Você está na página 1de 16

O acontecimento “Giuliana Vallone”: o que a abordagem estruturalista não consegue

alcançar

Autor: Leandro Aguiar

Resumo

O artigo trata, a partir da descrição e análise do que aqui será classificado como “acontecimento
Giuliana Vallone”, dos limites de certa abordagem estruturalista das relações entre mídia, poder
e sociedade. Embora seja útil na medida em que sistematize e dê inteligibilidade a tais relações, o
estruturalismo presente, por exemplo, na obra de Hallin & Mancini e Jeffrey Alexander, é por
demais duro para abordar os momentos de ruptura e ajustes nestas relações. O “acontecimento”
(FRANÇA) - fato impactante que desorganiza as continuidades do presente gerando
interrogações e suscitando sentidos - embaralha as categorias estruturalistas, realoca o poder e
rearranja os atores. Nessas ocasiões críticas em que a harmonia é deixada de lado a “estrutura”
dá lugar ao “movimento” (MENDONÇA apud TURNER p. 90), as oposições se escancaram e a
sociedade lida com suas contradições: a este movimento as categorias que compõem o
“pluralismo polarizado”, o “profissionalismo da mídia” e o “paralelismo político”, conforme
propostos por Hallin & Mancini, não conseguem alcançar.

Palavras-chave
Protestos de 2013; estruturalismo; drama social; acontecimento; Folha de S.Paulo.
Introdução

Na introdução de “Comparing Media Systems”, Hallin & Mancini afirmam que


o objetivo do livro é “identificar as variações que se desenvolveram nas democracias ocidentais
na estrutura e no papel político da mídia” (2004, p. 1); o propósito, dizem, é lançar hipóteses
sobre “como [a mídia] está estruturalmente e historicamente ligada ao desenvolvimento do
sistema político” (2004, p.5)1. Ao longo da obra, os autores fornecem um retrato bastante
minucioso da organização geral da imprensa em certas regiões do globo. Contudo, acredito que a
atenção que destinam às estruturas e ao seu funcionamento desvia o olhar, em alguns momentos,
do conjunto complexo de relações que mantêm estas estruturas mais ou menos estáveis e,
sobretudo, dos elementos capazes de instabilizá-las. O que me interassa é, ao colocar tais
“sistemas” expostos ao tensionamento provocado pelo acontecimento, demonstrar o quão
maleáveis as relações entre mídia, poder e sociedade podem se tornar – no limite fazendo turvas
as fronteiras entre essas esferas.
Hallin & Mancini prosseguem, na introdução: “a imprensa sempre assume a
forma e a coloração das estruturas sociais e políticas dentro das quais opera” (2004, p. 8); na
mesma página, os autores falam da atenção que a mídia tem atraído nas pesquisas mais recentes
sobre poder, política e sociedade: “A crença de que a mídia tem se tornado uma importante
variável ‘exógena’, afetando outras instituições políticas, é a razão pela qual os acadêmicos
voltados para a política comparada começaram a prestar a atenção nestas instituições que, antes,
eles ignoravam” (2004, p.8)2. Nestes trechos encontram-se dois problemas que contribuem para
ofuscar as relações entre mídia, poder e sociedade. A ideia de que a imprensa “sempre assume a
forma” das “estruturas sociais e políticas”, por um lado, diminui a tensão envolvida neste
processo de negociação – as “estruturas” sociais e políticas não são estanques, mas estão em
constante mudança e é difícil determinar em que medida elas influenciam a imprensa ou são, por
ela, influenciadas. Por outro lado, a noção de que a mídia ocupa uma posição “exógena” à

