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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA


INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO TOCANTINS
CAMPUS PALMAS
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS – HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA
ACADÊMICA: JACKELINE ARRUDA LIMA

MUNDIBE V.Y. A Invenção de África. Gnose. Filosofia e a Ordem do


Conhecimento. Canadá: Edições Pedagogo, 2013.

Na obra A Invenção de África. Gnose. Filosofia e a Ordem do


Conhecimento de V. Y Mundibe, no capítulo I falasse do “Discurso de Poder e o
Conhecimento da Alteridade. A princípio aborda sobre a colonização na África,
mas dando a significância do que seja o colonialismo e a colonização, sendo
assim que o significado dessas palavras está relacionado a organização e
arranjo, são palavras que derivam do termo latim colěre que significa cultivar ou
conceber.
Diante isso, os europeus tenderam a “organizar” e transformar os espaços
por eles colonizados totalmente em construções europeias. A “organização” por
eles feita pode ser explicada em três etapas especificas: exploração de terras
nas colônias; domesticar os nativos e implementação de novos modos de
produção, tudo isso segundo a perspectiva ocidental como se os povos que já
habitam as terras não soubessem de nada, fossem desprovidos de saberes e
conhecimentos.
Toda essa busca desenfreada pelos europeus em atingir e se apropriar de
outras terras como África está ligado ao capitalismo. Trata-se de uma busca
pelos próprios interesses econômicos e objetivos não se preocupando com os
povos nativos das terras que invadem. Assim, de modo irracional os
colonizadores arruínam os poderes coloniais ao posicionar quatro propostas
políticas principais, mas em especial as mais prejudiciais as colônias a revolução
industrial sobre revolução agrícola e a preferência às exportações em detrimento
do sistema econômico total.
O capitalismo é prejudicial de tal forma que parte desse sistema se
desenvolve às custas de outras partes, principalmente pelo comércio. Mas, é o
colonialismo que conduz o território ocidental para o mundo capitalista. Segundo
teóricos apenas o Japão escapou do colonialismo e consequentemente de ser
um país subdesenvolvido, já que, os países que foram colonizados pelos
europeus são países subdesenvolvidos justamente por estes manterem os
países desenvolvidos.
Essa estrutura criada pelo colonialismo pode ser chamada de
“eurocentrismo” em que ao colonizarem outras terras os europeus implementam
toda a sua cultura nos nativos, ou seja, uma forma de aculturação de outros. O
tradicional deve torna-se moderno, o oral não tem tanto valor quanto o escrito e
dessa forma obrigam outros a mudar seus modos de vidas. Nesse sentido, a
cultura colonial banaliza todo o modo de vida tradicional dos africanos e sua
estrutura espiritual ao quererem também aplicar a religiosidade deles a esses
povos.
Partindo dessas informações sobre o colonialismo, há de se imaginar que
se os povos europeus usurparão a cultura dos africanos a fim de aculturar esses
povos com outros costumes, é nítido que toda a história contada pelos brancos
sobre os africanos banaliza a verdadeira trajetória desses povos, ou seja, as
discursividades sobre esses povos influencia no modo como são vistos hoje e
como são marginalizados.
Desse modo, a estrutura colonizadora não é a única explicação para a
atual marginalidade de África. Talvez essa marginalidade possa, mais
basicamente, ser entendida do ponto de vista das hipóteses mais gerais sobre a
classificação dos seres e das sociedades.
Essa marginalidade de África é uma consequência dos discursos teóricos
em especial os antropológicos desde Turgot que na década de 1750 classificou
pela primeira vez línguas e culturas, de acordo com essa colocação “se os povos
são caçadores, pastores e lavradores” e acabou por definir um caminho
ascendente desde o estado selvagem até as sociedades comerciais.
Mas, uma outra forma de exemplificar essa marginalidade não-ocidental
além do próprio discurso em palavras escritas também é através do discurso
transmitidas em pinturas em que o pintor pinta algo ou alguém, mas nunca estará
idêntico a própria realidade.
Nesse sentido, o exemplo de uma pintura feita por Burgkmair que é um
mestre da nova escola de Augsburg que ele fundou. Ele aceitou ilustrar o livro
de Bartholomaus Springer sobre as suas viagens ultramarinas (Kunst, 1967). Ele
leu atentamente o diário de Springer, provavelmente analisou alguns esboços
