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FONTES CONSULTADAS:
FREYRE, Gilberto. Assombrações do Recife velho: algumas notas históricas e outras tantas folclóricas em
torno do sobrenatural no passado recifense. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1970.
HOUAISS, Antônio (Dir.). Pequeno dicionário enciclopédico Koogan Larousse. Rio de Janeiro: Larousse
do Brasil, 1979.
RECIFE assombrado. Disponível em: <www.o recifeassombrado.com.br>. Acesso em: 5 dez. 2005.
Fonte: ANDRADE, Maria do Carmo. Assombrações. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim
Nabuco, Recife. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br>. Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.
GILBERTO FREYRE
Lúcia Gaspar
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
pesquisaescolar@fundaj.gov.br
FONTES CONSULTADAS:
FONSECA, Edson Nery da. Cronologia da vida e da obra com índice onomástico, temático e biblionímico.
Ciência & Trópico, Recife, v. 15, n. 2, p. 233-286, 1987.
Fonte: GASPAR, Lúcia. Gilberto Freyre. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife.
Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br>. Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.
CRUZ DO PATRÃO
Lúcia Gaspar
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
pesquisaescolar@fundaj.gov.br
As pessoas que iam do Recife à Olinda à noite, evitavam passar por perto
da Cruz do Patrão, pois havia uma crença que se o fizessem, ouviriam gemidos
angustiantes, veriam almas penadas ou seriam perseguidos por espíritos
maléficos.
FONTES CONSULTADAS:
A CRUZ do Patrão. Suplemento Cultural D. O. PE, Recife, ano 16, p. 10, abr. 2002.
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições
históricas do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977. p. 36-37.
Fonte: GASPAR, Lúcia. Cruz do Patrão. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife.
Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br>. Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.
FORTE DO BRUM
FONTE CONSULTADA:
ALBUQUERQUE, Marcos. Museu Militar do Forte do Brum. Recife: D. Arte Publicidade, [s.d.].
ROCHA, Leduar de Assis. Forte do Brum: patrimônio histórico nacional. Recife: [s.n., s.d].
13 de outubro de 2006
Envie para:
Thiago Neves
Nos casarões e sobrados do Recife Antigo e Olinda, bem como nos bairros mais tradicionais, a
exemplo de Casa Forte e o Poço da Panela, ecoam histórias horripilantes que fazem parte do
imaginário popular há séculos. Alguns moradores mais antigos garantem que lendas como A
Perna Cabeluda, o Papa-Figo e o Boca-de-Ouro, narradas no livro de Freyre, são verdadeiras.
No istmo que ligava o Recife à Olinda, há uma cruz de pedra, erguida não se sabe exatamente
quando, conhecida como a Cruz do Patrão. Sabe-se que negros pagãos eram enterrados perto
dali e as penas de fuzilamento, impostas aos militares, eram executadas no local. Durante
anos, pescadores evitaram passar por lá. Eles acreditavam que era possível ouvir gemidos à
noite. Almas penadas perseguiriam quem ousasse passar por aquele lugar.
Nem a sede do governo de Pernambuco escapa das assombrações. Segundo Gilberto Freyre,
o Palácio do Campo das Princesas, erguido em 1841, abriga um vulto "escuro e alto", que
costuma aparecer no salão nobre. As aparições do espectro estão sempre relacionadas ao
prenúncio de alguma desgraça. Na revolução de 30, por exemplo, quando o Recife foi palco de
uma sangrenta batalha que deixou o palácio parcialmente destruído, um dos funcionários
confidenciou a Freyre que o vulto visitava o prédio com freqüência. "Apareceu antes do
cozinheiro espalhar veneno na fritada, e há meses vinha aparecendo como se quisesse dizer
alguma coisa de muito importante", sugere o livro.
Foto:
A leitora Elisângela Dias me mandou um caso intrigante que se passou uma das
muitas estradas sinistras que existem no Nordeste...
Um amigo contou uma história que me deixou muito arrepiada. Meu amigo chama-se
Aaron ele morou por alguns anos no Ceará, mas precisamente na Cidade de Milagres,
onde ocorreu essa história. Ele me contou que estava uma noite em um posto de
gasolina com o padrasto dele, quando presenciou um acontecimento medonho.
Dizem que próximo a esse posto existe uma curva muito perigosa, chamada de “Curva
da Malhada”, lugar onde aconteciam muitos acidentes. Aaron me falou que perto do
local existem muitos crucifixos, mostrando onde os caminhoneiros apressados ou
desavisados cumpriam seu destino. Foi lá que aconteceu o que vou relatar agora.
Como disse, meu amigo estava com o padrasto no posto quando chegou um
caminhoneiro desesperado. Aaron me disse que nunca tinha visto um homem em tal
estado, muito tão nervoso e trêmulo, tanto que as pessoas que estavam no posto tiveram
que segurar o copo com água e açúcar que deram ao pobre homem, pois ele não tinha a
mínima condição de segurá-lo.
Quando se acalmou, o homem contou que tinha passado por uma experiência horrível.
Ele vinha nas imediações da curva, quando viu uma moça na estrada pedindo carona,
coisa que não era muito rara naquele local, já que passavam muitas pessoas por lá. O
motorista só estranhou o fato de ser uma mulher, mas parou e deu carona a ela.
E desapareceu!
