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SÃO GONÇALO
2015
SÃO GONÇALO
2015
Banca Examinadora:
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Prof. Dr. Leonardo Mendes (Orientador)
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SÃO GONÇALO
2015
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho...
AGRADECIMENTOS
A...
RESUMO
The purpose of this work is a rescue reading a character reference has already been in
the literate culture of Brazil. In Loves of a Libertine or Les Amours du chevalier of the French
author Faublas Louvet Couvray, it is understood that this novel already occupied a significant
place among the periods of the eighteenth and nineteenth centuries, expressing and
establishing itself as an important vehicle for the dissemination and construction values. And
we propose to identify possible reasons for its abandonment using a brief historical mapping.
Figura 1 – xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx.............................................................................
p
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 09
1 XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX........................................................................................ 10
1.1. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx....................................................................................... 11
2 XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX........................................................................................ 12
3 XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX........................................................................................ 13
CONCLUSÃO........................................................................................................................ 14
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 15
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Introdução
loucura da libertinagem do século das Luzes. Mas, como uma ironia final, depois de todos
esses acontecimentos, o grande libertino acaba casado.
Apesar de um dia ter estado presente nas bibliotecas de grandes escritores europeus do
século XIX, desde Musset, Stendhal, Balzac a Flaubert, Scott Carlyle, de Wieland a Jean
Paul, de Pushkin a Herzen (SPADON, 1970), e de serem bastante conhecidas no Brasil, as
Aventuras do Cavalheiro de Faublas foram esquecidas. A proposta desta monografia é fazer
uma leitura de resgate deste personagem e de sua história, que já foram referência na cultura
letrada do Brasil. O romance ocupava um lugar de importância entre os leitores do século
XIX, expressando e constituindo-se como um veículo importante de difusão e construção de
valores, quase todos em confronto direto com a moralidade patriarcal e burguesa.
A monografia será dividida em 3 capítulos. O primeiro subdivide-se em três partes:
inicialmente, apresentamos uma breve biografia de Louvet de Couvray; a seguir,
apresentamos um panorama da cultura libertina; finalmente, tratamos do romance libertina,
seus temas, personagens e configurações. No segundo capítulo descrevemos o enredo da obra
de forma a conhecer uma história esquecida. Nesse capítulo fazemos a apresentação das
personagens femininas, destacando suas ações e discursos. No terceiro capítulo, apresentamos
a história da publicação da obra, assim como diferentes reedições durante o século XIX;
compartilhamos fontes levantadas pela pesquisa e por fim apresentamos parte do legado
deixado pelo autor e sua obra.
A confecção desse trabalho tornou patente que, devido às limitações inerentes a uma
monografia, um tema de tamanha amplitude como a literatura libertina e, principalmente, a
análise e o resgate das Aventuras do Cavalheiro de Faublas, ainda poderá ser explorado em
trabalhos futuros, a fim de ser apreendido toda a sua complexidade.
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1.2 A libertinagem
A obra por nós estudada faz parte da cultura e da literatura libertinas, que situa-se
historicamente entre duas revoluções, a Reforma Protestante no século XVI e a Revolução
Francesa no século XVIII. Para tratar da literatura libertina, devemos compreendê-la,
portanto, como um fenômeno do período que precede a Revolução Francesa. Há registros do
uso do termo libertino ainda no século XVI, com a palavra “libertin”, derivada da palavra
“liberto”, que em seu significado, se opõe ao homem nascido livre. Segundo Raymond
Trousson (1996, p. 165), o termo foi empregado pela primeira vez por Calvino para designar
os dissisdentes originários de seitas protestantes do norte da França. Por isso, no final do
século, pensadores respeitados tentaram reabilitar a palavra libertino, associando-o ao
significado de ateu, e não tardou se tornarem sinônimos, devido a postura anticlerical e de
crítica social que a literatura libertina difundiu.
Na segunda metade do século XVII, em 1661, Luís XIV assume o poder. No reinado
do Rei-Sol, como era chamado, ocorre uma mudança nos hábitos da sociedade aristocrática.
