Miriam Alves, ao
que tem muito a oferecer às pautas do
trazer outros corpos, espaços, tempos para a
presente.
literatura. Aqui, as culturas africanas e afro-
A escritora Miriam Alves também
brasileiras não são folclorizadas ou tratadas
muito acrescenta ao campo literário. Ao
de maneira exótica. Em seus textos, assim
lançar um olhar sobre a sua produção “as
como em outros da literatura negro-
angústias, tensões, felicidades, desencontros,
brasileira, “o ritual é frequentemente
revoltas, possibilidades, próprios do ato de
concebido como um recurso capaz de
viver, são assuntos” (FONSECA; SOUZA,
assegurar uma aliança com a ancestralidade
2006, p. 161). De forma que uma
africana. Através de sua materialização, sob
multiplicidade de personagens negras de
a forma do encantamento, dos cânticos
diferentes estratos sociais experiencializam a
entoados por suas mais velhas, dos banhos
complexidade de existir em uma sociedade
de folha” (SALES, 2015, p. 25), com a força
machista e racista. Em sua produção em
da oralidade, que terá papel imprescindível
prosa, por exemplo, personagens femininas
no movimento da história. Movência que
são destaques na tentativa de sobrevivência
também se propaga no romance Maréia
coletiva na corda bamba da vida.
(2019), da referida autora, em que os
As mulheres, com desculpa de comprar encontros da família negra são regados com
gêneros, transformaram Gertrudes em músicas, comidas, afetos, rodas de conversas
confidente e conselheira, compartilhavam e cirandas de mulheres. Além disso, Miriam
dores, amores e clamores que
Alves traz em paralelo a história dos algozes,
abarrotavam as prateleiras de suas
vivências. Uma feira de trocas de que edificaram suas histórias “entre lendas e
sentimentos, aliviando as angústias, os falácias”, possibilitando-nos outras leituras
fardos da vida corriqueira. Relatos e releituras da história oficial.
povoados de filhos que sumiram na lida De maneira semelhante, na prosa de
da vida sem rastro ou notícias; maridos
Conceição Evaristo há um novo
falecidos que as deixaram à míngua;
maridos embriagados, torrando em direcionamento para os múltiplos corpos
aguardente o suado pão de cada dia. negros. “Creio que é a humanidade das
Relacionamentos desfeitos e refeitos; personagens. Construo personagens
abortos provocados de quem não queria humanas ali, onde outros discursos literários
mais filhos; filhos não concebidos para
negam, julgam, culpabilizam ou penalizam.
aquelas que os queria. Filhas
engravidadas, noivados, casamentos, Busco a humanidade do sujeito que pode
traições, desejos. Enfim, um universo de estar com a arma na mão. Construo
emoções. Doenças e curas, sonhos personagens que são
destruídos, sonhos reconstruídos, humanas” (EVARISTO, 2020, p.31). Dessa
lágrimas e risos, decepções e expectativas
forma, a escritora coleciona personagens
[...]. Comercializava víveres e participava
ativamente chorando junto, amparando, sobreviventes na complexidade do existir.
curando. Para aquela feira de
sentimentos expostos, ela agia
aconselhando, interferindo, receitando Foi por aqueles dias do assalto ao
chás, ensinando simpatias, ajudando a deputado que Davenga conheceu Ana. A
solucionar as situações específicas de cada venda do relógio lhe havia rendido algum
um. Envolvia-se tanto que, às vezes, dinheiro, fora o que estava na carteira. E
preocupada, dormia sem descansar, de cabeça leve resolveu ir com os amigos
agitava-se, sono povoado, com as para o samba. Sabia, porém, que devia
histórias e todas aquelas mulheres, com ficar atento. Estava atento, sim. Estava
vidas parecidas com a dela (ALVES, atento aos movimentos e à dança da
2015, p. 56). mulher. Ela lhe lembrava uma bailarina
nua, tal qual a que ele vira um dia no
filme da televisão. A bailarina dançava
São de passagens assim que são
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livre, solta, na festa de uma aldeia figurativas e temáticas do feminino corpo da


africana [...]. Ele criou coragem. Ela negrura no cenário atual da Literatura
preciso coragem para chegar a uma Brasileira” (MARTINS, 1996, p. 111). A
mulher. Mais coragem até do que para leitura da obra da autora provoca
fazer um serviço. Aproximou-se e
questionamentos, principalmente a padrões
convidou-a para uma cerveja. Ela
agradeceu. Estava comsede, queria água e pré-estabelecidos:
deu-lhe um sorriso mais profundo ainda.
Davenga se emocionou. Lembrou da mãe, Omi poderia atribuir o desânimo ao calor
das irmãs, das tias, das primas e até da excessivo dos últimos dias, contudo, no
avó, a velha Isolina. Daquelas mulheres universo múltiplo dos sentidos das
todas que ele não via há muitos anos, mulheres, sabia. Sentia. Seu corpo estava
desde que começara a varar o mundo cansado. O dia não seria
(EVARISTO, 2014, p. 25-26).

