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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

PENSAMENTO POLÍTICO LATINO-AMERICANO

PAMELLA DEYANE ALENCAR SALAZAR - 211033678

O IMPÉRIO DA SEGURANÇA NACIONAL: O GOLPE MILITAR DE 1964 NO BRASIL


Claudia Wasserman

BRASÍLIA
2023
O golpe de 1964 e as práticas de intervenção do exército brasileiro ao longo da
história.

Tendo ocorrido em abril de 1964, o golpe militar inaugurou um período marcado pela
insegurança e autoritarismo. O regime político que se desenvolveu a partir do golpe tinha
como objetivo conter o avanço dos movimentos sociais e promover um ambiente propício
para a expansão de uma economia capitalista. Além de servir de modelo para os golpes
militares que aconteciam por toda a América Latina e que pretendiam, também, reprimir os
movimentos populares e culturais que vinham tomando força e forma desde o fim da década
de 1950.
As Forças Armadas têm um histórico na intervenção política brasileira desde a
Proclamação da República e ajudaram Vargas chegar ao poder na mesma medida em que
foram protagonistas de sua queda, em 1945. Dessa forma, o Exército possuía autonomia e
domínio do uso da violência na sociedade, sob o pretexto da defesa dos interesses da
nação. Além disso, tinha a relação dos Estados Unidos com os países da América Latina,
marcada pelo domínio econômico do primeiro sobre os segundos.

As relações latino-americanas com os Estados Unidos e a Doutrina de Segurança


Nacional

Após fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos passaram a se preocupar


com uma possível ameaça soviética e direcionou sua atenção em estabelecer relações com
a América Latina, que, se encontrava em uma tendência desenvolvimentista desde a década
de 1940 e almejava que os estadunidenses se oferecessem uma política de assistência
econômica para a região. Diante do cenário de revoluções com viés socialista nos países da
América Latina, principalmente a Revolução Cubana, os Estados Unidos tinham ali uma
oportunidade para o controle da segurança interna (que na mente deles era o equivalente ao
controle da “ameaça” comunista). Sendo assim, propuseram então a Doutrina de Segurança
Nacional, que Wasserman (2004) definiu como:

Um conjunto de princípios e normas que serviram de base ao sistema


capitalista ocidental e segundo o qual o mundo estava dividido entre o bem
e o mal, sendo esse último representado pelo comunismo internacional,
supostamente infiltrado em todos os países do mundo. (WASSERMAN,
2004, pág. 30)
Os movimentos sociais no Brasil dos anos 1960

Na década de 1960, no Brasil, os movimentos sociais foram caracterizados pela


participação ativa dos grupos afetados pelas desigualdades sociais, incluindo trabalhadores
urbanos e rurais, estudantes e professores. Esses grupos se engajaram politicamente e se
uniram em oposição ao movimento militar, que estava aliado a empresários e líderes
religiosos. Ao mesmo tempo, membros das fileiras mais baixas das Forças Armadas se
manifestaram buscando melhores condições dentro da própria instituição.
Um caso adicional que evidencia o fortalecimento das lutas populares no Brasil foi a
conscientização política dos trabalhadores rurais. As Ligas Camponesas surgiram como
resposta à tentativa dos proprietários rurais de desapropriar as terras cultivadas pelos
camponeses. Lideradas por Francisco Julião, as Ligas Camponesas defendiam uma reforma
agrária abrangente e se aliaram a outras organizações políticas que também reivindicavam
reformas sociais.
A atuação da União Nacional dos Estudantes (UNE) desempenhou um papel crucial
na resistência contra o latifúndio, o imperialismo e a exploração dos trabalhadores. Diante
disso, os formuladores da Doutrina de Segurança Nacional enxergaram a "guerra
revolucionária" promovida por esses movimentos sociais como uma nova estratégia do
comunismo internacional.

O movimento Anticomunista no Brasil e as organizações de direita

Concomitantemente à ênfase na educação militar e ao combate aos movimentos de


esquerda, observava-se no Brasil uma crescente inclinação para se alinhar com o Ocidente.
Essa postura geopolítica era respaldada por uma fundamentação pseudo-científica, que
afirmava que o Brasil desempenharia um papel essencial na segurança do Atlântico como
um todo. O país seria uma ponte estratégica para conectar a América à massa continental
afro-euro-asiática. Nesse contexto, a “grande imprensa” desempenhou um papel crucial na
campanha anti-comunista.
O movimento de direita, que se opunha às tendências comunistas, contou com o apoio
dos empresários brasileiros, os quais buscavam desestabilizar o governo de Goulart. Eles
investiram recursos financeiros para financiar marchas, cobrir despesas com passagens
aéreas e organizar equipes de jornalismo especializadas em retratar uma imagem negativa
do presidente. Com o respaldo da mídia e dos empresários, os grupos de direita alcançaram
uma posição praticamente imbatível.

