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PASSADO-EM-OBRA
nos convidam a pensar as estruturas - ainda vivas, não se quer valorizar, que não se quer, por m,
ainda vigentes, ainda por desconstruir - do humanizar.
pensamento e ação colonial sob as nossas
Texto crítico acerca da exposição de Felipe da Costa, percepções da realidade contemporânea. É com a fantasia branca que dançam os museus e
intitulada “xxxx”, com curadoria de xxx. nestes passos que escrevem-se as linhas da história
A história da arte registrou, por séculos, os da arte moderna: em meio a suas negações
Thays Tonin. “paci cadores”, os “heróis”, os mitos de fundação – e nenhum outro sujeito é legítimo de ser-em-si (por
sua narrativa “viril” – das nacionalidades, em conseguinte, ser sujeito da arte).
conjunto com seus valores morais e culturais. Aquilo
que foi intitulado “gênero da pintura” ao falamos da Toda escolha estética, já sabemos, é também
Por onde começar a desconstruir as narrativas herança de “retratos dos grandes homens” ou de política. Não há como falar (construir conceitos)
criadas pelo colonialismo? Por onde continuamente “cenas/paisagens históricas” nada mais são que sobre as imagens artísticas sem com isso construir
recomeçar? Pelos corpos, pelos espaços, pelas episódios da construção do conceito de sujeito valor – cultural, artístico, econômico, losó co.
palavras ou pelas imagens? europeu, de eu e de “outro/a”, na qual vemos os Portanto, não há como falar das formas e das cores,
Por onde seja, todos estes caminhos se fazem sintomas da ferida colonial deixada por uma arte dos temas e das técnicas que vemos nos museus de
necessários, urgentes e em-obra. Recomecemos por que apagou a presença de corpos que não fossem artes, sem com isso tomar uma posição: a qual, já
todos os lugares. os brancos. Como dito por Grada Kilomba, “dentro diria um famoso brasileiro, Paulo Freire, sempre
dessa infeliz dinâmica, o sujeito negro torna-se não será ou inclusiva ou excludente.
O museu - enquanto instituição do estado - espaço apenas a/o “Outra/o” – o diferente, em relação ao
por excelência do espólio colonial, é um destes qual o “eu” da pessoa branca é medido –, mas Felipe da Costa, nas obras escolhidas para esta
lugares que pode tomar uma importante decisão: também “outridade” – a personi cação de aspectos exposição, fala da experiência de viver em uma
Continuar a a rmar a narrativa europeia e colonial repressores do “eu” do sujeito branco. Em outras cidade que continuamente lembra, a quem por ela
da arte, ou servir como espaço de debate acerca das palavras, nós nos tornamos a representação mental passa, da colonialidade como um valor civilizacional
maneiras pelas quais uma desconstrução destes daquilo com o que o sujeito branco não quer se incontestável – seja nas estruturas arquitetônicas,
valores é possível. parecer”*. Por tal motivo apagar, esquecer, não como no estilo “enxaimel”, seja no tecido urbano e
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na exclusão de pessoas negras e indígenas nos coloca em jogo, em meio ao museu, a nal, a quem
espaços culturais e artísticos, seja, portanto, na pertence essas memórias e essas histórias. Vemos
estrutura social e econômica como um todo. Toussaint L’Ouverture, François Mackandal,
retratados aos moldes dos valores europeus,
A proposta do artista de destruir a estrutura que se contudo em uma dança diferente, onde a história da
encontra no meio da sala expositiva lança, portanto, arte deixa de ser narrativa-mestre, e é reapropriada (Indico colocar imagens das obras no texto,
dois processos: primeiramente, de entendermos como repertório de igual valor às outras formas para ns de registro histórico)
que a performance dos artistas dentro do museu narrativas e culturais. Cabe destacar também, que
deve nos lembrar que o museu não é um espaço entre estes “novos” personagens está o autorretrato
morto, um arquivo-morto da arte e da história, mas do artista, feito a partir de uma fotogra a da
um espaço em-obra, que pode ser modi cado no infância vivida na autoproclamada colônia alemã
hoje e no amanhã. Alterar uma obra, dentro do blumenauense, no Brasil.
museu, propõe repensar o que é um espaço de
memória, e principalmente, quem são as pessoas Com os desenhos e referenciais de Felipe da Costa,
que podem criar memória: todos e todas que retornamos, mais uma vez (e sempre que
quiserem partilhar desta sensibilidade frente ao necessário for) à pergunta inicial: Por onde começar
presente. Em segundo lugar, que ao desmantelar a a desconstruir as narrativas criadas pelo
instalação, o artista cria uma alegoria importante colonialismo? Talvez, um por um, quebrando
acerca da urgência de repensarmos as estruturas pequenas partes dessa estrutura arquitetônica que
coloniais nas histórias das artes - nos seus sagrados vemos, talvez, procurando lembrar das referências *KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação. Episódios
temas e técnicas - e, principalmente, quem são os/ negras e indígenas que Felipe da Costa trás em seus de racismo cotidiano. Trad. Jess Oliveira. RJ: Cobogó,
as autores/as destas formas de saber. desenhos e pinturas expostos, talvez, propondo, 2019.
junto ao artista, um outro museu: que crie/retrate
As referências que encontramos nas obras de Felipe futuros, mais do que registre passados. Texto original em português.
da Costa ao valor simbólico das pinturas retratistas, Agosto de 2023.
mas com personalidades negras e/ou indígenas,
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del pensamiento y la acción colonial en nuestras que no se quieren valorar, que no se quieren, en
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percepciones de la realidad contemporánea. última instancia, humanizar.