Ao reunir os nobres em Versalhes, afastando-os de Paris e de suas terras e propriedades, o rei
conseguiu domesticar a nobreza contestadora e insatisfeita, convidando-a a uma vida de
ociosidade, envolta em arte e blazé, na qual o prazer da ação era substituído pelo prazer de se
mostrar e de ser visto. Ser fútil era uma arte, e assim a Corte era transformada em espetáculo,
um grande “corpo de baile”. Luís XIV fez com que o luxo e a ostentação das vestimentas e a
preocupação de estar sempre “em evidência” se tornassem a nova identidade desse novo ideal
de homem. Então, ao afastar-se do significado original, a palavra “libertino” sofre um
deslizamento de sentido, adquirindo uma conotação de imoral.
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escolha da vítima, que deve ser de preferência casada, fiel a seu marido,
religiosa e bondosa; sedução ou caça, momento de encantamento em que a
vítima se sente rainha de um coração volúvel; queda, etapa que sucede à
conquista, onde o amor do conquistado é respondido com a indiferença do
conquistador; e ruptura, instante ansiosamente esperado, porque a glória do
libertino se faz a partir do espetáculo provocado por rompimentos
sucessivos. (VAILLAND apud CARVALHO, 2009, p. 131, grifos nossos).
Segundo Sonia Carvalho (2009), o grande perigo que ronda o libertino, no decorrer do
processo, será definido por Diderot em seu livro Paradoxe sur le comédien: não se deixar
apanhar no próprio jogo, ou seja, ele é um ator dentro de uma determinada parcela da
sociedade e assim nunca poderá esquercer que é um personagem; essa é a principal
recomendação. Embora não reflita mais o clima descontraído do jogo social, o roué conserva
socialmente as maneiras galantes que encobrem suas verdadeiras intenções, por isso será
recebido em todos os salões. O aristocrata, em ambas as formas, ri do burguês e do seu apego
à virtude, com sua repugnância aos jogos de sedução, mesmo em arte. É o que fará o roué,
trocando o jogo da sedução pelo jogo da guerra, transformando, assim, o glamouroso jogo
social em luta.
Em relação a representação feminina, temos que pensar que a “mulher caçadora ou
caça, é onipresente nesse mundo” (TROUSSON, 1996, p.169). A libertinagem existia para
elas e não era condenada. No entanto, são raras as que podem conduzir sua vida amorosa de
maneira independente, apesar de os romances colocarem, com muita facilidade, heróis em
contato com iniciadoras complacentes, como aristoscratas viúvas ou senhoras com muita
fortuna que se tornam libertinas, desejosas de organizar, elas mesmas, seus prazeres. As
senhoras nobres que eram casadas possuíam “un amant”, e esse comportamento não
representava nenhuma ameaça, ao contrário, eram, em muitos momentos, apoiadas por seus
maridos, que preferiam ver um apaixonado rondando a casa do que vários. Entretanto,
devemos lembrar que não existia igualdade social entre homens e mulheres. Apesar de existir
heroínas percursoras do feminismo vivendo como igual aos homens, Trousson nos diz que
“entre o homem e a mulher, como entre as classes sociais, a desigualdade diante do amor e do
prazer deve engendrar uma relação de senhor e escravo na qual a mulher só pode defender-se
através da dissimulação e do artíficio” (TROUSSON, 1996, p. 171). Portanto, pode-se dizer que
o homem podia saborear suas vitórias publicamante, mas a mulher devia saboreá-las em
segredo.
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O povo não era representado nos romances. Sua participação se limitava aos papéis
subalternos e periféricos à ação, como lacaio, camareira, empregada ou mensageiro. Logo, o
povo era somente figurante do cenário que era elitizado e homogêneo.