Ninguém sabe como o motorista conseguiu chegar até o posto de gasolina onde se
reuniam os caminhoneiros. Acho que daquele dia em diante, ele passou a tomar mais
cuidado ao passar pela tal curva...
Já Rodolfo Lira registrou para gente uma lenda muito conhecida nas
nossas estradas:
Numa noite escura e chuvosa, um patrulheiro estava de plantão num posto de uma das
rodovias brasileiras (as chamadas BRs) a fim de parar os carros e fazer as abordagens
comuns à profissão de Policial Rodoviário. Ao avistar os faróis de um carro, fez sinal
com sua lanterna vermelha, indicando o acostamento, para que o automóvel parasse,
entretanto os jovens ocupantes - aparentemente bêbados - com o som ligado num alto
volume, ignoraram completamente a ordem do patrulheiro e seguiram em frente. Ele,
então, subiu em sua moto e iniciou uma perseguição àquele veículo, sendo seguido por
mais dois colegas em uma viatura para dar-lhe apoio.
Depois de alguns minutos tentando alcançar o carro, ao entrar numa curva muita
fechada, reconhecidamente perigosa - e ainda mais devido à chuva que deixou a pista
muito escorregadia -, a moto do patrulheiro derrapou e ele, diante dos olhos dos seus
companheiros, caiu. Seu corpo chocou-se com o chão, com tamanha velocidade e força,
que o seu capacete se desprendeu, fazendo com que sua cabeça batesse violentamente
contra o asfalto, por vários metros, deixando-o completamente desfigurado e bastante
ferido.
Encanta-Moça
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Cruz do Patrão
Sem dúvida, o lugar mais assombrado do Recife chama-se Cruz do Patrão. Fica onde antes
existia um istmo que ligava o Recife a Olinda, às margens do Rio Beberibe. É uma coluna de
alvenaria, erigida não se sabe precisamente quando, entre as fortalezas do Brum e do
Buraco. Servia de baliza para os barcos que chegavam para atracar. E tornou-se ponto de
encontro com almas penadas...
Pode ter sido construída a mando do patrão-mor do porto, cargo que já existia em 1654.
Sabe-se que, além de marco de navegação, a Cruz tinha outras funções. Lá eram enterrados
os negros pagãos mortos durante as viagens nos navios vindos da África. A areia da maré
facilitava esses sepultamentos improvisados. Ficou célebre relato da inglesa Maria Graham,
que viu pedaços de corpos em volta do marco .
Certamente os espíritos dos escravos arrancados de sua terra natal para perecer na jornada
rumo ao cativeiro ainda vagueiam pela noite, presos pelos grilhões da injustiça. Até o século
XIX, no local também eram fuzilados os militares condenados à pena capital, como o soldado
João Luís dos Santos, do 1º Batalhão de Fuzileiros. Ele sucumbiu diante da saraivada de
balas desferida pelos seus companheiros de farda em quatro de maio de 1850, na presença
de "numerosa porção de povo", como registrou na época o Diário de Pernambuco.
Segundo o escritor Franklin Távora, autor de “O Cabeleira”, acreditava-se que todo aquele
que passasse pelas imediações da Cruz do Patrão à noite veria almas penadas ou seria
perseguido por terríveis espíritos. Muitos dos que o fizeram desapareceram sem deixar
traços. No livro "O Esqueleto", o romancista Carneiro Vilela transformou aquele sítio lúgubre
em cenário para o encontro do personagem Felipe com sua noiva Lívia. O detalhe é que a
reunião romântica se deu depois da morte da moça.
E no local ocorreram fatos trágicos que superam a perversidade concebida pela ficção.
Conta-se de um estudante foi encontrado assassinado junto à Cruz. Culpou-se um soldado,
que foi preso e mandado para Fernando de Noronha. Tempos depois descobriu-se que o
culpado seria outro indivíduo, que cometera o crime animado por um “espírito infernal”. Mas
a revelação chegou tarde: soldado acabou morrendo na prisão da ilha.
Por essas e outras, muita gente preferia o caminho mais longo entre Olinda e Recife,
evitando passar pelo istmo guardado pela a Cruz do Patrão. Isso tornava o lugar um ponto
ideal para reuniões de feiticeiros praticantes das artes mágicas vindas do continente
africano. Os encontros aconteciam principalmente nas noites de São João. Conforme relatos
da época, um desses festejos teve como ápice o aparecimento do próprio Exu , figura com
olhos de fogo e preto feito carvão. O espírito dirigiu suas atenções a uma moça que
participava do culto e a perseguiu até o rio Beberibe, onde ela se atirou.
De acordo com Franklin Távora, o relator desse bizarro episódio, “enganado pela vista dos
mangues, o demônio atirou-se após a fugitiva, julgando entrar em uma floresta. Assim
porém que o corpo ígneo se pôs em contato com as águas frias houve uma súbita explosão
destruiu o furioso animal. O estampido ribombou como descarga elétrica. Nuvem de fumo
espesso, que tresandou a enxofre, cobriu a face do Beberibe. No outro dia, na baixa-mar ,
apareceu no lugar onde a negra tinha afundado, não o seu corpo, mas a coroa preta que
indicou aí por diante aos feiticeiros a vingança do espírito das trevas”.
