Você está na página 1de 5

URCA

Nome: Ariel Santos

Disciplina: Cultura Africana e Afro-Brasileira

Professor: Renata Felinto

Semestre: 4°

Curso: Teatro

Como você acha que seus ancestrais conseguiram os objetos? Acha que
pagaram um preço justo? Ou que eles tiraram de nós, como tiram tudo o
que querem? (PANTERA NEGRA, 2018).

A curiosidade do ser humano gerou, e continua a gerar num constante processo, a


descoberta e profundo estudo sobre a origem humana e suas constituições. Seja
você seguidor da ciência e sua mais certeira teoria da evolução, o Big Bang, ou de
religiões e sua construção divina do universo, – seja a Terra criada em sete dias ou
o amor de Gaia por Urano, entre outros. De qualquer forma, a ciência da História
nos deixa claro o fato de que os primeiros humanoides, posteriormente nômades por
natureza, nasceram no continente onde atualmente conhecemos por África.

Falar sobre África, é falar sobre o berço da humanização. É se encantar pela


variedade de culturas, é ressaltar o número de línguas falado num só continente, é
estudar sua história de vida, luta e renascimento. Admito que por instigador nato,
sempre fui encantado por história, e esse meu interesse múltiplo obviamente inclui
nela a cronologia sobre a jornada africana. O fato de ser branca, muitas vezes me
deixou nervosa para debater sobre tal conteúdo. Não muito distante da diversidade
do Brasil, minha descendência até onde sei é brasileira, portuguesa e italiana, ou
seja, assim como milhares de brasileiros, estou incluída no, – nenhum pouco “suave”
como é retratado nos livros de história da educação básica, – processo de
miscigenação. Entretanto, em nenhum momento busco me apropriar de tal cultura. É
como diz Djamila Ribeiro, – filósofa, feminista e escritora negra, – autora de um dos
livros plenamente necessário para nossa abertura de mundo e pensamentos, “O
Que É Lugar de Fala?”:
O lugar social não determina uma consciência discursiva sobre esse lugar.
Porém, o lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências distintas
de outras perspectivas. [...] falar a partir de lugares é também romper com
está lógica de que somente os subalternos falem de suas localizações,
fazendo com que aqueles inseridos na norma hegemônica sequer pensem.
(RIBEIRO, Djamila, “O Que É Lugar de Fala?”, 2017, p.39 – 46).

Tal ponte ressaltada levará ao meu objetivo final: a discussão sobre o livro “A
África Explicada aos Meus Filhos”, do poeta, historiador brasileiro e membro da
Academia Brasileira de Letras, Alberto da Costa e Silva. Um dos fatos que mais
chamou minha atenção e tornou a leitura mais confortável foi a estrutura do livro em
conversas como capítulos, – sendo dez no seu total. Além de suas
divisões/continuidade de tópicos serem perguntas que eventualmente teremos ao
longo da leitura do texto.

O livro inicia com afirmações claras sobre a dualidade de opiniões externas e


comuns sobre o continente africano. A indústria cinematográfica, muitas vezes,
retrata a África nesse âmbito do misticismo misterioso e mágico. Seja desde a
origem das pirâmides do Egito, – e sua bizarra teoria de que foram alienígenas os
verdadeiros “arquitetos” de tais construções. Logo lembro-me do comentário que vi
há um tempo na internet: “Só porque não foram brancos que construíram, não
significa que foram aliens.” – Já os noticiários, e mídia encaram e transformam a
África num mundo seco, dominado pela fome, cercado de epidemias e guerras.
Alberto nos conta que ambas as afirmações estão incompletas, e discute sobre seu
conhecimento conosco ao decorrer da leitura.

Os tópicos retratados dialogam como o continente africano é rico e, fauna e


flora únicos, além da diversidade de idiomas encontrados que acabam
ultrapassando mais de duas mil línguas diferentes, – isso se da não só pela
colonização dos povos europeus sobre o continente, como também pela variedade
de povos e culturas. O mesmo era comum no Brasil antes de sua dominação, onde
variava de 600 a mil línguas diferentes em todo seu território. Costa e Silva também
conversa sobre os anteiores reinos, sendo o Núbia o primeiro de todos. Augustus
Casley-Hayford, ou “Gus”, nos traz em seu documentário “Reinos Perdidos da
África”, um episódio inteiramente voltado à história da Núbia, atual região do Sudão.
Apesar de antigamente ser comum o cultivo de gado, é mostrada como a cultura
incluindo danças, tecnologias únicas e meios de produção, buscam recordar o
passado de 5.000 a.C até os dias de hoje.

Também trago a ligação dos rituais religiosos com o universo do teatro, afinal
de contas, não são ditirambos seguidos de apresentações, mas sim intepretações e
danças com a indumentária cultural do momento. O mais comum objeto são as
máscaras diversas e com significados únicos. O óbvio roubo das mesmas para os
museus da Europa para exposição não tira seu significado, mas Alberto cita a
necessidade de as mesmas estarem apenas completas com o restante do traje.
Além de claro, permanecerem no local onde “nasceram” por assim dizer.

no momento que se punha a máscara, o seu vizinho deixava de ser ele


mesmo, [...] se transformava em divindade, no antepassado ou no espírito
da natureza que a máscara representava. O mascarado era uma entidade
sobrenatural que se descia no mundo dos vivos. Tirada a máscara, ele
voltava a ser um homem qualquer, mas a máscara continuava a ser tratada
com toda veneração. (COSTA E SILVA, Alberto, “África Explicada aos Meus
Filhos”, 2008, p.78).