desajeitados a lápis ou a caneta e decidiu fazer seis desenhos de "pnmitivos".
O pintor avalia como poderiam as normas de semelhança e a sua própria
criatividade transmitir quer uma identidade humana quer uma diferença racial
para a tela. Como sobrepor as características africanas descritas na narrativa
de Springer às normas do contraposto italiano? Se for bem-sucedido, a pintura
deveria ser, pela sua originalidade, uma celebração e uma recordação da ligação
natural entre seres humanos e, ao mesmo tempo, uma alusão às diferenças
raciais e culturais.
No entanto, o que é ilustrado na pintura são três pessoas um rapaz, um
homem e uma mulher que se encontra sentada com um bebé ao peito, todos se
encontram nus e possuem braceletes nos pulsos ou um fio ao pescoço, sinais
evidentes de que pertencem a um universo "selvagem". O homem está no meio,
ele é o Locus que define a relação entre o rapaz à esquerda e a mulher a direita,
ele é retratado com um toque de sentido hierático e uma força ligeiramente
instintiva. Já a mulher é retratada como se estivesse olhando a zona pélvica do
homem e as curvas do seu corpo foram executadas segundo os cânones. Essa
pintura expressa uma ordem discursiva e não apenas uma pintura
verdadeiramente encantadora e decorativa.
Seria demasiado fácil estabelecer uma ligação, a montante, com
formações discursivas sobre a grande cadeia dos seres e sua hierarquia e, a
jusante, primeiro com a craniologia de Blumenbach e, em segundo lugar: com o
preconceito anti-africano geral da literatura científica e filosófica dos séculos
XVIII e XJX (Lyons, 1975, p.24-85).
Os navegadores portugueses trouxeram para a Europa, em finais do século XV,
os primeiros feitiços, objetos africanos que supostamente teriam poderes
misteriosos. Só no século XVIII é que os artefatos estranhos e "feios" foram
considerados no âmbito da arte africana.
O continente negro ainda surgia nos mapas como terra incógnita, mas os
seus povos e as suas produções materiais eram mais conhecidos dos viajantes,
dos estudantes da espécie humana, dos comerciantes e dos Estados europeus.
Desde o início do século XVIII, houve um enorme aumento do comércio
de escravos e de uma economia transatlântica rentável que envolveu a maioria
dos países ocidentais.
O que é denominado arte selvagem ou primitiva abrange uma vasta gama
de objetos introduzidos pelo contacto entre africanos e europeus durante o
intenso comércio de escravos no contexto do século XVIII. São "selvagens"
em termos da cadeia evolutiva do ser e da cultura, o que estabelece
uma correspondência entre o avanço no processo de civilização e a
criatividade artística, bem como as realizações intelectuais.
De todo o modo, é o "poder-conhecimento" de um campo epistemológico
que possibilita uma cultura dominante ou modesta. A arte para turistas e suas
contradições (Será arte? Em que sentido e de acordo com que tipo de
classificação estética?) são apenas uma consequência ad valem do processo
que, durante o período do tráfico de escravos, classificou os artefatos africanos
de acordo com a classificação ocidental de pensamento e imaginação, em que
a alteridade é uma categoria negativa do Mesmo.
É significativo que um grande número de representações europeias de
africanos, ou mais geralmente do continente, demonstrou essa ordem da
alteridade. O africano tornou-se não só o Outro, que é toda a gente exceto eu,
mas antes, a chave que, com as suas diferenças anormais, especifica a
identidade do Mesmo.
Estas representações são contemporâneas das discussões Iluministas
sobre a proposta de axiomáticas tais como "os homens nascem
desiguais" e questões como "o lugar do selvagem na cadeia do ser"
(Duchet, 1971; Hodgen, 1971).
O texto romanceado oriundo destas expedições não é fundamentalmente
original (ver, por exemplo, Hammond & jablow. 1977). Revela características já
bem delimitadas e instituídas. A distinção entre "negro selvagem" e ''maometano
civil", os comentários sobre a indolência dos africanos, as suas paixões
desenfreadas e a sua crueldade ou atraso mental já lá estavam presentes. Eles
integravam a série de oposições e de níveis de classificação dos seres humanos
exigidos pela lógica da cadeia do ser e pelas fases de evolução e
desenvolvimento social. Os exploradores apenas trouxeram novas provas que
poderiam explicar a "inferioridade africana".
Os exploradores não revelam a alteridade, comentam a "antropologia", ou
seja, a distância que separa a selvajaria da civilização na linha diacrônica do
progresso (ver Rotberg, 1970). R. Thomton reivindica que "a descoberta de
