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INTRODUÇÃO
O que quero dizer e mostrar com esse trabalho é essa força homogênea que muitos
impõem sobre a África. Esse tipo de olhar enviesado não ocorreu apenas na arte, mas em sua
própria história, como Bethwell Ogot e P. Diagne (2010) apontam para a simplificação da
história africana e para o mito da imutabilidade, respectivamente, que ainda persistem em
certas historiografias até hoje. Este trabalho tem como objetivo traçar de forma resumida o
caminho do que chamamos de “arte africana” e no fim analisar brevemente três artistas
africanos contemporâneos, visando mostrar a singularidade de cada um.
O PESO DA COLONIZAÇÃO
Esses objetos eram organizados como numa linha do tempo, misturavam-se peças de
diversos povos e culturas diferentes para demonstrar como teria sido o passado, os objetos
foram estripados de seu contexto e significado, pois a questão nunca foi o interesse intrínseco
sobre os povos da África, mas sim uma possibilidade de entender o passado do homem
branco. A mesma coisa acontece com a arte, pois esses objetos primeiramente considerados
etnográficos se metamorfosearam em objetos de arte, todavia estes não serão julgados de
acordo com a estética africana, mas pela européia, sendo assim retirados de seu contexto
original, sendo avaliados por parâmetros pelos quais não foram produzidos.
A metamorfose em objeto de arte acontece graças á uma busca pela renovação artística
do século XX, os frutos da revolução industrial do século passado estavam sendo colhidos e
os conflitos que levariam à 1ª e 2ª guerra mundial já haviam começado, o convencionalismo
já não cabia mais nas galerias, os artistas sentiam a necessidade de se reinventar e por isso
muitos decidiram buscar inspiração nos objetos de povos não europeus (como os nativos da
África, Oceania e Ásia), estes foram colocados numa categoria preconceituosa e pejorativa
cujo nome ficou conhecido como “Arte Primitiva”.
Segundo Rafael Gonzaga (2016), um dos pioneiros nessa transição (de objeto
etnográfico para arte) foi Carl Einstein através de uma descrição formalista em sua exposição
chamada „Negerplastik‟, apesar de ser uma abertura para a arte africana, (como já mencionei)
que as peças foram julgadas por padrões estéticos europeus, não havia sequer legendas
explicando o local de origem ou significado delas. A verdade é que o objetivo era menos
valorizar a arte da África e mais renovar a arte Européia, pois um dos pioneiros dessa
metamorfose, André Malroux, enxergava a passagem do não-estético para o estético europeu,
ou seja, para esses pensadores não existia estética africana, não à toa Negerplastik procurava
associar tantos objetos á experiência cubista.
Um importante aspecto da arte moderna, muito valorizado por seus artistas era a noção
de sublime, definida por Gonzaga como:
“Sublime, grosso modo, é tudo aquilo que o espírito humano não pode abarcar, é o
sentimento oceânico descrito por Freud. Ele é, também, o inconsciente e, portanto, o
que os modernistas como Gauguin, Picasso e Breton desejavam expressar em suas
obras. [..] A arte autêntica estava na sensibilidade das crianças, nas viagens oníricas
dos loucos e na espiritualidade genuína dos “selvagens”, que exprimiam as verdades
mais profundas por meio de suas sensibilidades ainda não corrompidas pela razão
burguesa e industrial.” (p.413, 2016)
O selvagem se refere ao africano, que é colocado ao lado das crianças e dos loucos,
mais uma vez evocando a idéia do negro estar na infância da humanidade e de agir sem
coerência, pois o branco coloca sobre o negro sua imagem inversa, a valorização da suposta
emotividade negra, de um retorno ás raízes, é um contraponto (forçado) á racionalidade
branca, ou seja, esses artistas europeus negavam a racionalidade na arte negra. O
maniqueísmo colonial coloca os negros guiados por instintos, eles deveriam ser tudo o que os
brancos não eram. Nas palavras de Celso Martins:
O primitivismo valoriza mumificando o outro, removendo-o do tempo histórico e
transformando-o num mero contraponto cultural, o que quer dizer que a categoria é
muito menos descritiva em relação àquilo a que se refere e mais enquadradora no
seio de uma lógica e de um sistema cultural (europeu, moderno, branco) a que a sua
existência é completamente estranha. (p.102, 2017)
Um exemplo dessa situação relatado por Gonzaga foi a criação ocidental no século
XX de categorias para a “arte primitiva”. Havia a arte palaciana africana (feita nos palácios da
elite) e arte comunitária africana (mais valorizada, pois estava mais distantes dos centros, sem
a influencia européia). Esse pensamento sobre a segunda categoria levou muitos a pensar que
toda arte desse tipo sofria com uma supressão de individualidade, que a obra seria fruto de um
espírito de coletividade, motivo de muitas obras africanas não serem assinadas. Com o
objetivo de provar que não é correto seguir cegamente essa lógica, o autor analisa uma obra
do escultor iorubá Olowe de Ìsè nascido em 1873, no fim da análise é destacado que a
ausência de uma assinatura não significa desimportância da autoria, pois na cultura Iorubá o
nome era algo íntimo da comunidade, que deveria ser preservado, uma vez que inimigos e
feiticeiros poderiam usá-los para fazer o mal. A assinatura era deixada na obra através do
estilo, não à toa foram identificados cerca de 50 trabalhos de Olowe.
Assim é o inicio da arte africana, (do ponto de vista do colonizador) uma tentativa de
contraponto e renovação européia através de um suposto retorno á um paraíso perdido na
irracionalidade do homem negro, com a alienação do significado original das peças africanas
nos museus, colocados por José D‟Assunção Barros antes como objetos de ação para sua
cultura de origem, passando, depois da apropriação, à servir o interesse de colocá-las sobre as
avaliações estéticas européias para serem contempladas e consumidas pela cultura ocidental.
O próprio autor coloca que a Europa não estava atraída pelo exotismo africano ou o tema de
suas artes, mas com os aspectos relacionados aos meios próprios de sua arte.
Já foi dito aqui que o europeu se apropriou da arte e das técnicas africanas para
renovar o que convencionamos a chamar de arte moderna. Segundo José Barros os pioneiros
nesse quesito foram os fauvistas, que se inspiraram nas formas e recursos expressivos da arte
africana.
Nesse estágio inicial da assimilação, os artistas estão mais preocupados com a técnica,
não havia a preocupação de entender a função original do objeto dentro de seu contexto, cujo
Barros chama de “finalidades mágicas”, pois estariam inseridas nas funções ritualísticas de
interação com a comunidade local, a visão da interatividade só será percebida artisticamente
após a década de 60, justamente quando esse contexto passa a ser valorizado, fazendo ecoar a
influencia africana na arte performática e ambiental, na quebra de categorias entre artista e
espectador, a idéia de coletividade colocava todos como participantes da arte, como um
contraponto extremo da contemplatividade que os ocidentais impunham a arte africana.
A máscara africana, presente em quase toda a África, sob seu contexto original de
objeto de ação é um claro exemplo dessa interatividade da comunidade, ela busca a superação
da individualidade, pois não representa o sentimento de seu usuário, mas a personificação do
próprio sentimento (medo, combate, morte). É uma conexão com o universo para
experimentar dimensões diferentes, através dos rituais com a máscara os participantes se
tornam um só corpo, destacando essa idéia de coletividade, o portador da máscara tem o papel
de mediar as relações do grupo com o sobrenatural. A máscara pode ainda ter muitas outras
funções como: Invocar imparcialidade (julgamentos), divertir pessoas (festas), mecanismo de
identidade e etc.
No entanto, antes da década de 60 é a expressividade intensa das máscaras, os traços
da representação “desfigurada” por uma geometria excessiva, mas que mantém a essência do
que visa ser representado, é isso que vai atrair o ocidente, é isso que vai inspirar Pablo Picasso
a pintar “Les Demoiselles d‟Avignon” (1907) e iniciar o movimento cubista, é claro que
existem outras técnicas importantes que foram apropriadas, como a utilização da cera, as
pinturas de múltiplas perspectivas (inspiradas nas pinturas egípcias), as esculturas inspiradas
nas talhas africanas, são apenas alguns dos outros exemplos desse impacto na arte moderna.
Como o objetivo desse artigo não se resume apenas ao impacto no cubismo, evoco
José Barros que sintetizou de forma sucinta as assimilações feitas pelo cubismo e pelo
fauvismo:
Barros fornece as quatro leituras que os europeus fizeram da arte africana, assimilando
diferentes quesitos e interpretando-a de diferentes maneiras em cada uma delas. A primeira
leitura se refere aos novos padrões de expressão, ligado á franqueza e intensidade expressiva
de suas obras; a segunda ás características formais radicalmente diferentes das do ocidente, a
liberdade da forma (antes presa á rigidez do naturalismo) foi a grade descoberta desse âmbito;
na terceira leitura foi a produção mental, pois os artistas africanos não se limitavam a copiar a
realidade ou impressões dela, havia nela uma grande capacidade de abstração que faltava aos
ocidentais, era uma arte “concebida em suas mentes”; a quarta e última releitura da conta da já
referida interatividade, o contexto da arte africana e sua utilidade para a coletividade foi
valorizada, assim como a participação do espectador.
É evidente que não houve uma estagnação na arte da época, pelo contrário, em 1956
artistas e intelectuais negros residentes na Europa elaboraram a 1ª Conferência Internacional
de Escritores Negros e Artistas Negros. No continente africano houve uma transição das
práticas de artesanato e a uma imagem quase homogênea para projetos de caráter mais autoral
como vemos hoje em dia. Em 1984 e 1985 ocorreram a Primeira Bienal de Havana (que
trouxe visão da arte global a partir do sul) e a “Primitivism in the 20th century art: affinity of
the Tribal and the Modern” (que como o próprio nome diz, trouxe questões centrais para o
“primitivismo”), ou seja, já existiam exposições preocupadas em trazer produções artísticas
não ocidentais, mas é 1989 com realização da exposição “Magiciéns de la terre”em Paris que
ficou marcada com a porta de entrada para os artistas não ocidentais no cenário internacional.
A exposição ainda tem traços claramente eurocêntricos, mas seu grande diferencial e
ousadia para a época foi trazer os artistas não ocidentais para a exposição e colocá-los no
patamar de artistas (quando havia a exibição da produção artística não ocidental nas
exposições, raramente o artista era creditado, muito menos convidado a comparecer
presencialmente). No entanto havia um lado menos progressista do evento, segundo Amélia
Siegel Corrêa, o objetivo era
Corrêa ainda cita Pablo Lafuente (2013) afirmando que os critérios dos curadores para
escolherem os artistas eram marcadamente neo-colonialistas, uma vez que julgavam com um
olhar modernista as produções orientais, que por sua vez não tinham como referencia as
categorias pelas quais eram julgadas. A outra polêmica do evento foi a denominação de
“mágicos” para os participantes, os organizadores afirmavam que buscavam quebrar com a
palavra “artista” por ser demasiadamente modernista, já seus críticos acusaram uma
fetichização de conotação romântica aos não ocidentais, como um retorno á idéia da negação
da racionalidade e sim uma ligação mágica á terra.
Os 101 mágicos eram divididos em ocidentais e vindos do resto do mundo, os critérios
avaliados pelos curadores que se espalharam pelo mundo em busca de artistas eram:
radicalismo; aventura e excitação; relação entre artista e sua obra; por fim, certo nível de
oposição e resistência ao establishment, ou seja, uma espécie de vanguarda. Corrêa traz os
exemplos brasileiros da exposição, onde se buscou a conexão com a cultura negra e indígena,
a autora descreve o processo seletivo que culmina nas escolhas de Mestre Didi e Ronaldo
Rego, no caso os dois já eram artistas reconhecidos no Brasil e tinham uma certa “mística” em
seu trabalho por causa da ligação com a umbanda. As obras tratavam de objetos de
religiosidade pouco conhecidos internacionalmente, era necessário dar explicações religiosas
sobre as representações, ou seja, o peso estético diminui enquanto se valoriza o contexto e
história da obra de arte, uma tendência que como vimos anteriormente vem acontecendo
desde a década de 60.
Para a arte contemporânea atual, tanto Célia Maria Antonacci Ramos quanto Celso
Martins concordam que houve uma superação da lógica colonial, no sentido de não mais
caber termos como “arte primitiva”, de não mais haver uma espécie de homologação que
coloque a arte européia como superior, é claro que ainda deve-se questionar a valorização
ainda desigual entre o africano e o europeu, uma vez que comumente as exposições abordam
vários africanos sobre a mesma categoria, enquanto os ocidentais recebem um destaque
individual. Os autores também concordam que a figura do artista africano é hibrida, muitos
estudam e vivem em países fora do continente africano contracenando com seus pares
ocidentais, são uma figura amalgamada entre uma origem de opressão de seus países de
origem e a influencia ocidental que estão sujeitos.
Antonacci coloca que muitos artistas já parecem libertos dos conceitos continentais de
europeu e africano, são trilhados (apesar da desigualdade) caminhos multiculturais.
A obra seguinte também é uma reconstrução de papel, o autor explica que são um
grupo de pessoas sem posse alguma, nus, apenas reunidos olhando a paisagem de um “paraíso
destruído”, nenhuma das pessoas tem olhos, todos desejam a terra de volta, mas nada podem
fazer, apenas rezam, o único olho da figura está na mão de uma das pessoas, ele simboliza a
impotência da pessoas, que podem apenas olhar.
A última obra de Hassan são dois compartimentos repletos de óculos e estojos de
óculos, a jornalista Victoria Valentine escreve que á primeira vista pode parecer uma obra
fúnebre para representar os óculos dos que já partiram, mas o artista tinha uma idéia muito
mais nostálgica e cotidiana para ela. Por mais simples que pareça, Hassan busca evocar as
memórias simples, de um ente querido que usasse óculos, de uma história sobre óculos (pois
sempre há uma história sobre óculos), em como depenemos deles para enxergar o mundo, em
como eles são frágeis e são objetos de identificação. São objetos que contam histórias.
Seguindo para a próxima artista, Bahia Shehab nasceu em 1977 em Cairo (Egito), ela é
uma historiadora da arte islâmica, tendo estudado no Líbano e se especializando com um
mestrado em Cairo, ela atualmente ocupa cargo de professora na The American University in
Cairo, onde leciona cursos sobre história da arte islâmica além de participar como júri de
diversas competições artísticas sobre tema. Suas principais abordagens são: Política árabe,
identidade, preservação cultural e discurso feminista, ela recebeu diversos prêmios por seus
trabalhos, sendo o mais recente o “UNESCO-Sharjah Prize for Arab Culture” (2017).
A primeira obra que analisaremos é provavelmente sua mais famosa,“A Thousand
Times NO”, em 2010 Bahia foi convidada para a exposição “The future of tradition” cuja
temática era a celebração de 100 anos de arte islâmica na Europa, a única condição para a
realização do projeto era o uso da escrita árabe na obra de arte, “como uma artista, mulher e
árabe. Ou um ser humano vivendo no mundo em 2010, eu tinha apenas uma coisa para dizer,
eu queria dizer „não‟” disse a artista durante um TED talk em 2012. Ela procurou por
símbolos em toda cultura árabe que pudessem significar “não”, ela coletou esses mil símbolos
e os catalogou num livro com explicações ao lado de um mural numa exposição em Munique.
É importante destacar que o contexto da obra era justamente o prelúdio da primavera árabe,
Shehab fizera uma arte de protesto contra a ditadura egípcia, em 2011 com o inicio da
revolução egípcia, Shehab saiu de seu estúdio e foi às ruas grafitou nas paredes mensagens de
“não”, todas elas para coisas específicas como “violência, tortura, regime militar, brutalidade
policial”.
Acima está a imagem da instalação de 7 metros em Munique durante a exposição em
2010, enquanto a imagem debaixo é a pichação “não para despir forçosamente as pessoas”,
além da escrita em árabe há o sutiã azul da mulher que foi espancada na rua e a pegada em
seu abdômen é uma escrita estilizada cujo significado é “vida longa á revolução”.
Outro trabalho de Shehab, menos político e mais recente foi a exposição chamada: “The
Chronicles of Flowers” que aconteceu em Istambul (Turquia). Segundo a galeria Zilberman,
em 2011, quando estava no hospital com a perna quebrada, sua mãe a levava todos os dias
arranjos florais que fazia com as flores do jardim, isso despertou nela uma paixão pelas flores
e a fez perceber que as flores, assim como as mulheres em sua vida foram muito importantes
para sua identidade e como ela via o mundo, pois sua família sempre as valorizou e as
utilizavam de diferentes maneiras.