era como era. Mulher em um


Sem sentimentalismos rasos, o
mundo onde reinavam os machos.
encontro de Ana e Davenga provoca emoção Hiperbólica, opulenta, justamente em um
e beleza advindos dos grandes romances. O país de modelos europeus predominantes,
conto “Ana Davenga” desconstrói cada vez mais esquálidos, diria. Nenhum
narrativas simplistas em que as personagens desses adjetivos lhe cabia.
Suas medidas, suas curvas, eram
são enclausuradas em formatos únicos,
excessivas para os moldes. Sua pele fora
ampliando as possibilidades da tingida com muita melanina. Os cabelos,
representação. Davenga é assaltante, o que fortes, crespos, apontavam para o alto,
não impede que ele seja sensível, goste de não balançavam com o vento nem
Ana, se emocione ao se lembrar da família e estavam na maioria das propagandas de
xampu (SOBRAL, 2017, p. 49).
se transborde em lágrimas no “gozo-pranto”.
Aspectos que se contrapõem a uma realidade No conto “Das águas”, Omi é um
social baseada na bandeira genocida corpo negro feminino no curso de medicina.
“bandido bom é bandido morto”, legitimada A protagonista encara a hostilidade do
por uma sociedade majoritariamente ambiente acadêmico na tentativa de escrever
sustentada pelo racismo estrutural, que uma outra história. Os questionamentos vão além
desconsidera o sujeito humano e suas da presença de um corpo preto na
complexidades. Dessa forma, a literatura de universidade, de forma que a aparência
Evaristo age na provocação do sentimento física de Omi carrega atributos negativos
de identificação e empatia, ao acionar no que contrastam com um ideal de beleza
leitor sensações advindas de redes e de laços socialmente construído, ainda mais
afetivos próprios da experiência do existir, considerando um curso elitizado, como
independentemente de atitudes pontuais do medicina. Nesse sentido, a escolha de roupas
sujeito. ou de penteados mais próximos do patrão
Igualmente necessária é a leitura da
eurocêntrico não é suficiente para driblar o
obra da escritora Cristiane Sobral. A autora racismo, o que é percebido pela personagem.
é constantemente lembrada pelo conteúdo É por meio de protagonistas assim que é
empoderador de seus textos. Em sua escrita, composto o texto de Sobral, a partir de uma
corpo e cabelo fazem parte de um mesmo gama de mulheres que questionam as
corpus político, lembrando a autoviolência lacunas da história, as narrativas racistas e
física e mental vivida por mulheres negras falocêntricas, as concepções falaciosas de
para projetar uma adequação a padrões beleza e tantos outros lugares comuns que
estéticos eurocêntricos. Sua produção aprisionam o sujeito.
literária, ao trazer novas representações de Outra escritora que traz linhas
corpos negros femininos, “produzem novas e potentes a reescrever a história é Eliana
engenhosas possibilidades de referências

