ROMÃO, Lucimélia
Bolsista IC - PROPE
PIBIC DEACE/UFSJ
2. O termo “instalação” foi incorporado surge nas artes visuais na década de 1960, designado ambiente construído
em espaços de galerias e museus. Durante o modernismo suas primeiras experimentações são estabelecidas por
Kurt Schwitters (Merzbau, 1923) e Marcel Duchamp (16 milhas de fio, 1942). Na contemporaneidade, sua força
expressiva toma forma com as linguagens da Land Art, Minimal Art, Work in Progress e Intervenções Urbanas.
A Instalação é uma forma de arte que utiliza a ocupação de ambientes que são transformados em cenários. Pintura,
escultura e outros materiais são usados conjuntamente para modificar o espaço arquitetônico e proporcionar ao
espectador uma vivência ativa da obra e, portanto, não somente como apreciador.
consegue ser total e absoluto. Como em 500 anos as culturas negras e as indígenas
sobrevivem".
O genocídio da juventude preta é a política base do estado para com os negros brasileiros
desde a escravidão. O extermínio é iminente. Tática de guerra travada contra um povo que
nunca teve direito e condições de lutar de igual para igual. Matam-se crianças, adolescentes e
jovens. Diminui-se a expectativa de vida. Estupram-se mulheres, crivam de balas seus filhos.
Na busca de um modelo de teatro negro e ou performance negra, fiz entrevistas com vários
grupos para descobrir uma forma que fosse a arte afro ideal. Descobri por meio dessas
entrevistas que o teatro negro é plural, que não existe um ideal e muito menos uma fórmula. O
teatro negro não é excludente, ele contempla várias existências e várias possibilidades.
Podemos perceber a pluralidade do teatro negro quando observamos as variedades estéticas e
pesquisas entre o espetáculo Medea Mina Jeje de Rudinei Borges, interpretado pelo ator Kenan
Bernardes de SP e o espetáculo Belorizontino Madame Satã dirigido por João das Neves.
Ambos os espetáculos têm no foco o negro. Medea Mina Jeje é um solo, que lança mão da
tragédia grega de Medea criando uma relação com a exploração do ciclo do ouro em Minas
Gerais no século XVIII. No espetáculo a escrava Medeia sacrifica o próprio filho,
diferentemente da personagem de Eurípides, ela não busca vingança. Uma mãe que quer
libertar seu filho do destino e das torturas comuns nas minas Brasileiras. O ator se apropria da
dramaturgia recorrendo a alguns elementos do Teatro Japonês para a sua interpretação. Ele
remonta a história de um povo massacrado transitando em personagens complexos como a
Medeia e o traidor Jasão, na peça um capitão do mato. A ambientação cênica, no entanto, tem
poucos elementos porém preciosos, e é reforçada pela luz e pela sonoplastia, que juntas
seduzem o espectador, a valorizando o discurso, tornando-o provocador.
Madame Satã também um trabalho poético sobre a luta de invisíveis. Porém o grupo se
debruça na biografia de João Francisco dos Santos um transformista brasileiro conhecido na
vida noturna e marginal da Lapa carioca na primeira metade do século XX. Personagem sem
defeito para dialogar com questões que permeiam a crítica contra o racismo e a homofobia.
Com trilha sonora original, se delicia da linguagem do teatro musical e suas possibilidades. O
espetáculo é entrecortado por textos ora poéticos, ora combativos, e lança luz não apenas a
biografia de Satã, mas ilumina às pessoas à margem da sociedade que não se enquadram na
hegemonia vigente. Ambos espetáculos se apropriam do teatro contemporâneo e são teatros
negros mas se aprofundam em linguagens teatrais distintas para compor o seu espetáculo.
Qualquer idéia tem que se materializar em carne, sangue e realidade emocional: tem que ir
além da imitação, para que a vida inventada seja também um vida paralela, que não se possa
distinguir da realidade em nível algum. (Brook, p.8, ) Partindo dessa premissa desenvolvi a
performance e instalação MIL LITROS DE PRETO: A MARÉ ESTÁ CHEIA, com o objetivo
principal de descortinar e desnaturalizar o genocídio da população negra no Brasil. Através da
performance e instalação visei criar uma arte acessível, de fácil compreensão e ao mesmo
tempo tocar o sensível de quem consumisse, sem deixar a complexidade do tema abordado
esvair.