1
Tradução minha de: “We attempt to identify the major variations that have developed in Western
democracies in the structure and political role of the news media” pg 1. “Our purpose here is to develop a
framework for comparing media system and a set of hypotheses about how they are linked structurally and
historically to the development of the political system”.
2
Tradução minha de: “the press always takes on the form and coloration of the social and political
structures within which operates” (Siebert, Peterson and Schramm’s apud Hallin)”; “The belief that the media have
become an important ‘exogenous’ variable affecting other political institutions is one reason scholars in
comparative politics have begun to pay attention to media institutions they previously ignored”
sociedade diminui o intercâmbio e o trânsito de opiniões entre estes dois “polos”. A mídia,
afinal, se insere no seio da sociedade, fala dela e para ela.
Os principais lances desta negociação entre imprensa, sociedade e poder
político, conforme será defendido a seguir, se deixam entrever no “drama social”
(MENDONÇA, 2014) que envolve os acontecimentos marcantes. Nestes momentos, mesmo as
características determinantes de um “modelo midiático” são tensionadas com a entrada de novos
atores e o questionamento das estruturas dadas: no acontecimento a ser analisado, por exemplo,
que se relaciona com as manifestações de junho de 2013, a mídia chamada “alternativa” acabou
pressionando a mídia “tradicional” a rever seus procedimentos na cobertura das manifestações;
as reportagens mais tradicionais da “Folha de S.Paulo” sobre os ocorridos passaram a conviver
com transmissões ao vivo do tipo “live blog” no site do jornal, tal qual fazia o canal “Mídia
Ninja”. Em outras palavras, a “Mídia Ninja”, ligada ao movimento “Fora do Eixo”, organização
cultural de esquerda, conformou em certa medida a cobertura dos protestos na “Folha”, jornal de
maior circulação do Brasil. O “profissionalismo” esmiuçado por Hallin & Mancini, que leva em
consideração, entre outros fatores, a independência do jornalista em relação a instituições
políticas e ideológicas, não é de muita ajuda para aclarar o que se deu nesse caso.
Outra das categorias apontadas por Hallin & Mancini é o “paralelismo político”,
isto é, a reflexão, no nível da mídia, das posições políticas em determinada sociedade. Nas
palavras dos autores, “o paralelismo político possui diferentes componentes, e há diversos
indicadores que podem ser usados para se entender o quão forte ele está presente num sistema
midiático. Talvez de forma mais básica, ele se refere ao conteúdo da mídia – de que maneira os
diferentes veículos refletem orientações políticas distintas em suas notícias e reportagens” (2004,
p. 28). Em outro trecho, eles apontam que o “paralelismo político também se manifesta na
partidarização dos leitores da mídia, com apoiadores de diferentes partidos e tendências políticas
comprando diferentes jornais” (2004, p. 28) 3. No exemplo que se seguirá, em que será
demonstrada a maneira como a “Folha” inverteu sua posição em relação aos protestos de junho
de 2013, a categoria “paralelismo político” perde parte de sua força explicativa. Se antes do dia

3
Tradução minha de: “political parallelism has a number of different components, and there are a number
of indicators that can be used to assess how strongly it is present in a media system. Perhaps most basically, it
refers to media content – the extent to which the different media reflect distinct political orientations in their news
and current affairs reporting, and sometimes also their entertainment content”;
“Political parallelism is also often manifested in the partisanship of media audiences, with supporters of
different parties or tendencies buying different newspapers or watching different TV channels”.
13 de junho a “Folha” refletia determinada “orientação política”, por uma convergência de
fatores essa orientação mudou radicalmente do dia 14 em diante. Do mesmo modo, o lugar que o
jornal ocupava entre os leitores se tornou outro, a ponto de a “Folha” comemorar, quando do
cancelamento do aumento das passagens, a “vitória” dos manifestantes que ela antes chamava de
“vândalos”.
Mais a frente no livro, explicam Hallin & Mancini que no “pluralismo
moderado” prevalecem tendências políticas centristas, as diferenças ideológicas são menos
distintas e há certo consenso de aceitação às regras fundamentais que moldam a ordem política
(2004, p. 60). Guardadas as diferenças pontuais, o Brasil, antes de junho de 2013, poderia ser
classificado dentro do regime do “pluralismo moderado”. Já no “pluralismo polarizado”, dizem
os autores, a divisão entre os grupos políticos e ideológicos é profunda, o consenso é baixo e a
legitimidade do sistema político é constantemente questionada (2004, p. 60). Estas características
descrevem com mais precisão o momento político brasileiro pós-junho de 2013. Tamanha
mudança no panorama de uma sociedade e a possibilidade de toda uma nação transitar do
“pluralismo moderado” para o “pluralismo polarizado” (se é que esse paralelo é possível)
demonstram como as categorias estruturalistas se embaralham frente a emergência dos
acontecimentos.
Por fim, Hallin & Mancini, inspirados pela teoria da diferenciação dos campos
sociais de Jeffrey Alexander (1990), esquematizam a organização conjunta do poder político, dos
aparatos midiáticos e da sociedade:
“É função da opinião pública, organizada pelo sistema midiático, chamar atenção para
problemas importantes, mas é o governo e o sistema político quem têm a
responsabilidade de tomar decisões sobre esses problemas – a mídia e o público
discutem, mas não decidem. A organização da discussão pública sobre estes temas
simplifica a complexidade social, que de outra forma não seria manejável. Para
performar essa função comunicativa a mídia precisa ser independente dos demais
sistemas, particularmente do sistema político para o qual ela desenvolve uma agenda
temática” (2004, p. 78)4.

