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Introdução:
Esse presente trabalho parte da necessidade de analisar as representações da África
Medieval nos livros didáticos, a partir da lei 11.645/08, que no ano de 2008, implantou a
obrigatoriedade da cultura afro-brasileira bem como à história da África e dos africanos nos
estabelecimentos de ensinos públicos e privados no Brasil. Nesses conteúdos, estariam
inclusos sub temas acerca dos estudos de relação entre o continente africano e o Brasil, que
compreendemos ser de suma importância para as questões de identidades, matéria-prima e
memória social. Além disso, entendemos a necessidade de conhecer a formação da história
ocidental a partir das prerrogativas da Idade Média africana e de suas grandes civilizações,
garantindo, assim, a exclusão de distorcidos elementos ideológicos distantes do real.
As pesquisas científicas do continente africano no campo historiográficos nasceram no
início do século XX e se estabeleceram no decorrer dos anos de 1960, junto às lutas de
independência, servindo para marcar uma nova era na história da África: a formação dos
estados africanos contemporâneos. No entanto, houve dificuldades na construção do campo de
conhecimento científico acerca da história africana similares a dos indígenas brasileiros que
podem ser explicadas pelo caráter marcadamente oral destas sociedades e a consequente
necessidade de se utilizar metodologias diferenciadas para o seu estudo, e a presença de uma
tendência marcadamente eurocêntrica nos estudos historiográficos.
A África é composta é composta por diferentes povos e culturas, cada um com as suas
especificidades, sendo assim torna-se necessário construir um conhecimento historiográfico a
partir de uma perspectiva propriamente africana. Desta forma, acreditamos ser necessário
questionar, em sala de aula, a divisão cronológica tradicionalmente aplicada ao estudo da
história africana e que encontra-se relacionada a uma narrativa europeia sob o continente:
África Pré colonial (até o século XIX), África Colonial (até meados do século XX) e África
Independente (mundo contemporâneo).
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É Graduanda em História na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Este trabalho contou com a orientação
da Profa. Dra. Marta de Carvalho Silveira, Professora Adjunta de História Medieval da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro.
Neste trabalho pretendemos questionar a forma como pedagogicamente tem sido
apresentado nos livros didáticos os conteúdos referentes a História da África Pré-Colonial,
mais especificamente aquele que tradicionalmente foi denominado de Idade Média. Para
tanto, concentramos a nossa análise em três títulos didáticos que fazem parte do Programa
Nacional do Livro Didático (2016) e que se encontram presentes em várias salas de aula de
escolas públicas e particulares brasileiras. Buscamos com este trabalho contribuir para a
discussão que hoje motiva os ambientes acadêmicos e escolares quanto ao ensino da história
africana e ao alcance do ensino de Idade Média no currículo escolar brasileiro.
Na primeira parte do trabalho apresentaremos um panorama geral sobre as sociedades
africanas formadas no continente africano durante o “período medieval”. Na segunda parte
analisaremos o lugar e a influência que os livros didáticos alcançam na formação dos
discentes brasileiros. Já na terceira parte do trabalho empreenderemos a análise de três títulos
didáticos, que será seguida de uma conclusão.
Conclusão:
Diante dos livros analisados é posta em pauta uma significativa amostra de como é
tratado o Ensino de História da África Medieval no Brasil, nos níveis fundamentais. Em
primeiro lugar, os Reinos e Impérios africanos não são tratados em nem 1% do total dos
livros, e da forma com que são trabalhados aspectos como sociedade, geografia do lugar e
etnicidades tornam-se totalmente desconhecidos ou melhor dizendo apagados, por uma
historiografia eurocêntrica onde a superficialidade no tratamento do tema reforça o desprezo
implícito na temática, provendo a não compreensão por parte dos alunos que ficam sem
entender a importância dessas grandes civilizações, até mesmo para relação Brasil e África.
Os autores dos livros didáticos ainda estão presos à ideia da historiografia tradicional,
em geral francesa, que acaba negando às produções científicas que vem sido produzido sobre
o tema abrindo novas problemáticas e questionando os estereótipos efeito dessa visão
europeizada. Visão que é sustentada pelo discurso de que o estudo das sociedades africanas é
dificultado pela ausência de documentações textuais. No entanto, os difusores deste discurso
desconsideram o fato de que o fazer história abrange não só a escrita, mas também, o estudo
dos artefatos, da geografia, e da antropologia. É preciso que a produção acadêmica se faça
presente no ambiente escolar, já que o conhecimento por ela produzido pertence à sociedade.
Sendo assim, os conteúdos referente à África Medieval tem um longo caminho a
percorrer, para a sua consolidação no sistema de ensino brasileiro. E cabe aos próprios
professores, no ato de lecionar, divulgar nos novos estudos historiográficos e intensificar o
diálogo acerca do conteúdo criando senso crítico no aluno, que para Paulo Freire é o maior
objetivo da pedagogia:
BIBLIOGRAFIA:
COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar.- 7º ano. 1ª. ed. São Paulo: Saraiva,
2015. v. 1.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação. 2004. Boulder, Colorado: Paradigm.