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Universidade Católica de Petrópolis

Centro de Teologia e Humanidades


Licenciatura em História

REPENSANDO
ESTEREÓTIPOS
“História e Cultura Afro-brasileira”
TRABALHO

JOSÉ ÂNGELO COSTA DE ALMEIDA


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Desde os primórdios do ensino de história, temos a convicção do quanto o proces-
so de colonização da África se mostrou maléfico para a população daquele continente. O
século XIX foi, certamente, o mais cruel, em virtude de um colonialismo e/ou imperialis-
mo agressivo e destrutivo, fomentado pelo interesse de grandes potências europeias – In-
glaterra e Bélgica, por exemplo – deixando marcas significativas, ruins, evidentemente, e
atentando contra não só a civilidade, mas principalmente a liberdade dos africanos. Dito
isto, nos atemos ao primeiro questionamento acerca de nossa percepção frente a África e
aos africanos, pelo conhecimento e aprendizagem a partir da relação com o nosso país.
Em princípio, embora a escravidão promovida tanto na época colonial como no
contexto do Império tenha sido um capítulo negativo da história do Brasil, a posteriori,
findada a prática escravocrata, os negros aqui estabelecidos e seus respectivos descenden-
tes trouxeram-nos uma relevante contribuição, seja na formação da cultura brasileira, seja
na herança de aspectos linguísticos e religiosos. Outrossim, em que pese a persistência de
casos de racismo, reforçados pela equivocada noção de superioridade branca, os afrodes-
cendentes conseguiram conquistar, ao longo do tempo, espaço numa sociedade cuja de-
cadência se mostra cada vez mais evidente na forma de enxergar o outro, ou mesmo o di-
ferente.
Retomando a conjuntura do imperialismo, apesar dos entraves advindos do mode-
lo exploratório e o fato dos europeus imaginarem que, aportando em terras africanas, po-
deriam levar o progresso e a civilização até aquela região, esta conexão de tradição e mo-
dernidade, segundo José Rivair Macedo (2021, p. 132), mostra que:

A atitude das lideranças africanas em face do expansionismo europeu não foi


uniforme, nem seguiu os mesmos rumos. Dependeu de quanto a instrução es-
trangeira ameaçasse diretamente a sua autoridade e a sua soberania. O certo é
que, ao contrário do que a literatura colonialista acostumou a opinião pública
europeia a pensar, a África não era uma terra “selvagem”, refratária ao progresso
e aos valores da civilização.

A despeito da escravidão no Brasil, argumenta Jaime Pinsky (2021, p. 91), “a pre-


sença do negro na História do Brasil não se resume ao trabalho pesado baseado na sub-
missão total”. Na visão do autor, neste momento, registaram-se inúmeras revoltas, bem
como fugas de escravos, muitos dos quais “se matavam e atentavam contra a vida de seus
senhores. Isso nas condições de existência a que eram submetidos, o que não era pouca
coisa” (Ibid., p. 92). Estes apontamentos elencados pelos dois autores são essenciais para
que possamos compreender mais claramente as condições dos antepassados da atual po-
pulação afrodescendente, tão enraizada na cultura nacional.
Dando prosseguimento a análise reflexiva do tema, nada obstante, jamais deva ser
a cor da pele um critério para que um indivíduo se destaque em certo setor social ou car-
reira, identificamos, com surpresa e entusiasmo, o olhar sobre o cinema africano. Com
efeito, um artigo trazido pelo site da Revista Úrsula, assinado por Guilherme Carvalhal e
datado de 15 de julho de 2020, aborda a questão das produções cinematográficas de ori-
gem africana. No texto, Carvalhal (2020) afirma que:

O cinema africano é um produto bem recente, que começou a tomar corpo em paralelo
ao processo de descolonização que se deu a partir da década de 1960. Tem em Ousmane
Sembène seu pioneiro. Desde então se iniciou uma produção que, apesar de não ser mui-
to extensa e de carecer em diversos momentos de recursos financeiros e técnicos, conta
com a reprodução de toda uma cultura local e um grupo de diretores com talento e sensi-
bilidade para levar as cenas de seus países para as telas.

Até hoje, a cultura cinematográfica hollywoodiana se faz presente e predominante


em diversas partes do mundo, mas, de uns tempos para cá, vimos o crescimento de pro-
duções oriundas de outras lugares do planeta. Talvez isto explique o recém-cinema africa-
no, no entanto, não há como asseverar tal argumento. Seja como for, com fulcro no arti-
go de Guilherme Carvalhal, “os tempos atuais têm até sido mais prolíficos. Nos aspectos
técnicos, muitos filmes africanos do século XX apresentam evoluções significativas, com
relação aos de décadas, atrás na qualidade da filmagem, da fotografia e da atuação”.
Com efeito, devemos da mesma maneira focar nosso olhar, em se tratando da séti-
ma arte, na representação da África no cinema norte-americano, bem como na integra-
ção de atores negros em papéis de destaque nos filmes. Logicamente, isto se deu a partir
da Segunda Guerra Mundial. Muitos destes produtos audiovisuais, tanto de Hollywood
como de origem europeia, utilizaram, de certa forma, a temática africana, dentre os quais
O Último Rei da Escócia (2006), baseado no romance homônimo de Giles Foden, escri-
tor britânico, no qual a inspiração advém de Idi Amin Dada, presidente de Uganda entre
os anos de 1971 e 1979. Uma abordagem real da ditadura ugandense.
Neste âmbito, atualmente, não há como negar a consolidação do cinema africano,
cujo pioneirismo, nas palavras de Carvalhal (2020), deve-se ao diretor senegalês Ousma-
ne Sembène, falecido em 2007. O produtor “defendia a importância da África contar
suas próprias histórias porque, se não o fizesse, outros o fariam e os africanos perderiam
sua identidade”.

REFERÊNCIAS:

CARVALHAL, Guilherme. Um olhar sobre o cinema africano, das origens ao presente. Revista Úrsu-
la, São Paulo, 15, jul. 2020. Cultura. Disponível em: <https://revistaursula.com.br/cultura/um-
olhar-sobre-o-cinema-africano/>. Acesso em: 10, nov. 2022.
MACEDO, José Riviar. História da África. São Paulo: Contexto, 2021.
MURTA, Andrea. “O Último Rei da Escócia” relata dilemas manchados de sangue. Folha de S. Pau-
lo, São Paulo, 02, fev. 2007. Ilustrada. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/folha/ilus-
trada/ult90u68124.shtml>. Acesso em: 10, nov. 2022.
PINSKY, Jaime. A escravidão no Brasil. São Paulo: Contexto, 2021.

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