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John Blacking – Música, cultura e experiência (metodologia; bom para introdução e cap 2)

O discurso musical é essencialmente não-verbal, embora obviamente as palavras in- fluenciem


suas estruturas em vários casos, e, ao analisar linguagens não-verbais através da linguagem verbal,
corre-se o risco de distorcer a evidência. Portanto a “música” é, estritamente falando, uma
verdade indecifrável e o discurso sobre ela pertence ao domínio da metafísica. pg. 3

Todavia, não precisamos nos preocupar demais por usar uma linguagem para descrever outra e
tampouco precisamos nos desesperar em veri- ficar verdades musicais, contanto que reconhe-
çamos ser a linguagem verbal aproximativa e a objetividade impossível, pois construída
subjetivamente no interior do modelo de investiga- ção. pg. 3

Ou seja, já que essa verdade indecifrável só pode ser abordada de maneira indireta ou oblíqua, o
conteúdo verbal subjetivo levado em conta pelos indivíduos possui um status especial como dado
na procura por continuidades e descontinuidades, homologias e contradições nas maneiras pelas
quais as pessoas falam sobre o que acreditam ser “música”. pg. 3

um sistema musical deve ser compreendido como um dos diferentes quadros de símbolos pelos
quais as pessoas aprendem a produzir um sentido pú- blico de seus sentimentos e da vida social.
Pg. 5

devemos procurar a evidência que mostre como o uso dos símbolos musicais ajuda a fazer, assim
como refletir padrões da sociedade e da cultura. pg. 8

Heidegger – construir, habitar, pensar

Hábitos, habitar e construir (identidades) “todo construir é em si mesmo um habitar” p. 3

de-morar-se sobre a terra. “Habitar, ser trazido à paz de um abrigo, diz: permanecer pacificado na
liberdade de um pertencimento, resguardar cada coisa em sua essência. O traço fundamental do
habitar é esse resguardo. O resguardo perpassa o habitar em toda a sua amplitude. Mostra-se tão
logo nos dispomos a pensar que ser homem consiste em habitar e, isso, no sentido de um de-morar-
se dos mortais sobre essa terra”. p. 3

Configura e refiguração do espaço. “Construir é produzir espaços. (...). O construir, porém, nunca
configura "o" espaço”.

Hermenêutica do lugar “salvar a terra, acolher o céu, aguardar os divinos, acompanhar os mortais,
esse resguardo de quatro faces é a essência simples do habitar” pg. 9

Verdade Tropical – Caetano, 1997

*O tropicalismo “Era também uma tentativa de encarar a coincidência (mera?), nesse país tropical,
da onda da contracultura com a voga dos regimes autoritários”. pg. 9

Essa coisa que não dá mais pé (o que explica também o atual prestígio da mpb – festa ´odara): “No
entanto, não apenas a pobreza vista sempre tão de perto me levava a querer pôr o mundo em
questão: os valores e hábitos consagrados estavam longe de me parecer aceitáveis, Era impensável,
por exemplo, ter sexo com as meninas que respeitávamos e de quem gostávamos; as moças pretas
de famílias que beiravam a classe média tinham que ter seus cabelos espichados para que pudessem
se sentir apresentáveis; as mulheres e moças "direitas" não deviam fumar; um cara com ar de
cafajeste que comia os garotos (mas repetia-se sempre no ginásio que "quem começa comendo
acaba dando" e esse mesmo cara já era tido como numa espécie de "fase de transição") encontrava
um ambiente de cumplicidade masculina no botequim onde se insultavam os veados (ou quem quer
que ao grupo de freqüentadores parecesse levemente efeminado); os homens casados eram
encorajados a manter ao menos uma amante, enquanto as mulheres (amantes ou esposas) tinham
que ostentar uma fidelidade inabalável etc. etc. Claro que os princípios que estavam por trás desses
hábitos não eram uma exclusividade de Santo Amaro, nem mesmo das pequenas cidades do interior:
nos anos 50, com as variações de região, classe e cultura, acontecia mais ou menos o mesmo em
toda parte”. pg. 14

*o dilema do rock “um jovem brasileiro talentoso que amasse o rock e quisesse desenvolver um
estilo próprio dentro do gênero, nos fins dos anos 50, enfrentava não apenas a ultramelódica
tradição musical brasileira de base luso-africana e veleidades italianas - e a atmosfera católica da
nossa imaginação -, mas também a dificuldade de decidir-se por se afirmar socialmente como um
pária ou como um privilegiado”. pg. 27

