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FILOSOFIA AFRICANA: IDENTIDADE, CULTURA E

APLICABILIDADE EM SALA DE AULA

Carla Darlem Silva dos Reis1


Carla Eugênia Nunes Brito2
Mildon Carlos Calixto 3

GT02 – Educação e Ciências Humanas e Socialmente Aplicáveis

RESUMO
O presente artigo é o início de uma pesquisa que pretende compreender a construção
identitária do negro a partir da Diáspora Africana. Buscamos compreender de que forma esse
fenômeno influenciou na dispersão da identidade africana e o modo com o qual esta foi
frequentemente estereotipada e marginalizada devido a influência da cultura e colonização
europeia. Além disso, procuramos mostrar, de maneira simplificada, como o Brasil vem
buscando medidas para desmitificar a cultura africana, bem como reforçar a identidade afro-
brasileira e não a imagem do negro embranquecido, que tanto propagam nos meios de
comunicação. Para a construção desse estudo utilizamos, principalmente, autores como
Antony Appiah, Conceição Evaristo e Stuart Hall, por serem estudiosos da temática e
afrodescendentes, desse modo, não compactuam com a visão europeizada do negro.

PALAVRAS-CHAVE: Identidade; Sujeito; Africano.

ABSTRACT
This article is the beginning of a research that aims to understand the identity construction of
the black from the African Diaspora . We seek to understand how this phenomenon
influenced the spread of African identity and the way in which it was often stereotyped and
marginalized due to the influence of culture and European colonization . Also, we try to show,
in a simplified way , as Brazil is seeking measures to demystify the African culture and
enhance the african - Brazilian identity and not the image of the whitened black , both
propagated in the media . For the construction of this study we used mainly authors like
Anthony Appiah , Conceição Evaristo and Stuart Hall , being students of African descent
theme and thus not condone with Europeanized view of black .

KEYWORDS: Identity, Subject, African.

INTRODUÇÃO

A África é entendida pela maioria dos estudiosos como “o berço da civilização”, o


ponto no qual toda a população mundial surgiu e de lá dispersou-se por outros continentes,
longe de ser valorizado por isso, o continente sofre com uma constante esteriotipização

1
Mestre em Educação pela Universidade Tiradentes. Membro do GPGFOP\UNIT
2
Mestranda em Educação pela Universidade Tiradentes. Membro do GPGFOP\UNIT
3
Mestre em História pela Universidade Federal de Sergipe.
2

infundada e maldosa. Comumente vemos, em grandes produções televisivas e


cinematográficas, uma África arrasada pela fome, miséria com uma cultura incipiente.
Quando se fala em Egito e Mesopotâmia, os africanos são embranquecidos, europeizados,
aproximados da realidade ocidental. Mas qual seria o motivo para essa esteriotipização?
Na África Antiga dos grandes impérios e antes da chegada dos europeus, como
Kongo, Mali e Egito, para citar exemplos, tínhamos uma riquíssima produção cultural e
intelectual nos mais diversos campos, quer fosse na literatura, mitologia, quer fosse na
medicina, astronomia, agricultura e engenharia. Os africanos sempre foram seres pensantes,
produtores e consumidores de cultura. Contudo, a partir do século XV com a colonização
europeia e a diáspora negra, vemos um universo cultural ser mutilado e dilacerado, colocado
no esquecimento durante séculos. Uma vez que nos séculos XIX e XX com a teoria do
darwinismo social os negros serão, mais uma vez, postos como figurantes de sua história, sem
direito a vez ou voz.
A identidade de uma pessoa, é impressa a partir do contexto no qual ela está
inserida, no seu grupo familiar de convívio, com isso podemos compreender como, aos
poucos, essa identidade, o sujeito africano, foi sendo tomado de si, uma vez que a imposição
cultural europeia foi deveras forte, fazendo com que os traços da cultura africana fossem
animalizados, transformados em algo mítico e sobrenatural, principalmente a partir do
momento da Diáspora.
O conceito de Diáspora africana será entendido a partir do autor Stuart Hall, este
autor é essencial para entendermos a historicidade africana uma vez que, ele fala não como
um jamaicano que vive na Jamaica, mas como um jamaicano que vive em outro país, já que
ele foi estudar em Oxford, ou seja, também um africano falando a partir da sua diáspora, do
seu afastamento com o local de nascimento. Enquanto jamaicano, Hall conviveu com o
movimento de independência jamaicana, bem como vivenciou a Segunda Guerra Mundial,
eventos os quais, fizeram-no pensar a África, desconstruída da visão colonial. De acordo com
Sovik (2010 apud Hall, 2011, pg.10) a Segunda Guerra Mundial foi fundamental ao suscitar
nele (Stuart Hall), estudante secundarista, uma consciência histórica e geográfica como
contexto das preocupações anticoloniais de sua geração.
De acordo com Hall (2011), a partir do momento no qual ocorre a Diáspora,
temos uma gestação múltipla de identidades, não há uma coesão nas matizes africanos e sim
uma dispersão, uma vez que os grupos retirados de seu local de pertencimento não comungam
entre si, passam a conviver com outros locais e culturas, adaptando-se e moldando o local
onde viveram.
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A diáspora não é entendida aqui como uma simples dispersão ou êxodo, mas
como uma ruptura cultural, como um confronto direto – embora desigual -, entre duas nações,
nesse caso África versus Europa. Para Stuart Hall, o conceito de diáspora “está fundado sobre
a construção de uma fronteira de exclusão e depende da construção de um “Outro” e de uma
oposição rígida entre o dentro e o fora” (HALL, 2011, p. 32) e foi assim o ocorrido, a forte
oposição dos Europeus, frente ao “outro” africano, tratado de forma mítica e animalesca.

