Você está na página 1de 10

Escola Cívico-Militar Professor Antônio Ferreira Lima Neto

Diretora: Salime Yume Borges Shibayama


Componente Curricular: História
Professor: Joel Kordeirus
3º ano – 4º bimestre
Ditaduras Militares na América Latina 1

1 - O que é uma ditadura?


Ditadura é um regime de governo onde o poder está
concentrado nas mãos de um indivíduo ou de um grupo. Uma
ditadura se caracteriza por ter censura, falta de eleições
transparentes, falta de liberdade partidária e um intenso controle
do Estado na vida dos cidadãos.
No século XX, uma série de ditaduras militares,
desenvolveram-se na América Latina. Diferentes países do Caribe,
América Central e América do Sul tiveram experiências ditatoriais
marcadas pelo terrorismo de Estado, quando o próprio Estado
promove ações de terrorismo contra a sociedade.
Essas ditaduras foram fortemente influenciadas pelos
Estados Unidos, que encontraram nesse caminho uma forma de
manter o continente americano sob a sua influência e evitar que
a experiência cubana se repetisse em outros locais. Um dos primeiros
golpes a serem apoiados pelos norte-americanos foi o que aconteceu
no Brasil, em 1964.
2 - Contexto das ditaduras
A segunda metade do século XX ficou marcada na história
da América Latina pela grande quantidade de ditaduras militares
implantadas em diferentes países da região. Esse modelo
consolidou-se na década de 1960, sobretudo quando o golpe civil-
militar de 1964 instaurou-o no Brasil.
A implantação das ditaduras militares está diretamente
associada com o cenário de disputas da Guerra Fria. Após a
Segunda Guerra Mundial, a rivalidade entre Estados Unidos e
União Soviética ganhou dimensão planetária e a disputa por
influência aumentou consideravelmente. Num primeiro momento, os
Estados Unidos focaram seus esforços para evitar o crescimento da 2

influência soviética na Europa e Ásia.


A partir do final da década de 1950, o governo norte-
americano percebeu a necessidade de aumentar sua influência
sobre o próprio continente, e isso deu início às ações em países
latino-americanos. O objetivo era enfraquecer os movimentos de
esquerda por meio da instauração de ditaduras militares de viés
conservador.
A grande virada para a mudança na postura norte-americana em
relação às nações latino-americanas deu-se com a Revolução
Cubana, em 1959. Essa revolução, conduzida por Fidel Castro e
Che Guevara, foi uma revolução de caráter nacionalista que
acabou se aproximando da União Soviética por conta da
hostilidade norte-americana contra o novo governo cubano.
A aproximação de Cuba com a União Soviética era considerada
pelos Estados Unidos como um precedente perigoso para o continente.
Antes da Revolução Cubana, os Estados Unidos haviam procurado
criar um caminho para intervir diplomática e economicamente na
América Latina por meio da Operação Pan-Americana. Os
desdobramentos da situação em Cuba fizeram com que a ação norte-
americana sobre a América Latina se tornasse mais agressiva,
e um dos primeiros casos dessa abordagem foi o Brasil.
3 - Ditaduras latino-americanas
Na década de 1950, um país sul-americano já estava em
ditadura: o Paraguai. A ditadura civil-militar paraguaia estendeu-se
de 1954 a 1989, sendo governada durante todo esse período pelo
general Alfredo Stroessner. A ditadura de Stroessner instaurou-se
por um golpe contra o presidente constitucional do país, Federico
Chaves.
A consolidação da ditadura de Stroessner contou com o
apoio direto dos Estados Unidos, que forneceram ajuda econômica
ao novo governo paraguaio. Ao longo de 35 anos de regime militar,
3
estima-se que cerca de 20 mil pessoas foram vítimas de violações
de Direitos Humanos. Os casos mais conhecidos são os de garotas
sequestradas por agentes do governo para serem estupradas por
Stroessner.
O caso do Brasil é muito simbólico porque se trata do maior
país e do mais populoso da América Latina, portanto, do ponto de
vista estratégico norte-americano, era fundamental que o avanço de
pautas progressistas fosse barrado e que o alinhamento da política
brasileira com os interesses conservadores dos Estados
Unidos se estabelecesse.
A partir do golpe no Brasil, iniciou-se uma fase em que as
ditaduras militares ganharam todo o cone sul do continente.
Elas ficaram marcadas pela prática do terrorismo de Estado.
Dentro dessa ideia, considera-se os sequestros de cidadãos, o uso da
tortura, os atentados à bomba e o desaparecimento de cadáveres —
práticas executadas contra os opositores e que resultaram na morte de
milhares de pessoas.
Com a consolidação da ditadura no Paraguai e o golpe civil-
militar no Brasil, outras ditaduras criaram-se pela América. Na
década de 1960, Bolívia, Peru e Argentina caíram nas mãos
dos militares; na década de 1970, foi a vez de Chile, Uruguai e
novamente a Argentina. Todos esses regimes fizeram uso de
práticas como a tortura.
Nas décadas de 1970 e 1980, houve uma grande articulação
de nações sul-americanas para ampliar-se o combate a
opositores e “subversivos” por todo o cone sul. Essa articulação
recebeu o nome de Operação Condor e contou com o envolvimento
de Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Bolívia, Uruguai, sendo
também apoiada pelos Estados Unidos.
No restante da América Latina, ainda existiram ditaduras civis
e militares na República Dominicana, Haiti, Panamá,
Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala.
4

