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Apesar de, a partir do século VII, os historiadores terem passado a ter maior capacidade de
desenvolver pesquisas sobre o continente africano, tal história que parte dessa pesquisa é
extremamente marcada por um certo etnocentrismo que parte do colonialismo Europeu.
Segundo o autor africanista M’ Bokolo, esse colonialismo teve influência a tal ponto que o
termo “África Pré-colonial” foi utilizado por muito tempo pela historiografia do século XX e
até mesmo XI, mesmo esse termo sendo claramente imbuído de preconceito uma vez que dá
sentido à história do continente africano partindo de uma das suas maiores tragédias
históricas, a colonização (M. BOKOLO, [1998] 2009: 11).
Desse modo, como diz Joseph Ki-Zerbo, é necessário que a história da África seja reescrita
uma vez que, devido a vários séculos de opressão através do tráfico de escravos, a vinda de
viajantes, missionários e exploradores, a perspectiva da história por muito tempo não foi do
ponto de vista das sociedades africanas, o que gera a omissão, a perda de imagens dessa
história e, em síntese, o etnocídio das culturas dos diferentes povos africanos (KI-ZERBO,
HAMMA-UNESCO, [1981] 2010: 31). Embora haja arquivos e documentos manuscritos em
abundância no Irã, Iraque, Armênia, Índia, China e nas Américas, para os historiadores não
tropeçarem nos mesmos erros da historiografia etnocêntrica colonial é necessário que haja
por parte dos pesquisadores uma visão sem preconceitos anacrônicos e que se utilize do
método crítico. Atualmente, há iniciativas que se preocupam em escrever a história da África
sem um viés etnocêntrico. Uma dessas iniciativas científicas é a da UNESCO que busca
desenvolver uma história de África escrita pelo seu próprio povo e que se distancie dos vícios
de uma historiografia etnocêntrica.
Embora atualmente, como mostrado acima, existam iniciativas científicas que buscam
reescrever a história de África, um erro passível de se cometer é pensar que, devido a essa
nova historiografia que está sendo desenvolvida, se desenvolve também em conjunto uma
consciência histórica das sociedades africanas. Tal afirmação é um erro pois parte do
princípio de que anteriormente já não existia uma consciência histórica das sociedades
africanas.
Em síntese, apesar da historiografia atual sobre África ainda ter muitos desafios para
enfrentar, atualmente ela consegue desenvolver pesquisas que confirmam a importância das
mulheres em vários papéis das sociedades africanas. Tal trabalho é fundamental, pois para
que a consciência histórica de um povo possa ser completa é necessário que a população seja
estruturalmente representada de maneira diacrônica, pois somente assim a história será
construída socialmente de tal modo que a importância de parte dessa sociedade não será
apenas algo pontual de sua história, mas sim parte essencial de todos os processos de grande
significância para tal sociedade. Um exemplo de sociedade com uma ampla consciência
histórica é a dos Ashanti, que devido à sua inclusão estrutural da mulher em igualdade com o
homem, desenvolve uma consciência que inclui no tempo e espaço como um agente
importante dessa sociedade. Dessa forma, quantitativamente, quando se fala sobre a
consciência histórica, é necessário que se leve em conta a exclusão ou a inclusão social de
determinadas parcelas da sociedade. Somente com a inclusão no âmbito social é possível,
sem recorrer a reescrever a história, falar de uma inclusão na historiografia que de fato
represente uma sociedade com consciência histórica que se autodetermina.
Bibliografia: