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CESÁRIO VERDE
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO LITERÁRIA
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No que diz respeito aos tipos sociais representados, existe claramente um sentimento de empatia
do sujeito poético em relação aos elementos das classes mais baixas. Com efeito, é feita uma
crítica às condições degradantes em que os elementos do povo viviam.
A injustiça social denunciada na poesia de Cesário torna-se mais gritante pelo contraste que nela
se estabelece entre o labor permanente dos elementos do povo, que é visto como a força ativa da
sociedade, e ócio que caracteriza as classes dominantes.
Cesário Verde representa nos seus versos a cidade (e o campo) através do registro de
percepções sensoriais: embora predominem as referências visuais, o eu lírico caracteriza também
o espaço urbano pelas constatações que lhe chegam através do ouvido, do olfato e do tato. Em
várias situações essas sensações cruzam-se em sinestesias.
A caracterização da cidade é feita enquanto o eu lírico caminha pelas ruas, anotando em
movimento o que vê, ouve, cheira e sente. O facto de deambular, de se deslocar no espaço,
permite-lhe uma percepção dinâmica e um conhecimento mais completo da realidade urbana, na
medida em que passa por vários lugares e encontra diferentes personagens.
Contudo, o sujeito poético não se contenta a apresentar a realidade “como ela é”, de forma
objetiva. Ele coloca a sua subjetividade nessa descrição e fá-la acompanhar de insinuações
apreciativas e de comentários avaliativos.
O olhar subjetivo sobre o real e a cidade concretiza-se em vários casos numa representação
imaginativa das figuras, dos elementos e dos espaços que são descritos.
Esta é uma técnica de representação do real que se propicia à análise e à crítica social: através
da comparação, da metáfora e da imagem condena-se a desumanização do trabalho quando se
encontram semelhanças entre os calceteiros e os animais de carga.
Por outro lado, a imaginação criativa e a subjetividade do sujeito poético manifestam-se também
na utilização da técnica impressionista para representar a realidade. Tal sucede quando a
caracterização de um lugar ou de uma personagemé inicialmente definida por características suas
(normalmente associadas à luz e à cor) que o observador perceciona para só num segundo
momento esse elemento ser identificado.
A imaginação do sujeito lírico também é responsável por trazer para o presente alusões ao
passado da cidade, seja esse passado glorioso ou sombrio.
Esta imaginação poética contribui, então, decisivamente para dar significado (valorização, crítica,
sentido, etc.) à realidade que o sujeito poético descreve, através da interseção, do cruzamento de
diferentes planos: objetivo e subjetivo, realidade e imaginação, ou presente e passado.
A sua poesia é marcada pelo sensorialismo, dado às sensações, sobretudo visuais, mas também
provenientes de outros sentidos. Também é frequente a percepção sinestésica, típica do
sensorialismo impressionista.
No entanto, a par de uma visão objetiva do real, em poemas que constituem longas
deambulações (travelling) pela cidade ou pelo campo, apresenta-nos Cesário marcas de
intervenção subjetiva e transfiguradora (fugas imaginativas no espaço e no tempo, imaginação
pictórica, quase “surrealista”), uma perceção subjetiva da realidade objetiva.
O IMAGINÁRIO ÉPICO
Na deambulação noturna de Cesário existe apenas a ancoragem num lugar imaginário e futuro. O
sujeito parece querer reforçar a sua vida desinvidualizando-se e aderindo a uma comunidade
citadina e ocidental. O desejo é o de um povo cuja vida se coloca num sonho coletivo, futuro e
passado, ficando reservado para o presente um lugar adversativo. O aqui e agora, o Portugal
presente, é um corpo morto-vivo, é uma vida “sepulcral”.
☗ ESTRUTURA
Cesário Verde investe grande cuidado na busca da perfeição formal dos seus poemas.
Em termos de estrutura estrófica, este recorre frequentemente à quadra, sejam os poemas longos
ou curtos, mas também revela o gosto pela quintilha.