Através da performance foi apontado uma das várias injustiças, crueldades e toda esse velho
novo sistema de esmagar e punir gente preta que está cansada e revoltada. Tornando palpável
o que é a máquina de extermínio dos jovens negros brasileiros . Desenvolvendo uma forma de
sensibilizar as pessoas por meio da arte contemporânea de que o racismo estrutural é um
problema nacional. Tentei subverter o inconsciente coletivo brasileiro de que todo preto é
bandido e evidenciar o verdadeiro campo de guerra em que tem se constituído o caminho para
o progresso e a cidadania dos negros descendentes no país.
Uma performance que ecoa dias, uma instalação que perpetua. MIL LITROS DE PRETO.
É uma performance e instalação. Durante os 3 primeiros dias acontece a performance e a
instalação irá se constituindo a partir das ações da performance.
A INSTALAÇÃO: consiste em uma piscina (será disposta segundo a planta baixa anexa)
de 1000 litros, retangular, com largura de 130 cm, 42 cm de altura e profundidade de 189 cm;
143 baldes pretos de 7 litros cada (quantidade exata de litros de sangue que habita em um corpo
adulto) espalhados pelo espaço, etiquetados com nomes de vítimas do genocídio da população
negra; 994 litros de líquido vermelho, feito de água e corante alimentício, alocado em cada
balde. Depois que a performance acontecer, ficará exposto por 40 dias a piscina com o líquido
vermelho, os baldes pretos vazios e imagens da performance serão projetadas na parede.
A PERFORMANCE: a cada 25 minutos um alarme soa, 7 litros de líquido vermelho que
contém o balde preto é despejado pela performer na piscina, isso ocorre até os 143 baldes
estarem vazios. Em aproximadamente 59 horas a piscina estará completa com 1000 litros de
sangues de jovens negros . Durante as 60h primeiras horas, a performer irá realizar essa ação
que poderá ser acompanhada pelo público ou não (a depender da escolha do público). A ação
será gravada e projetada depois durante a exposição.Um saco de dormir estará no local, abaixo
do projetor, para descanso do performer que permanecerá 3 dias no local, realizando a ação.
Essa performance / instalação possui uma capacidade de adaptação memorável. Inicialmente
teve duração de 60 horas, mas na sua segunda versão ela tem 30 minutos, e vem sendo realizada
com 57 baldes e uma piscina de 400 litros o que tem possibilitado ela de ser apresentada em
diversos festivais de performance.
O trabalho que foi apresentado tanto para a comunidade periférica belorizontina que vivencia
diariamente de dentro essa realidade abordada, quanto para a elite paulistana que vivencia com
um maior distanciamento, tem a mesma reação ao ver a ação. Os diversos espectadores ficam
horrorizados com a dimensão do genocídio, após o impacto muitos conversam sobre o
problema apresentado e expõe saber sobre o assunto mas que não tinham noção da dimensão
do crime praticado pelo estado, muitos até então revelam não saber que a mortandade era uma
violência gerada pelo racismo estrutural. A partir deste trabalho, foi estabelecido com
estudantes de escolas públicas e espectadores diálogos e possíveis reflexões acerca do tema
abordado que, por sua vez, é ainda nebulosa na arte e na nossa sociedade.
Fig. 1 - Apresentação na Mostra VERBO em São Paulo/ SP, Brasil. Fotografia da Mylenne Signe
Fig.2 - Apresentação na Mostra VERBO em São Paulo/ SP, Brasil. Fotografia da Marcelo
Prudente
Fig. 1 Fig.2
REFERÊNCIAS
Disponível em:
<http://revistas.udesc.br/index.php/urdimento/article/view/1414573101242015092>.
Websites visitados
<http://www.segundapreta.com/>
<http://www.questaodecritica.com.br/2018/03/teatro-negro-em-perspectiva/>
<https://www.teatronegroeatitude.com/>
<https://www.brasildefato.com.br/2016/05/13/surgido-da-dor-maes-de-maio-se-tornam-
referencia-no-combate-a-violencia-do-estado/>
<https://www.maesdemaio.blogspot.com/?fbclid=IwAR0ANhrh7vDh0VdGk7ZsaT0YRVu0v
zrRYlE2KR7z5vpjnUOGE3_n6-kaRGc>