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História da África
Discente(s): Gabriel Pires Machado Corrêa & Marlon Coutinho da Silva Cubas
Blyden não era o único a possuir tais controversas. Alexander Crummell, padre
liberiano nascido no Estados Unidos da América e posteriormente radicado na Libéria,
considerado um dos patriarcas do nacionalismo africano, também possuía posturas
discutíveis. Se para Blyden a cultura africana autóctone era valorizada e fator fundamental
para a identidade do continente, Crummell realizava uma defesa ferrenha do idioma
anglo-saxão, considerando-o superior aos demais dialetos e línguas. Em um discurso para
cidadãos do condado de Maryland, na Libéria, considerou a linha inglesa como uma
compensação divina à diáspora causada pelo tráfico de escravizados no atlântico
(APPIAH, 2007, p. 19). O que, na visão do missionário, seria o elemento norteador da
união entre os habitantes da África era a raça. A “África” de Crummell era a pátria-mãe
da raça negra, e cabia somente a estes ditar os rumos do continente. A divisão do autor
era bem clara: assim como a Inglaterra era a pátria do povo Anglo-Saxão, a Alemanha,
dos teutões, a África seria a do povo negro. A definição de “povo” de Crummell era a
mesma do nacionalismo romântico do século XIX, não havendo distinção alguma entre
as diversas culturas e etnias que compõem o território africano. Dessa forma, para o autor,
o povo africano seria um só: o povo negro (APPIAH, 1997, p. 22). Muryatan Barbosa
(2020, p. 27) corrobora com essa ideia. Foram muitas as vezes na qual os demais
intelectuais pan-africanistas (aqui Blyden está incluso) referia-se à África como “lar da
raça negra”. Não pensavam na África muçulmana, mas apenas na “África negra” sul-
saariana e “pan-negrista”. As referências da época eram corriqueiramente nesse sentido:
valorização de um passado grandioso de autogoverno negro (como no caso do Egito
Faraônico e da Etiópia); da beleza feminina da mulher negra e da cultura local
(BARBOSA, 2020, p. 27-28).
APPIAH, Kwame Anthony. Na Casa de Meu Pai. Rio de Janeiro: Contraponto, 2007.
BARBOSA, Muryatan. A razão africana. Porto Alegre: Todavia, 2020.