Para além das discussões entre os filósofos, Robert Darnton mostra como, no século
XVIII, autores como Rousseau e d’Holbach eram vendidos sob a mesma denominação, e, às
vezes, nas mesmas caixas que obras como Venus dans la Cloître, Charlot et Toinette e outras
que hoje seriam consideradas de cunho erótico ou pornográfico. Todas elas eram
denominadas livres philosophiques e talvez tenham desempenhado um importante papel na
dessacralização da monarquia francesa. Segundo Luiz Carlos Vilalta, no seu texto Dossiê:
Leituras Libertinas (2012), “a libertinagem comportava o uso da razão como crivo básico
para o entendimento e a vivência do mundo. Disso poderia derivar a heresia, e/ou um
desregramento moral, e/ou a contestação política”. Para Marc André Berier,
propriamente um caso de repressão policial. No entanto, isso não os impedia de negociar estas
obras para um público que era amplo. Entre os “romances para homens” disponíveis, obras da
literatura libertina, como as Aventuras do Cavaleiro de Faublas, ocupavam um lugar de
destaque.
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2 O CAVALHEIRO FAUBLAS
nome de uma outra mulher, a Condessa de Bares, a qual também pode ter servido de
inspiração para duas personagens de Faublas, a Madame de B*** e a Condessa de Lignole.
A medida em que a trama transcorre é possível perceber uma relação pedagógica com
os leitores, de modo a promover a observação dos fatos e extrair os princípios para fomentar
discussões filosóficas. Mas a narrativa também parece incentivar e promover os deleites
sexuais do leitor, ao explorar a fantasia masculina expressa em seu maior objeto de interesse:
a mulher. Faublas irá representar esta fantasia masculina, com a riqueza e artifícios, sendo ele
um personagem incansável, não mede esforços para conquistar e estar com aquela que é seu
interesse.
Embora pareça não ter limites éticos, Faublas se envolve emocionalmente. Mais
interessante ainda é que sua personalidade sedutora não permite que ele privilegie apenas um
amor, mas três ao mesmo tempo: Madame de B., que o iniciou nos doces mistérios do amor;
Eléonore de Lignolle, que o apresentou aos tormentos da paixão; e a doce Sophie, sempre
disposta a se sacrificar, que representa o seu amor mais ingênuo. Ao lado dessas três amantes,
Faublas está feliz, mas essa intrincada rede de traição faz com que o cavalheiro tenha
episódios de remorso, pois está sempre dividido entre esses três amores, que lhe afetam de
maneiras diferentes, mas com a mesma intensidade. Seria mais fácil escolher uma das três,
para fugir dessa confusão sentimental que pouco condiz com seu caráter galante, mas Faublas
é incapaz de se decidir, e acaba deixando a cargo do destino desatar esses nós de maneira
trágica.
Madame de B., descoberta em adultério, será morta por seu marido; Eléonore irá pôr
fim a seus dias nas águas do Sena; Capitão da Lignolle, perseguidor da infeliz Eléonore, vai
ser perfurado por uma parte espada “dall'infallibile” de Faublas; La Fleur, o informante servo,
será enforcado; Rosambert, o libertino cínico, está condenado a suportar seus ferimentos
graves; Madame d'Armincour agonizará em um castelo distante; Justine vai pagar a pena de
seu ardor excessivo na prisão de Saint-Martin; e Faublas, finalmente oprimido por tantos
infortúnios, vai ser encarcerado pelo proprio pai, para que não possa mais realizar suas
aventuras, até que com ajuda ele consege se reunir com sua Sophie (filha de Lodoiska), a
noiva extremamente virtuosa; recuperando seus sentidos, Faublas, enfim, irá encontrar a
felicidade que buscou em vão em suas andanças.
Ao centrarmos nos personagens temos que dissertar em primeiro ato sobre o núcleo
feminino da obra. A relação entre homens e mulheres na sociedade quase sempre foi vista
como uma verdadeira guerra dos sexos. Na literatura, tradicionalmente, a mulher e a
sexualidade feminina foram representadas por meio de estereótipos correspondentes aos
moldes patriarcais, sendo, muitas vezes, objetificadas, desvirtuadas e relacionadas ao pecado,
à imoralidade, à sedução e tentação, ou consideradas submissas e/ou indefesas, dentre outros
atributos, quase sempre preenchendo um papel inferior perante o homem. A mulher
normalmente é incubida de representar o papel da sonhadora por desejar compromisso e
fidelidade eternos, mas o casamento não proporciona o romance e a dedicação almejados; ao
contrário, representa a rotina e um companheiro sempre distraído ou desinteressado.
