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No que diz respeito à populismo, geralmente se define este termo como uma ideologia
política onde suas práticas consistem em uma figura política que busca simpatizar com as
classes sociais mais baixas defendendo seus interesses, onde sua oposição seria a elite. Porém,
apesar dessa ideia predominante, a definição de populismo é bastante complexa para ser
definida de forma direta. Além disso, a definição desse conceito se trata de um debate
historiográfico bastante trabalhado ao longo das últimas décadas. Portanto, traçarei uma
reflexão histórica e social em torno deste conceito, com o objetivo de entender de forma ampla
as outras premissas que constituem essa ideologia.
Inicialmente, percebe-se que o uso do termo começou a ser estudado para compreender
de forma nítida os acontecimentos políticos do nosso país no século XX; mais especificamente
a construção desse conceito em torno das relações da classe trabalhadora e o Estado no governo
de Getúlio Vargas. Portanto, no primeiro momento dessa reflexão é crucial analisar como o
populismo era abordado nas obras pioneiras sobre este conceito. Observa-se que na primeira
geração do populismo, no campo de estudo do conceito se destaca a “teoria da modernização”
representado por Gino Germani e Torcuato Di Tella, que utilizam esta teoria para explicar que
o populismo era politicamente estabelecido na América Latina em decorrência da transição das
sociedades dessa região, onde a passagem de sociedades tradicionais(do campo) para as
sociedades urbanas e industriais representaria uma etapa do desenvolvimento das sociedades
latino- americanas, a partir da ideia de que esses grupos sociais não conseguiram estabelecer
uma organização e ideologias de caráter autônomo. Em geral, a teoria defende que a ideologia
populista se desenvolve na transição da sociedade tradicional para a moderna, sendo resultado
da junção de valores tradicionais e modernos, onde só iria se estabelecer uma ordem de classes
se houvesse o desenvolvimento completo do capitalismo nessas sociedades. Sendo assim, na
primeira geração predomina a ideia de que o populismo era necessário como uma etapa
essencial para uma sociedade chegar em um patamar avançado (FERREIRA,2001). Dessa
forma, a teoria da modernização surge nas primeiras formulações sobre o populismo brasileiro.
Porém, através das discussões abordadas no livro “O populismo e sua história: debate
e crítica” do historiador Jorge Ferreira, percebe-se que surge intelectuais criticando pontos
específicos da teoria da modernização. Por exemplo, Octávio Ianni surge denunciando a
representação sugerida pelos teóricos da modernização, ao representar as massas como
sociedades atrasadas, ou seja, apesar dessa sociedade escassear de instituições políticas sólidas,
como um sistema partidário, ainda assim é inadequado categorizar as sociedades tradicionais
como atrasadas, além disso, apontando o modelo europeu de democracia como o ideal para o
caminho de sucesso para se tornar uma sociedade democrática. Sobre essa classificação entre
países “atrasados” e “desenvolvidos “, a historiadora Maria Helena Capelato, afirma que:
Em sua obra, a autora discute sobre ideia do pacto social entre o Estado e os
trabalhadores, e contraria a ideia da classe trabalhadora como sujeito passivo nessa relação, a
historiadora cita:
Diante do exposto, desenvolvi uma visão crítica em relação ao uso do termo e de sua
definição. Primeiramente, tendo consciência da complexidade do termo, é possível afirmar que
há o uso inadequado do termo no cotidiano. Diante do que é colocado em sua definição popular,
considero indevido definir a prática como uma mera separação de dois grupos, pois abrange
outras influências além de uma separação antagônica de uma sociedade. Envolve além das
formas de relações entre os grupos sociais e o Estado, e acredito que o poder do líder não se
resume apenas ao uso do carisma. Além disso, diante do que foi discutido, é possível perceber
que as massas não eram literalmente manipuladas, não havia a existência total de uma
submissão política sob o Estado, mas sim, as funções se davam pelos acordos entre o governo
e o povo, assim mantendo o controle político.
Referências bibliográficas:
GOMES, Angela de Castro. A lógica de “quem tem ofício, tem benefício”. In.:___. A
invenção do Trabalhismo. 3 ed. Rio de Janeiro: FGV, 2005, p.175-188.
FERREIRA, Jorge (org.). O populismo e sua história — debate e crítica. Rio de Janeiro,
Editora Civilização Brasileira, 2001.