*Erasmo roqueiro. “tanto o despojamento do seu canto quanto a energia sexual de sua presença
cênica (alto, pesado, firme, com o ar antiintelectual e anti-sentimental de quem vive os temas
essenciais da vida com o corpo todo, nessa combinação de homem pós-industrial e pré-histórico
para a qual o rock apontou com tanta insistência em toda parte do mundo) fizeram dele para sempre
uma figura de tão imponente inteireza que nem as oscilações do mercado, nem as eventuais
ingratidões de novos roqueiros, nem o desprestígio do rock como acontecimento cultural de
interesse podem abalar”. pg. 28

*Coisas respeitáveis. “o tropicalismo tinha trazido o rock'n'roll para o convívio das coisas
respeitáveis” pg. 30

*Raul baiano. “ele parecia fazer questão de exagerar nas marcas de baianidade: os ós e és breves
espalhafatosamente abertos, a música da frase quase caricaturalmente regional, a gíria antiquada da
Salvador de nossa adolescência. Essa combinação nós reconhecíamos no seu trabalho: em seus
discos e em suas apresentações ao vivo, tudo o que não era americano era baiano”. pg. 31

*Gesto da contracultura. “tínhamos, por assim dizer, assumido o horror da ditadura como um gesto
nosso, um gesto revelador do país, que nós, agora tomados como agentes semiconscientes,
deveríamos transformar em suprema violência regeneradora. Uma violência desagregadora que não
apenas encontrava no ambiente contracultural do rock'n'roll armas para se efetivar, mas também
reconhecia nesse ambiente motivações básicas semelhantes”. pg. 32

Ligação com o cinema. “ As sessões ali consistiam sobretudo em grandes filmes mudos (Greed, La
petite marchande d'allumettes, Metropolis, A nous la liberte, Outubro, etc.), ou velhos filmes falados
que já não se veriam nos cinemas normais (Cidadão Kane, M, Monsieur Verdoux etc,), ou ainda
filmes que tinham sido vistos não fazia muito tempo (Nazarin ou On the waterfont) mas que
reapareciam ali comentados pelo próprio Walrer da Silveira ou por um seu convidado”. pg. 38

Bossa, junto do cinema e do teatro, vai se tornando mpb. “Havia já algum tempo que Nara vinha
tentando ultrapassar o horizonte temático da bossa nova e fazer a música entrar na discussão dos
problemas sociais e políticos que o novo teatro brasileiro e o Cinema Novo abordavam com
freqüência e paixão” pg. 50
e

Show do teatro Opinião. “O próprio espetáculo Opinião fora inspirado em seu gesto de voltar a
atenção para o samba de morro e a musica do sertão nordestino - e para as novas canções de cunho
social que ela, mais do que ninguém, instigava os compositores a fazer”. pg. 50

A esquerda nacional, mais uma vez, acerta no alvo mas erra no diagnóstico. “ o nacionalismo dos
intelectuais de esquerda, sendo uma mera reação ao imperialismo norte-americano, pouco ou nada
tinha a ver com gostar das coisas do Brasil ou - o que mais me interessava - com propor, a partir do
nosso jeito próprio, soluções originais para os problemas do homem e do mundo” pg. 58

Cinema e mpb. “ Terra em transe me dera tudo, num certo sentido, mas o que queríamos fazer
estaria muito mais próximo, se nos fosse possível, dos filmes de Godard. Viver a vida, Pierrot le
Fou e Uma mulher é uma mulher são as obras fundamentais da fermentação inicial do tropicalismo”
pg. 73

*fino da bossa. “Esse programa era o maior sucesso da televisão brasileira e nascera da sagacidade
empresarial dos donos da TV Record de São Paulo, Paulo Machado de Carvalho e seus filhos, em
perceber o apelo de público - o potencial de audiência e prestigio - que a música popular
representava no Brasil” pg. 80

marketing. “Guilherme [o produtor] achava Maria da Graça inviável como nome de cantora. Ele
concordava que era belo e nobre, mas sugeria uma antiga intérprete de fados portugueses, não
poderia servir para uma cantora moderna (…) Ele gostava de Gau. [Mas] Gau, escrito assim, com
u, parecia-lhe pesado e pouco feminino. (…) Como em quase todo o Brasil Gal e Gau têm
pronúncia idêntica, achamos praticamente indiferente que a grafia fosse a escolhida por ele (que se
referia a uma cantora francesa chamada Francis Gal como exemplo). Restava a questão do
sobrenome. Gal Penna? Gal Burgos? Guilherme, não sem razão, preferiu Gal Costa. Este era mais
eufônico do que os outros dois. (…) a própria Gal, de quem afinal devia ser a última palavra,
aceitou o nome e ele funcionou muito bem com a imagem pop que se criou para ela”. pg. 85

