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MEMÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA: A DITADURA

CIVIL/MILITAR NO BRASIL E SUAS REPRESENTAÇÕES POR


MORADORES DO MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA

Vinicius Cardoso de Lima


Mauro Lima de Paula

RESUMO:
Este trabalho apresenta a abordagem sobre o projeto de pesquisa “Memória e Ensino de
História: a Ditadura Civil/Militar no Brasil e suas representações por moradores do município
de Conceição do Araguaia” subsidiado pelo edital do PIBICIT N º 010/2019. O presente
trabalho que surgiu a partir do presente momento que a sociedade brasileira passa, de um
grande perigoso revisionismo e negacionismo científico, sobretudo o Histórico, no qual visa
investigar e analisar as representações dos moradores de Conceição do Araguaia-PA, sobre o
governo Civil/Militar que se instalou em 1964 e teve seu fim em março de 1985. A disputa de
narrativas e da memória em torno do assunto configurou até o início do século um cenário de
reconhecimento limitado e contraditório do regime e da tortura.

PALAVRAS-CHAVE: Ditadura Civil/Militar. Negacionismo/Revisionismo Histórico.


História Oral.
1 INTRODUÇÃO

O presente de trabalho surge a partir do momento presente que a sociedade brasileira


passa, de um crescente revisionismo num sentido amplo (o que nos interessa aqui é o
histórico), cujo resultado pode abrir um “espaço/tempo” perigoso para nossa jovem
democracia, além de produzir um quadro de acirramento de tensões sociais, pela sua
articulação com propostas obscuras de cerceamento do Ensino, sobretudo o de História.
Aproveitamos para reiterar aqui a importância do ensino de história na construção de uma
sociedade mais democrática e plural e, assim, como um direito (subjetivo e positivo) a ser
defendido.
O Golpe de 1964 inaugurou um dos períodos mais sombrios (se não o mais) da
história brasileira, a Ditadura Civil/Militar. Foi instaurada por uma coligação de forças e
interesses, composta pelo grande empresariado brasileiro, por latifundiários – proprietários de
grandes parcelas de terras, e por empresas estrangeiras instaladas no país, sobretudo aquelas
ligadas ao setor automobilístico. A conspiração contou com a participação de setores das
Forças Armadas, aos quais a maioria da oficialidade acabou aderindo, diante da passividade
da liderança militar legalista, ou seja, aquela que era contra um golpe de força contra o
presidente eleito (REIS, 1988), este trabalho se dispõe partindo de uma posição simpática de
NAPOLITAN 2014,
O golpe foi muito mais do que uma mera rebelião militar. Envolveu um conjunto
heterogêneo de novos e velhos conspiradores contra Jango e contra o trabalhismo:
civis e militares, liberais e autoritários, empresários e políticos, classe média e
burguesia. Todos unidos pelo anticomunismo, a doença infantil do antirreformismo
dos conservadores. (NAPOLITANO, 2014 p. 43)
Essa época ficou marcada na história do Brasil através da prática de vários atos
institucionais que colocavam em prática a censura, a perseguição política, a suspenção de
direitos constitucionais, a falta total de democracia e a repressão àqueles que fossem
contrários ao Governo Civil/Militar brasileiro e consequentemente também ocorreu estes fatos
em Conceição do Araguaia. Por isso, um dos focos dessa pesquisa, é mostrar e esclarecer os
pontos de vista de moradores conceicionenses que vivenciaram este período da Ditadura civil
militar.
Em setembro, de 1961, João Goulart através de um acordo no congresso nacional se
tornou presidente, porém tendo que dividir o cargo com Tancredo Neves, sendo assim, a
forma de governo deixou de ser presidencialista e passou a ser parlamentarista, que durou 14
meses até 1963 tendo fim através do voto popular. Mesmo assim o governo de Jango não teve
apoio por parte da imprensa, grande parte do congresso e grandes empresários e por isso teve
muita perseguição durante seu governo.
Com as crises econômicas em todo país, Goulart reuniu os melhores intelectuais
nacionais para procurar uma solução para a crise no Brasil e teve como resultado uma
proposta de salvação para o país, que era diversas reformas que ficaram conhecida como
“reformas de base”, o desafio do governo Goulart foi fazer essas reformas fossem aprovadas,
mas não conseguiu efetivar suas propostas, pois não foram aprovadas pelo congresso. Nesse
contexto Napolitano relata esse momento da seguinte forma:
A luta pelas “reformas”, na visão da imprensa liberal afinada com o discurso
anticomunista da Guerra Fria, tinha se tornado a desculpa para subverter a ordem
social, ameaçar a propriedade e a economia de mercado. Nessa perspectiva, o
presidente Jango era refém dos movimentos sociais radicais liberados pelo o seu
cunhado, Leonel Brizola, ou pior, era manipulado pelo Partido Comunista
Brasileiro. A própria fragilidade de sua liderança. conforme esta visão, seria uma
ameaça à estabilidade política e social. O único jornal que continuava fiel ao
trabalhismo e ao reformismo era o Última Hora. (NAPOLITANO, 2014,p.45).
Na sexta-feira, 13 de março de 1964, o presidente João Goulart defendeu as reformas
de base propostas por seu governo em um grande comício na Central do Brasil, no Rio de
Janeiro. Cerca de 200 mil pessoas participaram do ato político. Confira a íntegra do discurso:
Estaríamos, assim, brasileiros, ameaçando o regime se nos mostrássemos surdos aos
reclamos da Nação, desta Nação e desses reclamos que, de Norte a Sul, de Leste a
Oeste, levantam o seu grande clamor pelas reformas de base e de estrutura,
sobretudo pela reforma agrária, que será o complemento da abolição do cativeiro
para dezenas de milhões de brasileiros, que vegetam no interior, em revoltantes
condições de miséria. Ameaça à democracia, enfim, não é vir confraternizar com o
povo na rua. Ameaça à democracia é empulhar o povo brasileiro, é explorar os seus
sentimentos cristãos, na mistificação de uma indústria do anticomunismo,
insurgindo o povo até contra os grandes e iluminados ensinamentos dos grandes e
santos Papas que informam notáveis pronunciamentos, das mais expressivas do
episcopado nacional (Discursos Selecionados do Presidente João Goulart, Brasilia,
2010).
Em 19 de março de 1964, era realizada na cidade de São Paulo a "Marcha da Família
com Deus pela Liberdade”. Em resposta ao comício da Central, o movimento Congregou
segmentos da classe média, temerosos do "perigo comunista" e favoráveis à deposição do
presidente da República João Goulart. A marcha contou com a participação de cerca de
trezentas mil pessoas, a iniciativa da Marcha da Família repetiu-se em outras capitais, mas já
após a derrubada de Goulart pelos militares em 31 de março, o que as tornou conhecidas
como "marchas da vitória". Diante disso, insatisfeitos com João Goulart, em 31 de março na
década de 1946, alguns grupos de militares e civis promulgaram o que ficou conhecido com
golpe de 1964 grandes empresários associados à capital multinacional já não acreditavam
mais na capacidade do governo em retomar o crescimento em um “ambiente seguro” para os
negócios. (NAPOLITANO,2014, p.46).
A imprensa por sua vez publicava e anunciava inúmeros dados manipulados e fictícios
amparando os militares, por acreditarem que o governo atual era um governo comunista assim
a imprensa tinha como principal objetivo manipular a população e derrubar os “comunistas”
que estavam no poder.
Na lógica particular da classe média brasileira, a ascensão dos “de baixo” é sempre
vista como ameaça aos que estão nos andares de cima do edifício social. como os
que estão na cobertura tem mais recursos para se proteger, quem está mais de perto
da base da pirâmide social se sente mais ameaçado. Não por acaso, o fantasma do
comunismo encontrou mais eco nesses segmentos médios. As classes médias
bombardeadas pelos discursos comunistas da imprensa e de várias entidades civis
religiosas reacionárias acreditavam piamente que moscou tramava para conquistar o
Brasil, ameaçando a civilização cristã, as hierarquias “naturais” da sociedade e a
liberdade individual. (NAPOLITANO,2014 p.46 e 47)
2 NEGACIONISMO REVISIONISMO HISTÓRICO