A frustração feminina quase sempre se configura como cenário perfeito para o
desabrochar da fantasia, na medida em que a mulher passa a desejar um amante que se
entregue a ela totalmente, mesmo que por pouco tempo. Nesse sentido, podemos dizer que o
cenário de sedução é um processo psicológico que transcende o sexo, revelando os “pontos
fracos” e as particularidades de cada um dos atores no processo da sedução. O ponto fraco
feminino seria o Libertino, com sua promiscuidade e suas palavras sedutoras, sempre
conseguindo o que deseja através da capacidade de sugerir, insinuar, hipnotizar, elevar,
contaminar. Desde que surgiu, o Libertino é aquele que oferece à mulher o que é proibido
pela sociedade: um caso de amor só pelo prazer, tornado picante e excitante justamente pelo
perigo. Assim, tanto a galanteria mundana quanto a libertinagem mais cruel é alimentada pela
busca do prazer pelo prazer, de forma mais ou menos refletida e voluntária como um modo de
vida daquele microcosmo social aristocrático para escapar do tédio provocado pela
ociosidade.
A personagem feminina dentro da literatura libertina é construída a partir do registro
masculino, isto é, não existe um discurso propriamente feminino, mas um produto discursivo
alheio. E é nesse espaço que surge uma “heroína” sempre disposta a realizar todos os desejos
do herói. Nesse discurso ficcional tornado possível pela castração do desejo feminino, cria-se
o fetiche. A voz feminina, então, é mero simulacro, sujeita a qualquer forma de sedução,
constantemente encantada por antigos valores da cortesia. São mantidas as recorrentes formas
rituais e linguísticas que representam a mulher como mero objeto de uso e troca, embora com
a maior civilidade no discurso e nas maneiras.
Em Amores de um libertino, encontramos exemplos de mulheres que, mesmo em voz
de simulacro, assumem um discurso à frente deste tempo, onde o desejo impossível se torna
possível. A presença de personagens femininas que transgridem o código moral, no plano da
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sexualidade e da sedução, causa, assim, uma ruptura e uma subversão de determinada ordem.
No entanto, mesmo agentes do ato da sedução sofrem com sua própria transgressão. Estas
vozes femininas, dentro do aspecto libertino, ao exercer naturalmente sua sexualidade,
executam uma espécie de exclusão pela culpa, uma vez que ferem a “boa conduta”.
Segundo John Rives (1911), quando de sua publicação na França, Les Amours du
Chevalier de Flaubas, em termos literários, teria desempenhado um grande papel ao longo da
história, pois nenhuma nação até então tinha produzido um tão grande número de personagens
femininas eminentes, que tivessem uma influência tão direta sobre os acontecimentos. Afinal,
foi na França que em 1788, Condorcet, o Marquês de Condorcet (1743-1794) elaborou um
esquema de reforma social e política por meio do qual as mulheres teriam direito a voto na
eleição.
No romance de Louvet, como personagem singular e representante deste período
fantástico, temos a Madame de B, que supostamente inspirou as mulheres francesas a
reivindicar o seu direito de ter uma voz em cada assunto que afetasse o seu bem-estar. O
próprio Faublas admite sua admiração pela marquesa na seguinte passagem:
Segundo Valéria Augusti, ao contrário da literatura religiosa, que era pautada pelo
exemplo positivo da vida dos santos e dos tratados de moral e manuais de conduta, o romance
se aproximava da vida cotidiana e apresentava ao leitor modelos de conduta virtuosos e
viciosos. Mesmo que não representassem explicitamente práticas ou atos condenáveis, estes
livros provocariam sensações físicas que não eram recomendáveis para o leitor (e
especialmente para a leitora), despertando desejos e volúpias, e assim enfraquecendo os
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valores morais. Uma preocupação daquele período era: “O que fazer se a jovem leitora,
desejando ser a personagem do romance, acabasse por sentir-se insatisfeita com seu
casamento?” (2000, p. 92)? Essa preocupação era tão recorrente que era comum a existência
de manuais de conduta moral como, Novo manual do bom tom, publicado por Eduardo &
Henrique Laemmert (1872) – um tratado em favor da civilidade que circulou no Brasil no
século XIX (AUGUSTI, 2000).
