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cesário verde como poeta deambulante, pintor, a transfiguração do real, o sentimento dum

ocidental
Cesário Verde é o poeta deambulante e pintor.
Conhecido como poeta pintor (interventivo da realidade) devido a deambulação que leva
às suas descrições que transmitem a realidade para o leitor, um poeta que nunca escapa
uma subjetividade algo fantasiosa, “a literatura e a pintura unem-se numa cinematização da
vida quotidiana, cuja alma o poeta pretende captar”. O poeta procura a precisão estilística e
o culto da forma.
Cesário é o poeta deambulante que descobre uma cidade cruel, pobre e doente que se
contrasta com a cidade moderna enquanto passeia em Lisboa, observando e absorvendo a
realidade: em pormenor os lugares, as pessoas e os ambientes com a construção de
quadros sociais onde predominam as sensações e os sentimentos.
➔ Fixa como protesto as desigualdades, as injustiças e a humilhação que o sistema
social provoca.
➔ Interliga a visão objetiva e a visão subjetiva quando assume uma posição crítica de
compromisso social.
➔ Mostra-se solidário com os mais desfavorecidos, mais pobres, mais desprezados,
mais humilhados, assumindo uma clara ligação política;
➔ A cidade é o motor de inspiração para o poeta, conseguindo concretizar a
contradição antitética, um espaço que inspira e promove a criação ao mesmo tempo
que é um espaço que sufoca pela miséria que transporta.

A transfiguração do real (e a perceção do real)


❖ Influência do sensorialismo (presentes as sensações e principalmente a visual que
se acompanha por outras);
❖ Cesário, sendo poeta da realidade objetiva, lança sobre ela uma visão exata e
concreta, fruto da sua característica de poeta deambulante e observador, porém
existem transfiguração do real objetivo através do esforço de imaginação que
desencadeia uma perceção subjetiva sobre o real observável;
❖ A visão subjetiva também está presente no olhar crítico que lança a sociedade que o
rodeia e funciona para Cesário também como possibilidade de fuga e evasão do
real.

O Sentimento Dum Ocidental

★ Publicado numa revista do Porto e redigido para as comemorações da morte de


Camões (seu tricentenário). Apesar disso, contraria o próprio sentido de homenagem.
Cesário, de forma contraditória e perversa usa este tema para fazer a diferença ao expor o
protesto e denúncia de uma cidade outrora gloriosa e no presente cheia de desigualdades
injustiças. Cesário Verde foi um poeta incompreendido e esquecido pela crítica.
★ Pretendeu evocar Camões através da expressão e do contraste entre a Lisboa gloriosa do
passado e a Lisboa desigual do presente “um cadáver de cidade”.

★ O título remete a dimensão lírica.

É dividido em quatro partes:


★ Ave Marias;
★ Noite Fechada;
★ Ao Gás;
★ Horas Mortas.
cesário verde como poeta deambulante, pintor, a transfiguração do real, o sentimento dum
ocidental

Ave Marias
★ O título aponta para o toque do sino que chama os crentes para rezar as
ave-marias, ao final da tarde. De forma metafórica, há um toque social, as
campainhas das fábricas e das saídas dos trabalhos que juntam as pessoas
anónimas nas ruas de forma quotidiana e cadenciada como oração.

★ Localização espacial alargada da sociedade de Lisboa e localização temporal do


final do dia;
★ Anoitecer cinzento e de uma neblina baixa que provoca uma sensação de
monotonia, de desconforto e sofrimento, reforçado pelo cheiro a gás;

Quadros representados:
➔ A multidão anónima;
➔ As pessoas mais ricas que partem em viagem para o mundo civilizado que Cesário
considera felizes;
➔ Carpinteiros (“presos nos andaimes a saltar de viga em viga (comparação gaiola e
morcegos);
➔ Os operários fabris;
➔ Gente rica em hotéis da moda;
➔ Dentistas que discutem, crianças que correm nas varandas (metáfora);
➔ Lojistas;
➔ As operárias fabris;
➔ As varinas (metáfora expressiva “cardume negro”);
➔ As carvoeiras que recolhem a casas bairros miseráveis, sem condições de habitação
e de higiene onde se desenvolve doença e fome.

O sujeito poético evoca Camões e sua época gloriosa como estratégia de reforço a
ausência da glória e reforço da desigualdade.

Noite Fechada
➔ Representação do quadro social da prisão que contêm gente comum (velhinhas e
crianças) que cometem um crime por necessidade de sobrevivência;
➔ O sujeito poético mostra-se triste, indignado e surpreendido com a desigualdade
social e o tratamento dado aos mais pobres;
➔ Descrição da progressiva iluminação da parte mais pobre da cidade (metáfora que
coloca em paralelo o lençol branco que se estende);
➔ Olhar crítico sobre a Igreja e o clero, com uma divagação pela história, ao encontro
aos tempo inquisitoriais;
➔ Contraste entre zonas mais modernas e ricas e as zonas mais antigas e pobres, e
entre a memória do passado no espaço presente;
➔ Imagina a propagação da doença e da febre, especificando a classe dos soldados.

Quadros:
Dois quadros de mulheres com a mesma atitude corporal, apresentando-se curvadas.

Umas elegantes e ricas porque observam Outras devido ao esforço do trabalho e,


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as montras alegremente a olhar as jóias. metaforicamente, devido a humilhação e desprezo


de que são alvo: mulheres do povo, floristas,
costureiras, atrizes e coristas.

O sujeito poético, em primeira pessoa, assume a observação da realidade e a sua


preferência pelos mais pobres e desprotegidos que merecem a revolta e o protesto.

Ao Gás
➔ Observação das pessoas que estão na rua, assumindo uma atitude sincera de
compaixão e preocupação para com:
➔ O seu velho professor de latim que lhe pede esmola;
➔ as prostitutas;
➔ O cutileiro;
➔ O padeiro, enfim, a classe trabalhadora;
➔ Assume atitude crítica e um olhar reprovador para com as pessoas que têm tarefas
e atitudes fúteis e frívolas de uma grande superficialidade: burguesas e freiras.

Horas Mortas
➔ Referência as casas ricas e seus habitantes com uma vida fácil e protegida;
➔ A segunda parte refere às casas pobres e o heroísmo de seus habitantes (mães,
irmãs e prostitutas);
➔ O sujeito poético conclui que a degradação humana é visível e exige protesto: que
os que sofrem procurem uma melhor vida, mas sempre com enormes dificuldades.

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