4 - Interferência dos EUA na política brasileira


O caso brasileiro foi o primeiro de uma fase de ditaduras em
toda a América do Sul. A interferência norte-americana em nosso
país deu-se a partir da posse de João Goulart como presidente.
Goulart era enxergado com maus olhos pelo governo norte-americano
porque ele havia se voltado contra os lucros excessivos de
multinacionais dos Estados Unidos no Brasil, além de ter sido um
político apoiado pela esquerda e que defendia a realização de
reformas socioeconômicas no país.
O governo de João Goulart, assim como o cenário político e
social do Brasil, era visto como contrário aos interesses norte-
americanos, assim, por meio do serviço de inteligência, os Estados
Unidos começaram a enviar incentivos financeiros a grupos de
oposição e políticos conservadores. O objetivo era desgastar
profundamente o governo de João Goulart.
Em 1962, dezenas de candidatos de viés conservador tiveram
suas candidaturas nas eleições daquele ano financiadas com dinheiro
norte-americano. Além disso, os Estados Unidos, por meio da Aliança
para o Progresso, liberaram ajuda econômica para estados
governados por opositores de João Goulart; o embaixador norte-
americano no Brasil, Lincoln Gordon, apoiou as articulações do golpe
contra o presidente brasileiro; e os Estados Unidos, por meio da
Operação Brother Sam, interviriam militarmente no Brasil, caso
o golpe dos militares não tivesse dado certo em 1964.
5 - O golpe militar de 1964 no Brasil
Em 1964, Jango resolve lançar as "Reformas de Base" a fim
de mudar o país. Assim, o presidente anunciou: a desapropriações
de terras; a nacionalização das refinarias de petróleo; a reforma
eleitoral garantindo o voto para analfabetos; e a reforma
5
universitária, entre outras.
O presidente exigia uma nova constituição que acabasse com as
"estruturas arcaicas" da sociedade brasileira. Jango era apoiado por
universitários que atuavam por meio de suas organizações e uma das
principais era a União Nacional dos Estudantes (UNE). Igualmente,
os comunistas de várias tendências, desenvolviam intenso
trabalho de organização e mobilização popular, apesar de
atuarem na ilegalidade.
Diante do quadro de crescente agitação, os adversários do
governo aceleraram a realização do golpe. No dia 31 de março de
1964, o presidente João Goulart foi deposto pelos militares e
Jango refugiou-se no Uruguai. Aqueles que tentaram resistir ao golpe
sofreram dura repressão.
Para cobrir o vazio de poder, uma junta militar assumiu o
controle do país. No dia 9 de abril foi decretado o Ato Institucional
nº 1, dando poderes ao Congresso para eleger o novo presidente. O
general Humberto de Alencar Castelo Branco tornou-se
presidente, que havia sido chefe do estado-maior do Exército. Isto
era apenas o início da interferência militar na gestão política da
sociedade brasileira.
6 - A concentração de poder pelos militares brasileiros
Depois do golpe de 1964, o modelo político instaurado
visava fortalecer o poder executivo. Dezessete atos institucionais e
cerca de mil leis excepcionais foram impostas à sociedade brasileira.
Com o Ato Institucional nº 2, os antigos partidos políticos foram
fechados e foi adotado o bipartidarismo. Desta forma surgiram: a
Aliança Renovadora Nacional (Arena), que apoiava o governo; e o
Movimento Democrático Brasileiro (MDB), representando os
opositores, mas cercado por estreitos limites de atuação.
O governo, através da criação do Serviço Nacional de
Informação (SNI), montou um forte sistema de controle que
dificultava a resistência ao regime. Chefiado pelo general Golbery
6
do Couto e Silva, este órgão investigou todos aqueles suspeitos de
conspirar contra o regime, desde empresários até estudantes.
Os militares trataram de recuperar a credibilidade
econômica do país junto ao capital estrangeiro. Assim foram
tomadas as seguintes medidas: a contenção dos salários e dos
direitos trabalhistas; o aumento das tarifas dos serviços públicos;
a restrição ao crédito; o corte das despesas do governo; e a
