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Cesário Verde

Organização do poema:
 Parte 1: Avé-Marias.
 Parte 2: Noite fechada.
 Parte 3: Ao gás.
 Parte 4: Horas mortas.

Representação da cidade:
 Espaço confinado e destrutivo, marcado pela ausência ou perversão do amor.
 Casas que parecem gaiolas.
 Ambiente real com barulho e confusão.
 Campo (vitalidade, energia, ânimo, amor) é o oposto da cidade.
 Representação minuciosa e realista, segundo a perceção sensorial e a
reflexão/análise do sujeito poético.
 Captação de exteriores e interiores, decorrente da deambulação do sujeito
poético pela cidade.

Tipos sociais:
- Povo/classes trabalhadoras – alvo de simpatia e solidariedade por parte do sujeito
poético (ex: vendedora de legumes, calafates, obreiras, varinas…):
 Produtividade;
 Vitalidade;
 Autenticidade.
- Burguesia – alvo de crítica e ironia por parte do sujeito poético (ex: criado do bairro
burguês, dentistas, arlequins, lojistas…):
 Ociosidade;
 Inércia;
 Artificialidade.
- Marginais que vivem na cidade – alvo de crítica por parte do sujeito poético (ex:
ladrões, bêbedos, jogadores, prostitutas…):
 Degradação social e moral.

Perceção sensorial:
 Primado das sensações (visuais, auditivas, olfativas, gustativas, táteis).
Transfiguração poética do real:
 Conceção duma nova realidade, a partir de elementos reais, através da visão
transfiguradora do sujeito poético. (ex: “Num bairro moderno”).

Estruturação do poema:
 44 quadras (onze estrofes cada parte);
 Versos alexandrinos (doze sílabas métricas) e decassílabos no início de cada
estrofe.
 Poema com uma estrutura narrativa:
- Progressão narrativa na noite;
- Relato de pequenos episódios.

Tendências presentes nos versos:


 Realismo: expressão nova, que quebra com o romantismo do passado.
 Naturalismo: preocupação naturalista.
 Parnasianismo: anti romantismo, defesa dos valores da arte pela arte.
 Simbolismo: culto do “eu”, preocupação formal, capacidade de visão especial
que pode atingir níveis oníricos, visão pessimista da existência.
 Impressionismo: anteposição das características dos objetos à sua identificação.
As sensações do poeta, com ênfase nos sentidos. Atribuição às palavras, as
características dos quadros impressionistas, muitas vezes através da utilização da
metáfora.
 Modernismo: união entre a literatura e as artes plásticas, relação entre autor e
obra, capacidade introspetiva.
 Surrealismo: associação de ideias e interpretação do inconsciente, insólito.
 Neorrealismo: dinamismo entre o povo urbano e rural, personagem coletiva,
destaque das injustiças associadas aos mais desfavorecidos.

Avé-Marias:
 Corresponde ao fim da tarde.
 O sujeito inicia a sua caminhada, ao anoitecer, no momento em que várias
pessoas se reúnem para rezar.
 As mulheres são também um tema presente, em particular as mais humildes e
trabalhadoras que se deslocam para casa, naquele momento.
 Desejo de fuga (evasão).
 Denúncia/crítica social (más condições de vida dos trabalhadores, não há
oportunidades, nem evolução, nem progressão).
 Cidade como símbolo de poluição e opressão.
Noite Fechada:
 Corresponde ao acender das luzes.
 Observador solitário.
 Sentimento de nostalgia, opressão, aprisionamento.
 Denúncia das injustiças sociais.
 Memória de um passado trágico (Inquisição).
 Camões e o passado como oposição do presente de doença e sofrimento.

Ao Gás:
 Corresponde à fixação da noite.
 Opressão da noite (“A noite pesa, esmaga”)
 Prostituição e doença na cidade.
 Melancolia que permanece desde o início, desperta ao “eu” o desejo de sofrer.
 Registo de acontecimentos que ocorrem à volta do “eu”.

Horas Mortas:
 Corresponde à noite silenciosa.
 O sujeito poético continua a deambular por Lisboa, atingindo um momento de
escuridão mais profunda.
 Vontade de viver num ambiente de amor, onde a solidão e a melancolia não
existem, um mundo perfeito.
 Oposição entre a luz e a escuridão. A luz: símbolo de liberdade e amor, “luz em
mansões de vidro transparente”; e a escuridão da cidade: “os prédios sepulcrais”.

Relação com os Lusíadas:


 Poema antiépico que pode ser associado ao “Os Lusíadas”, apesar de ambos se
tratarem de epopeias, isto é, texto narrativo em prosa.
 Neste poema a capacidade humana são menosprezadas, enquanto que nos “Os
Lusíadas” estas capacidades são exaltadas.
 A narrativa corresponde à viagem pela cidade (demonstrando a degradação
social e moral), já n´Os Lusíadas a viagem marítima (descobrimentos) constitui
o relato.
 As personagens de “O sentimento dum Ocidental” são marginais, ociosas e/ou
artificiais, sendo exaltadas as classes trabalhadoras (personagens épicas). N´Os
Lusíadas, Luís de Camões exalta todo o povo português a figura de Vasco da
Gama e dos marinheiros durante a viagem à Índia.
Síntese:
 Cesário Verde é o poeta de Lisboa do final do século XIX, cidade que evidencia:
- Grandes contrastes e injustiças sociais: ricos ociosos/trabalhadores explorados;
- Desenvolvimento e progresso, mas também doença e dor;

- Heterogeneidade de figuras sociais: aristocratas, operários, pedintes, atrizes,


varinas, costureiras… cruzam-se nas ruas da cidade de Lisboa;

- Vícios morais, desvios religiosos, miséria;

- Artificialidade e desumanidade.

 Lisboa adquire uma carga negativa: a cidade perturba-o, enjoa-o, aprisiona-o,


provocando-lhe um cansaço e um mal-estar cada vez mais intenso e
despertando-lhe um desejo de evasão.
 O olhar do poeta recai frequentemente sobre os mais desfavorecidos, os mais
humildes e desamparados por quem demonstra solidariedade e simpatia.

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