AFRICANIDADE: SUJEITO E IDENTIDADE.

A ausência da identificação com sua terra, com o seu lar, faz com que os africanos
expatriados consumam, mesmo que de maneira forçada, a culta do opressor, não tendo como
quantificar, nem problematizar os ensinamentos que carregara com si antes dos exploradores
roubar-lhes de seu local de convívio.
Por conta dessa desapropriação da sua identificação cultural vamos ter, por muito
tempo, a visão das características afro como inferiores e tidas como fora do padrão: o cabelo
crespo, a pele escura, os traços “grossos”. Além dos traços físicos abnegados, toda a história
africana acabou sendo relegada ou europeizada. O Antigo Egito, por exemplo, grande celeiro
cultural e filosófico aparece, na maioria das vezes, com personagens europeizados e a sua
filosofia não é tão estudada como a da Grécia, por exemplo.
Contudo, há alguns anos temos um movimento que contesta essa visão
reducionista e percebe na cultura africana toda a riqueza que esta representa, de acordo com
Aldibênia Machado (2011, p. 204):

Essa perspectiva é importante para a superação de visões que reduzem a


identidade negra às questões relacionadas à cor da pele, como aquelas que
acabam por folclorizar o trabalho curricular, a partir do momento que o reduz
ao conhecimento de festas e ritos culturais de matriz africana, em detrimento
do desafio a preconceitos construídos no decorrer da história

A filosofia é, portanto, um dos pontos mais importantes da história sociocultural


africana, partido da antiguidade até os dias da neocolonização. Essa filosofia inclui o estudo
dos mitos para explicar a existência e sobrevivência humana, havendo uma grande diferença
entre a produzida antes e após a Diáspora.
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PRESSUPOSTOS DA FILOSOFIA AFRICANA E DA DIÁSPORA