diminuição da inflação, que estava em torno de 90% ao ano.
Porém, entre os militares havia discordância. O grupo mais
radical, conhecido como "linha dura", pressionava o grupo de
Castelo Branco, para que não admitisse atitudes de insatisfação e
afastasse os civis do núcleo de decisões políticas. As divergências
internas entre os militares influenciaram na escolha do novo general
presidente.
Em janeiro de 1967 foi aprovada, pelo Congresso Nacional, a
Nova Constituição, que ratificou os atos institucionais
promulgados durante o governo do general Castello Branco (1964-
1967), e futuros; acabando com o Estado de direito e as
instituições democráticas do país.
No dia 15 de março de 1967, assumiu o poder o general
Artur da Costa e Silva, ligado aos radicais. Apesar de toda
repressão, o novo presidente enfrentou dificuldades. Formou-se a
Frente Ampla para fazer oposição ao governo, tendo como líderes o
jornalista Carlos Lacerda e o ex-presidente Juscelino
Kubitschek.
7 - A resistência da sociedade brasileira à ditadura
A sociedade reagia às arbitrariedades do governo e
podemos citar, como exemplo, o mundo das artes. Em 1965 foi
encenada a peça "Liberdade, Liberdade", de Millôr Fernandes e Flavio
Rangel, que criticava o governo militar. Os festivais de música
7
brasileira foram cenários importantes para atuação dos compositores,
que compunham canções de protesto.
A Igreja Católica estava dividida: os grupos mais tradicionais
apoiavam o governo, porém os mais progressistas criticavam a
doutrina de segurança nacional.
As greves operárias reivindicavam o fim do arrocho salarial e
queriam liberdade para estruturar seus sindicatos. Os estudantes
realizavam passeatas reclamando da falta de liberdade política.
Com o aumento da repressão e a dificuldade de mobilizar a
população, alguns líderes de esquerda organizaram grupos
armados para lutar contra a ditadura. Entre as diversas organizações
de esquerda estavam a Ação Libertadora Nacional (ALN) e o
Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8). O forte clima de
tensão foi agravado com o discurso do deputado Márcio Moreira
Alves, que pediu ao povo que não comparecesse às comemorações do
dia 7 de setembro.
Para conter as manifestações de oposição, o general Costa e
Silva decretou em dezembro de 1968, o Ato Institucional nº 5. Este
suspendia as atividades do Congresso e autorizava à perseguição
de opositores.
Em agosto de 1969, o presidente Costa e Silva sofreu um
derrame cerebral e assumiu o vice-presidente Pedro Aleixo, político
civil mineiro. Em outubro de 1969, 240 oficiais generais indicam
para presidente o general Emílio Garrastazu Médici (1969-
1974), ex-chefe do SNI. Em janeiro de 1970, um decreto-lei tornou
mais rígida a censura prévia à imprensa.
Para lutar contra os grupos de esquerda, o Exército criou o
Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de
Defesa Interna (DOI-CODI). A atividade dos órgãos repressivos
desarticularam as organizações de guerrilhas urbana e rural,
que levaram à morte dezenas de militantes de esquerda.
8
8 - O crescimento econômico na ditadura militar brasileira
Com um forte esquema repressivo montado, Médici governou
procurando passar a imagem de que o país encontrara o
caminho do desenvolvimento econômico. Somado à conquista da
Copa de 1970, isso acabou criando um clima de euforia no país.
A perda das liberdades políticas era compensada pela
modernização crescente. O petróleo, o trigo e os fertilizantes, que o
Brasil importava em grandes quantidades, estavam baratos, eram
incorporados à pauta da exportação, soja, minérios e frutas. O setor
que mais cresceu foi o de bens duráveis, eletrodomésticos,
carros, caminhões e ônibus. A indústria da construção cresceu.
Mais de 1 milhão de novas moradias foram construídas
em dez anos de governo militar, financiadas pelo Banco Nacional de
Habitação (BNH),. Falava-se em "milagre brasileiro" ou "milagre
econômico".
Em 1973, o "milagre" sofreu sua primeira dificuldade, pois a
crise internacional elevou o preço do petróleo, encarecendo as
