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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - UFPI

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – CCHL

DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL REPÚBLICA

DOCENTE: DR. MARYLU ALVES DE OLIVEIRA

DISCENTE: MARIA CRISTINA DE SOUSA BRITO

PROVA DE REPÚBLICA- RESPOSTA

No que diz respeito à populismo, geralmente se define este termo como uma ideologia
política onde suas práticas consistem em uma figura política que busca simpatizar com as
classes sociais mais baixas defendendo seus interesses, onde sua oposição seria a elite. Porém,
apesar dessa ideia predominante, a definição de populismo é bastante complexa para ser
definida de forma direta. Além disso, a definição desse conceito se trata de um debate
historiográfico bastante trabalhado ao longo das últimas décadas. Portanto, traçarei uma
reflexão histórica e social em torno deste conceito, com o objetivo de entender de forma ampla
as outras premissas que constituem essa ideologia.

Inicialmente, percebe-se que o uso do termo começou a ser estudado para compreender
de forma nítida os acontecimentos políticos do nosso país no século XX; mais especificamente
a construção desse conceito em torno das relações da classe trabalhadora e o Estado no governo
de Getúlio Vargas. Portanto, no primeiro momento dessa reflexão é crucial analisar como o
populismo era abordado nas obras pioneiras sobre este conceito. Observa-se que na primeira
geração do populismo, no campo de estudo do conceito se destaca a “teoria da modernização”
representado por Gino Germani e Torcuato Di Tella, que utilizam esta teoria para explicar que
o populismo era politicamente estabelecido na América Latina em decorrência da transição das
sociedades dessa região, onde a passagem de sociedades tradicionais(do campo) para as
sociedades urbanas e industriais representaria uma etapa do desenvolvimento das sociedades
latino- americanas, a partir da ideia de que esses grupos sociais não conseguiram estabelecer
uma organização e ideologias de caráter autônomo. Em geral, a teoria defende que a ideologia
populista se desenvolve na transição da sociedade tradicional para a moderna, sendo resultado
da junção de valores tradicionais e modernos, onde só iria se estabelecer uma ordem de classes
se houvesse o desenvolvimento completo do capitalismo nessas sociedades. Sendo assim, na
primeira geração predomina a ideia de que o populismo era necessário como uma etapa
essencial para uma sociedade chegar em um patamar avançado (FERREIRA,2001). Dessa
forma, a teoria da modernização surge nas primeiras formulações sobre o populismo brasileiro.

Porém, através das discussões abordadas no livro “O populismo e sua história: debate
e crítica” do historiador Jorge Ferreira, percebe-se que surge intelectuais criticando pontos
específicos da teoria da modernização. Por exemplo, Octávio Ianni surge denunciando a
representação sugerida pelos teóricos da modernização, ao representar as massas como
sociedades atrasadas, ou seja, apesar dessa sociedade escassear de instituições políticas sólidas,
como um sistema partidário, ainda assim é inadequado categorizar as sociedades tradicionais
como atrasadas, além disso, apontando o modelo europeu de democracia como o ideal para o
caminho de sucesso para se tornar uma sociedade democrática. Sobre essa classificação entre
países “atrasados” e “desenvolvidos “, a historiadora Maria Helena Capelato, afirma que:

[...] uma relação de exterioridade entre eles, o mundo capitalista “moderno"


como modelo a ser seguido, a perspectiva etapista, progressista, que levaria
à consolidação do regime democrático nos países “atrasados" – concepção
desmentida pelas ditaduras militares nos anos 60 – entre outras questões,
abalaram a credibilidade do enfoque.” (FERREIRA, p.66,2001)

Ademais, o surgimento dessas críticas marca o início do segundo momento da


formulação do conceito populismo no Brasil. Por volta dos anos 70 e 80, a primeira versão do
populismo anteriormente apresentada, perde sua credibilidade e começa a surgir novas ideias
para explicar o conceito, e que consequentemente vão ganhando espaço no debate. Nesse
momento, os historiadores também produzem estudos em torno do debate, utilizando seus
métodos de pesquisa. Logo, observa-se que na segunda geração as reflexões ganham destaque
em torno das relações sociais entre o Estado e a classe trabalhadora no primeiro governo de
Vargas. Nesse momento, destaca- se a visão crítica de Weffort em relação a teoria da
modernização, ganhando visibilidade na discussão do livro.
É discutido uma análise em torno da obra “O populismo na política brasileira” de
Weffort, onde percebe-se seu olhar crítico sob as formulações de populismo da primeira
geração, e se analisa que a teoria da modernização não era o suficiente pra explicar o populismo
nas sociedades. Então Weffort, foca na análise do contexto econômico e político a partir dos
anos 1930 no Brasil, além de influências do contexto exterior, em busca da razão que justifique
o que levou os trabalhadores apoiarem os “líderes populistas". Nessa análise, Weffort
argumenta que o populismo foi imposto por influências da repressão estatal, manipulação
política, além de considerar que o resultado do regime populista foi em decorrência da
satisfação do atendimento das demandas dos assalariados. Também, é importante ressaltar que
mesmo que a segunda versão do populismo se manifeste contra a primeira versão, o Weffort
aponta premissas similares da primeira versão – como determinar o comportamento político da
classe trabalhadora através de estruturas socioeconômicas - pois foi apontado variáveis como a
repressão, manipulação e satisfação. Em suma, a segunda versão do populismo brasileiro se
apropriou das ideias de Weffort, mas evidenciando principalmente as ideias de repressão e
manipulação.

