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FICHAMENTO
HAMA, Boubou; KI-ZERBO, Joseph. “Lugar da História na sociedade africana”, História Geral da
África. Volume I – Metodologia e Pré-História. (Brasília: UNESCO,
A consciência histórica é reflexo de cada sociedade e de suas particularidades, desse modo até
mesmo as particularidades geográficas interferem na consciência histórica de sociedades africanas.
Por exemplo, “o rei dos Mossi (Alto Volta) intitulava-se Mogho-Naba, ou seja, rei do mundo, o que
ilustra bem a influência das limitações técnicas e materiais sobre a visão que se tem das realidades
sociopolíticas” (23)
No geral o tempo africano tradicionalmente engloba e integra a eternidade de tal forma que, ao
tomar decisões políticas o então imperador do Mali, Kankou Moussa (1312-1332) precisou consultar
seus ancestrais. Sendo assim, nesse sentido mesmo os ancestrais se tornavam agentes diretos e até
privilegiados a respeito de negócios que foram a ocorrer séculos após eles (24-26).
Tal tempo social e mítico também é simbolizado e se concretiza através de objetos transmitidos pelo
patriarca, chefe do clã ou rei ao seu sucessor (24-26).
Também existem sociedades fortemente estruturadas nas quais a concepção de chefe tem um
grande espaço na história, desse modo o chefe representa um projeto coletivo. Tal modo de
tradição conserva no imaginário coletivo a memória sobre chefes como: Malinke no Elogio a
Sundiata, Sonni Ali entre os Songhai da curva do Niger. Vale lembrar que isso não significa
necessariamente que havia uma alienação ideológica (29)
A história mais recente da África pré-colonial mostra que a grandiosidade desses líderes no
imaginário coletivo por muitas vezes não é algo superestimado. Um bom exemplo disso é o caso do
líder Chaka, que de fato forjou a “nação” Zulu. Vale lembrar que o esquema de um líder como
motor da história raramente se resume a um esquema simplista no qual o desenvolvimento humano
é de feitoria de um só homem (29).
“ao contrário do que se tem dito e repetido à saciedade, ocupam na consciência histórica africana
uma posição sem dúvida mais importante que em qualquer outro lugar.” (30)
Na história da África houve e ainda há mulheres que que tiveram grande autoridade e grande
influência nos acontecimentos históricos de seus clãs e na sociedade africana em geral. (30)
O caráter social presente na concepção africana de história faz com que tal concepção seja a vida em
crescimento do grupo. Sendo assim, para o africano o tempo é dinâmico. Seja na concepção
tradicional ou de influência islâmica o homem africano não é prisioneiro de um processo estático ou
de um retorno cíclico. Embora não haja um criterio de tempo matemático necessariamente, o
tempo permanece como um elemento social, consequentemente vivo. (32)
“Mas a grande reviravolta na concepção africana do tempo se opera sobretudo pela entrada desse
continente no universo do lucro e da acumulação monetária.” (35)