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Alves Cruz. A escritora apresenta no seu fazer isso outra vez na minha família, está
espólio romances que, entre várias leituras me ouvindo bem? Ninguém! (CRUZ, 2018,
possíveis, oferecem um diálogo bastante p. 243). A jovem alfabetizada, exausta,
profícuo entre literatura e história, tendo a repetiu a função das suas mais velhas, mas a
escravidão como pano de fundo: “Os sua fala se fez eco e profecia.
enredos contam sobre essa migração Também a leitura da produção
compulsória, falam de replasmação de literária da escritora cearense Jarid Arraes
identidades forjadas pela diáspora e de se faz imprescindível. Em Heroínas Negras
racismo, ainda tão presente no dia a dia da Brasileiras (2017), além de resgatar
sociedade brasileira” (BATALHA, 2020, p. 247).
mulheres negras que fizeram parte da
Nesse viés, a escritora oferece ao público-
história, a escritora ainda possibilita a
leitor novos atravessamentos a partir de
leitura das biografias por meio do gênero
outra leitura da história, no encalço da
textual Cordel. “Por meio da rima e da
ficção.
cultura popular, consegue naturalizar temas
Enquanto a filha sofria banhada em suor, ainda tabus, como o racismo, a
Anolina se preocupava e pensava que ela homossexualidade e a violência contra
era muito nova... Tinha apenas 13 anos. mulheres. Filha e neta de cordelistas, Jarid
Faria 14 em dois meses. Para ela, a mantém viva a tradição que marcou sua
Martha teve a sorte de nascer depois da
tal lei que deixava livres os bebês, os
infância” (TEIXEIRA, 2018, p. 628),
“ingênuos”. E agora, refletia, já fazia fazendo da sua literatura formação,
quatro meses que os escravos tinham sido transgressão e ruptura.
oficialmente libertos. Quando
anunciaram a lei, foi uma festança, uma É por isso que eu digo: /Antonieta é
zoada, uma alegria... Mas ela sentia que exemplar /E além de inspiradora /Pode
o negócio não estava bom. Não era essa a muito desbravar
liberdade que eles queriam. Sem trabalho, /Foi abrindo os caminhos /Pra gente
sem terra, com a polícia no pé, com medo também passar.
do presente e do futuro (CRUZ, 2018, p. Pras mulheres brasileiras /Ela é
117/118). grande liderança /Deve ser muito
lembrada /De adulto atécriança /
Nesse excerto, extraído de Água de Pela sua honestidade /Por sua
Barrela, livro vencedor do Prêmio Oliveira perseverança.
Nas escolas não ouvimos /Essa história
Silveira de 2015, realizado pela Fundação impressionante /Mas eu uso o meu
Cultural Palmares, é possível perceber uma cordel /Que tambémé importante /Para
crítica a uma abolição inconclusa que ainda que você conheça /E não fique ignorante.
hoje reverbera em um processo de violência Que você também espalhe /Isso que
contínua aos corpos negros. Torna-se acabou de ler /Para que muitas pessoas /
Tenham a chancede saber /Quem foi
importante mencionar que o livro traz em essa Antonieta /Como foi o seu viver.
torno de trezentos anos de história, narradas Esse é o nosso papel /Considero
a partir de outro ponto de vista há tempos obrigação /Pra acabar o preconceito /
silenciado. O livro é atravessado por uma Pra espalhar informaçãoDestruindo esse
ciranda ancestral de mulheres, que muito racismo /E gerando inspiração
(ARRAES, 2017, p. 21/22).
lutaram pela sobrevivência. Nesse processo,
lavar, passar, cozinhar são ocupações Percebe-se que a escritora traz o
constantes passadas de gerações a gerações. poema no rastro da história da professora,
No entanto, o basta, que também é nosso, escritora e jornalista Antonieta de Barros.
aparece no grito da personagem Damiana: Nos versos, Jarid Arraes ainda nos lembra
“Pois eu vou lavar as privadas desses do silêncio do currículo escolar em torno das
brancos, vou lavar louça, roupa, passar, narrativas contra-hegemônicas das mulheres
engomar... Mas ninguém depois de mim vai
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negras. A cordelista ainda convoca os