África foi também uma descoberta pelo papel.
No texto de V. Y Mundibe a novidade reside no facto de o discurso sobre
''selvagens" ser, pela primeira vez, um discurso em que um poder político
explicito pressupõe a autoridade de um conhecimento científico e vice-versa. O
colonialismo torna-se o seu projeto e pode ser pensado como uma duplicação e
um cumprimento do poder dos discursos ocidentais sobre variedades humanas.
Para discutir mais sobre a “invenção” de África e o seu significado nos
discursos sobre a África o autor utiliza a expressão “African genesis” (1937).
Durante o século XVIII, conforme refere G. Williams, "as colónias eram... de valor
apenas por trazerem vantagens materiais para a pátria" (1967, pp.17-30). Por
outro lado, é durante este mesmo século que, paradoxalmente, as Interpretações
iniciais sobre os "selvagens" são propostas pelos cientistas sociais do Iluminismo
(Duchel, 1971).
A questão é que durante este período tanto o imperialismo como a
antropologia ganhavam forma, possibilitando a reificação do "primitivo". O
importante é a ideia da História com um "H" maiúsculo que primeiro integra a
noção de providentia de Santo Agostinho e depois manifesta-se na evidência do
Darwinismo Social. Evolução, conquista e diferença tornam-se sinais de um
destino teológico, biológico e antropológico que atribui às coisas e aos seres as
suas áreas naturais e missão social.
A partir deste momento. várias escolas de antropologia desenvolveram
modelos e técnicas para descrever o "primitivo" de acordo com tendências em
mutação no contexto da experiência ocidental.
Alguns pensadores, como Lévi-Strauss, defendiam que o estudo da
diversidade de culturas reduzia o peso da ideologia e possibilitava aos
antropólogos lutar contra falsidades como as relacionadas com a superioridade
natural de algumas raças e tradições relativamente a outras. Deste ponto de vista
ético, alguns acadêmicos questionaram-se se seria possível pensar numa
ciência antropológica livre do etnocentrismo (por exemplo, Leclerc, 1972).
Dois tipos de “etnocentrismo” são distinguidos no texto: uma filiação
epistemológica e uma ligação ideológica. De facto, estas são com frequência
complementares e inseparáveis. A primeira é uma ligação à episteme, ou seja,
uma atmosfera intelectual que confere à antropologia o seu estatuto como
discurso, o seu significado como disciplina e a sua credibilidade como ciência no
campo da experiência humana. A segunda é uma atitude intelectual e
comportamental que varia de indivíduo para indivíduo.
O etnocentrismo cultural explica as mudanças ideológicas e as
lutas na história, bem como a prática da disciplina da ciência social. Na
experiência colonizadora, 'a fusão destes dois aspectos de etnocentrismo tendia,
quase naturalmente, a ser completa no discurso do poder e no do conhecimento,
ao ponto de transformar a missão da disciplina num projeto de aculturação.
"A Antropologia, que costumava ser o estudo dos seres e coisas antigas,
gradualmente e, ao contrário, depara-se agora com a difícil tarefa de recordar
como o 'selvagem' se torna um participante ativo da civilização moderna"
(Malinowski, 1938, p.vii).
Ainda assim, é claro que, desde o início do século XIX, os relatórios de
exploradores tinham sido úteis para a abertura do continente africano aos
interesses europeus. Mitos sobre "selvagens bestiais". "esplendores bárbaros",
ou o "túmulo do homem branco" condiziam muito bem com a "teoria da tropical
casa do tesouro", as promessas da Terra de Ouro ou Novo Orphir e os princípios
humanitários para reprimir o tráfico de escravos e para cristianizar civilizar os
africanos (Hammond &jablow, 1977; Leclerc, 1972).
Os viajantes no século XVIJI, bem como os do século XIX e seus
sucessores no século XX (conselheiros coloniais, antropólogos e colonizadores),
recorreram ao uso do mesmo tipo de sinais e símbolos e agiram em função
deles. Durante a era colonial, estes envolveram consistentemente a redução das
diferenças para com uma historicidade ocidental. Isto não implica que os
inventores ocidentais de uma "génese africana" não distingam níveis e tipos de
interpretações de África.
Hoje, os melhores alunos, confrontados com os relatórios contraditórios,
farão perguntas pertinentes: O que é que estes relatórios testemunham?
Contribuem para um melhor conhecimento do passado de África? São
cientificamente credíveis e aceitáveis? Se forem corretamente respondidas.
estas questões conduzem, em princípio, a um novo conhecimento da história
humana.

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