exportações. O aumento dos juros no sistema financeiro
internacional, elevou os juros da dívida externa brasileira. Isto
obrigou o governo a tomar novos empréstimos aumentando ainda
mais a dívida.
9 - A luta pela abertura política no Brasil
No dia 15 de março de 1974, Médici foi substituído na
Presidência pelo general Ernesto Geisel (1974-1979). Ele
assumiu prometendo retomar o crescimento econômico e restabelecer
a democracia. Mesmo lenta e controlada a abertura política
começava, o que permitiu o crescimento das oposições.
O governo Geisel aumentou a participação do Estado na
economia. Vários projetos de infraestrutura tiveram continuidade,
entre elas, a Ferrovia do Aço, em Minas Gerais, a construção da
9
hidrelétrica de Tucuruí, no Rio Tocantins e o Projeto Carajás.
Diversificou as relações diplomáticas comerciais e diplomáticas do
Brasil, procurando atrair novos investimentos.
Nas eleições de 1974, a oposição aglutinada no MDB,
obteve ampla vitória. Ao mesmo tempo, Geisel procurava conter
este o avanço, limitando a propaganda eleitoral durante as eleições de
1976. No ano seguinte, diante da recusa do MDB em aprovar a
reforma da Constituição, o Congresso foi fechado e o mandato do
presidente foi aumentado para seis anos.
A oposição começou a pressionar o governo, junto com a
sociedade civil. Com a crescente pressão, o Congresso já reaberto
aprovou, em 1979, a revogação do AI-5. O Congresso não podia
mais ser fechado, nem cassados os direitos políticos dos cidadãos.
Geisel escolheu como seu sucessor o general João
Baptista Figueiredo, eleito de forma indireta. Figueiredo assumiu o
cargo em 15 março de 1979, com o compromisso de aprofundar o
processo de abertura política. No entanto, a crise econômica seguia
adiante, com a dívida externa atingindo mais de 100 bilhões de
dólares, e a inflação chegava a 200% ao ano.
As reformas políticas continuaram sendo realizadas, mas a
linha dura lançou mão do terrorismo como o ocorrido no
Riocentro, em 1981. Surgiram vários partidos, entre eles o Partido
Democrático Social (PDS), o Partido do Movimento Democrático
Brasileiro, o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Democrático
Trabalhista, etc. Foi fundada a Central Única dos Trabalhadores
(CUT). Os espaços de luta pelo fim da presença dos militares no poder
central foram se multiplicando.
10 - A luta pela redemocratização brasileira
Nos últimos meses de 1983, teve início em todo o país uma
campanha pelas eleições diretas para presidente, as "Diretas Já", que
uniram várias lideranças políticas como Fernando Henrique Cardoso,
Luís Inácio Lula da Silva, Ulysses Guimarães, entre outros. O
10
movimento que chegou ao auge em 1984, quando seria votada a
Emenda Dante de Oliveira, que pretendia restabelecer as eleições
diretas para presidente. No dia 25 de abril, a emenda apesar de obter a
maioria dos votos, não conseguiu os 2/3 necessários para sua
aprovação.
Logo depois, grande parte das forças de oposição resolveu
participar das eleições indiretas para presidente. O PMDB
lançou Tancredo Neves, para presidente e José Sarney, para
vice. Reunido o Colégio Eleitoral, a maioria dos votos foi para
Tancredo Neves, que derrotou Paulo Maluf, candidato do PDS.
No dia 15 de março de 1985, o vice-presidente José Sarney
tomou posse na presidência, encerrando os dias da ditadura
militar. Tancredo Neves, que adoeceu na véspera da posse, faleceu em
21 de abril, efetivando José Sarney como presidente. Este convocou
uma nova Assembleia Constituinte, que elaborou e promulgou uma
nova Constituição, em 05 de outubro de 1988, iniciando a
redemocratização brasileira.

Fontes de consulta
BEZERRA, Juliana. Ditadura Militar no Brasil. Disponível em:
<https://www.todamateria.com.br/ditadura-militar-no-brasil/>.
Acesso em 04 de novembro de 2022 (com adaptações).
SILVA, Daniel Neves. "Ditaduras latino-americanas"; Brasil Escola.
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/militar.htm>.
Acesso em 05 de novembro de 2022 (com adaptações).

Você também pode gostar