A exposição foi isnpirada por mashrabiya (janelas típicas árabes), pois como ela
mesmo diz:
They allowed the person in the house to see, and not to be seen. It shielded the
residents from the inquisitive eyes of voyeurs on the street, while giving them the
chance to be voyeurs themselves. It let the air and sun in, while creating playful
shadows traveling around the room to indicate the time of the day. (2017)
As flores serviriam também como uma janela para enxergar o mundo. A exposição é
composta de telas de acrílico de flores, projeções e cheiro de flores para criar um ambiente
propício, as amostras de flores estão relacionadas á memória afetiva da artista.
O último artista da análise, Twins Seven-Seven, nasceu em Kogi State (Nigéria) com o
título honorífico de omoba por ser filho do rei yorubá (simbólico) em 1944 e faleceu 2011.
Começou a carreira como cantor e dançarino antes de pintar e esculpir. Seu nome foi de
nascença Taiwo Olaniyi Oyewale-Toyeje Oyelale Osuntoki, Twins também afirma que seu
nome artístico é uma tradução de Ibeji Meji Meji (seu nome em yorubá), por ser o único
sobrevivente de uma linhagem de sete pares gêmeos, a tradução se deu para facilitar a
pronuncia para os colecionadores e compradores de suas obras. Suas obras abordam a cultua
yorubá e sua cosmologia/mitologia, Twins Seven-Seven também é um dos mais famosos
representantes da escola de pintura de Oshogbo (grupo de pintores independentes da cidade
homônima surgido na década de 80).
Nesse caso analisaremos apenas a famosa “Healing of the Abiku Children”, pois esta
tem uma análise mais longa que as outras e há um limite no tamanho do trabalho. Essa obra
foi comissionada em 1972 pelo médico Tcheco Hanus Grosz (que foi resgatado ainda criança
da 2ª guerra mundial, e na vida adulta morava nos EUA) que pediu uma arte sobre “cura”.
Twins Seven-Seven retratou um ritual para curar uma criança abiku, que segundo ele são as
milhares de crianças não vistas, pois os yorubá eram abençoados pela grande incidência de
gêmeos, mas amaldiçoados pela alta taxa de mortalidade infantil, os abikus são essas crianças
que quando vem ao mundo são tão poderosas que não querem ficar, e voltam para os jardins
de deus após o parto.
A garvura de madeira retrata uma mãe e sua criança abiku na varanda da casa de uma
curandeira (pois apenas as mulheres teriam o poder de curar os abikus), a curandeira prepara
uma bebida especial a partir de raízes, que impediria a criança abiku de morrer, também há
um ovo de avestruz presente que impediria a criança de morrer, pois os abikus teriam medo
do ovo. No fundo há a idéia de coletividade, pois os membros da aldeia que tiveram crianças
que conseguiram crescer se unem para pedir que a criança abiku fique no mundo e trazem
objetos para contribuir com o ritual. Há também gêmeos desmaiados no chão esperando para
tentarem serem reanimados, há uma mãe cujos gêmeos foram curados e está chamando mais
pessoas para a casa da curandeira. Em suma, é uma obra muito intensa, com muita atividade,
que conta uma longa história, em que cada figura tem um motivo e uma história por trás,
Twins Seven-Seven conta sobre a obra numa entrevista em 2008 sobre a obra, nela ele conclui
que essa é uma pintura feliz e positiva.
CONCLUSÃO
Findando essas analises, podemos concluir que tanto esteticamente quanto
tematicamente, esses artistas são muito diferentes, apesar de todos serem africanos, o que
mostra o óbvio, a arte não está presa ao lugar que nascemos, mas á nossa subjetividade e
experiências que tivemos. Como poderíamos colocar esses três artistas numa mesma
categoria? Kay Hassan faz uma arte global, cotidiana, é um exímio contador de histórias;
Bahia Shehab faz uma arte mais marcada pela militância, o uso do grafite é uma forma de
resistência, de ar antissistêmico, fora das galerias, nas ruas, sujeito ás intempéries; Twins
Seven-Seven trata da cultura Yorubá e tem um estilo mais próximo da arte africana moderna
com temas mais espirituais e „místicos‟.
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Fonte das Imagens em ordem de aparição
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