Nosso trabalho foi pensando e desenvolvido, partindo do pressuposto filosófico,


da Cultura Africana e o esboço de sua concepção fragmentada que reconheceu-a como
apresentadora de uma diversidade de termos que vai desde a necessidade do agrupamento
humano, familiar e espaço social, bem como sua manutenção e destruição, a necessidade de
estabelecimento de leis, e suas múltiplas identidades. Nossa pretensão aqui não é a de
tratarmos dos diversos pontos dessa temática, já que tal objetivo torna-se impossível, dada a
extensão e complexidade da obra. Contudo, optamos por procurar no minunciar do nosso
trabalho, aprofundar a concepção de Filosofia da África e sua Diáspora.
Procuramos estudar o legado dos intelectuais que em seus pensamentos
contribuíram para compreensão e desdobramento do Pan-Africanismo, segundo Nkrumah e
Du Bois fundadores da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP) e
militantes do movimento pela igualdade de direitos entre os negros e brancos. Sustentando um
paradigma de possibilidades de um Pan-Africanismo sem racismo, tanto na África quanto em
sua Diáspora. Estes nos forneceram os subsídios basilares para analisarmos a cultura
procurando luzes para refletirmos sobre a moral, estética, política e religião que transcende as
tradições culturais endógenas da África.
Neste sentido, a importância da descolonização das ideologias que arquitetam
planos de fracassar esse projeto desde as suas origens, tendo como principal objetivo o
fortalecimento da tirania ocidental negligenciando a tradição africana consequentemente suas
diferenças, não conseguiram encontrar um meio termo para viver em família humana,
atravessando as fronteiras que engendram atualmente e afirma-se dividindo essas raças.
Deste modo na confluência deste debate sobre a Identidade Africana Antony
Appiah (1997), nos alerta sobre o encontro das obras de políticos, escritores e Filósofos da
África e de Diáspora. Appiah, adverte ainda que ao explorar este terreno fecundo as
possibilidades de deparar-nos com as armadilhas de uma pseudo Identidade Africana de
meados do século XX, são inúmeras.
Basta, sabermos que seus pensadores não são de uma mesma localidade, mas de
vários lugares, dessa maneira, não há apenas uma preocupação única com os temas e sim uma
multiplicidade, gerada a partir da necessidade de cada autor, pois cada um aprofundou-se na
questão que mais lhe convinha, . e, diferentemente dos demais pensadores, até então
conhecidos que buscavam uma visão geral sem pensar no aprofundamento de um ponto. Uma
proposta mais profunda a esse item vem com o arquétipo de explorar o papel da Ideologia
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Racial no desenvolvimento do Pan-Africanismo ao pressuposto das ideias latentes dos