No século XX, a Cruz ainda fez outras vítimas.Veja, por exemplo esta nota publicada pelo
jornal A Província em 15 de setembro de 1929, sob o título "Na Cruz do Patrão, um marítimo
morreu afogado"
"Na Aldeia do Brum, bairro do Recife, residia Cyriaco de Almeida Catanho, remador da
praticagem da barra. Pela manhã de ontem, cerca de seis horas, aquele marítimo deixou a
sua residência indo banhar-se na Cruz do Patrão, local onde várias pessoas têm morrido
afogadas (grifo nosso). Em certa altura do banho, alguns companheiros de Cyriaco Catanho
que se encontravam nas proximidades da Cruz do Patrão observaram ele pedir socorro. É
que a sua vida perigava. Trataram de dar os socorros solicitados. Infelizmente, porém, estes
não deram o resultado esperado. Cyriaco Catanho havia se submergido. Comunicado o fato à
Polícia Marítima, foram iniciadas as pesquisas para o fim de ser encontrado o cadáver. A
polícia do Primeiro Distrito também tomou conhecimento da ocorrência. O morto era casado
e deixou um filho de dois meses de idade."
A Cruz do Patrão resistiu ao tempo, às investidas da maresia, à falta de cuidado que o
homem tem com suas antigas construções . E, no novo milênio cristão, ela permanece,
impávida, adornado com a sua beleza austera a área do Porto do Recife. Pode ser vista por
quem passa na Ponte do Limoeiro, embora poucos saibam o que ela representa. O
esquecimento a que está submetida seria obra dos espíritos malignos e alma penadas que
habitam o lugar? Ou seria conseqüência do nosso descaso com os monumentos que
preservam muito da história da cidade?
quivo Público
rédio fica na Rua do Imperador, número 371, bairro de Santo Antônio. Foi construído para ser a Casa de Câmera e Cadeia do Re
1731. Lá, ficou preso o Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, executado com um tiro em 13 de janeiro de 1825, depois de se tor
dos líderes da Confederação do Equador, o movimento liberal que lutou contra o imperador Dom Pedro I. Em 1945, o prédio se torn
ede do Arquivo Público Estadual, responsável pela preservação de documentos históricos e periódicos, que hoje podem ser consulta
estudantes e pesquisadores.
s as paredes daquele tradicional edifício não guardam só a memória de Pernambuco. Alí também existem mistérios que estão longe
a explicação. Testemunhas falam de ocorrências insólitas, de encontros com figuras vestindo roupas antigas. E há quem diga qu
írito do mais famoso mártir pernambucano ainda espera por justiça e, por isso, não desistiu de assombrar o velho edifí
eriências sobrenaturais registradas numa reportagem publicada no Diário de Pernambuco em outubro de 1992, escrita pela jornal
dra Correia:
m de milhares de livros, o Arquivo Público Estadual possui curiosas historinhas de espectros. Um pesquisador menos avisado pode,
mplo, dar de cara com Frei Caneca entre as estantes do lugar. O que aconteceu com Marli Rangel, funcionária do Arquivo há 15 ano
li estava na seção de periódicos quando viu um homem de preto, sorrindo para ela. Resolveu descer para saber de quem se tratav
statou que não havia ninguém. “Quase morri do coração”.
mpos depois a bibliotecária viu uma fotografia num livro e reconheceu Frei Caneca na figura “muito simpática” de dias atrás. “Não
nica a ver almas por aqui”.
a versão confirmada pelo sargento Francisco de Assis Ferreira, segurança do arquivo há dois anos. Ele afirma que o lugar tem mu
tasmas: os que abrem as portas, os que quebram copos sem motivos aparentes e antigos prisioneiros.No passado o local foi a cad
lica da cidade.
a noite, o sargento Assis lembra, foi até o banheiro do Arquivo buscar um balde d’água, quando enxergou um vulto. Ao se aproxim
cebeu que se tratava de um negro acorrentado. “Na hora notei que não era desse mundo”. Até hoje o segurança não se refez
to. “Fico apavorado quando lembro”.
Hospital Pedro II
Quem passa pela rua dos Coelhos - no bairro de mesmo nome - e vê aquele prédio velho e
imponente, nem pode imaginar as histórias envolvendo as assombrações que lá moram. O
Hospital Pedro II foi fundado em 1861. Atualmente não funciona mais como unidade
hospitalar. Apenas abriga órgãos administrativos da Secretaria Estadual de Saúde. Mas,
durante décadas, serviu como hospital das clínicas, onde jovens médicos residentes se
dedicaram a aprender o ofício curar pessoas. E foram estes iniciantes que mais
testemunharam aparições e fenômenos sobrenaturais no local. Os longos e escuros
corredores eram passagem obrigatória para se chegar à emergência. À noite, estranhos
barulhos eram ouvidos, sem que se identificasse o que os estava provocando.
Um dos mais intrigantes casos envolveu justamente três jovens recém-formados que faziam
residência naquele hospital. Numa noite alta, os três residentes estavam de plantão, quando
foram chamados à emergência, pois uma senhora lá estava a ponto de morrer. Um deles foi
na frente, enquanto os outros dois foram buscar as caixas com instrumentos de primeiros
socorros. E no longo corredor, viram quando seu colega esbarrou violentamente em uma
senhora que vinha em sentido contrário e caiu ao chão. Acharam extremamente deselegante
da parte do amigo o fato de que o mesmo nem sequer pediu desculpas à pobre senhora. Ao
comentarem o fato com o rapaz, ouviram o comentário surpreso: "Senhora? Que senhora?
