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Cesário Verde “O sentimento dum Ocidental”

.Realismo e Naturalismo(últimas
décadas do séc. XIX-inicio do
Contextualização histórico-literária séc.XX).
.Influência do Impressionismo, do
Parnasianismo e de outras estéticas
de final de século.

.A cidade moderna (Lisboa) como


espaço opressivo e doentio.
A representação da cidade e dos .Caracterização de figuras que
tipos sociais representam tipos sociais
.Denúncia das difíceis condições de
vida e das injustiças sociais

.Percurso do eu lírico pela cidade ,


observando (acidentalmente) e
caracterizando, em movimento,
figuras e lugares.
Deambulação e imaginação:o .Errância pelo o espaço, mas
observador acidental também pelo o tempo ( pela
memória).
.Os elementos da cidade despertam
a imaginação do eu lírico , que os
recria poeticamente

.Apreensão da realidade através das


sensações:primado dos sentidos
(visão,audição..)
Perceção sensorial e transfiguração .Os estímulos sensoriais (a cor, o
poética do real movimento, o cheiro, o som, o
paladar) conduzem à metamorfose
poética do real ,à criação de uma
nova realidade a partir dos
elementos observados.
.Marcas do género épico:poema
longo , de pendor narrativo,percurso
histórico de um povo
O imaginário épico .Alusões a Camões e ao passado
heróico de Portugal
.Subversão da matéria épica:
representação da realidade
decadente do país moderno , em
tom de desânimo e pessimismo

.Tom anti declamatório e anti


romântico,introdução do registo
coloquial na poesia ; poetização do
real e do quotidiano
.Regularidade estrófica(quadras),
métrica(decassílabo e alexandrino) e
rimática(interpolada e emparelhada).
.Discursividade narrativa e
Linguagem , estilo e estrutura objetividade na observação da
realidade.
.Abundância de construções
sintáticas coordenadas , sindéticas e
assindéticas.
.Riqueza de recursos expressivos:
comparação, enumeração ,
hipérbole, metáfora,sinestesia, uso
expressivo do adjetivo e do advérbio

➢ Tendências presentes nos versos:

Realismo – expressão nova, que quebra com o romantismo do passado.

Naturalismo – preocupação naturalista


.
Parnasianismo – anti-romantismo, defesa dos valores da arte pela arte.

Simbolismo – culto do “eu”, preocupação formal, capacidade de visão


especial que pode atingir níveis oníricos, visão pessimista da existência.
Impressionismo – anteposição das caraterísticas dos objetos à sua
identificação. As sensações do poeta, com ênfase nos sentidos. Atribuição às
palavras, as caraterísticas dos quadros impressionistas, muitas vezes através
da utilização da metáfora.

Modernismo – união entre a literatura e as artes plásticas, relação entre


autor e obra, capacidade
introspectiva.

Surrealismo – associação de ideias e interpretação do inconsciente, insólito.

Neorrealismo - dinamismo entre o povo urbano e rural, personagem coletiva,


destaque das injustiças associadas aos mais desfavorecidos.

Organização das em 4 parte do poema:


Parte I: Avé-Marias
Parte II: Noite fechada
Parte III: Ao Gás
Parte IV: Horas mortas

As rimas são geralmente interpoladas e emparelhadas (num esquema


ABBA), com métrica de 12 sílabas (alexandrino) e um verso decassílabo no
primeiro verso de cada estrofe.
Este dá primazia às sensações (visuais, auditivas e gustativas), permitindo a
construção de uma nova realidade partindo dos elementos reais.
A estrutura deste poema contempla uma progressão narrativa ao longo das
quatro partes, destacada pelos títulos destas. Ao longo da narrativa
inserem-se pequenos relatos de episódios, que aceleram a narrativa.

➢ Análise interna do poema “O sentimento dum ocidental”

Tempo:
O poema decorre durante a noite (“Ao anoitecer”, “Ao cair das badaladas”,
“Fim da tarde”, “Hora de jantar”...). Apesar de haver consciência da passagem
do tempo. O tempo real torna-se sucessivamente mais negativo, algo que se
evidencia pelos títulos associados a cada parte do poema. Em contraste, o
sujeito poético procura um tempo de evasão (descobrimentos) e de um tempo
imaginado.
Este tempo real corresponde a um tempo de decadência nacional e
civilizacional. A evasão surge pela necessidade de compreender a realidade
e a procura da solução para os problemas presentes (não existe grande
otimismo no futuro).