Obviamente Costa e Silva nos trouxe a árdua luta entre os povos do


continente e seus colonizadores sedentos por riquezas e dominados pela inveja de
um conjunto de povos evoluídos a sua própria maneira, e donos de sua própria
cultura, costumes e religiões. Mesmo assim, o estranhamento e sentimento de
posse por algo que não é seu era clássico dos europeus com síndrome de Rei
Midas, – a diferença encontra-se quando tocam numa cultura diferente, não a
transformam em ouro, “a melhoram”, como imaginam, e sim o oposto de sinônimos
de ações positivas. É doentio a percepção europeia de que a África seria um “lugar
melhor” quando aderisse à sua civilização e seus valores. Obviamente o desejo de
querer “purificar” o continente entrou em conflito com os povos europeus,
acrescentando a grande luta, até os dias de hoje, contra a variedade de intolerância
da raça grotesca, alva e ignorante.

Quando portugueses e outros europeus começaram, no século XV, a descer


a costa africana, não predominava neles a impressão de que entravam em
contato com povos primitivos e atrasados. Estranhavam os costumes dos
negros, mas não os olhavam com desprezo. Lastimavam que
desconhecessem a verdadeira fé, mas só consideravam superiores por
serem cristãos. (COSTA E SILVA, Alberto, “África Explicada aos Meus
Filhos”, 2008, p.27).

Essa parte da história composta pela influência europeia, a crescente


urbanização, o êxodo (individualismo) não só apressasse, mas também alterasse
seus costumes. É importante também ressaltar sobre um dos doentios movimentos
ocorridos na África do Sul, durante o século XX, o Apartheid, responsável pela
segregação forçada entre negros e brancos. – “Os brancos consideravam-se, por
conquista, os donos da terra e os demais não tinham por que ter voz em seu
governo. E o racismo era ditadura do Estado.” (p.143). – O mesmo acabou sendo
registrado por leis e causador de incômodos que levaram à luta para conquista de
seus óbvios e necessários direitos. Logo, é impossível não citar o combatente na
linha de frente contra esse movimento, o próprio Nelson Mandela, advogado, ilustre
líder “rebelde” inspirador. Lembro-me de estar no Ensino Médio e assistir um filme, –
“Mandela - O Caminho Para a Liberdade” dirigido por Justin Chadwick e lançado em
2014, – sobre sua vida carregada por lutas e inspirações. Afirmo que, não só
naquela época como até hoje sinto-me inspirada por ele.

Mesmo diante de tanta luta, guerra, intolerância e preconceitos, a África é um


continente que nunca deixou, não deixa e nunca deixará seu brilho acabar. Sua
diversidade geográfica, arquitetônica, linguística, religiosa, política, comercial e
artística continua a causar certa inveja disfarçada de raiva para uns e sede de
curiosidade por outros. Talvez também fosse a intenção do autor de nos
“contaminar” com seu interesse pelo continente em questão. Obviamente seu livro
não traz todas as respostas para questionamentos diversos de todos, ou detalhes
sobre o tema. Mas, ainda assim, é um ótimo guia iniciante para aqueles que buscam
conhecer e iniciar seu estoque de referências sobre a África. Torna-se claro a
perseverança de espalhar e não deixar apagar sua cultura num todo. Afinal, vivemos
num mundo capitalista e eurocêntrico, onde qualquer lampejo de diferença e/ou
“rebeldia” de seus ignorantes paradigmas causam esse estranhamento doentio
tatuado na história até os dias de hoje.

A África está, portanto, no sangue da grande maioria do nosso povo. E


ainda que disto muitos não tenham consciência, na alma de quase todos.
(COSTA E SILVA, Alberto, “África Explicada aos Meus Filhos”, 2008, p.157).

REFERÊNCIAS:
PANTERA Negra (BLACK PANTHER). Direção: Ryan Coogler. Intérprete: Chadwick Boseman,
Michael B. Jordan, Lupita Nyong‘o. Roteiro: Joe Robert Cole, Ryan Coogler. [S. l.]: MARVEL, 2018.
DVD.
RIBEIRO, Djamila. O Que É Lugar de Fala?. 1. ed. Belo Horizonte (MG): Letramento, 2017.
DA COSTA E SILVA, Alberto. A África Explicada aos Meus Filhos. 1. ed. Rio de Janeiro (RJ): Agir,
2008.
CASELY-HAYFORD, Dr. Gus. Reinos Perdidos da África (LOST KINGDOMS OF AFRICA). REINO
UNIDO: BBC, 2010. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=vz-bkemiZOg&t=136s. Acesso
em: 5 ago. 2021.

Você também pode gostar