intelectuais Afro-Americanos que deram primazia aos discursos Pan-Africanistas.
O movimento Pan-Africanista surge não involuntariamente, mas para responder
aos anseios da sociedade Africana, sustentando um discurso que a Identidade Negra estivesse
alicerçada à ideia de uma raça africana, destituída dos ideais biológicos e éticos, disseminados
pela cultura de racialidade difundida através dos Estados Unidos da América em pleno apogeu
do século XIX.
A ideia dos críticos Afro-Americanos comungava com o despontar de uma
identidade africana, deslocando o eixo da metafísica a uma reflexão filosófica do cosmo para
o homem como membro de uma sociedade e os seus conflitos diários como: política, ética,
educação e os conflitos dos povos da África. Segundo a visão de Wole Soyinka (1976)
escritor nigeriano de expressão inglesa, nascido em Abeokuta em 1934, ovacionado com o
Prêmio Nobel de Literatura em 1986. É necessário construir uma literatura africana enraizada
nas tradições africanas. É essencial ressaltar que, essa preocupação era uma constante na vida
dos intelectuais africanos com vida na Europa e nas Américas.
Desta forma considera-se Filosofia Africana como ideia da modernidade,
adquirida através da formação da consciência filosófica moderna e da ruptura, contrastando
da visão Weberiana de provincianismo e das falsas pretensões de unicidade, poder-se-á
perceber uma nova concepção adquirida com intercâmbio de aprendizado antes e depois do
colonialismo, a virtude das religiões tradicionais pode ser transmitida, o poder das identidades
tão complexa e multifacetada discutidas por seus intelectuais, sustentando a resistência à
tirania do Estado Nacional Africano e suas formas de organização social.
Ao evidenciarmos a importância da cultura africana da situação linguística e
conceitos tradicionais, a nova concepção de Filosofia, que queremos ressaltar, sobretudo
pautada a educação da época eivada na memória de preconceitos típicos do etnocentrismo,
isto implicou em reconhecer um discurso negativo propõe-se desconstruir a imagem
iconoclasta do negro, através da vinculação da raça conflitando com o legado histórico do
Pan-Africanismo.
Partindo desta premissa, a centralidade da raça em sua concepção histórica
legitima em nome da prepotência presumida e da ignorância à perseguição e morte de vários
africanos na 2º guerra mundial, levantado o estandarte da liberdade. É evidente a ruptura dos
africanistas a ideia otimista de articular uma visão coesa da África pós-colonial reproduzindo
o estereótipo do Cidadão Negro do Novo Mundo. Tal ideia está na confluência que, todo
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homem pode ser educado dentro da compreensão racial de ancestralidade e solidariedade sem
o desalento das formas mais cruas de descriminação.
Partindo desta ideia, Appiah (1997), elucida como deve ser pertencer a uma
cultura estigmatizada, viver num mundo em que tudo, desde seu corpo até sua língua, é
definida pela corrente dominante. Entendemos que, esse sentimento de opressão é advindo da
raiva ou ódio do dominador que desencadeia o sentimento de auto-alienação, esta expressão
de dominação é tão brutal por parte do colonizador que leva a estigmatizar as crenças
religiosas, danças, música e até mesmo a vivência familiar.
Vemos, portanto, tanto na Ilíada quanto na Odisséia, como Homero descreve
Deuses e outros Deuses no Olimpo banqueteando-se com Etíopes, nas obras dos Sofistas
(1995) os Pré Socráticos, descrevem o caráter individual e não a cor da pele que determina a
dignidade de uma pessoa. Então, de acordo com Antony Appiah (1997) a questão é como o
mundo é, e não como gostaríamos que fosse.
Percebemos claramente que Max (1998) filósofo, economista e militante
revolucionário alemão,fundador do comunismo científico, grande educador e guia do
proletariado no mundo, construiu um caminho na história, empenhou sua própria vida em
defesa da revolução proletária contagiou e entusiasmou todos os que esperavam libertar-se da
escravidão do sistema capitalista, deu sua vida pelo proletariado, sentiu-se também explorado
pela hegemonia dominante da época e acompanhou o sofrimento, os maus-tratos, e a opressão
dos operários nas fábricas, desestruturados, em condições subumanas.
Ao analisarmos os conceitos paradigmáticos da teoria de Marx torna-se necessário
analisarmos as formas de opressão impostas através do sistema de exploração econômico as
pessoas não classificadas como “branca” este sistema de exploração e opressão não ficou no
cenário histórico do passado, no ontem da história, mas esta mesma hegemonia do
pensamento eurocêntrico dominante ainda hoje se faz presente em nosso meio. Esta afirmação
nos faz levantar um questionamento: Nessa sociedade qual espaço resta para os negros?
Segundo o pensamento iluminista os negros são classificados como grandes,
gordos e bem feitos, mas ingênuos sem criatividade intelectual. Esse tipo de afirmativa produz
e reproduz um pensamento ínfimo preconceituoso. Segundo Antony Appiah (1997) a África é
vítima de suas idolatrias heterogêneas e de suas diversas tradições. Em sua educação, na
medicina, na lavoura, na possessão pelos espíritos, nos sonhos, na bruxaria, nos oráculos e na
magia da existência da rica ontologia espiritual dos ancestrais e divindades. Constatamos
também que a diversidade cultural da África é um processo ontológico mais complexo de uma
hierarquia, uma estrutura vertical que gira o eixo da raça a uma interpretação horizontal. Por
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conseguinte, Filósofo de influência nada desprezível. Como escreveu Hume (2009) tendo a
suspeitar que os negros sejam naturalmente inferiores aos brancos, uma nação civilizada essa
tez não produz qualquer indivíduo individuo eminente na ação ou na especulação.
Como vemos, toda evolução traz consigo suas consequências conseqüências, com
essas não foram diferentes o reconhecimento nos últimos anos a inclusão de textos de afro-
americanos nos cânones expressão de racismo. Reconhecimento de uma tradição e suas
relações ambivalentes, o processo de dominação colonial aponta o problema não tanto, na
língua Inglesa, Francesa ou Portuguesa, mas imposição cultural a pedagogia colonial, Antony
Appiah (1997) diz que produziu uma geração inversa na literatura dos colonizadores,
imbuídos de certa união imperialista.

