CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS (CFCH) COORDENAÇÃO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA HISTÓRIA DO BRASIL V
JASON ALMEIDA DO NASCIMENTO
AMARELO, VIVÊNCIAS E REFLEXÃO SOBRE A NEGRITUDE ATRAVÉS DA
MÚSICA E DOS DIÁLOGOS
RIO BRANCO ACRE
2021 JASON ALMEIDA DO NASCIMENTO
AMARELO, VIVÊNCIAS E REFLEXÃO SOBRE A NEGRITUDE ATRAVÉS DA
MÚSICA E DOS DIÁLOGOS
Trabalho apresentado à disciplina de
História Do Brasil V, orientado pelo professor Francisco Afonso Nepomuceno, para a composição da N2.
RIO BRANCO ACRE
2021 Esta resenha tem por objetivo apresentar o documentário “AMARELO - É Tudo Pra Ontem.” (2020) protagonizado pelo happer Emicida, um dos maiores artistas negros da sua geração e da atualidade. Reconhecido no cenário do rip hop suas músicas sempre pautadas com letras profundas sobre a sociedade, fazendo críticas a desigualdade e sendo um importante representante da voz negra no Brasil. Este documentário é dirigido por Fred Ouro Preto, que já esteve à frente de outras produções das músicas como clipes de artistas, por exemplo, Anitta e Mc Guimê, também dirige a outra versão dessa obra presente na Netflix® se tratando do show ao vivo no Teatro Municipal de São Paulo “AmarElo ao vivo” (2021). Esta obra narra uma introdução a história do Brasil, focando nas grandes personalidades negras que marcaram não somente a sua época, mas, os efeitos de suas ações no passado ainda reverberam na nação. Além de apenas um show, este longa se trata de uma homenagem às figuras marcantes silenciadas do país verde amarelo. Contando com várias participações especiais é mostrado as personalidades influentes na vida e na carreira do “guia” desta película, o Emicida. O Brasil colônia, o local onde houve o maior contingente negros escravizados e sequestrados das várias áfricas. Uma nação que usou a mão de obra negra para se construir ao longo da história, são mais de cinco séculos onde eles foram “jogados para debaixo do tapete”, a voz negra, as vivências e a cultura gradualmente foi se perdendo para uma nova identidade forjada nas fazendas de cana-de-açúcar e cafeeiras, além das minas para a exploração de metais e pedras preciosas. Não podendo ser um representante de si mesmo, esses povos são transmutados pelo meio, figurados como escravos, tiveram seus cabelos cortados, e cada objeto de identificação com “o velho mundo” nativo foi expurgado. Os negros sempre estiveram presentes nessa narrativa, desde a sua vinda, sendo eles os responsáveis por edificar as mais belas cidades de diversos estados e cidades, o Teatro Municipal de São Paulo é um exemplo dos feitos dessas pessoas. Todo o jugo colocado sobre a negritude criou raízes responsáveis por trazer uma visão pejorativa não somente por parte da sociedade branca, mas a própria sociedade negra fica com esses resquícios. O samba foi a primeira manifestação dos negros no cenário da música, antes de ser popularizada por Vargas, esse estilo musical era a voz dos negros que moraram nas favelas, fruto da expulsão e marginalização das comunidades recém- livres. Posteriormente o Rap E Hip Hop passam a ocupar esse papel principalmente na juventude. As letras dessas canções sempre eram carregadas de críticas sociais, essa era a oportunidade deles poderem falar o que estava tanto tempo engasgado. E para alguns também significou a possibilidade de ascensão social. A linha da história é revisitada, dando os devidos créditos aqueles sendo importantes para a negritude e relembrando momentos icônicos para as pessoas que estiveram naquele período, sendo vitais para a composição de uma identidade positiva para a população negra. Os pontos a se destacar nesta obra são vários, desde a escolha do local, um renomado lugar frequentado pela elite, esta ação por si só revela muito sobre o papel e objetivo que o apresentador quer trazer para essas pessoas, pois não tiveram a possibilidade e condições financeiras para adentrar naquele ambiente tão luxuoso. Esse documentário é divido em uma introdução/recapitulação da história dos negros no Brasil, e mais três atos que utilizam a simbologia de uma horta, essas fases são plantar, regar e finalmente colher. E utilizando a sua vivência como “elo” de ligação entre várias etapas da sua vida pessoal e carreira. Os seus heróis e heroínas regressam no tempo para “falar” mais uma vez sobre os direitos que lhes foi negado, e principalmente as lutas travadas para alcançar esses resultados. O primeiro ato trouxe uma esperança para a história, e a apresenta categoricamente, o segundo foca em sua manutenção/ampliação é o “famoso” regar, e finalmente a colheita chega, sempre os frutos das sementes lançadas no passado, muitas encontraram terrenos difíceis de germinar, foram consumidos, mas houve alguns que foram suficiente para preparar o caminho às gerações vindouras, usufruindo os que lhes foi deixado. Uma crítica a que possa receber seja devido à profundidade da sua proposta em apresentar “tanta coisa” de uma vez só, provavelmente caberia facilmente uma segunda parte para esse filme documental. Todavia ele é muito assertivo em seu roteiro e intenção. Sem dúvida alguma, esse material deferia ser consumido por toda a comunidade, não somente para os negros, mas para todo os que convivem em um ambiente tão denso quanto o Brasil, e experimentou tantas facetas em pouco mais de quinhentos anos de história. Interpretar a mensagem intrínseca presente em “AmarElo” é necessário refletir sobre seu propósito, não é apenas um filme contando a história de dor e sofrimento enfrentada pelas diversas gerações de negros e os efeitos nos dias atuais, pensar sobre essa temática é buscar algo a mais. Uma percepção básica sobre o conceito do documentário pode ser refletido em seu nome, então passemos a nos atentar para essas duas palavras; Amar e Elo, segundo o Emicida é através do amor, esse conceito tão robusto e imponente é possível encontrar o “divisor de águas” não se contentando somente ao amor romântico e bonito dos filmes, mas, um que seja real, visceral e “cru”, ele vai ser o ligamento, vai ser a cartilagem possibilitadora do movimento, não é somente indignação e revolta para com os seus opressores, é se sentir participante dessa volta às raízes cortadas. O “Elo” não diz respeito somente a diversidade de pessoas e identidades de gênero, como se dissesse “ame a todos” e sim que esse elo eram as antigas correntes colocadas nos seus antepassados que os unia para o sofrimento, entretanto, esse elo também forma uma corrente, “uma do tipo humana”, com braços entrelaçados, reunindo-os não mais para o sufrágio, mas para a dignidade necessária que lhes foram tiradas. Essas pautas não são desejáveis para o debate no futuro, esses diálogos, letras, rimas e canções são todos antigos, remanescentes de uma mentalidade desumana, dentre as várias frases ditas pelo Emicida que valem ser destacadas como a “Que maravilhas é poder dar flores para aqueles que ainda podem sentir o seu cheiro”. Mas sem dúvida, após fazer uma reflexão sobre o início da Covid-19 no Brasil, e sem imaginar o que estava por vim, quando se é questionado sobre quando é necessário aprender sobre esses conceitos e conteúdos, o subtítulo da obra responde com certa maestria essa indagação, “É tudo pra ontem”. REFERÊNCIAS
AMARELO - É Tudo Pra Ontem. Direção: Fred Ouro Preto. [S. l.]: Netflix, 2020. Disponível em: <https://www.netflix.com/br/title/81306298.> Acesso em: 1 set. 2021. (89 minutos)