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UNIVERSIDADE DE BRASILÍA

Departamento de História (HIS)


Disciplina: História da África
Professor: Estevam Thompson
Nome/Matrícula: Lucas Maciel de Sousa – 211054097
Turma: 03

FICHAMENTO

HAMA, Boubou; KI-ZERBO, Joseph. “Lugar da História na sociedade africana”, História Geral da
África. Volume I – Metodologia e Pré-História. (Brasília: UNESCO,

O texto é dividido em três tópicos:

1. Tempo mítico e tempo social


2. Consciência histórica dos africanos
3. Cosmogonias africanas

A consciência histórica é reflexo de cada sociedade e de suas particularidades, desse modo até
mesmo as particularidades geográficas interferem na consciência histórica de sociedades africanas.
Por exemplo, “o rei dos Mossi (Alto Volta) intitulava-se Mogho-Naba, ou seja, rei do mundo, o que
ilustra bem a influência das limitações técnicas e materiais sobre a visão que se tem das realidades
sociopolíticas” (23)

Sobre a concepção de tempo mítico e social

No geral o tempo africano tradicionalmente engloba e integra a eternidade de tal forma que, ao
tomar decisões políticas o então imperador do Mali, Kankou Moussa (1312-1332) precisou consultar
seus ancestrais. Sendo assim, nesse sentido mesmo os ancestrais se tornavam agentes diretos e até
privilegiados a respeito de negócios que foram a ocorrer séculos após eles (24-26).
Tal tempo social e mítico também é simbolizado e se concretiza através de objetos transmitidos pelo
patriarca, chefe do clã ou rei ao seu sucessor (24-26).

Sobre a consciência histórica das sociedades africanas

No periodo pré-colonial havia sociedades africanas elementares, demasiadamente fechadas que


davam a impressão de que aquele povo tinha em sua consciência uma noção de história limitada as
fronteiras de sua realidade estrita apenas. No geral esse tipo de sociedade quase fechada tinha
como estrutura uma hierarquia consuetudinária gerontocrática, regia e pesada. Tais aldeias tinham
um forte senso a respeito do controle de seu próprio destino, tal senso era forte de tal forma que
nessas regiões de “anarquia” política, na qual o poder era bem distribuído os invasores, em especial
os colonizadores, enfrentaram maior resistência para impor seu domínio (29).

Também existem sociedades fortemente estruturadas nas quais a concepção de chefe tem um
grande espaço na história, desse modo o chefe representa um projeto coletivo. Tal modo de
tradição conserva no imaginário coletivo a memória sobre chefes como: Malinke no Elogio a
Sundiata, Sonni Ali entre os Songhai da curva do Niger. Vale lembrar que isso não significa
necessariamente que havia uma alienação ideológica (29)

A história mais recente da África pré-colonial mostra que a grandiosidade desses líderes no
imaginário coletivo por muitas vezes não é algo superestimado. Um bom exemplo disso é o caso do
líder Chaka, que de fato forjou a “nação” Zulu. Vale lembrar que o esquema de um líder como
motor da história raramente se resume a um esquema simplista no qual o desenvolvimento humano
é de feitoria de um só homem (29).

O lugar que as mulheres ocupam na consciência histórica africana

“ao contrário do que se tem dito e repetido à saciedade, ocupam na consciência histórica africana
uma posição sem dúvida mais importante que em qualquer outro lugar.” (30)

Na história da África houve e ainda há mulheres que que tiveram grande autoridade e grande
influência nos acontecimentos históricos de seus clãs e na sociedade africana em geral. (30)

1- Kassey em Uanzarba (Níger): As mulheres, como sacerdotisas, mantiveram papéis de


liderança espiritual mesmo quando os franceses tentaram nomear homens para posições de
comando. Isso demonstra a continuidade do poder feminino na esfera espiritual.
2- Luedji - Swana Mulunda: Mulheres como Luedji desempenharam papéis multifacetados
como filhas, irmãs, esposas e mães de reis, ocupando posições que lhes concediam
influência sobre os acontecimentos políticos e sociais.
3- Amina da região haussa: Amina é um exemplo marcante, no século XV, de uma mulher que
conquistou terras e aldeias para Zaria, deixando um legado que se perpetuou ao nomear
territórios conquistados com seu nome.
4- Participação na Guerra: As mulheres africanas não apenas estiveram envolvidas na guerra da
Argélia, mas também nos partidos políticos durante a luta pela independência ao sul do
Saara, evidenciando seu engajamento político e social.
5- Amazonas e batalhas: As mulheres também participaram ativamente nas batalhas como as
Amazonas, sendo uma parte vital das tropas reais e desempenhando papéis cruciais em
confrontos como na batalha de Cana em 1892 contra invasores colonialistas.
6- Contribuições para a economia e cultura: A participação das mulheres no trabalho da terra,
artesanato, comércio e sua influência sobre os filhos, independentemente de sua posição
social, sempre foi considerada crucial na história dos povos africanos.
7- Poder no lar: Apesar da segregação aparente em reuniões públicas, as mulheres eram
reconhecidas por sua presença e influência nos bastidores, desempenhando papéis
significativos no sigilo de seus lares e sendo capazes de moldar eventos importantes.
8- Poder das alianças e provérbios: As mulheres africanas também eram fundamentais na
consagração de alianças entre clãs, e a opinião pública reflete isso através do provérbio que
destaca seu potencial para tanto comprometer quanto orquestrar situações.

O Tempo Histórico Africano

O caráter social presente na concepção africana de história faz com que tal concepção seja a vida em
crescimento do grupo. Sendo assim, para o africano o tempo é dinâmico. Seja na concepção
tradicional ou de influência islâmica o homem africano não é prisioneiro de um processo estático ou
de um retorno cíclico. Embora não haja um criterio de tempo matemático necessariamente, o
tempo permanece como um elemento social, consequentemente vivo. (32)

“Mas a grande reviravolta na concepção africana do tempo se opera sobretudo pela entrada desse
continente no universo do lucro e da acumulação monetária.” (35)

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