*a reunião da cúpula da mpb. “Elis, que tinha ido passar férias na Europa, assustara-se, ao voltar,
com a queda de popularidade de seu programa em horário nobre e a ascensão do competidor das
tardes de domingo. Paulinho Machado de Carvalho, dono e diretor-geral da emissora, convocou
uma reunião com todos os mais importantes representantes da ala MPB para encontrar uma solução
em conjunto. Além de Elis, foram chamados Wilson Simonal, Nara Leão, Jair Rodrigues, Geraldo
Vandré e Gil.

(…)

Elis, acompanhada de seu marido Ronaldo Bôscoli, o grande letrista e agitador da bossa nova, já
então produtor de TV, era, naturalmente, o centro das atenções. Todos falaram com entusiasmo
sobre a necessidade de defender nossas características culturais. Geraldo Vandré chegou a ficar com
os olhos cheios d'água, tomado pela própria eloqüência. Gil corroborou as heróicas intenções,
somando a elas alguma reflexão sobre os novos meios de comunicação de massa, restos quase
irreconhecíveis dos seus discursos na casa de Sérgio Ricardo. Paulinho Machado de Carvalho,
depois de ouvir todos, concordar com as indignações e alistar-se no exército de salvação da
identidade nacional, propôs que, em vez de se tentar revitalizar o Fino da Bossa, se criasse um novo
programa, desta vez democratizando as lideranças, distribuindo entre as estrelas crescentes as
responsabilidades. Quatro núcleos se criaram: um de Elis, um de Simonal, um de Vandré e um de
Gil. Cada um deles apresentaria um programa por mês, no horário e dia do Fino, um para cada
semana. O nome geral desse programa, inspirado numa tentativa política de velhos lideres civis
(muitos deles antigos inimigos de retomar o poder das mãos dos militares, seria Frente Ampla da
Música Popular Brasileira”. pg. 107

a fatídica passeata. “O programa, não obstante, foi ao ar. Na noite do primeiro, creio que a cargo
de Simonal, preparou-se uma passeata, em mais uma macaqueação da militância política. Era a
Frente Ampla da MPB Contra o iê-iê-iê, com faixas e cartazes pelas ruas de São Paulo.

Que Gil aproveitasse a oportunidade para lançar as bases da grande virada que tramávamos. Mas
nunca considerei aceitável que ele participasse, ao lado de Elis, Simonal, Jair Rodrigues, Geraldo
Vandré e outros (dizem que Chico chegou a se aproximar por alguns minutos dessa ridícula e
perigosa jogada de marketing)”. pg. 109

hegemonia da esquerda. “ As pretensões de uma arte política, esboçadas em 63 pelos Centros


Populares de Cultura da UNE, difundiram-se por toda a produção artística convencional e, apesar da
repressão nas universidades e da censura na imprensa, o mundo dos espetáculos viu-se sob a
hegemonia da esquerda” pg. 121

*“para a cultura brasileira”. “Num ambiente estudantil altamente politizado, a música popular
funcionava como arena de decisões importantes para a cultura brasileira e para a própria soberania
nacional - e a imprensa cobria condizentemente”. 121

Confessa ilusão. “ Mas em todos os níveis tinha-se a ilusão, mais ou menos consciente, de que ali se
decidiam os problemas de afirmação nacional, de justiça social e de avanço na modernização. As
questões de mercado, muitas vezes as únicas decisivas, não pareciam igualmente nobres para entrar
nas discussões acaloradas”. 121

Arrojo harmônico; o valor do instrumental na mpb. “ Claro que as meninas gritavam lindo! quando
Chico entrava no palco (e, embora com muito menor razão, passaram a gritar também para mim),
mas as conversas e as hostilidades entre os grupos eram motivadas pela posição política de um
autor, por sua fidelidade às características nacionais, por seu arrojo harmônico ou rítmico”. 121

as tolices e o lado bom. “ Com todas as tolices que esse quadro comportava, vivia-se um período
excepcionalmente estimulante para os compositores, cantores e músicos. E um ponto central era
genuíno: o reconhecimento da força da música popular entre nós. Tudo era exacerbado pela
instintiva repulsa à ditadura militar, o que unia uma aparente totalidade da classe artística em torno
do objetivo comum de lhe fazer oposição”. 121

