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ESTUDOS DE HISTÓRIA DO BRASIL IV

DISCENTE: ADRIAN MARCELO PEREIRA DA SILVA

DOCENTE: JOSÉ LUCIANO QUEIROZ

As narrativas historiográficas que cercam o conceito de populismo esbarram em


posições teóricas e metodológicas diversas que, em maior ou menor grau, analisam a
clivagem (ou aproximação) entre a classe trabalhadora e os governos de Getúlio Vargas,
principalmente. Entretanto, a própria concepção de populismo que, tendo nas figuras de
Octavio Ianni e Francisco Weffort, articulavam a alienação política e econômica que segundo
os autores anteriormente citados desestruturavam a consciência de classe através das benesses
trabalhistas, a exemplo da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e o salário mínimo.

Um campo de pesquisa que surgiu ainda na década de 1950, sob o contexto de


retomada democrática após a queda da ditadura estado-novista, e que seria alvo de
congratulações, revisões e críticas severas nas décadas seguintes. Tal cenário reforça a sua
importância para a análise da história do trabalho no Brasil, uma vez que sua memória está
ancorada no resgate das relações entre as classes sociais no período de urbanização e
industrialização brasileira.

Assim, com a conjugação de ideias e postulados, formulou-se nas Ciências Sociais o


conceito de “populismo”. Tal conceituação surgiu da necessidade de caracterizar o
emblemático pacto entre a classe operária e o governo de Getúlio após a sua ascensão ao
poder em 1930 e, sobretudo, no período ditatorial. Uma interpretação decididamente marxista
da sociedade onde os interpretes se debruçavam.

As décadas que se prosseguiram foram palco para o nascimento de novas


interpretações e posições teóricas que visavam, em maior ou menor medida, reatualizar os
estudos dos ideólogos do populismo. Para análise destes movimentos, o autor Felipe Demier
(2014) esboça um breve quadro das interpretações mais contemporâneas em relação àquela
em que se apoiavam. Duas vertentes são apontadas como as de maior relevância, são elas: 1) a
corrente dos revisores e 2) a corrente dos revisionistas.
Em primeiro lugar é necessário situar que ambas as correntes nasceram das
necessidades de seus autores de se posicionarem ideologicamente neste campo anteriormente
dominado pelas contribuições dos autores marxistas. Isso não significa que um rompimento
total se sucedeu, mas sim que ambos os movimentos se colocaram em uma fronteira distante
dos teóricos que vieram antes deles.

A primeira corrente, a qual DEMIER (2014) denominou de revisores, tem local de


nascimento na Universidade de Campinas (UNICAMP) e membros como Hélio da Costa,
Fernando Teixeira da Silva, Paulo Fontes, Marcelo Badaró Mattos e outros. Em resumo,
podemos situar este grupo enquanto autores que, longe de negar os escritos anteriores, visam
em sua maioria a contestação de ideias datadas ou de complementação. Diferente dos
revisionistas, não negam a utilização do termo populismo; através das contribuições de E. P.
Thompson e da História Social Inglesa, reivindicaram a ação dos trabalhadores mesmo
atrelados às correntes institucionais varguistas, destacando a participação de núcleos do
Partido Comunista Brasileiro (PCB). Além disso, justificavam uma luta que se afastava dos
moldes da luta de classes e adentravam em uma “ideologia da cidadania”, ou seja, estava
menos ligada à ação revolucionária e mais a instituição de uma democracia liberal-burguesa.

A corrente, que fora denominada de revisionista, surge no seio da Universidade


Federal Fluminense (UFF) e entre os seus idealizadores podemos citar Ângela de Castro
Gomes, Daniel Aarão Reis e Jorge Ferreira. Nesta, diferentemente da que foi descrita
anteriormente, há uma recusa em utilizar o termo populismo e criou-se o conceito de
trabalhismo, defendido como contraposição aos teóricos marxistas. Ângela de Castro, em sua
famosa obra, A Invenção do Trabalhismo, formula ideias que sustentam uma suposta
racionalidade das ações da classe trabalhadora frente à oficialidade imposta pelo getulismo.

Logo, entendemos que os defensores do trabalhismo então muito aquém dos debates
da luta de classes e impõe um entendimento que coloca em pé de igualdade os interesses da
classe trabalhadora e do governo, como se fossem uma relação mutualista. Longe da “inércia
populista”, o “trabalhismo operário” barganhava seus direitos e todos os avanços foram
alcançados por sua luta histórica. Em outras palavras, ignora-se que os comunistas, os
opositores e a censura característica do varguismo para vangloriar uma inédita consciência de
classe que se opunha firmemente aos mandos e desmandos do governo. Novamente, esta
corrente liga-se a uma concepção de sociedade calcada na democracia liberal-burguesa.
As três concepções mostram não apenas as divergências teóricas no seio das Ciências
Humanas e Sociais no país, mas também as interpretações oriundas de seus tempos de origem.
Não há neutralidade possível ou que sejam analisadas através do “acaso”; todas respondem às
intenções de seus formuladores e seguem um ideal político demarcado.

A rejeição ao marxismo e seus defensores a partir das décadas de 80 e 90 do século


passado levaram a formulações que, longe de estarem condicionadas à realidade, se colocam
como antagonistas e exercem papel preponderante na criação de fatos e atos para defender
suas ideias. Situação esta que observamos na corrente do trabalhismo: não há nenhum erro em
revisar o que foi escrito antes, afinal, a história não se faz de objeto imutável ou incontestável.
Contudo, as observações provenientes desta análise não podem de forma alguma se basearam
em meras convicções ou em proponentes que justifiquem sua ideologia política como
verdadeiras.

Em suma, a historiografia do populismo que surgiu na década de 1950 ainda é


permeada por disputas e contradições inerentes ao próprio fazer historiográfico. Os revisores,
adeptos ao populismo, mas visando à revitalização do PCB em relação à liderança da classe
trabalhadora; os revisionistas, que consolidam o trabalhismo e disseminam um certo teor
nostálgico ao governo de Getúlio Vargas, dizimando todas as contradições que as
documentações do período nos informam.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DEMIER, Felipe. Populismo e historiografia na atualidade: lutas operárias, cidadania e


nostalgia do varguismo. In. A Miséria da Historiografia. Rio de Janeiro: Consequência,
2014.

GOMES, Ângela de Castro. O populismo e as ciências sociais no Brasil: notas sobre a


trajetória social de um conceito. In: FERREIRA, Jorge (org.) O populismo e sua História:
debate e crítica. 2 ed. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

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