As controvérsias acerca dos fatores que levaram ao golpe de 1964


De acordo com especialistas na área, os golpes ocorridos na América Latina foram
uma resposta à agitação política e social dos anos 1960, visando conter tais movimentos e
fortalecer os laços capitalistas na região. O resultado dessas ações foi a gradual perda de
controle nacional sobre a economia, o enfraquecimento do setor capitalista, o aumento da
pobreza absoluta entre a classe trabalhadora, o fim do Estado de bem-estar social, a
concentração de capitais e a transformação do setor agrícola em um monopólio.
No Brasil, os movimentos sociais não representavam toda a sociedade em seu
conjunto. Na realidade, houve uma polarização entre aqueles que se identificavam com
tendências religiosas e aqueles que não se identificavam, o que foi evidente em eventos
como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Além disso, houve uma considerável
mobilização das mulheres, influenciadas pelos movimentos feministas nos Estados Unidos.
Essa parcela da população desempenhou um papel significativo na luta contra o
comunismo. Essas manifestações públicas foram indícios de uma profunda polarização na
sociedade brasileira. De um lado, havia a frente liderada por Goulart, com tendências
esquerdistas e uma visão de capitalismo de caráter popular. Por outro lado, havia a
mobilização da população impulsionada por igrejas e militares, que defendiam uma postura
de direita e um capitalismo voltado para a expansão.

O golpe civil-militar de 1964, sua organização e planejamento

Devido às propostas econômicas de Goulart que visavam beneficiar a população em


geral, o descontentamento recaía principalmente sobre os militares e os grandes
empresários. No entanto, uma tomada rápida do poder pelo exército não seria suficiente
para estabelecer uma nova ordem. Seria necessária uma abordagem gradual e sistemática
por parte dos militares, com a implementação de um novo sistema de acumulação de capital
que envolvesse o desmantelamento das forças sociais. Esse processo seria orientado pela
ideologia da segurança nacional. No entanto, os militares não agiam em consenso, havendo
divisões internas dentro da própria organização.
As divisões internas facilitaram a identificação das chamadas "ilhas de conspiração",
grupos organizados a favor do governo, porém não conectados entre si. É importante
destacar que a iniciativa do golpe não foi exclusiva dos militares, pois eles receberam apoio
de diversos setores da sociedade brasileira, preocupados com a possibilidade de Goulart
implementar o comunismo no país. Por essa razão, o termo "golpe civil-militar" é utilizado.
No período que antecedeu o golpe, a maior preocupação dos militares era a possibilidade de
quebra da hierarquia e da disciplina dentro das próprias fileiras. Eles viam essa quebra
como um reflexo do enfraquecimento do poder reparador militar na garantia das instituições.
O Estado implantado no Brasil pós 1964 e sua institucionalização

A junta militar que assumiu o controle do Brasil após o golpe alegava defender a
democracia, a legalidade e as instituições, com o pretexto de eliminar a ameaça da
subversão e do comunismo. No entanto, muitas das medidas adotadas apresentavam um
caráter antidemocrático, especialmente os Atos Institucionais. Durante o regime, foi criado o
SNI (Serviço Nacional de Informações) e várias leis foram estabelecidas para regular a
atividade da imprensa.
Esses mecanismos, embora aparentassem manter o país sob controle, resultaram na
intensificação da repressão e na construção de um estado terrorista, caracterizado por
violações graves dos direitos humanos. Na verdade, a repressão minava os valores liberais
e democráticos aos quais os militares afirmavam ser comprometidos. O Ato Institucional 5
representou o limite na tentativa de repressão, pois afetava todos os setores da sociedade e
presumia a existência de oposição em todas as classes sociais.

Durabilidade e Queda do Regime Militar no Brasil

O regime militar no Brasil perdurou por várias décadas devido a uma série de fatores.
Os militares, ao adotar medidas repressivas para conter as forças opositoras e utilizar
políticas econômicas, como o chamado "milagre brasileiro", conseguiram conquistar o apoio
das classes médias, o que contribuiu para sua estabilidade. Além disso, a Doutrina de
Segurança Nacional, aliada a uma ideologia homogênea, ajudou a criar uma imagem
distorcida de nacionalismo no país.
No entanto, ao mesmo tempo, a queda do regime militar pode ser explicada por
diversos fatores. Houve divisões dentro das próprias forças armadas, entre os militares
considerados "linha dura" e os "linha branda". O fim do milagre econômico resultou na
estagnação do crescimento econômico e na diminuição do poder de compra da população.
Além disso, houve uma mobilização das massas e um aumento das aspirações
democráticas, especialmente através da luta pelos direitos humanos, liberdade de
expressão e respeito às opiniões. Esses elementos foram fundamentais para o
enfraquecimento e a eventual queda do regime militar.

REFERÊNCIA

WASSERMAN, Claudia. O império da Segurança Nacional: o golpe militar de 1964 no


Brasil. Ditaduras Militares na América Latina. Porto Alegre: UFRGS, 2004.

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