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280 Ao longo da década de 1930 e na primeira metade da década de 1940, a


sociedade brasileira conheceu políticas públicas implementadas por um Estado
que, recusando o liberalismo, passou a intervir nas mais diversas dimensões da
vida social.
280 Retomar a tradição liberal interrompida com a Revolução de 1930,
particularmente os princípios de não intervenção do Estado na economia e no
mercado de trabalho ou dar continuidade às políticas públicas estatais
intervencionistas passaram a dominar os debater.
280 Um deles [...] nomeado de trabalhismo e institucionalizado no Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB). [...] Unidos no plano sindical, trabalhistas e
comunistas passaram a defender um projeto para a nação [...], portanto
nacional, mas com base no fortalecimento do Estado e de empresas estatais, ou
seja, estatista. Vamos chama-lo de nacional-estatista.
280 Definido, aqui, como um projeto liberal-conservador [...] era a União
Democrática Nacional (UDN) o grande agrupamento político que defendia um
modelo de organização da sociedade nos moldes liberais, embora vários
partidos pequenos, em maior ou menor grau adotassem programas políticos
similares.
280 No entanto, três momentos resultaram em situações de grande conflito, com a
possibilidade real de guerra civil no país: a crise de agosto de 1954, o golpe
preventivo liderado pelo general Henrique Teixeira Lott em novembro de 1955
e a Campanha da Legalidade em agosto de 1961.
281 Com a inflação em crescimento e a queda dos salário, em março de 1953
eclodiu, em São Paulo, um grande movimento grevista conhecido como a
Greve dos 300 mil.
281 Embora a crise econômica atingisse o prestígio do governo, não havia relação
direta com outra crise, a política. Vargas retornou ao poder pelo voto, mas seu
governo foi marcado pela intransigência das oposições em negociar.
281 Atacá-lo, denunciá-lo e insultá-lo, negando-se a qualquer aproximação, tornou-
se a estratégia dos setores mais radicais a UDN.
281 Assim, nos meses que antecederam a crise de agosto de 1954, os parlamentares
udenistas, bem como a grande imprensa, atuaram como fatores de
desestabilização do regime. A questão central era tirar Vargas da Presidências
da República, não importando os custos.
282 Com grande espaço em toda a imprensa, a oposição difundia e manejava
imagens que procuravam, ao mesmo tempo, desqualificar o governo e indignar
e mobilizar contra ele a população.
282 Vargas, no entanto, teve seu destino político selado quando, a mando de seu fiel
chefe da segurança, Gregório Fortunato, um pistoleiro tentou matar Carlos
Lacerda. O presidente, embora não soubesse das iniciativas criminosas de
Gregório, não teria como escapar das responsabilidades.
282 Após o atentado da rua Toneleros, as elites conservadores não mais esperariam
a realização das eleições presidenciais. Nos jornais, generais, brigadeiros e
almirantes eram incitados a derrubarem Vargas da Presidência da República.
283 A UDN, desse modo, surgiu como a culpada pela morte de um homem
inocente. A população, no entanto, soube que atitude tomar.
284 Com a morte do presidente, a oposição viu frustrar sua estratégia de acirrar a
crise, desmoralizar politicamente Vargas com a renúncia e abrir caminho para a
intervenção militar. Contudo, mesmo com seu desaparecimento o golpe militar
ainda não estava descartado.
285 [...] se o suicídio de Vargas paralisou os golpistas, a reação popular os fez
recuar.
285 Na UDN havia o receio da competição eleitoral, pois a aliança PTB-PSD
resgatava a obra de Vargas.
286 Em outras palavras, a maneira como os trabalhadores manifestavam sua
cidadania política, particularmente com o voto, estaria “conspurcada”,
“desvirtuada”, “corrompida” pelos direitos sociais.
286 No entanto, uma nova campanha iria começar, agora pelo impedimento da
posse. A estratégia dos udenistas, defendidas por alguns grupos era a de
denunciar o apoio dos comunistas a Juscelino, bem como fraudes eleitorais,
motivos para a anulação das eleições.
287 Desde o início da década de 1950, diz Maria Celina D’Araújo, as ideias que
associavam o desenvolvimento econômico ao nacionalismo e à democracia,
todos ameaçados pelos interesses econômicos e políticos dos Estados Unidos,
estavam na agenda de debates da sociedade brasileira.
289 O 11 de Novembro revelou diversas tendências nas Forças Armadas, no
Exército em particular. A oficialidade identificada com o getulismo, o
nacionalismo e a legalidade democrática, organizada no MMC, esteve ao lado
de outro grupo, liderado pelo general Odílio Denys, conservador e
anticomunista. Ambos defenderam a legalidade democrática em aliança com
um terceiro grupo, majoritário no Exército e afinado com seu comandante, o
ministro da Guerra Henrique Teixeira Lott.
290 [...] a ida dos petebistas e das esquerdas aos quartéis feriu crenças, valores e
códigos comportamentais próprios da instituição militar. Outras facções nas
Forças Armadas não os perdoariam pela estratégia de fazer proselitismo
político nas tropas. Assim, o grupo vitorioso que derrubou o presidente João
Goulart faria do PTB e do trabalhismo, bem como dos comunistas, seus
inimigos de morte.
290 Com a ausência de João Goulart do país, em viagem ao exterior, o presidente
da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzili, assumiu o poder com a renúncia de
Jânio. Submetendo-se aos três ministros militares, Mazzilli enviou mensagem
ao Congresso Nacional comunicando que eles lhe manifestaram a
“inconveniência” do regresso de Goulart ao Brasil.
291 A Cadeia da Legalidade foi de fundamental importância para o movimento. Ao
difundir mensagens de diversas entidades políticas e grupos sociais na defesa
da ordem democrática, a sociedade brasileira encontrou canais de informações
que rompiam o cerco à censura.
292 Os clamores de Brizola para que a população reagisse e defendesse a posse de
Goulart encontraram imediata adesão e entusiasmo.
293 Embora os clamores do governador do Rio Grande do Sul [Brizola] pela posse
de Goulart tivessem encontrado ressonância em todo o país, somente o
governador de Goiás, Mauro Borges, acompanhou Brizola na resistência frontal
aos ministros militares.
293 Em todas as partes do país surgiam manifestações de apoio à posse de Goulart,
sobretudo por meio de greves de trabalhadores. Além de lideranças políticas e
sindicais, outros setores sociais, como a Igreja, estudantes, intelectuais,
associações comerciais e profissionais, repudiaram a atitude dos ministros
militares.
294 Qualquer tentativa de golpe, em 1961, não encontraria o menor respaldo
político e, sobretudo, social. Se levado adiante, com um custo altíssimo, os
embates deixariam a dimensão política para atuar no campo das armas.
295 As análises teleológicas igualmente citam as crises de 1954, 1955 e 1961 para
comprovar que o golpe de 1964 estava a caminho – algo que somente o analista
sabe, porque vive no futuro da sociedade que estuda.
295 Nesse sentido, o golpe de 1964 não estava contido nas três crises republicanas.
Cada uma delas teve suas motivações, resultado de conflitos de interesses
divergentes entre grupos políticos e militares, contradições políticas e lutas
sociais. Cada uma das crises teve sua própria história.

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