*mtv dos anos 60. “A TV Record tinha se especializado em música como nenhuma emissora de TV
em qualquer lugar do mundo jamais o fez, que eu saiba, até o advento da MTV. Eram programas de
auditório com audiências mais ou menos segmentadas. Com o Fino da Bossa se iniciara a onda. O
jovem Guarda, correndo em outra faixa, crescia sem parecer, a princípio, ser uma verdadeira
ameaça. O sucesso de "A banda" justificou o lançamento de um programa com Chico e Nara, uma
espécie de réplica cool ao par Elis Regina-Jair Rodrigues do Fino”. Pg. 122

Conservadorismo modernista: “Stravinski e Schönberg parecem empenhados em que ouçamos Bach


com melhores ouvidos e não em que deixemos de ouvir Bach para passar a ouvi-los apenas a eles.
Se arriscarmos olhar bem fundo, talvez cheguemos à conclusão de que os modernismos
representaram antes uma luta contra a iminente obsolescência de um passado belo em vias de
banalizar-se; de que nunca, como no modernismo, a arte foi tão profundamente conservadora”. pg.
159
CHICO BUARQUE, NO PASQUIM (1970) “Foi uma coisa de um mês, dois meses que eu
não os vi e que de repente apareceu todo esse movimento de tropicalismo que me
assustou um pouco, porque veio um pouco em cima de mim, a imprensa toda me pegou
pra bode expiatório. É claro que a música tem que evoluir, eu sou a favor de tudo que é
evolução. Se eles tivessem me avisado antes: olha, o negócio é esse, talvez eu tivesse
dito: é verdade. Inclusive eu dou razão. Eu gosto de muita coisa do tropicalismo, eu posso
gostar mais de uma coisa, menos de outra”.

“quando começou o movimento me pegaram muito pra pele, não eles, mas o movimento.
Saía entrevista dizendo isso tudo e aquilo, depois desmentiam, aí eu me cansei muito
dessa discussão de querer saber se o Caetano e Gil gostam de mim ou não gostam de
mim. Só isso: me cansei dessa discussão. Eu já sofri com isso dois anos atrás. Eu estou
aberto a tudo que é experiência e sempre estive. Quando houve o movimento ridículo
contra a guitarra elétrica, porque ela estava ameaçando o samba, e tal, fizeram uma
passeata e ficaram zangados comigo porque eu não levei a sério o negócio. Naquela
época o Gil era desse movimento de samba puro, sem guitarra, brigava muito com
Roberto Carlos. Eu nunca levei a sério esse negócio. Eu não sou contra a guitarra elétrica
só que eu até agora sempre usei violão e gosto de violão, e acabou. O que não pode é
essa radicalização que aconteceu antes em meu favor, contra a minha vontade. Tinha
uma época que era: o Chico Buarque é que faz a música séria porque faz samba puro.
Depois houve a radicalização contra, né?”

Caetano vs Chico. “A imprensa naturalmente preferia acompanhar as manifestações mais infelizes,


que dessem uma impressão de disputa mesquinha - no que não estava necessariamente errada, pois
o jornalista não deve mesmo estar disposto a crer na complexidade das boas intenções das
celebridades que ele ajuda a criar (...) A imprensa e a "opinião pública", porém, preferiam crer numa
disputa caricatural”. 163

Belo exemplo de influência da materialidade do suporte (no caso, o microfone). Copiar: “Nos anos
40, Dick Farney e Lúcio Alves, homens muito mais ricos e mais cultos do que Orlando, adaptaram
conscientemente procedimentos de Bing Crosby (e, a essa altura, de Sinatra) à canção brasileira.
Mas há mais Bing Crosby em Orlando Silva (que possivelmente ouviu o cantor americano, mas na
certa muito pouco e sem poder tomar intimidade com seu trabalho) do que nesses importadores
ostensivos. Ou seja, há mais saber cantar moderno, mais naturalidade, mais sutileza, mais balanço,
mais urbanidade, mais entendimento do microfone e do mundo que o produziu. Mas ele não é, em
nenhuma medida, um epígono de Bing Crosby - e sua compreensão da modernidade instaura uma
liberdade inventiva que transcende todas as questões de dependência cultural. Foi essa chama viva
que o gênio de João retomou, e é no sentido profundo desse gesto que se deve entender o
acontecimento da bossa nova - e suas relações com a antropofagia”. pg. 185