Eu tropecei e caí sozinho, não esbarrei em nenhuma senhora!".
Havia já alguns tipos conhecidos. Uma mulher de branco, um velho acompanhado de uma
criança, um rapaz risonho e vários outros "moradores" das dependências do hospital. Mas
nenhum outro fantasma causava mais medo do que uma misteriosa freira. Conta-se que
sempre que a religiosa do além aparecia, algum paciente morria na mesma noite. Ela viria
para visitar, dar um alento, ou mesmo para preparar a passagem do doente desta para
melhor.
Hoje em dia já não são vistas tantas assombrações no prédio antigo, mas o hospital ainda
guarda aquela mesma aura macabra que sempre o caracterizou. Os funcionários
administrativos que lá trabalham ainda ouvem sons estranhos, ruídos, passos, risadas. Por
via das dúvidas, o expediente só vai até as 6 da tarde. Ninguém se aventura a ficar dentro
do edifício até altas horas da noite. O plantão noturno é feito só pelas almas penadas.
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Garagem da CTU
Até a década de 90, funcionava neste prédio, no bairro de Santo Amaro, a garagem da
Companhia de Transportes Urbanos do Recife (CTU), empresa municipal reponsável pelos
ônibus elétricos que circulavam na cidade. Os motoristas e cobradores que chegavam com os
coletivos ao galpão depois da meia-noite muita vezes foram supreendidos pela seguinte
figura: uma belíssima loura que os convidavam para um "passeio".
Os experientes fugiam assustados diante da proposta tentadora. Os novatos sempre
aceitavam o convite e se davam mal: eram levados para o Cemitério de Santo Amaro - que
fica vizinho à garagem - onde a mulher os mostrava o túmulo onde "residia" e depois
desaparecia no ar, como se fosse fumaça.
A CTU foi privatizada, os ônibus elétricos foram aposentados e a garagem, desativada. Mas,
segundo testemunhas, a loura não desiste. Ainda pode ser vista caminhando nas redondezas
do cemitério, à procura de algum desavisado que ela possa chamar para dar uma "voltinha".
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Afogados
O bairro é um dos mais tradicionais do Recife. Lugar de intenso comércio e muitas
residências, tem um amigável clima suburbano, com moradores que se conhecem e se
cumprimentam todos os dias. Lá os altos prédios não substituíram as casas com quintais
amplos. À primeira vista, ninguém é capaz dizer que, à noite, Afogados é visitado por
estranhos espíritos e espantosas assombrações.
O nome do local já tem uma origem macabra. Segundo o pesquisdor pernambucano
Leonardo Dantas Silva - no livro Arruando Pelo Recife - ali existia um afluente do Capibaribe
chamado Rio dos Afogados “onde , em 17 de fevereiro de 1531, sete marinheiros da
expedição de Martin Afonso de Souza vieram a perecer”. A via mais importante do bairro é a
Estrada dos Remédios, que tem 2.423 metros e foi aberta em 1850. Na metade do século
XX, a maior parte dos habitantes de Afogados se concentrava na Vila dos Remédios, um
conjunto residencial às margens daquela estrada, que na época era cercada de árvores
sombrias. Nessas sombras se escondiam vultos misteriosos que provocavam tremendos
sustos nos passantes, principalmente os que seguiam de madrugada para a feira livre
realizada semanalmente na área. Eles ouviam apavorantes sussurros e chegavam a ser
perseguidos difusas aparições.
No começo da década de 60, uma assombração em particular trouxe medo à vida dos
moradores de Afogados. Era uma bela mulher, de cabelos escuros, vestida com roupas
decotadas e chamativas que caminhava sozinha pelas ruas do bairro nas horas mortas. Sem
pudor, se insinuava para todo tipo de homem que cruzasse o seu caminho - jovem ou velho,
solteiro ou casado, pobre ou rico. Quando o desavisado caia em seus encantos, era levado
para um beco escuro. Ao se entregar às cariciais da moça, a vítima descobria que estava
abraçado a uma caveira! Os corajosos ainda saíam correndo em pânico. Os covardes só
eram encontrados pela manhã, desacordados.
A mulher fantasma perpetrou tantos ataques que os homens começaram a evitar andar à
noite pelas calçadas do bairro. Mas alguns, lamentavelmente, não podiam evitar correr esse
risco. Ficou famoso o caso de um senhor de seus cinqüenta e poucos anos que teve um
encontro nada agradável com a fêmea espectral. Ele era civil, mas trabalhava como
motorista numa instalação militar. As horas extras eram freqüentes e, depois dessas
jornadas esticadas de trabalho, voltava para casa com passos apressados.
Numa dessas noites, quando Afogados estava coberto por um manto de silêncio e trevas, o
motorista seguia seu trajeto costumeiro e percebeu que a tal mulher o espreitava numa
esquina. Ele fingiu que não viu e procurou andar mais rápido. Mas a assombração foi em seu
encalço e, por mais que o sujeito acelerasse, ela se aproximava com passadas leves e
ligeiras que só uma alma penada pode dar. O pobre homem chegou esbaforido ao portão de
casa, mas aliviado por achar que estava em segurança.