No contexto brasileiro, estes manuais dos costumes aceitáveis e corretos ampliaram
ainda mais as diferenças sociais entre a elite e o restante da população. Entre os conselhos a
respeito da boa conduta e da educação das moças, o manual – traduzido do francês por Luiz
Verardi no ano de 1866, assinado como “Amigo da Mocidade” – alertava aos pais que
proibissem a leitura dos romances a fim de proteger a inocência das filhas. Desta forma, se
isso valia para qualquer romance, mas perigoso ainda eram livros como a história do Faublas,
que precisavam ser censurados e até proibidos. A censura ou a proibição renegava a leitura,
tornando-a uma atividade clandestina. Para poder ler o que era proibido, por atentar contra um
poder político ou religioso, era necessário esconder-se ou esconder os materiais de leitura.
Essa postura determina a memória da época.
Uma das consequências dessa clandestinidade forçada e da tentativa de controlar os
efeitos perniciosos desses livros, podemos observar como as ilustrações que normalmente
acompanhavam os livros libertinos podiam ser alteradas, ao longo século XIX, de modo a
suavizar o efeito pornográfico que provocavam. Com o Cavalheiro de Faublas não foi
diferente, conforme podemos observar nas figuras a seguir, extraídas de dois exemplares
publicados em contextos diferentes: o primeiro, publicado em Paris em 1840, e o segundo
publicado em Lisboa em 1874.
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Conhecer esta obra através do olhar do leitor brasileiro do século XIX é compreender
que este livro era “pornográfico”. Ao analisar fontes primárias do período, como notas,
notícias, resenhas, críticas de jornais e anúncios de livrarias, assim como a propria ficção,
percebemos que no século XIX a categoria de “livro pornográfico” se sobrepunha às noções
de nacionalidade, tempo, gênero e escola literária, tradicionalmente adotadas pela
historiografia. O fato de esta ser uma obra da França pré-revolucionária nos leva a crer que
ainda no século XVIII ela já fosse consumida no Brasil. Devemos considerar, também, que
esse consumo era feito em seu idioma original, francês, e que a partir do meados do século
XIX as traduções portuguesas começam a surgir.
Apesar de ter sido um sucesso comercial, reconhecer o mérito do romance dependia da
moralidade de quem lia. Com isso, a obra podia ser atacada em qualquer época, como vemos
nesta crítica citada pelo biógrafo John Rivers, que acusava o autor de produzir um retrato
distorcido de Paris como cidade decadente e pobre:
[…]
Deixem-se de visões, queimem-se os versos.
O mundo não avança por cantigas.
Creiam do poviléu os trovadores
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Mesmo que a peça alcançasse objetivo de promover o riso, Macedo é acusado de visar
somente “a imoralidade crua e descabelada” para esse fim. Ao citar outra obra pornográfica
reconhecida no período, a Martinhada de Caetano José da Silva Souto Maior (1694-1739),
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fica claro que o crítico situa a obra de Louvet e de Macedo numa tradição de literatura
licenciosa bem conhecida. A. de Lino se pergunta se escritores de prestígio como Macedo, a
“Velha Guarda”, teriam o direito de usar a temática libertina no teatro, levando o crítico a
chamar Antonica da Silva de “indecência teatral”.