Outra bela descrição. Copiar, aplicando a Milton: “Janis Joplin era a branca negra, a garota da nossa
geração que sintetizava os Estados Unidos da liberdade, da aventura e da rebeldia. Os Estados
Unidos da América fatalmente mestiça, fatalmente comprometida, em todas as suas prospecções,
com os não-brancos que a colonização dizimou ou escravizou. Ela era também um exemplo
entusiasmante de como uma sociedade abundante como a norteamericana, com seu altíssimo grau
de competitividade, pode produzir artistas em que a aspereza do inculto é atingida com
cultivadíssima precisão. Passamos a assistir ao espetáculo das lâmpadas coloridas em volta da
boneca de fibra de vidro segundo os sons da gravação de "Summertime" na voz de Janis. A
inconsistência musical do Big Brother and the Holding Company mais realçava do que atrapalhava
a beleza do canto dessa menina que surgia como uma figura nuclear no novo mundo dos
universitários californianos, dos radicalismos dos panteras negras, da oposição à guerra do Vietnã e
do show business recémtranstornado pelo neo-rock'n'roll”. pg. 188
*“radicalismo” da tropicália. Pensar a relação do Clube da Esquina com esses mesmos atores.
“Reconhecíamos a alegria necessária que há em alguém achar-se participando de uma comunidade
cultural urbana individualista universalizante e internacional. Os pruridos nacionalistas nos
pareciam tristes anacronismos. Ao mesmo tempo, sabíamos que queríamos participar da linguagem
mundial para nos fortalecermos como povo e afirmarmos nossa originalidade”. pg. 204

poética mineira. “"Miserere nobis", em cuja letra reconheço o embrião da poética mineira dos anos
70: as referências católicas, as imagens nobres envolvendo um compromisso político mais
pressuposto do que explicitado, a dicção solene”. 206.

Caetano, sobre o momento do golpe: “As ruas silenciosas, os tanques, tudo me dava a impressão de
um pesadelo. Eu sentia medo e ódio daquela presença do exército nas ruas, com suas cores
encardidas e seu ar anônimo. Infantilmente, apenas desejei que aquilo passasse depressa”. pg. 216

resistência da esquerda “festiva”. “Entre 64 e 68 o movimento cultural brasileiro não apenas


intensificou-se: ele tomou uma feição ainda mais marcadamente esquerdista por unir autores, atores,
cantores, diretores, peças, filmes e público numa espécie de resistência do espírito contra a ditadura
(…) vi-me em meio a uma perene exigência de caracterização política das criações artísticas e dos
atos individuais.”. pg. 219

*recorrência das grades: “O programa Divino, Maravilhoso estreara com um sucesso de estima
muito grande, mas não sei qual foi a audiência em números. Fizemos um atrás de grades e dentro de
gaiolas (o proscênio era tomado por uma grade de madeira imitando ferro; outras jaulas menores,
dentro da grande jaula que era o palco, guardavam os Mutantes, Gal, Tom Zé etc.; Jorge Ben
cantava dentro de uma jaula que pendia do teto): no final, eu vinha do fundo do palco berrando o
sucesso de Roberto Carlos "Um leão está solto nas ruas" e quebrava as grades, convidando todo o
elenco de participantes a colaborar comigo nessa destruição”. pg. 239

a fase dura da ditadura militar coincide, no Brasil, com o auge da maré da contracultura. (caetano,
253).

contracultura e exoterismo: “Era uma época em que se alimentavam alucinações, fantasias de outras
dimensões, misticismos vários. Gil estava interessado em religiões orientais e ouvia com interesse
histórias sobre discos voadores. Além das drogas e da política, os assuntos ocultos e esotéricos
atraíam quase todos os nossos conhecidos”. pg. 287

*incluir a discussão sobre o lugar periférico do brasil no mundo (tomada por pressuposto, por
ex., pelo tropicalismo e o cinema novo).

Averiguar se havia gravação em mais de dois canais no Brasil antes de 72 (caetano, ao menos,
gravou em 4 e 8 canais em 1971). mais: só um estúdio gravava em 8 canais no Brasil em 1972.

Caetano, sobre Milton: “havia no culto ao estilo de Milton, na própria admiração pelo seu trabalho,
uma valorização mórbida dessa tristeza” pg. 338.

*o brasil “se nos mostra como uma eterna indefinição entre ser o aliado natural dos Estados Unidos
em sua estratégia internacional e ser o esboço de uma nova civilização”. 345

*ao quê o tropicalismo e Clube da Esquina vão contra: “O século XX foi chamado de "o século
americano". Hobsbawm - que o caracterizou como "breve" - afirmou que, em matéria de cultura
popular, pudemos ser, no denso espaço dessa brevidade, "ou americanos ou provincianos".” pg. 346

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