No livro, “O populismo e sua história: debate e crítica” do historiador Jorge Ferreira,


é possível analisar toda a trajetória social e acadêmica do conceito populismo, além disso, é
discutido também sobre o rompimento com a noção de populismo que vinha crescendo desde
o final da década de 1980, diante disso, venho destacar a revisão do conceito do ponto de vista
da obra “A invenção do trabalhismo” que é citada pela própria autora do capítulo, a historiadora
Angela de Castro Gomes. A historiadora aborda uma revisão sobre a noção de populismo a
partir dos anos 1930 até 1964 no Brasil. Percebe -se que seu objetivo central é analisar a atuação
da classe trabalhadora e do Estado, contudo a suas relações. Analisando seu discurso, é possível
afirmar que sua crítica gira em torno de mostrar como ocorreu de fato a formação da classe
trabalhadora no Brasil, contrariando a afirmação que a classe trabalhadora seria um sujeito
passivo, pois o conceito de populismo atribuía esse entendimento em relação ao papel da classe
trabalhadora.

Em sua obra, a autora discute sobre ideia do pacto social entre o Estado e os
trabalhadores, e contraria a ideia da classe trabalhadora como sujeito passivo nessa relação, a
historiadora cita:

A classe trabalhadora, por conseguinte, só "obedecia" se por obediência


política ficar entendido o reconhecimento de interesses e a necessidade de
retribuição. Não havia, neste sentido, mera submissão e perda de identidade.
Havia pacto, isto é, uma troca orientada por uma lógica que combinava os
ganhos materiais com os ganhos simbólicos da reciprocidade, sendo que era
esta segunda dimensão que funcionava como instrumento integrador de todo
o pacto. (GOMES,2005)

(GOMES,2005) afirma que as relações de acordos entre a classe trabalhadora e Estado


se tratava de um pacto, ou seja, uma troca estimulada por uma relação de ganho materiais e
ganhos símbolos da reciprocidade dessa relação. Ademais, na obra, a historiadora aponta que
entender a “ideologia de outorga" auxilia na compreensão mais nítida dessa lógica simbólica
de reciprocidade que é defendida pela mesma como interpretação desse pacto que estava
estabelecido nas relações entre Estado e a classe operária. Por fim, é crucial ressaltar que A
invenção do trabalhismo, segundo a autora, foi articulada com a ideia de oposição à noção do
populismo, para adversar sua associação de classe trabalhadora como sujeito passivo,
manipulados e controlado pelo Estado.

Diante do exposto, desenvolvi uma visão crítica em relação ao uso do termo e de sua
definição. Primeiramente, tendo consciência da complexidade do termo, é possível afirmar que
há o uso inadequado do termo no cotidiano. Diante do que é colocado em sua definição popular,
considero indevido definir a prática como uma mera separação de dois grupos, pois abrange
outras influências além de uma separação antagônica de uma sociedade. Envolve além das
formas de relações entre os grupos sociais e o Estado, e acredito que o poder do líder não se
resume apenas ao uso do carisma. Além disso, diante do que foi discutido, é possível perceber
que as massas não eram literalmente manipuladas, não havia a existência total de uma
submissão política sob o Estado, mas sim, as funções se davam pelos acordos entre o governo
e o povo, assim mantendo o controle político.
Referências bibliográficas:

GOMES, Angela de Castro. A lógica de “quem tem ofício, tem benefício”. In.:___. A
invenção do Trabalhismo. 3 ed. Rio de Janeiro: FGV, 2005, p.175-188.

CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em Cena: propaganda política no varguismo


e no peronismo. 2ed. São Paulo: editora Unesp, 2009.

FERREIRA, Jorge (org.). O populismo e sua história — debate e crítica. Rio de Janeiro,
Editora Civilização Brasileira, 2001.

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