Quanto à métrica, a preferência de Cesário incide nos versos alexandrinos (verso de 12 sílabas
métricas) e nos decassílabos. Sendo estes versos mais extensos, eles permitem ao poeta, de
forma mais descontraída, descrever a cidade e refletir sobre as percepções que dela tem.
Cesário trouxe para a poesia uma nova linguagem, menos retórica e menos elevada, contendo um
discurso pouco ornamentado e pouco rebuscado que contrasta com a retórica pesada e
sentimental de alguma lírica romântica. Cesário socorre-se de vocábulos e expressões da
vivência citadina, sobretudo a que se associa ao povo.
A lírica de Cesário Verde aproxima-se da prosa não apenas pelo seu tom coloquial e antideclamatório
mas também, e como vimos, pelo uso do verso longo.
Cesário também utiliza o adjetivo de forma surpreendente e original. Surgindo antes do nome,
adquirindo, assim, um significado para além do literal, assume uma forte expressividade e representa
uma tentativa de definir com rigor o elemento que caracteriza.
No caso do advérbio, também utilizado de forma surpreendente e muito expressiva, traduz
engenhosamente a condição faminta e enferma destes animais que erram pela cidade.
A utilização destes dois e o uso da subjetividade destas classes de palavras representa, em vários
momentos, uma técnica de pintura impressionista aplicada à literatura.
A aproximação entre a poesia e a pintura afirma-se também pelo facto de Cesário explorar uma
linguagem plástica com um forte apelo visual, e cultivar o recurso expressivo da imagem com um
acentuado valor simbólico. Ao observar uma realidade (a rua iluminada pelas lojas), a imaginação
leva-o a conceber uma outra cena (as capelas, lado a lado, iluminadas): é claro que esta justaposição
de elementos convida a uma relação crítica entre ambos.
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♥ IMPRESSIONISMO ♥ MODERNISMO
✦ valorização da impressão captada, ✦ poetização de todo o real, incluindo a
da perceção imediata; sua vertente mais sombria;
✦ carácter fragmentário e fugaz das ✦ temáticas modernistas: tédio existencial,
sensações e percepções; o “desejo absurdo de sofrer”, o desejo
✦ importância da cor e da luminosidade, de evasão (no tempo, no espaço, na
em quadros ao ar livre; imaginação, no onírico).
✦ anteposição das características do
objeto à sua definição; ♥ IMPRESSIONISMO
✦ sobreposição das sensações. ✦ transfiguração poética do real;
✦ associação de imagens inesperadas e
experimentalismo vocabular.
Downloaded by Érica Melo (ericafranciscamelo8@gmail.com)
lOMoARcPSD|12931817
> Poema Longo: quarenta e quatro quadras (quatro partes, compostas simetricamente por onze
quadras, constituídas por um verso decassílabo, seguido de três alexandrinos;
relativamente à rima, apresenta versos interpolados e emparelhados)
> O poeta deambula pela cidade de Lisboa desde o anoitecer até à madrugada. Vê, sente e
descreve os males da civilização ocidental, urbana e industrial.
> Estruturação.
● I - Avé-Marias (18h)
+ o poeta descreve o movimento da cidade ao cair da noite, que desencadeia a sua
reflexão e introspecção;
● II - Noite Fechada
+ o poeta percorre a cidade de noite, reparando nos movimentos e luminosidade das
ruas. Intensifica-se a descrição das sensações negativas do sujeito poético.
● III - Ao Gás
+ o poeta sente-se oprimido perante os cenários de miséria e degradação
circundantes.
● IV - Horas Mortas
+ o poeta deambula por uma cidade às escuras. Deseja a perfeição e eternidade,
alenta-se com uma possível aliança ao coletivo e ao sonho de uma raça futura,
euforia que pouco dura. Termina num tom disfórico que abarca todo o coletivo.