4
Tradução minha de: “It is the function of public opinion, organized by the media system, to draw
attention to important problems, but government and more broadly the political system has the responsibility to
make decisions about those problems – the media and the public discuss but do not decide. The organization of
public discussion around themes simplifies social complexity, which would otherwise be unmanageable. To
perform this function the means of communication need to be independent from other systems, particularly from
the political system for which they develop a thematic agenda”
Em junho de 2013, em muitos casos a cobertura da mídia conformou de certa
maneira as posições do público, mas é inegável que o contrário também aconteceu em larga
escala. Já a decisão que colocou um fim momentâneo à crise – a reversão do preço das passagens
- foi decidida pela população e ao governo, acuado, coube apenas sacramentá-la. A função de
cada “campo social”, neste caso, se desenvolveu mais pela interdependência entre eles que por
sua autonomia.
Mídia, poder e sociedade não constituem instâncias separadas; como foi dito, a
mídia se insere no seio da sociedade e reúne dispositivos que fazem produzir e circular
informações e representações desta sociedade. Nas palavras de Vera França, pesquisadora da
Comunicação, “a mídia constitui talvez a instituição que melhor caracteriza o cenário
contemporâneo”, sendo “um espaço privilegiado no qual a sociedade fala consigo mesma, a
propósito de si mesma” (2012, p. 12). Os acontecimentos que reverberam na mídia estão
intimamente ligados à experiência individual e coletiva das pessoas, e para entender a potência
que eles encerram é preciso atentar para a “convergência entre fato e sentido, discurso e ação,
afetando e sendo conformado pelos indivíduos” (2012, p. 19). Por se inserir no âmbito da
experiência, cujas condições são negociadas socialmente, os acontecimentos impactantes, que
fazem falar e agir, nos dizem dos valores de uma sociedade e nos fornecem o seu retrato. Um
olhar que ignore esse dinamismo, atentando apenas para as estruturas dadas como via de
explicação, deixa passar o modo como as estruturas, elas mesmas, são agenciadas.
Isto dito, parto para a análise e descrição dos antecedentes e dos acontecimentos
que conformaram a cobertura da “Folha de S.Paulo” durante os protestos de junho de 2013.

O acontecimento Giuliana Vallone

Desde o início de 2013, e mesmo já em 2012, uma série de manifestações


populares se alastrava de forma difusa pelas capitais do Brasil. Tratavam-se de protestos
capitaneados em geral pelo movimento estudantil universitário, por organizações em prol do
transporte público gratuito e partidos de esquerda como PSOL, PSTU e as alas mais
progressistas do PT. A pauta era simples e clara: reivindicavam que o aumento do valor das
passagens de metrô e ônibus, anunciado quase simultaneamente em diversas capitais do país,
fosse revertido. Em muitos destes protestos, como na “Revolta do Busão”, que aconteceu em
maio de 2013 em Natal, as tropas de choque da Polícia Militar foram acionadas; houve confronto
com os manifestantes e balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo foram disparadas; em
outros casos, como nas manifestações de maio de 2013 em Goiânia, ônibus foram apedrejados e
estudantes detidos sob a acusação de vandalismo. As lutas seguiam no judiciário, onde liminares
suspendiam o aumento das passagens até serem elas, as liminares, também suspensas. A
imprensa paulistana praticamente ignorava os protestos: em todo o mês de maio, a despeito das
passeatas em Goiânia, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Natal e São Paulo, nem uma vez sequer as
manifestações contra o aumento encontraram espaço, por exemplo, nas páginas da “Folha de
S.Paulo”, periódico de maior circulação na capital paulista e que será adiante foco de análise 5.
Foi só a partir de junho que protestos como estes passaram a ser noticiados de maneira
sistemática pelo jornal.
No dia 23 de maio de 2013, a “Folha” publicava na capa do caderno
“Cotidiano” que, por decisão da prefeitura e do governo do Estado, as passagens de metrô e
ônibus na capital subiriam de R$3,00 para R$3,20. O novo preço passaria a valer a partir do dia 2
de junho do mesmo ano. Em resposta à decisão, o Movimento Passe Livre (MPL), liderado por
membros do movimento estudantil da USP e que participara das manifestações anteriores na
cidade, convocou um grande protesto para o dia 6 de junho.
No dia 7 de junho de 20136, as manifestações contra o aumento ganharam a
capa do jornal com uma manchete e uma grande foto de catracas alegóricas, feitas de papelão,
sendo queimadas em via pública. A legenda dizia: “Manifestantes liderados pelo Movimento
passe Livre, ligado a estudantes, ao PSOL e ao PSTU, queimam catracas de papelão na avenida
23 de Maio”. A manchete, que veio sob o título “Vandalismo marca ato por transporte mais
barato em SP”, dizia o seguinte:
“Em protesto contra a elevação das tarifas de ônibus, metrô e trens em São Paulo,
manifestantes interditaram vias como a Paulista e protagonizaram cenas de vandalismo
(...)”.

