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1 Ditadura Militar

Na segunda metade do século XX surgiram vários governos ditatoriais na


América-Latina. Essas formas de governo ocorreram quase que no mesmo
momento em muitos países latinos americanos, como Brasil, Argentina, Chile e
Outros. No contexto da guerra fria, com influência dos EUA, o Brasil não foi um
processo isolado, mas sim um suposto conjunto de combate contra o comunismo.
Antes de começar falando sobre a ditadura militar na Argentina e no Brasil,
é relevante recordar como esse regime funcionava. A ditadura militar geralmente
marcada por sua violência, foi uma forma de governo autoritário onde o poder
absoluto ou não, fica nas mãos dos militares independente da vontade da
população, ou seja, oficial ou não, conseguindo esse poder através de um golpe de
estado com ou sem apoio popular. Existem também formas de “governo misto”,
onde o militar exerce uma grande influência, mas não totalmente dominante.
Na América latina era mais suscetível a entrada de poder nas mãos de um
governante de alta patente, chamado de caudilho. Também lembrados por serem
grandes líderes baseados em carismas e de caráter populista. Esses caudilhas
quando lideravam uma junta militar, depois de derrubar um governo podia assumir
mandato como chefe de estado.
Esse tipo de regime militar justificava sua instauração como forma de trazer
novamente a estabilidade política, social e econômica para o país. Dessa forma
também evitando ameaças revolucionarias ou perigosas ideologias, como o grande
comunismo na América-Latina.

1.1 Ditadura militar no Brasil


Em 1961 João Goulart assumiu a presidência após a renúncia de Jânio
“amigo dos comunistas” que prometia reformas sociais, mas acabou em derrota,
lembrado pela direita como um presidente incompetente.
O governo de Goulart foi marcado por mudanças nas organizações
sociais, dando espaço aos estudantes e trabalhadores preocupando as classes
conservadoras por medo de que o Brasil tivesse uma mudança para o lado socialista
e até mesmo a volta de Jânio ao lado socialista. No dia 31 de março de 1964 civis e
militares se uniram para derrubar o presidente João Goulart através de um golpe de
estado. Essa aliança golpista acontece a muito tempo, como uma responsável pela
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crise política que resultou no suicídio de Getúlio Vargas. (Napolitano, M. 1964:


história do regime militar brasileiro. 2014)
O golpe de estado que tomou lugar em 31 de março foi um sistema
centralista e autoritário, quebrando com o regime democrático, a cassação aos
opositores do novo regime e a violação de liberdade individual. Esse golpe
aconteceu porque João Goulart era visto como uma ameaça comunista, pois o pais
estava em crise e para resolver a crise, Goulart teria propostas de reformas de base,
dessa forma os militares usaram desse conceito para justificar a posse de poder.
(Aquino, Maria Aparecida de. Censura, Imprensa e Estado autoritário (1968-
1978), 1999)
Os apoiadores do golpe tornaram-se maioria no Parlamento, por conta da
cassação de membros oposição. O presidente Humberto de Alencar Castelo Branco
um dos articuladores do golpe militar, tinha uma política recessiva, sua meta era
acabar com a inflação, aumentando impostos, cortando gastos públicos e ideia de
acabar com os projetos de João Goulart, instaurando uma ditadura militar com a
edição do Ato Institucional. No AI-2 o presidente prorrogou seu mandato até 1967, e
acabou com os partidos políticos. Por conta das pressões contra o regime, foi
proposto o AI-3 aprovando eleição indireta para governador. AI-4 fechou o
congresso e determinou as regras para aprovação da nova constituição, votada em
1967. O pior ato ainda estava vindo, o AI-5 deu poder aos militares de punir com os
inimigos do regime, esse ato teve início com o governo do general Costa e Silva, e
foi o momento mais duro do regime. Nesse momento Costa e Silva queria
reinstaurar a democracia, mas a força opositora aumentou tanto que o mesmo
começou a defender os militares. (D’Araujo M. C.)
De 1964 e 1985 a economia do Brasil melhorou muito, entrando em oitavo
lugar no PIB mundial. Assim como também aumentou a violência e desigualdade
social. Com os militares no poder mudou a história brasileira e também dos países
latino-americanos com uma nova forma de regime político.
Além de grupos de esquerda armada, existia a UNE (União Nacional dos
Estudantes) que organizava passeatas e protestos contra o regime militar, a UNE
mobilizou a passeata dos Cem mil contra a Ditadura militar com suas ideias
esquerdistas e doutrinas comunistas liderada ilegalmente no Estado. Foi graças a
esses grandes movimentos de oposições ao regime que surgiu AI-5, acabando com
os direitos civis. (Gaspari E. A Ditadura Envergonhada. 2002 Pg.367.)
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O terceiro general a ocupar o cargo de Presidente da República foi Emílio