Espaço:
O principal espaço é a cidade de Lisboa, pela qual o eu poético passeia e
observa o mundo à sua volta. A visão apresentada é a de um observador
acidental que se desloca pela cidade à noite.

A cidade
• espaço confinado e destrutivo (ausência de amor).
• Casas que parecem gaiolas
• ambiente real com barulho e confusão...
• Campo é o oposto da cidade (vitalidade, energia, ânimo, amor)

Espaço de evasão (positivo – descobrimentos, idade média / negativo –


espaço usado pela inquisição).

Personagens:
• Povo (positivas) – pessoas desprotegidas, frágeis, vítimas...
• Burgueses (negativas) – pessoas favorecidas pela sorte ao que andam à
voltas dessas pessoas
• Regulação social – representantes das condições em vigor
(soldados,patrulhas, padres...).
• Conscientes e sensíveis – reconhecem a realidade à sua volta
(emparedados), sem nada poderem fazer para alterá-la.
• Compensação – escape às tensões criadas pela consciência (visionadas,
imaginadas, de evasão, da memória).

➢ Análise do poema

◦ Avé-Marias (corresponde ao cair da tarde)


O sujeito inicia a sua caminhada, ao anoitecer, no momento em que várias
pessoas se reúnem para rezar. As mulheres são também um tema presente,
em particular as mais humildes e trabalhadoras que se deslocam para casa,
naquele momento. Desejo de fuga (evasão). Denúncia social (más condições
de vida dos trabalhadores). Cidade como símbolo de poluição e opressão.
Ciclo vicioso das classes baixas (não há oportunidades – não há evolução,
nem progressão).Contradição entre as personagens, espaços e tempo.
Edifícios em madeira/ hotéis da moda, dualidades (glória/opressão, miséria,
injustiça, dependência) .

.
.Noite fechada (corresponde ao acender das luzes)

Observador solitário. Nostalgia, opressão, aprisionamento (Aljube – metáfora


para a cidade confinada).
Denúncia das injustiças sociais. Memórias de um passado trágico (Inquisição
– “Duas igrejas, num saudoso largo, / Lançam a nódoa negra e fúnebre do
clero: / Nelas esfumo um ermo inquisidor severo”) Camões e o passado como
oposição do presente de doença e sofrimento.
◦ Ao Gás (corresponde à fixação da noite)

Opressão da noite “A noite pesa, esmaga”.


Prostituição e doença na cidade. Melancolia que permanece desde o início,
desperta ao “eu” o desejo de sofrer. Registo de acontecimentos que ocorrem
à volta do “eu”.
◦ Horas Mortas (corresponde à noite silenciosa)

O sujeito poético continua a deambular por Lisboa, atingindo um momento de


escuridão mais profunda.
Vontade de viver num ambiente de amor, onde a solidão e a melancolia não
exista, um mundo perfeito.
Oposição entre a luz e a escuridão. A luz símbolo de liberdade e amor “luz
em mansões de vidro transparente” e a escuridão da cidade “de prédios
sepulcrais”.
➢ Análise temática do poema

Personagens representativas de tipos sociais:


• povo/ classe trabalhadora – representa a produtividade, vitalidade e
autenticidade (obreiras, varina, vendedora) – alvo de simpatia e solidariedade
do sujeito poético.
• Burguesia – ociosidade, inércia, artificialidade (criado de bairro, dentista...) -
alvo de crítica e ironia por parte do sujeito poético.
• Marginais da cidade – degradação social e moral (ladrão, bêbado...) - alvo
de crítica só sujeito poético.

➢ Relação com Os Lusíadas:

Poema anti-épico que se pode ser associado ao “Os Lusíadas”, apesar de


ambos se tratarem de epopeias, isto é, texto narrativo em prosa.
Neste poema a capacidade humana é menosprezada, enquanto que n’Os
Lusíadas estas capacidades são exaltadas.
A narrativa corresponde à viagem pela cidade (demonstrando a degradação
social e moral), já n’Os Lusíadas a viagem marítima (descobrimentos)
constitui o relato.
As personagens de “O sentimento dum Ocidental” são marginais, ociosas
e/ou artificiais, sendo exaltadas as classes trabalhadoras (personagens
épicas). N’Os Lusíadas Luís de Camões exalta todo o povo português na
figura de Vasco da Gama e dos marinheiros durante a viagem à Índia.

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