A reportagem seguia falando no “vandalismo” dos manifestantes e no “rastro de


destruição” por eles deixado. Segundo a “Folha”, ao menos 2 mil pessoas, lideradas por
“estudantes” ligados à “ala radical de partidos de esquerda”, compareceram ao protesto; 15 delas
5
As edições de maio estão disponíveis em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/05
6
Edição disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/06/07
foram detidas, dois policiais militares e um estudante se feriram. O jornal também estimou em
quase R$100 mil o prejuízo da “depredação”; entrevistou a polícia, os chefes do metrô e o
prefeito, o petista Fernando Haddad. Sobre a ação policial, dedicou breve parágrafo: “A PM
utilizou bombas de gás e balas de borracha”.
No dia seguinte, novos protestos ganham espaço no jornal 7; como antes, as
reportagens focaram nos transtornos causados pelos manifestantes no trânsito e no comércio e na
“tensão em áreas nobres” da cidade. A PM novamente utilizou bombas de gás, com o intuito,
concorda o jornal, de “dispersar os manifestantes”. No dia 10 de junho, a “Folha” publicava nova
manchete em “Cotidiano”8. O tom era favorável à ação policial: o diário repete que, nas palavras
do prefeito, a conduta dos policiais “seguiu o protocolo”. Enquanto isso, veículos de imprensa à
esquerda da “Folha”, como “Carta Capital” e “Fórum”, falavam em excessos por parte da PM; de
acordo com estas publicações, as manifestações dos dias 6 e 7 ocorriam pacificamente até a
polícia iniciar a desocupação das avenidas: “A Força Tática [da PM] jogou bombas de gás
lacrimogêneo sobre aqueles que ocupavam a via de forma pacífica”, escreve a Carta Capital no
dia 7 de junho9.
No dia 11 de junho, a “Folha” mais uma vez estima os prejuízos causados pelas
manifestações e fala da esperada participação dos “Black Blocs” nos protestos marcados para o
mesmo dia10. Tratam-se, explica o repórter, de “ativistas anarquistas” que “pregam a realização
de danos materiais ‘contra a opressão’”. Um dia depois, o jornal “Brasil de Fato”, veículo
abertamente de esquerda, afirmava: “PMs reprimem com violência 3º protesto contra o aumento
das tarifas em SP”11. A reportagem afirma que o protesto já havia acabado e as pessoas estavam
indo embora quando a “Tropa de Choque da PM disparou tiros de balas de borracha, bombas de
efeito moral e gás lacrimogêneo”. No mesmo dia, a “Folha” descreve a questão por outro ângulo:
“Contra tarifa, manifestantes vandalizam centro e Paulista”, disse, em sua manchete de capa 12.

7
Edição disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/06/08
8
Edição disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/06/10
9
Reportagem disponível em: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/em-novo-protesto-policia-joga-
bombas-em-manifestantes-1939.html
10
Edição disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/06/11
11
Reportagem disponível em: http://www.brasildefato.com.br/node/13203
12
Edição disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/06/12
Mas foi em 13 de junho, um dia depois de uma grande manifestação na avenida
Paulista, que o jornal expôs de forma mais contundente sua opinião sobre as marchas que
tomavam a capital. Escreve a “Folha”, no editorial “Retomar a Paulista” 13:
“A reivindicação [do MPL] de reverter o aumento da tarifa de ônibus e metrô de R$3
para R$3,20 – abaixo da inflação, é útil assinalar – não passa de pretexto, e dos mais
vis. São jovens predispostos à violência por uma ideologia pseudorrevolucionária (...)

Os poucos manifestantes que parecem ter algo na cabeça além de capuzes justificam a
violência como reação à suposta brutalidade da polícia, que acusam de reprimir o
direito constitucional de manifestação. Demonstram, com isso, a ignorância de um
preceito básico do convívio público: cabe ao poder público impor regras e limites ao
exercício de direitos por grupos e pessoas quando há conflito de prerrogativas. (...)

É hora de pôr um ponto final nisso. Prefeitura e Polícia Militar precisam fazer valer as
restrições já existentes para protestos na avenida Paulista (...)”