Garrastazu Médici, em 30 de outubro de 1969 dando início a época “os anos de
chumbo”. Nesse momento a repressão aos movimentos de esquerda aumentou,
tudo foi censurado, como livros, jornais, filmes e outros. Pessoas foram pressas,
torturadas e mortas sobre o mando do Estado. O que fez com que o Brasil
crescesse mais que outros mercados latino-americanos foi por conta do
desenvolvimento do I Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), mandato de
Médici que graças aos grandes avanços, realizou grandes obras da iniciativa
públicas, como a Usina Hidrelétrica de Itaipu. Com a industrialização, e a mudança
de foco para o capital estrangeiro, muitos fazendeiros passaram a produzir para a
exportação, assim também muitas impressas multinacionais se instalaram no Brasil.
Exemplos de empresas estatais que se expandiram durante o regime militar foram a
Petrobrás e a Telebrás. (Rezende M. J. A Ditadura Militar no Brasil. Pg.115)
Em 1973 o “Milagre econômico” caiu em crise internacional do petróleo, a
dívida externa e a inflação acabou com o sucesso do regime. No ano de 1974 a
1979 aconteceu a eleição presidencial indireta, e o controle fica novamente nas
mãos dos militares, como presidente general Ernesto Geisel. No momento o país
passava por dificuldades econômicas e políticas, dessa forma o governo de Geisel
inicia um processo controlado de abertura política, “lenta, gradual e segura” 1. Em
1978, Geisel acabou com o AI-5 e restaurou o habeas corpus, mas continuou com a
censura e tortura.
Dia 15 de outubro, é eleito João Batista de Oliveira Figueiredo apoiado por
Geisel, para presidente. Em 1978 foi revogado o AI-5 com a Emenda constitucional
n°11. Já em 1982 acontece uma nova estrutura política, dessa forma os militares
estão quase perdendo o poder, e quase sem forças para se manter no poder. Entre
1983 e 84, com o Diretas já, movimento civil por eleições presidenciais diretas. Mais
tarde em 1985, os militares saíram do poder, com uma grande oposição em vários
setores sociais, a modernização foi acabando com o regime militar. Detalhando, em
8 de maio de 1985, foi aprovado pelo congresso a emenda constitucional que
acabava a ditadura.
1.2 Ditadura Militar na Argentina

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O governo se comprometia a estabelecer um diálogo efetivo com a oposição que deveria sair
fortalecida do pleito eleitoral; no entanto, exigia que esta se ajustasse às determinações da distensão
lenta, gradual e segura. (Rezende M. J. Ditadura Militar. p172)
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Mais um Golpe de Estado inicia uma nova Ditadura em mais um país da


América-Latina. Na madrugada do dia 24 de março de 1976, o governo da
presidente argentina María Estela Martínez é derrubado por uma junta militar
formada por comandantes das três forças armadas – Jorge Rafael Videla (Exercito),
Emilio Massera (Marinha) e Orlando Agostini (Força Aérea), Jorge R. Videla foi
quem assumiu a presidência.
Algumas horas depois de derrubar a presidente, os militares tomaram os
prédios do governo e o Congresso Nacional. Com as estações de rádio e Televisão
nas mãos dos militares, o país ficou informado da junta militar formada por
comandantes das três armadas, colocando em fim o atual sistema e é instaurado o
mais sanguinário e autoritário Ditadura Militar da América do Sul. (Palacios A.
Ditadura argentina, a mais sanguinária da América do sul, foi fracasso militar e
econômico. 2009)
Os golpistas não tinham um tempo determinado para manter-se no poder,
a ideia era de ficar enquanto fosse necessário para resolver os problemas do país.
Aconteceram seis golpes nas Argentina, as quatro primeiras iniciaram uma ditadura
provisória (1930, 1943, 1955 e 1962) e os últimos dois estabeleceram ditaduras
permanentes ou tempo de vigor que fosse necessário para os mesmos (1966 e 1976
até 1983).
A nova constituição Argentina proibia as atividades dos partidos políticos,
cancelava mais da metade dos direitos civis, políticos e sociais. Perderam seus
direitos fundamentais e foram confirmados por militares a morte de pelo menos 8 mil
civis2. O número de desaparecidos foram uma média de 30mil pessoas, dentre
esses desaparecidos existia o chamado “voos da morte”, depois de torturas eram
levadas até aviões da força aérea Argentina e arremessadas, normalmente ainda
com vida, esse foi o processo chamado de “Reorganização Nacional”. Esses
sequestros de oposicionistas do regime foi uma estratégia implantada pela ditadura,
assim como apropriação de bebês, aproximadamente 500 crianças foram
sequestradas e adotadas ilegalmente por outras famílias ligadas ao regime militar.
Em suma opositores do regime civil-militar argentino eram pessoas torturadas,
desaparecidas, mortas, ou caso a pessoa tenha sorte conseguiria fugir do país para
salvar sua vida. Além disso a presidente da República Argentina foi presa junto com

2
Informação declarada pelo general e ex-ditador Reynaldo Bignone em Tv francesa. Outros colegas
de Bignone diziam não ter matado ninguém.
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figuras importantes como ministros, jornalistas e intelectuais de esquerda


considerados suspeitos de oposição. Apesar de tudo, parte da sociedade não
condenou o golpe, achavam uma alternativa para solucionar problemas no país,
como diminuição de violência, solução à crise econômica e o principal objetivo, deter
uma revolução comunista. (Novaro M. V. A Ditadura Militar Argentina 1976 – 1983.
2007)
Nesse período, países vizinhos à Argentina como o Brasil, já estavam
vivendo em governos ditatoriais com a ideia e objetivos comuns de defender o
Estado frente à ameaça comunista do oriente. No primeiro momento a implantação
do regime ditatorial aumentou os problemas militares e econômicos na Argentina.
A Argentina tentando se recuperar frente à sua população, comandou o
exército a invasão as Ilhas Malvinas conhecido como “A guerra das Malvinas”. Não
durou muito tempo (74 dias de conflito bélico) e o exército é obrigado a rendição,
sem mais, acaba fracassando. Todos os desastres desse regime, como os
desaparecimentos, problemas militares, crise financeira de 1981, violações dos DH e
mais a derrota humilhante da guerra das Malvinas fez com que o poder acabasse
por fim. Depois dessa experiencia traumática, começam a reestabelecer uma nova
vida com Organizações de direitos humanos nacionais e DIH. E em 1983 é eleito
democraticamente o presidente Raúl Alfonsín da República Argentina. (Novaro M. V.
2007)

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