Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tema 1
Exame 2018, 2.ª fase
Cenário de resposta:
Cesário Verde viveu e conheceu a cidade de Lisboa como poucos, e retrata-a, em muitos dos
seus poemas, tão minuciosamente que faz com que o leitor a conheça quer na sua dimensão
física quer na sua vertente humana.
Efetivamente, Cesário percorre as ruas da cidade numa atitude deambulatória e de
observação atenta, retratando-a como um local claustrofóbico, com prédios sepulcrais, subidas
íngremes e becos onde o peixe podre gera focos de infeção, onde grassam epidemias e onde as
desigualdades sociais se fazem notar até pelos casebres que contrastam com os bairros luxuosos
e modernos, tal como se vê em “Num bairro moderno” ou em “O sentimento dum ocidental”.
Enquanto espaço humano, a cidade é um local de contrastes sociais, palco de desigualdades,
onde, por lado, labutam os calceteiros e, por outro, se passeia a atrizita que foge, com os seus
pezinhos de cabra, dos esgares dos trabalhadores (“Cristalizações”). Esse contraste é, ainda,
denunciado na descrição que faz da pobre hortaliceira, vítima do desdém do criado que
representa a classe burguesa que serve (“Num bairro moderno”).
Em suma, a cidade é representada como um espaço de decadência moral e social, que, para
além de estar empestada, poluída e desordenada, impele muitos a refugiar-se no campo ou a
sentir um forte desejo de evasão.
OU
Em suma, a cidade, pela tristeza e morbidez que dela emanam, provoca no poeta «um desejo
absurdo de sofrer», pois sente-se aprisionado, vendo-a mesmo como sinónimo de decadência e
de morte.
Tema 2
Escreve uma exposição, num texto de cento e trinta a cento e setenta palavras, sobre o tema «A
representação da cidade e os tipos sociais», na poesia de Cesário Verde, seguindo estes tópicos:
No seu deambular constante pela cidade, o poeta retrata um espaço de contrastes sociais
significativos.
Com efeito, o sujeito poético opta por elaborar uma poesia com uma estrutura ambulatória,
feita de «quadros revoltados» que ele vai justapondo. Interessa-lhe, sobretudo, dar enfoque aos
contrastes sociais, opondo a ociosidade e riqueza da alta burguesia, que janta «em hotéis da
moda», no meio de porcelanas reluzentes, à pobreza extrema em que vivem as varinas (em «Ave-
Marias») ou à miséria de «uns barracões de gente pobrezita» (em «Cristalizações»). Em abono da
verdade, o poeta, sobremaneira em «O Sentimento dum Ocidental», retrata uma cidade que
representa o aprisionamento («Cercam-me as lojas, tépidas»), a doença (as imorais), a miséria
(do professor de Latim que lhe pede esmola) e a morte (relembre-se a metáfora caracterizadora
da urbe – «de prédios sepulcrais com dimensões de montes»). Sem dúvida, o eu poético
identifica-se com as classes trabalhadoras e humildes, o que está patente quer no elogio que tece
à hortaliceira (em «Num Bairro Moderno») quer na sua referência aos calafates, aos carpinteiros,
aos padeiros, ao forjador e às varinas, cuja grandeza épica sobressai n’ «O Sentimento dum
Ocidental».
Em suma, a cidade é representada como um espaço de decadência moral e social e também
de enormes assimetrias sociais. Quanto ao sujeito poético, que caminha pela cidade e observa a
realidade social, solidariza-se com os que sofrem e revolta-se perante as condições de vida
atrozes de alguns, por oposição ao luxo, ostentação e ociosidade de outros.
Outros temas
Considerando o poema «O sentimento dum ocidental», redige um texto expositivo (de cento e
trinta a cento e setenta palavras) sobre um dos seguintes temas:
- a representação da cidade; (a cidade e os tipos sociais; o real físico e o real social);
- a deambulação e a imaginação; (estrutura ambulatória, quadros que vai registando; a força
da imaginação);
- a perceção sensorial e a transfiguração do real; (lojas/catedrais); «julgo avistar nas trevas as
folhas das navalhas / E os gritos de socorro ouvir estrangulados»);
- o imaginário épico.