O jornal não poderia ter sido mais claro em sua opinião: tanto a manifestação do
dia 12 de junho, na qual compareceram, do acordo com a PM, cerca de 5 mil pessoas, quanto as
manifestações dos dias anteriores, quando também haviam milhares, eram compostas por jovens
“pseudorrevolucionários”, sem nada na cabeça além de capuzes, e fundavam-se num pretexto
“vil”. Já os procedimentos da PM, corporação que apenas no campo da “suposição” agira com
brutalidade, eram legítimos: trabalhavam no sentido de “impor regras e limites”, tarefa que cabe
ao poder público e, portanto, à PM. Na conclusão, os editorialistas pedem que a polícia faça
“valer as restrições já existentes”, endossando, assim, o uso da força.
A “Folha” ressoava a opinião de muitos de seus leitores. Embora não tenham
sido empreendidas à época pesquisas de opinião sobre o apoio aos protestos, a seção “Painel do
Leitor”, que publica trechos de cartas enviadas pelos assinantes, aponta nessa direção. “Sugiro
aos líderes desses insensatos atos de rua que revejam suas estratégias de atuação”, escreveu no
dia 13 de junho o leitor José de Anchieta; “gostaria de saber, e aí vai uma sugestão para a
reportagem, se essas organizações que protestam pagam os prejuízos que causam, se os
manifestantes são processadas (...) Conhecendo o Brasil, já tenho um palpite”, ironiza Fabio
Paschoal, no dia 8 de junho. Vozes dissonantes, contudo, encontravam espaço no mesmo “Painel
do Leitor”; no dia 13 de junho, escreveu Guilherme Cassis: “Fico assustado com a hipocrisia da
Folha ao chamar os manifestantes brasileiros de vândalos, ao mesmo tempo que chama os
manifestantes turcos de ativistas”.
13
Edição disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/06/13
A “Folha de S.Paulo” costuma fechar suas edições às 21:00 horas. A edição do
dia 13, que trouxe o editorial “Retomar a Paulista”, e foi fechada, portanto às 21:00 horas do dia
12, já antecipava que no dia 13 mais um grande protesto estava agendado para a mesma avenida.
A insistência dos protestos, que em pelo menos três datas levaram mais de 5 mil pessoas às ruas,
e a possibilidade real do governo e a prefeitura retrocederem no aumento das passagens já eram o
suficiente para conquistar a atenção do jornal. Assim, no dia 13, enquanto o editorial “Retomar a
Paulista” repercutia na internet – revoltando quem era favorável aos protestos e sintetizando o
pensamento daqueles que eram contra -, o jornal mandava seus repórteres as ruas.
No protesto do dia 13, como nos protestos anteriores, os manifestantes acusaram
a polícia de iniciar os ataques enquanto a passeata seguia pacífica; como no dia 6 e no dia 12,
muitos estudantes foram presos, bancos e lojas tiveram suas vidraças quebradas, objetos foram
arremessados contra a PM, jovens e idosos foram atingidas por balas de borracha e bombas de
gás e os policiais se apresentaram em geral sem identificação no colete (o que, como chamava
atenção o MPL, é vedado por lei); e tal qual no protesto do dia anterior, cerca de 5 mil pessoas
estavam na manifestação. É verdade também que a PM agiu com mais vigor do que antes na
ânsia de retomar a Paulista: na capa do dia 14 de junho 14, a “Folha” estampava a foto de um
policial agredindo um casal que, segundo a reportagem, bebia cerveja em um bar e sequer
participava do protesto. Outra das consequências do excesso extra por parte da polícia foi sentido
pelo jornal em sua própria “pele”: sete repórteres, fato inédito até então, foram alvejados por
balas de borracha disparadas pela PM. Entre eles, Giuliana Vallone, atingida no rosto e que, pelo
que se comentava na redação15 da “Folha”, corria o risco de perder parcialmente a visão.
Se havia entre os repórteres e redatores do jornal aqueles com a impressão de
que o editorial “Retomar a Paulista” fora duro demais com os manifestantes e permissivo com a
polícia, esse sentimento se intensificou na noite do dia 13, quando a edição do dia seguinte era
preparada. Nas redes sociais da internet, veículos de orientação progressista como a “Carta
Capital” já acusavam a “Folha” de haver incitado a violência dos policiais ao colocar a
desocupação da avenida Paulista como “ponto de honra”16.

14
Edição disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/06/14
15
Na época, eu havia sido recém-contratado pelo jornal. Todas as informações referentes à “redação” são
fruto de minha observação pessoal.
16
Reportagem disponível em: http://www.cartacapital.com.br/blogs/midiatico/editoriais-da-folha-e-do-
estadao-pediram-repressao-da-pm-1256.html
O tom da cobertura no dia 14 de junho era outro 17. O jornal trouxe depoimentos
que afirmavam haver sido a polícia quem iniciara os confrontos, publicou artigo de opinião que
dizia que os protestos “tonificam” a democracia e estampou fotos de policiais agredindo
manifestantes. O Datafolha divulgou, também, a primeira pesquisa de opinião relativa às
manifestações, apontando que 55% dos paulistanos apoiavam os protestos, embora 78% do total
considerassem que os manifestantes “foram mais violentos do que deveriam”. Curiosamente,
55% apoiavam também o uso da força policial da forma como se deu. A “Folha” informava, por
fim que Giuliana Vallone havia tomado 15 pontos no rosto em decorrência da bala de borracha
que a alvejou.
No editorial do dia 15, que repercutiu os acontecimentos do dia 13, afirmava a
“Folha”18:
“A PM protagonizou, na noite de anteontem, um espetáculo de despreparo, truculência
e falta de controle ainda mais grave que o vandalismo e a violência dos manifestantes
(...).
De promotores da paz pública, policiais transformaram-se em agentes do caos e da
truculência que lhes cabia reprimir”.