É possível ainda observar a popularidade da obra de Couvray no século XIX e a
influência que exercia através de recortes de jornais da época. Na coluna “Omnibus”, do
exemplar de 11 de março de 1880 do jornal carioca Gazeta de Notícias, encontramos uma
piada que confirmava a popularidade do livro de Louvet, que era lido em segredo até nos
conventos, e de seu protagonista, cujo nome era conhecido o bastante para ser citado em
contextos não-literários:
Por fim, na imagem abaixo, vemos a aparição de Faublas num contexto que não
compreendemos completamente. Aparentemente o espaço do jornal era usado para mandar
recados para desafetos. Seja como for, a fonte comprova outra vez a popularidade do livro de
Louvet no Brasil oitocentista quando insinua que o destinatário da missiva “com certeza” já
leu Faublas. A obra era amplamente difundida e podia ser evocada para transmitir o sentido
de picaresco, falso, conquistador e enganador.
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Além das sucessivas edições do livro Les Amours du chevalier de Faublas em 1806, em
1821, em 1822, em 1842, em 1849 e em 1884, partes do romance podem ter sido
desarticuladas em edições com o nome do autor, tais como: Lodoiska e Lovinski, história
polonesa em Paris (1798) e As aventuras extraordinárias de M. du Portail (1797). É
interessante notar que estas partes desarticuladas inspiraram óperas que não eram de cunho
pornográfico, mas cômico. Eram identificadas como óperas de resgate, com o temática de
livrar o personagem principal do perigo e o ao final uma resolução dramática feliz elevava os
ideais humanistas triunfantes. A ópera Lodoiska é a mais conhecida por ter sido imortalizada
pelo maestro italiano Luigi Cherubini (1760-1842), com sua primeira apresentação em 18 de
julho de 1791. É também uma ópera resgate que conta com a história de amor entre o
cavalheiro Lovinski sua namorada Lodoiska, tendo como antagonista o violento e terrível
Duque de Ordow. Com um enredo repleto de aventuras e desventuras, o Duque tenta matar
Lovinski e aprisionar Lodoiska. Depois de uma revolta popular contra o Duque, o casal pode,
enfim, ficar junto.
Devido ao sucesso do livro, muitas imitações literárias surgiram, ora mais libertinas,
como Faublas jovem cavaleiro, pelo Cavalheiro Nerciat (1788), ou mais sentimentais, como
Madame Lignolle ou End Faublas, por Elizabeth Guenard. No Rio de Janeiro, houve a
publicação do livro intitulado Neto de Faublas, de F.X de Novaes, no final dos oitocentos (EL
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FAR, 2004, pág. 203). De todos esses romances, o New Faublas, de Jean-François Mimault,
narrativa epistolar na qual se desenrola a história de Florbelle, entre 1788 e 1795, é o mais fiel
ao modelo.
No século XIX, o livro inspirou várias adaptações teatrais e adaptações românticas.
Assim, aparecem Lodoiska e filha (1820), por Karoline von Briest e Aventuras de Victor
Augerol (1838), por Agenor Altaroche. Finalmente, no inicício do século XX uma adaptação
para o cinema foi produzida em 1913 por Henri Pouctal, com o filme mudo Les Aventures du
Chevalier de Faublas. Também pode ter servido de inspiração para diversos artistas, entre os
quais Alfred Grünwald e Fritz Löhner-Beda, com a opereta Eine Frau, die weiß, was sie will
(Uma mulher que sabe o que quer!).
Fig. 12: Eine Frau, die weiß, was sie will (1932).
Fonte: www.youtube.com
Supomos que este episódio tenha sido o mais notado porque, ao utilizar trajes
masculinos, Madame B legitima aquilo que dentro daquela sociedade a mulher não tinha.
Usar roupas masculinas, portanto, proporcionava liberdade.
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Considerações finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KEARNY, Patrick. A history of erotic literature. Hong Kong: Parragon Books, 1982.
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Sites:
https://de.wikipedia.org
https://fr.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Louvet_de_Couvray, <acesso:
20/07/2015>
https://fr.wikipedia.org/wiki/Les_Amours_du_chevalier_de_Faublas
<acesso:07/07/2015>
https://archive.org/
www.youtube.com
http://hemerotecadigital.bn.br
https://www.lessingimages.com