Puro engano. Ele tinha atravessado o jardim e tentava nervoso achar a chave para abrir a
porta da frente, quando percebeu que a mulher também tinha chegado ao portão. Ela o
atravessou sem precisar abri-lo e veio rebolando em direção ao apavorado motorista que, a
essa altura, já tinha deixado o chaveiro cair no chão. Ficou a poucos centímetros do
camarada e revelou a ele uma face de caveira. A transformação veio acompanhada de um
nauseante odor de cadáver. O motorista soltou um grito desesperado e desmaiou. Foi
socorrido pela esposa que logo suspeitou de um ataque cardíaco. O problema dele era outro:
medo na sua forma mais terrível. O coitado não foi o mesmo depois desse episódio. Tornou-
se meio acabrunhado, desconfiado de tudo e sempre temeroso de sair de casa à noite.
Na Década de 60, os moradores de Afogados atribuíam as constantes aparições de
fantasmas a uma suposta profanação cometida no local. Corria um boato de que o mercado
público do bairro, um dos mais movimentados do Recife, tinha sido construído sobre um
antigo cemitério (talvez aquele onde foram enterrados os tripulantes mortos na expedição de
Martin Afonso de Souza). A hipótese nunca foi comprovada, mas também não foi
desmentida. O fato é que quem passava por perto do mercado sentia um cheiro de coisa
podre que nem o mais poderoso detergente conseguia eliminar do prédio.
Ainda segundo alguns habitantes do lugar, esse desrespeito aos mortos facilitava o
aparecimento de espíritos zombeteiros como o “Zé Pilintra”, entidade identificada nas rodas
de magia africana. Os rapazes que voltavam de festas à noite costumavam se deparar com
essa figura: chapéu na cabeça, roupa branca, jeito de malandro. Quando se aproximava do
grupo, soltava uma estridente gargalhada. Não ficava um sujeito de coragem para contar o
resto da história.
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Encanta-Moça
Localidade próxima ao Pina, na zona sul do Recife. O nome romântico tem origem numa
história macabra. Rezam as crônicas que uma iaiá branca, moça rica e bonita de tempo dos
grandes engenhos estava passeando à noite naquela localidade quando se viu perseguida
por um exu , o diabo dos cultos afro-brasileiros. Para escapar, ela teria desaparecido
encantado-se nos mangues.
Outra versão da lenda revela que a iaiá fugia não de um exu, mas de seu marido
ciumento,que cismara que ela o traia com um escravo. Na fuga ela encantou-se nos
mangues, talvez tendo virado alamoa. Seja qual for a versão mais correta, o fato é moça
encantada virou assombração. Nas noites de lua cheia ela aparece nua para atrair os homens
desavisados que ousam circular por aquelas imediações nas horas mortas.
A vítima sente uma atração irresistível pela aparição desnuda, mas, quando se aproxima, vê
o seu objeto de desejo desaparecer em meio à bruma fina da madrugada. Para esse pobre
coitado só resta a certeza apavorante de ter encontrado um legítimo fantasma. E não foram
poucos os que passaram por essa experiência no Encanta-Moça.
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Poço da Panela
Encravado entre o bairro de Casa Forte - um dos mais nobres da cidade - e o rio Capibaribe
fica um dos pontos de maior concentração de fantasmas e assombrações do Recife. No
arraial do Poço da Panela reina um clima nostálgico, quase como se o tempo ainda fosse os
das sinhazinhas, escravos e senhores de engenho que mandavam em Pernambuco no século
XIX. Lá predominam os casarões, as ruas calçadas com pedras irregulares, as árvores velhas
e frondosas que peneiram a luz produzindo tenebrosas sombras mesmo com sol a pino.
Enfim, um cenário mais do que propício para surgimento de fenômenos sobrenaturais.
O nome do arruado tem origem curiosa. Segundo conta o historiador Sebastião Vasconcelos
Galvão no seu “Diccionário Histórico de Pernambuco” – publicado em 1910 – no século XVIII
os moradores do lugar tinham dificuldade em conseguir água potável, que tinham que ser
trazida das localidades vizinhas: um grande transtorno para quem vivia no tempo das
carroças. Mas, para alívio de todos, uma nascente foi encontrada perto do vilarejo. Os
homens se apressaram em escavar para melhor aproveitar água potável e uma panela de
barro com fundo aberto foi posta no local para garantir a sustentação das bordas.
A água, por sinal, tem outra ligação com a história daquela comunidade. Ainda conforme
Vasconcelos Galvão, em 1746 surgiu no Recife uma misteriosa epidemia de febre que, no
entendimento dos médicos de então, deveria ser combatida com banhos no Capibaribe. O
Poço da Panela tornou-se área preferida pelos pacientes vitimados pela doença. As águas do
rio naquelas margens ganharam fama de milagrosas.
As décadas se passaram, o rio ficou poluído pelos esgotos, mas as águas do Capibaribe
funcionaram com um bálsamo protegendo o Poço da Panela contra o urbanismo
modernizante do século XX. O agrupamento de casas em torno da Igreja de Nossa Senhora
da Saúde permaneceu com jeito de cidadezinha do interior. Muitos dos casarões do bairro
mantiveram a sua imponência,como lembranças sólidas de um tempo de fartura. Sobre
muitos deles, são contadas histórias bizarras. De luzes fantasmagóricas vistas à noite pelas
janelas, de barulhos estrondosos em quartos onde ninguém está presente, de botijas
escondidas nas paredes e apontadas em sonho por almas penadas.