Nos dias seguintes, a “Folha” publicou uma série de reportagens e análises


favoráveis aos manifestantes e críticas à polícia como “Polícia insuflou protestos em SP e
Istambul” (16/06)19, “Jornalista ferido é risco da profissão, diz polícia” (15/06) e “A tarifa de
ônibus por aqui está entre as mais caras do mundo” (17/06) 20. Na redação, jornalistas de outras
áreas como saúde, educação, cultura e esporte foram deslocados para “Cotidiano” a fim de
auxiliar na cobertura do protesto massivo marcado para o dia 17 de junho. Colunistas,
editorialistas e fotógrafos foram mobilizados, e a TV Folha, editoria de vídeo do jornal, comprou
um drone para fazer imagens aéreas dos protestos. O jornal, que num primeiro momento se
colocou contra às manifestações, revisava, frente aos acontecimentos, sua opinião.
E revisava, também, seus procedimentos. Como foi dito na introdução, um novo
ator veio instabilizar as relações entre o que Hallin & Mancini chamam de “sistema” da mídia e a
sociedade: a grande audiência alcançada pela “mídia alternativa” durante os protestos. Já há
algum tempo o jornalismo “tradicional” vem passando por uma crise no Brasil; demissões em
massa, os chamados “passaralhos”, assombram as redações, a circulação de jornais e revistas
17
Edição disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/06/14
18
Edição disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/06/15
19
Edição disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/06/16
20
Edição disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/06/17
seguem em tendência de queda e a popularização da internet pulveriza a audiência. Além disso,
uma parcela considerável dos leitores em potencial de jornais – jovens de classe média que
frequentam o ensino universitário e têm acesso à internet – não enxergam na cobertura da
“Folha”, do “Globo” e dos demais veículos que formam o bloco da “grande imprensa” uma
versão satisfatória dos acontecimentos. Para estes, o descrédito dos grandes veículos de mídia é
tanto que os faz merecer o jocoso apelido de “Partido da Imprensa Golpista”. Radicalismos à
parte, com a popularização da internet nos anos 2000 uma série de veículos tidos por
“independentes” surgiu no Brasil, muitos deles se dirigindo aos leitores que se sentiam seus
pontos de vista sub-representados na mídia “tradicional”. Já num momento posterior, em 2011,
nasceu a “Mídia Ninja” (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação), que se auto define como
“uma rede descentralizada de mídia de esquerda”. A Mídia Ninja cresceu e atingiu repercussão
cobrindo manifestações como a “Marcha da Maconha”, transmitindo-as ao vivo na internet com
o auxílio de uma câmera digital e um notebook. Durante a “primeira fase” das manifestações de
2013, antes de Giuliana Vallone ser baleada, era a Mídia Ninja e sites como “Fórum”, “Caros
Amigos” e “Carta Capital”, entre outros, que em geral noticiavam a brutalidade policial. Este
procedimento de transmissão ao vivo acabaria se popularizando e muitos manifestantes que
nunca trabalharam com jornalismo passaram também a transmitir os protestos através de sites
como o “Pós-TV”. Na “segunda fase” dos protestos, a “Folha” também aderiu à transmissão ao
vivo e criou uma plataforma em seu site para que os leitores enviassem vídeos e fotos das
manifestações. A mediação do jornalista e do editor, respondendo às “cobranças das ruas”, se
tornava mais permeável.
No dia 15 de junho começou a Copa das Confederações, competição
preparatória para a Copa do Mundo de 2014. Os ânimos se acirravam e os protestos ganhavam
uma nova proporção: ao lado dos gritos contra o aumento das passagens, os insatisfeitos com os
gastos para o mega evento e suas consequências – milhares estavam sendo desalojados nas
grandes cidades para a construção de estádios e obras viárias – puxavam o grito de “não vai ter
Copa”. Barricadas foram erguidas por manifestantes nas proximidades do estádio Mané
Garrincha, em Brasília, onde acontecia o jogo de abertura entre Brasil e Japão, e houve confronto
com policiais. Do lado de dentro do estádio, para onde o acesso custava mais de R$100, a torcida
brasileira vaiava a presidenta Dilma Roussef.
No dia seguinte, a jornalista Suzana Singer, então ombudsman da “Folha”,
escreveu um artigo defendendo o jornal da acusação de ter mudado sua cobertura por razões
corporativistas. Ela aponta que de fato a “Folha” errou por ter “generalizado” sobre o vandalismo
nos primeiros dias dos protestos. Contudo, defende que “A edição [do dia 14 de junho] refletiu
uma passeata diferente das anteriores, na qual os manifestantes estavam incrivelmente bem-
comportados e a polícia, muito mais agressiva”. Mas a própria Suzana admite que o editorial
“Retomar a Paulista” é um “fortíssimo argumento” para os que acreditavam que, num primeiro
momento, a “Folha” fora injusta com o movimento.
Na edição do dia 1821, que noticiou o histórico protesto do dia 17, a capa traz
uma foto dos manifestantes sob a laje do Congresso Nacional, em Brasília. Cerca de 65 mil
pessoas compareceram em São Paulo, 100 mil no Rio de Janeiro, e manifestações aconteceram
também em outras 10 capitais no país. O jornal assinala as “cenas de violência”, evitando taxá-
las de vandalismo; quando o faz, relativiza: “A maioria das manifestações foi pacífica, mas
houve vandalismo contra sedes do poder”, diz o texto da capa. Ao todo, o jornal dedicou 11
páginas aos protestos. Entre as reportagens, há uma análise sobre a “incompreensão” dos
governantes frente ao movimento e um texto de Ana Estela de Sousa, editora do caderno
“Mercado”, detalhando o que precisaria ser feito pelo Estado para viabilizar a proposta do MPL
sobre a gratuidade do transporte público.
Um dia depois, novos protestos tomam as ruas das capitais brasileiras. Em São
Paulo, agências bancárias foram apedrejadas e lojas de eletrodoméstico, saqueadas; além disso,
jornalistas de grandes veículos sofreram agressões por parte de manifestantes e um carro de
transmissão da rede Record foi incendiado. A “Folha” dedica grande parte de sua cobertura a
estes fatos, mas afirma novamente que “a maioria se manifestou de forma pacífica” e que houve,
por parte de muitos, o “pedido de [um] protesto pacífico”22.
No dia 20 de junho23, a manchete em caixa alta da “Folha” diz: “PROTESTOS
DE RUA DERRUBAM TARIFAS”. Na página 2 do jornal, o editorial “Vitória das ruas”
comemora:
“A revogação do aumento das tarifas de transportes em São Paulo e no Rio é uma
vitória indiscutível do Movimento Passe Livre. (...) Menos mal [que prefeitos e
governadores] tenha demonstrado realismo.