leitores a ecoar e a movimentar o saber por ALVES, Miriam. Maréia. Rio de Janeiro: Malê, 2019.
meio do acesso e da partilha de informações.
AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade.
Isso posto, percebe-se que as autoras
São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
aqui enumeradas, juntamente com algumas
de suas obras não são suficientes para dar ANZALDÚA, Gloria. Falando em línguas: uma carta
conta da multiplicidade, da potência e das para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo.
possiblidades da força do verbo das Revista Estudos Feministas, v.8, n.1, Florianópolis, 1º
intelectuais negras brasileiras. Suas escritas, sem., 2000, p.229-236.
alinhavadas fora do centro, trazem novas ARRAES, Jarid. Heroínas negras brasileiras. São
descobertas a partir de desobediências Paulo: Pólen, 2017. BATALHA, Maria Cristina.
epistêmicas – é literatura e história em Relatos e travessias em Eliana Alves Cruz.
movimento. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos
Nesse processo, é importante em Cultura, ano 10, n. 18, Niterói/RJ, out. 2019 a
março 2020, p. 246-265.
considerar as peculiaridades e os novos
modos de narrar dessa escrita que se CÔRTES, Cristiane. Diálogos sobre escrevivência e
apresenta. A escrevivência, aflorada no silêncio. In: DUARTE, Constância Lima; CÔRTES,
âmago da interseccionalidade Cristiane; PEREIRA, Maria do Rosário A. (Orgs.).
(AKOTIRENE, 2019), sublinha e convoca Escrevivências: Identidade, gênero e violência na obra
de Conceição Evaristo. Belo Horizonte: Idea, 2016, p.
um lugar suplementar na literatura 51-60.
brasileira. Sendo assim, a leitura desses
textos de forma engessada na ótica do CUTI (Luiz Silva). Literatura negro-brasileira.
testemunho, da autobiografia ou puramente São Paulo: Selo Negro, 2010.
da sociologia, ou ainda a partir de
pressupostos limitadores eurocêntricos, CRUZ, Eliana Alves. Água de barrela. Rio de
apenas produz desserviço e sustenta um Janeiro: Malê, 2018.
pseudo- lugar inatingível para o cânone
universal, para as letras e para a leitura de DALCASTAGNÈ, Regina. Para não ser
mundo. trapo no mundo: As mulheres negras e a
Assim, a literatura negro-brasileira cidade na narrativa brasileira
escrita por mulheres, aqui referenciadas e contemporânea. Estudos de literatura
reverenciadas – Maria Firmina dos Reis, brasileira contemporânea, n. 44, Brasília, jul./
Carolina Maria de Jesus, Miriam Alves, dez. 2014, p. 289-302. Disponível em:
Conceição Evaristo, Cristiane Sobral, Eliana <http://www.scielo.br/pdf/elbc/n44/a14n44.pdf>.
Acesso em 13 de março de 2015.
Alves Cruz e Jarid Arraes – , cumpre um
papel importantíssimo na ruptura com o . Literatura brasileira contemporânea: um
mutismo do sistema literário em relação ao território contestado. Vinhedo: Editora Belo
pensamento negro feminino, na formação de Horizonte, 2012.
novos leitores e de novas leituras e na
transgressão dos pressupostos DUARTE, Eduardo de Assis. Maria Firmina dos Reis.
epistemológicos pré-estabelecidos. In: (Org.). Literatura afro-brasileira: 100 autores do
século XVIII. Rio de Janeiro: Pallas, 2014, p. 54- 61.

EVARISTO, Conceição. A escrevivência e seus


Referências subtextos. In: DUARTE, Constância Lima; NUNES,
Isabella Rosado. Escrevivência: a escrita de nós-
ALVES, Miriam. Bará na trilha do vento. reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo. Rio de
Janeiro: Mina Comunicação e arte, 2020, p. 26-46.
Salvador: Editora Ogum’s Toques Negros,
2015. . Da grafia-desenho de minha mãe, um dos

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Formação, transgressão e rupturas na literatura negro-brasileira escrita por mulheres

lugares de nascimento de minha escrita. In:


DUARTE, Constância Lima; NUNES,
Isabella Rosado. Escrevivência: a escrita de
nós-reflexões sobre a obra de Conceição
Evaristo. Rio de Janeiro: Mina Comunicação
e arte, 2020, p.48-54.

. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas,


2014.

. Literatura negra: uma poética de nossa


afro-brasilidade. Scripta, v.13, n.25, Belo
Horizonte, dez. 2009, p. 17-31. Disponível
em:
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/
scripta/article/view/4365>. Acesso em 14 de
10 de janeiro de 2016.

FONSECA, Maria Nazareth Soares; SOUZA,


Florentina da Silva (Orgs.).
Literatura Afro-brasileira. Salvador: CEAO,
2006

hooks, bell. Intelectuais Negras. Tradução de


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n.2,1995, p. 464-478. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/
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maio de 2015.

JESUS, Carolina Maria. Quarto de despejo.


São Paulo: Editora Ática, 2000.

LOPES, Elisângela Aparecida. A


importância da leitura e da escrita para
Carolina Maria de Jesus: uma análise do seu
Quarto de despejo. In: DUARTE, Constância
Lima; DUARTE, Eduardo de Assis;
ALEXANDRE; Marcos Antônio (Orgs.).
Falas Como citar:
SANTOS, M. C. Formação, transgressão e ruptu-
ras na Literatura Negro-brasileira escrita por mu-
lheres. Revista Cerrados, 30(57). https://
doi.org/10.26512/cerrados.v30i57.38264

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