Os vizinhos de uma das propriedades da área, por exemplo, costumavam ouvir murmúrios e
gemidos assustadores. O lugar, que não tinha morador, ganhou fama de assombrado. Dizia-
se que as manifestações eram provocada pelo fantasma de um zelador surdo-mudo vítima
de um crime misterioso. O fato é que ninguém queria se aproximar do Sítio do Môco.
Nas janelas das casas são vistas luzes misteriosas. Há quem diga que, na década de 80, a
moradora de um desses casarões quase se dá mal ao encontrar o esconderijo de um suposto
tesouro indicado por espírito atormentado.Vestido de branco, ele teria se comunicada com a
mulher durante o sono, dizendo que ela poderia ficar com o dinheiro maldito que o prendia
ao mundo dos vivos, mas recomendado que nada fosse dito a qualquer outra pessoa sobre o
assunto.
Desobediente, a boquirrota pediu o auxílio do marido para desenterrar a dinheirama, que
deveria estar a poucos metros de profundidade perto de uma árvore grande do quintal.
Quando o pobre coitado começou a escavar, foi atacado por um animal invisível, talvez um
cachorro fantasma que seria o guardião do tesouro. Foram muitos arranhões tratados com
litros de mercúrio cromo. E ouro, que é bom, nada. Triste de quem desrespeita as
recomendações dos não-viventes
Os moradores mais antigos do Poço da Panela relatam muitas outras aparições fantásticas.
Num dos sobrados abandonados da vizinhança, por exemplo, à noite é visto pela janela um
misterioso homem de vestido de preto que parece rezar diante de uma vela. Ninguém até
hoje se atreveu a entrar no casarão nesse momento para perguntar o motivo de tantas
preces. Estaria o fantasma pagando uma dura penitência por um pecado capital cometido em
vida? Quem teria coragem de perguntar? Todavia, Alguns dos malassombros do Poço da
Panela, no entanto, não são apenas visagens difusas das quais é possível fugir com
facilidade.
No século XIX, morava no local o advogado e político José Mariano, fundador do jornal "A
Província", que se tornou um importante personagem da história de Pernambuco por causa
da sua luta pela pelo fim da escravidão. No século XX, aboliciolista ele foi homenageado pela
prefeitura com um monumento perto da igreja do bairro. O busto do ilustre pernambucano
foi posto sobre uma coluna de pedra e, em frente dessa, foi posta uma estátua completa de
um negro de peito nu, tendo nos pulsos correntes quebradas: símbolo da vitória diante da
opressão.
Alguns moradores do Poço da Panela, no entanto, testemunham que em certa noites,
quando todas as casas estão com a suas portas e janelas fechadas, a estátua de bronze
ganha vida e caminha pelas ruas com passos arrastados. Os que já presenciaram esse
passeio absurdo se arrependem de ter deixado a segurança de seus lares nas horas
dominadas pelo silêncio e pela escuridão. Afinal, o Poço da Panela é território livre para o
sobrenatural.
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Açude do Prata
Muitos relatos sobrenaturais do Recife datam dos idos do século XVII, época do domínio dos
flamengos e também da chegada de muitos judeus, que depois seriam perseguidos e
julgados pela Inquisição. Não são poucas as lendas de tesouros enterrados, vigiados por
espíritos inquietos que ora guardam, avaros, seus antigos pertences, ora revelam-nos para
corajosos exploradores que ousem seguir suas pistas.
Um dos mais fascinantes relatos é o da judia Branca Dias. Fina e rica, a proeminente mulher
vivia tranqüila no Recife até que a sombra da Inquisição baixou sobre os cristãos novos
deste arrabalde. Branca Dias sabia que se aproximava a sua condenação, não por sua crença
ou heresias, mas por ser dona de uma magnífica coleção de objetos de prata.
À primeira menção de que a Inquisição viria pegá-la, Branca Dias juntou todos os seus
objetos e, com a ajuda de uma criada, levou-os a um riacho, para os lados de Dois Irmãos,
onde os atirou. Todos os temores dela se concretizaram: foi levada para Portugal, julgada e
condenada à morte.
Seria tudo isso mais uma página dos anais da Inquisição não fosse um detalhe. Alguns anos
depois começaram a correr histórias de que uma aparição estava afastando as pessoas que
passavam por um riacho num subúrbio do Recife. Logo ligou-se a aparição aos fatos do auto
de inquérito de Branca Dias: o fantasma nada mais estaria fazendo que guardar seu tesouro.
O curso d’água ficou conhecido como Riacho do Prata, ou Riacho da Prata.
A lenda foi ganhando repercussão com alguns desaparecimentos ocorridos no Riacho do
Prata. Uma das histórias, porém, selou a fama da lenda. Conta-se que, numa época em que
os recifenses buscavam proteção dos céus e dos santos com banhos à meia-noite em rios,
açudes e riachos, especialmente no período das festas juninas, uma moça foi com sua
mucama às águas do Prata para pedir um esposo. Chegando lá, fez com que a mucama, de
nome Luzia, ficasse esperando à distância enquanto ela ia tirar a sorte.
Aproximou-se do riacho e debruçou-se, perigosamente, sobre as águas. De repente a
mucama teve um pressentimento e ia gritar :“Iaiá não se debruce mais” quando, antes dela
a moça gritou “Me acuda Luzia! Me acuda que ela quer me levar!” Quando a mucama correu,
nada mais restava de sua sinhazinha. Fora, certamente levada pelo fantasma de Branca
Dias. Até hoje muitos falam que, nas noites de lua vêem-se duas moças nuas no meio do
Riacho do Prata. Uma seria a mãe d’água Branca Dias, a outra seria a sinhazinha que sumiu
na noite de São João.