21
Edição disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/06/18
22
Edição disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/06/19
23
Edição disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/06/20
(...) Da revolta com a qualidade da saúde e da educação à crítica aos gastos com a Copa
do Mundo, várias insatisfações vieram à tona durante os protestos”.

Depois de revogado o aumento das tarifas, os protestos foram aos poucos


perdendo volume. Contudo, novas manifestações, com demandas das mais diversas, surgiram no
Brasil e passaram a compor os arranjos entre mídia, sociedade e poder político.

Do acontecimento ao drama social

Os discursos da mídia são tecidos, em grande medida, em torno dos


acontecimentos. Certa teoria da Comunicação aponta que é tarefa dos jornalistas identificá-los e
narrá-los, de modo que seria a natureza intrínseca de uma ocorrência que a confere tal estatuto.
Outras perspectivas indicam ser justamente na transformação do fato em narrativa que algo surge
como acontecimento, de maneira que, numa versão radical desta visão, o acontecimento só
existiria a partir da mídia. Encarando de forma crítica estas duas abordagens, defendo que o
infortúnio de Giuliana Vallone transcendeu as proporções do fato e constituiu-se como
acontecimento, a partir do qual discursos e posições foram erguidas e acontecimentos passados,
revistos.
Antes de junho, a confiança de muitos leitores em relação aos conteúdos da
“mídia tradicional” já vinha diminuindo – conforme pesquisa divulgada em 2011 pelo Ibope, em
2009 71% dos brasileiros afirmava confiar na mídia, porcentagem que caiu para 65% em 2011 24.
Os analistas e comentaristas políticos apontavam, também, para uma “crise de
representatividade” entre eleitores e eleitos, falava-se no esgotamento do “modelo de
desenvolvimento” baseado no consumo, a insatisfação com os serviços públicos era crescente e
uma parcela da sociedade questionava o papel do Estado na resolução – e na repressão - de
conflitos. Todas estas questões já existiam, mas foi na emergência dos acontecimentos de junho
de 2013 que elas alcançaram o primeiro plano no debate público nacional. Todos estes fatores
foram acionados, num segundo momento dos protestos, para “explicar” o que estava
acontecendo.
24
A reportagem sobre a pesquisa pode ser acessada em http://www.sul21.com.br/jornal/ibope-aponta-
baixa-confianca-na-politica-credibilidade-da-midia-e-judiciario-segue-caindo/
Mas talvez o fator que conduziu a mudança na cobertura da “Folha”, o fato
inesperado e até então impossível, tenha sido mesmo a brutalidade policial na avenida Paulista
no dia 13 de junho. Não que a violência dos policiais inexistisse nos protestos anteriores: ela era
costumaz quando os indignados vinham de movimentos sociais como o MTST (Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto) e recorrente nas revoltas que aconteciam contra a Copa do Mundo nas
periferias das grandes cidades. Mas era impensável na principal avenida da maior cidade do
Brasil, sobretudo quando seu alvo é uma jornalista com nível superior, branca e pertencente à
classe média alta.
Mais do que um atentado contra uma profissão – muitos apontaram que o jornal
mudou de opinião quando a polícia passou a mirar jornalistas -, o tiro que atingiu Giuliana
Vallone representou uma violência contra aqueles que, em condições normais, jamais seriam
violentados pela polícia. Daí seu estatuto de “acontecimento”: a partir de então, a “Folha” passou
a olhar de maneira diferente para os protestos, tentou compreender seus antecedentes e ficou do
lado dos manifestantes que, antes, ela classificava como “pseudorrevolucionários”.
Apoiando-se na perspectiva do sociólogo francês Louis Quéré, Vera aponta que
ao desorganizar nosso presente o acontecimento gera interrogações, fazendo pensar e suscitando
sentido. Ele nos faz olhar para o que o precedeu para que possamos compreender sua emersão,
sendo dotado, portanto, de um poder hermenêutico. Ainda, quando quebra nossas expectativas,
nos faz agir para que possamos recuperar a “normalidade” de antes, possuindo também uma
dimensão pragmática.
Essa recuperação da “normalidade” – um retorno aos arranjos estruturais de
antes? –, contudo, não é possível, e as relações entre mídia, sociedade e poder político se
instabilizaram e se alteraram de maneira que, hoje, parece irreversível. Nesse sentido, a noção de
“drama social” é útil para aclarar o que aconteceu e o que vem acontecendo de 2013 pra cá.
Explica o pesquisador da Comunicação Carlos Mendonça:
“A experiência social não é fruto de um grande programa organizador e sim resultado
de performances dinâmicas, de movimentos que podem estimular avanços ou
retrocessos no grupo” (2014, p. 88)