O ENSINO DA LITERATURA AFRICANA NO CONTEXTO ESCOLAR: perspectivas


e desafios

A lei Federal 10.639, foi sacionada em 2003, pelo então presidente da República
Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva e estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de
cultura africana e afro-brasileira em todas as escolas públicas e privadas do Brasil. A lei
procurou fazer um resgate histórico para a sociedade brasileira, em especial aos
afrodescendentes. Considerando a escola como um espaço de desenvolvimento integral do
indíviduo e status cor do saber crítico e reflexivo, ela pode oferecer um espaço para a
discussão da história e da cultura africana, pois

A escola deve organizar-se em torno de uma política de formação de leitores,


envolvendo toda a comunidade escolar. Mais do que a mobilização para a
aquisição e preservação do acervo, é fundamental um projeto coerente de
todo o trabalho escolar em torno da leitura. Todo professor, não apenas o de
Língua Portuguesa, é também professor de leitura (BRASIL, 1998, p. 72).

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-


Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004, p. 14), diz que
trabalhar a exclusividade dessa temática, vai além dos bancos da escola, uma vez que “a
educação das relações étnico-raciais impõe aprendizagens entre brancos e negros, trocas de
conhecimentos, quebra de desconfianças, projeto conjunto para construção de uma sociedade
justa, igual, equânime”.
Assim, as leis criadas para a inserção do conteúdo em classe caminha na
contramão da obrigatoriedade, pois observamos nas escolas a omissão dos conteúdos
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estabelecidos na lei. Ou seja, se por um lado, o Brasil avança ao reconhecer a importância de


tais temáticas no contexto educacional, por outro, essa medida denuncia o esquecimento e a
negação experimentados ao longo do tempo. Por isso, é válido discutir o ensino da Literatura
negra neste cenário.
Segundo Antônio A. Cândido diz que a literatura “é a arte que
transforma/humaniza o homem e a sociedade. A literatura como produção humana está
intrinsecamente ligada à vida social” (1972, p.803-809). A literatura contribui para essa
humanização, pois diferenças e semelhanças entre os atores, são apresentadas no complexo de
vozes, discursos de uma cultura sobre a outra. Aceitar a literatura como agente transformador
do cidadão, é entendê-la como direito e uma necessidade de humanização, conforme afirma
Antônio Candido:
Entendo por humanização o processo que confirma no homem aqueles traços
que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do
saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a
capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a
percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A
literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos
torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o
semelhante (CANDIDO, 2004, p. 180).

O trabalho com a literatura africana em sala possibilita a quebra de paradigmas


sobre o caráter eurocêntrico composto de preconceitos e discriminação que era dada aos
negros e afrodescentes nos livros didáticos.
A literatura negra porporciona uma vasta possibilidade de trabalhos que podem
contemplar todos os estudantes da educação básica. As possibilidades desse trabalho vão
desde contos, textos, personagens negros, beleza e religiosidade. Dessa forma os leitores
envolvidos começam a conhecer a história do negro, vivenciam as literaturas de lutas e
desafios e assim desconstroem, através do conhecimento a marginalidade em que os sujeitos
negros foram submetidos.
A literatura afro-brasileira constitui uma fonte riquissíma de saber e de
conhecimento e proporciona a quebra de paradigmas do silêncio histórico imposto, promove
debates temáticos, combate o preconceito e racismo.
Nesses termos, a literatura afro-brasileira corresponde com o cumprimento da lei
10,639/2003, e também na inserção de estratégias que exaltem leitura literária na construção
de identidades e conhecimentos legais da população afro-brasileira no currículo escolar,
segundo Edmilson de Almeida Pereira (2008, p. 8), “a inclusão dos valores culturais afro-
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brasileiros nos currículos escolares representa o reconhecimento de uma dívida da sociedade


para com os africanos e seus descendentes”.

CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

À guisa de conclusão, compreendemos o processo de representação dos


afrodescendentes, bem como o seu modo de ser ver como algo que tem sido modificado nas
últimas décadas, principalmente a partir do momento no qual autores e cineastas negros foram
inseridos no mercado cultural e trouxeram à luz o seu modo de ser, viver e agir. Embora
alguns campos, como a religião por exemplo, ainda seja alvo de discriminação e demonização
percebemos, aos poucos, a quebra de alguns preconceitos como o cabelo, pele e vestes. É de
fundamental importância ressaltar que diversos movimentos sociais foram fatores positivos
para a modificação desse modo de ver o outro e apontá-lo como diferente e não inferior ao
que nos é posto cotidianamente. A literatura e a filosofia exercem papel crucial nessa
reconstrução da africanidade.

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