Mangue da Torre
re os muitos fantasmas que assombram o Capibaribe, um provoca arrepios nos moradores do bairro da Torre - mais especificame
que residem em edifícios próximos aos manguezais que existem nas margens daquele trecho do rio mais importante da cap
nambucana. Eles deram o nome de "Pai do Mangue" ao horripilante fantasma.
ugar é bem conhecido dos recifenses. Na margem do rio que fica do lado da Torre, há um ponto onde barqueiros fazem a travessia
soas que precisam chegar ao outro lado, no cais do bairro da Jaqueira. Isso durante o dia. Quando cai a noite, o local fica desert
mbrio. É aí que vizinhança percebe a presença sinistra do Pai do Mangue.
em que ele se faz notar com uma risada estridente e cavernosa, "como se fosse a gargalhada de uma bruxa, que vai levar sua alm
elam alguns. Não se pode definir a origem do som misterioso - ecoa como se viesse dos meio do arbustos que crescem por alí.
ômeno se repete sempre por volta da meia-noite.
sa hora, quase todos os moradores da área se enconhem em seus apartamentos, assustados com o ruído sobrenatural. Uns pouco
atreveram a tentar descobrir de onde vem a tal gargalha. Na maioria das vezes, nada viram e voltaram apavorados.
s um grupo de rapazes, que ousou fazer a investigação na noite de uma sexta-feira 13, testemunhou a aparição de uma estra
ra por entre emaranhado de galhos e folhas típico da vegetação rasteira do mangue. Segundo eles, era um senhor negro, de cabe
ncos e roupas claras - uma figura que lembrava um pescador. A expressão no rosto era de poucos amigos. Durante alguns segund
chegou a perseguir a turma, para depois desaparecer na escuridão, como que por encanto.
em seria o Pai do Mangue? Os moradores daquelas bandas já desistiram de querer desvendar esse mistério e procuram conviver
com o tal fantasma.
Avenida Malaquias
Num arborizado subúrbio do Recife, perto do Parque da Jaqueira e da secular estação de
bondes de Ponte d’Uchôa, temos a Avenida Malaquias, uma das vias públicas mais antigas do
Bairro dos Aflitos. Hoje uma rua residencial com bastante movimento. Mas houve um tempo
em que era mais deserta, bastante perigosa e, segundo testemunhas, mal-assombrada.
Naqueles tempos, antes da luz elétrica, a iluminação pública era feita com lampiões a gás e
muitos acendedores de lampião correram ao ver vultos brancos passando ou mesmo bichos
correndo; talvez lobisomens, quem sabe mulas-de-padre, que assolavam o Recife de
outrora.
Conta-se que um acendedor, ao cumprir sua rotina matinal de apagar os lampiões, escutou
uma voz fanhosa junto a seu ouvido pedindo: “não me deixe no escuro”. Nunca mais o
acendedor voltou a trabalhar lá. O episódio foi registrado no livro "Assombrações do Recife
Velho", de Gilberto Freyre. A Avenida Malaquias da época era uma rua de poucas casas e
vários crimes. Muitos assassinatos ali tiveram lugar, tendo se tornado célebre a morte do
chefe da estação de Ponte d’Uchôa. Talvez os meliantes fossem os únicos a não temer as
coisas do além.
Mesmo as poucas residências que lá existiam não passavam incólumes às manifestações.
Portas abrindo, janelas batendo, vozes e até sons de charretes fantasmas assombravam os
moradores. Com o passar do anos, as luzes do século XX foram afastando fantasmas e
abusões. Duas avenidas movimentadas limitam hoje a antiga via. O som mais ouvido no
local agora é burburinho provocado pelas mocinhas e rapagões que saem do Colégio das
Damas. Mas quem passa pelas frondosas árvores em horas mortas ainda sente calafrios ao
vislumbrar duas ou três velhas casas que teimam em lembrar aos tempos modernos qual a
verdadeira identidade da Avenida Malaquias. Leia este trecho de uma reportagem publicada
no Diário de Pernambuco em 23 de junho de 2002:
O vigilante Armando Severino da Silva, que trabalha no edifício de número 103 da avenida
Malaquias, jura que ouve assobios e gritos durante a madrugada e relata que teve contato
com uma das assombrações. "Ano passado, por volta das três horas da manhã, um senhor
chegou no prédio me pedindo um casaco. Disse a ele que iria verificar se alguém tinha. Por
um segundo, quando me virei, o homem havia desaparecido". Armando confessa que já está
acostumado com os vultos e gemidos.
E você, se acostumaria a uma vizinhaça como essa?
Teatro de Santa Isabel
No coração do Recife, em frente à Praça da República, ao lado dos Palácios do Governo e da
Justiça, fica o imponente prédio do Teatro de Santa Isabel, um primor da arquitetura
neoclássica do século XIX. Foi construído pelo engenheiro francês Louis Lérger Vauthier entre
1841 e 1850 e, por dentro, tem espaço para quase novecentos espectadores. Além de ser
palco de concertos e espetáculos grandiosos, no passado o teatro também foi cenário de
debates cívicos, como os que marcaram a campanha abolicionista, e serviu de tribuna para a
eloqüência de personalidades do porte de Joaquim Nabuco, Castro Alves e Tobias Barreto.