O “drama social” foi trabalhado pelo antropólogo escocês Victor Turner, a


quem Carlos recorre na apresentação do conceito:
“Com a minha convicção quanto ao caráter dinâmico das relações sociais, eu via
movimento tanto quanto estrutura, persistência tanto quanto mudança e, na verdade,
persistência enquanto um notável aspecto de mudança” (CARLOS apud TURNER,
2014, p. 90)

É no drama social que “fenômenos suprimidos vêm à superfície” (2014, p. 91) e


“fragmentos distantes uns dos outros entram em relações inesperadas e reveladoras” (2014, p.
91). Sem ignorar as ideias estruturalistas – que para Turner, conforme escreve Carlos,
caracterizam-se pela atenção à “existência de instituições interdependentes” e aos “atores sociais
nelas implicados” – o drama social atenta também para o caráter processual das estruturas, tão
sólidas quanto próximas de ruir:
“Os dramas sociais são liminares. Eles surgem de dentro da estrutura e oferecem para
os atores sociais a possibilidade da vivência nas margens da sociedade.” (2014, p. 93)

Conclusão

Tal como na noção de “drama social”, a pesquisadora Vera França evita


perspectivas teóricas que autonomizam a mídia pensando-a como exterior às práticas sociais. A
autora propõe pensá-la como um lugar possante de fala onde a sociedade fala de si mesma. Nesse
“monólogo”, o acontecimento assume o lugar central: os acontecimentos que emergem na mídia
e geram comoção falam da experiência contemporânea, desvelando algumas das construções e
discursos em torno das práticas sociais, bem como o entrelaçamento entre o que a autora chama
de “realidade da vida cotidiana” e as “múltiplas realidades” que nos são apresentadas
midiaticamente.
Acontecimentos, por fim, nos fazem falar. “Animais simbólicos” que somos,
duplicamos e realizamos grande parte de nossas vidas a partir de construções e representações
midiáticas. Quando falamos dos acontecimentos, enquadrando-os em determinados formatos, o
realizamos como narrativa, conferindo-os do que Vera chama de “segunda vida”. Em grande
medida, é como discurso e representação que os meios de comunicação fazem circular os
acontecimentos, fazendo-os dialogar com a nossa experiência cotidiana. E foi a partir de
acontecimentos como o que acometeu a Giuliana Vallone que as “estruturas” e as “relações”
entre mídia, poder político e sociedade, como talvez dissessem Hallin & Mancini, se
reconfiguraram, ao ponto de ainda hoje, em 2015, não encontrarem ponto de estabilização.
Bibliografia

ALEXANDER, J. C. The mass news media in the systemic, historical and comparative
perspective. In KATZ, E., & SZECSKO, T (eds). Mass media and social change. Sage Studies in
International Sociology, 22, Londres.
HALLIN, D. C., & MANCINI, P. Comparing media systems: Three models of media and
politics. Cambridge University Press, 2004.
FRANÇA, V. O acontecimento e a mídia. Galaxi (São Paulo, Online), n. 24, 10-21, dez. 2012.
MENDONÇA, C., CARDOSO, J. (org). Drama: o social e o estético em performance. In:
Experiência Estética e Performance. Salvador: EDUFBA, 2014.

*Nota complementar: todos os links para a internet foram acessados entre os dias 15 e 25 de
agosto de 2015.

Você também pode gostar