Mas, por trás de uma fachada imponente, cheia de significados para a história de
Pernambuco, o Teatro de Santa Isabel esconde mistérios insondáveis. Nos camarins, na
platéia, nos corredores e camarotes, desfilam visagens e são ouvidos sons arrepiantes que
se confundem com as muitas lembranças guardadas no prédio. Em seu livro Assombrações
do Recife Velho, o escritor e sociólogo Gilberto Freyre descreve alguns desses
acontecimentos inexplicáveis:
"O que se murmura entre os empregados antigos e discretos do Santa Isabel é que em
noites burocraticamente silenciosas se ouvem, no ilustre recinto, ruídos e aplausos, palmas,
gritos de entusiasmo de uma multidão apenas psíquica. Mas sem que se possa precisar a que
ou a quem são os seus aplausos de bocas e mãos que não aparecem."
E acrescenta o Mestre de Apipucos:
"Há também quem afirme ter visto no interior do Santa Isabel, em noite de silêncio e rotina,
a figura de austera senhora do Recife, há longos anos morta e sepultada em Santo Amaro".
E as aparições na tradicional casa de espetáculos não deram trégua ao longo das décadas,
embora tenham perdido muito do charme e da elegância. Na reportagem intitulada "...mas
que eles existe, existem", publicada no Diário de Pernambuco do dia primeiro de outubro de
1992, a jornalista Sandra Correia registra o seguinte caso:
"...Lourdes Medeiros, faxineira do Teatro de Santa Isabel, reluta em falar no assunto. 'Dizem
que sou louca'. Numa determinada ocasião, Lourdes ficou presa no banheiro do teatro com
uma mulher alta e loura, com algodão na boca e nas narinas. 'Queria sair e ela estava na
porta'. Nem mesmo gritar resolveria: 'perdi a voz'".
Desde os anos 90, o Santa Isabel vinha passando por um interminável processo de
restauração. Mas o teatro já foi reaberto. Agora, lá são apresentados espetáculos de todo o
tipo. Contudo, testemunhas anônimas que circulam no antigo prédio à noite garantem:
quando o público e os artistas se retiram, permanece em cartaz "ópera bufa" dos
malassombros e almas penadas no espaço emoldurado por belíssimas cortinas.
Rio Capibaribe
Na chamada “Veneza Americana”, as assombrações também estão sob as águas.
Principalmente sob as águas escuras do Capibaribe, o maior rio da capital pernambucana. Ele
nasce como um riacho em Poção, no Agreste do estado, torna-se caudaloso ao longo do seu
curso e vem seguindo o seu destino até o Oceano Atlântico, passado por vários bairros do
subúrbio do Recife – entre eles, o Poço da Panela. No centro da cidade, o velho rio
predomina na paisagem urbana: durante é como um límpido espelho que reflete a
arquitetura dos prédios antigos. Á noite torna-se misterioso quando reproduz o brilho das
luzes artificiais ou da lua cheia.Apesar de sua beleza, o Capibaribe sempre provocou temor
entre os recifenses.
A tradição popular fala que, naquelas águas, habitam fantasmas pecaminosos. Almas
penadas de suicidas que usaram o rio como rota de fuga deste mundo cruel. Permanecem,
no entanto, no limbo. No escuro da noite, seus vultos de expressões angustiadas podem ser
visto por quem se aproxima das margens mais desertas. Naquelas águas também pereceram
banhistas desavisados que não resistiram à força das correntezas. Seus corpos eram
encontrados quilômetros adiante, inchados e roídos pelos peixes. Seus espectros
esbranquiçados ainda aparecem para pedir socorro aos viventes.
No Capibaribe atuou ainda um fantasma zombeteiro conhecido por Vira-roupas. Segundo o
sociólogo Gilberto Freyre, ele atormentava as lavadeiras que ganhavam a vida às margens
do rio. Era especialista em “roubar às trouxas das pobres mulheres camisas finas de
doutores, toalhas de casas lordes, lenços caros de iaiazinhas.” Do Vira-roupas não se tem
ouvido relatos recentes, já que ninguém mais usa o rio para lavar nada. Mas a assombração
talvez ainda esteja por lá, a espera de uma vítima desprevenida.
Na década de 70, o Capibaribe transformou-se num verdadeiro monstro aos olhos dos
moradores da cidade. Durante os períodos de chuva, o rio transbordava trazendo destruição
e, muitas vezes, morte. Em 1975, ocorreu a maior de todas as inundações. Quando as águas
baixaram e os recifenses começavam a voltar para suas casas, deu-se um dos episódio mais
insólitos da história pernambucana. O boato de que a barragem de Tapacurá havia estourado
levou a população a concluir que o Capibaribe viria com mais força e cobriria toda a cidade.
Instaurou-se o pânico generalizado e as pessoas corriam em desespero pelas ruas: uma
cena dantesca que parecia antecipar o fim-do-mundo ou imitar o cinema catástrofe
americano que estava em voga na época.
O boato foi desmentido, as enchentes foram contidas nos anos seguintes e o Capibaribe
permanece adormecido desde então. Mas não é exagero dizer que “O cão sem plumas” –
como o rio foi chamado pelo poeta João Cabral de Melo Neto – merece respeito e reverência.