Renato Prelorentzou 05 de abril de 2019 – Em uma conversa com o historiador


Marcos Napolitano, autor de ‘1964: história do regime militar brasileiro’, sobre a longa
formação da memória da ditadura e suas mais recentes disputas realiza perguntas muito
importantes sobre 64 e o atual momento político, em uma passagem de seu trabalho,
interpretou o momento do governo atual da seguinte forma ao ser questionado sobre – Quais
são os sentidos e efeitos da postura de um presidente da República que incentiva
comemorações de um golpe militar que instaurou uma ditadura? – em reposta Marcos
Napolitano diz: “Sinceramente, eu não esperaria menos do presidente atual. Ele e seus
seguidores estão em campanha contra os inimigos imaginários da nação. Em termos práticos e
simbólicos, sinaliza a valorização de Golpe de Estado, demando a uma instituição de Estado,
que são as Forças Armadas, que o comemore “devidamente”. Isto não é nada bom para um
país que quer se afirmar como uma democracia, não importa de qual matiz ideológico.”
Diante disso, podemos ressaltar que falta de conhecimento da própria história que a
sociedade brasileira possui, somado a discursos políticos sombrios que negam a ciência e os
métodos no qual foi escrita a história da Ditadura é o que culmina no grande negacionismo
históricos que temos visto hoje, negar que não ouve tortura no período do governo
Civil/Militar é um dos discursos mais comuns, no entanto segundo a Human Rights Watch
que é uma organização internacional não governamental que defende e realiza pesquisas sobre
os direitos humanos, cerca de vinte mil pessoas foram torturadas entre 1964 e 1985 (período
do governo Civil/Militar).
Em quanto de um lado historiadores e pesquisadores provam através de pesquisas e
dados coletados que ouve censura, tortura, repressão e mortos durante a Ditadura civil/Militar
por apenas quererem expor suas opiniões e direito de escolher seus representantes, do outro
lado, uma parcela da população por falta de conhecimento da própria história somado a
discursos políticos obscuros convincentes, negam que se quer ouve ditadura, mesmo diante de
inúmeras evidências que são fechamento do Congresso, a extinção dos partidos, a censura à
imprensa, as cassações de mandatos e de direitos políticos, as demissões arbitrárias, tortura e
muitos outros.
Para grande parte dos militares envolvidos neste processo, não houve Ditadura, e os
supostos excessos cometidos, como a tortura e mortes, quando foram, se foram, foi
perfeitamente justificável, pois foi em defesa da segurança nacional, ameaçada pela
“ofensiva” comunista no Brasil na década de 1960.
O historiador José Murilo de Carvalho nos deixa em estado de alerta para situação que
se apresenta atualmente, o negacionismo histórico, o que é prejudicial para o indivíduo, pois
uma vez negacionado o fato histórico ele ganha novas interpretações que por vezes não
condiz com o que consta nos documentos e a facilidade de propagação de notícias e teses
alcançariam muitas pessoas de forma não benéfica para história identitária do país.
Tais disputas de narrativa engendram conflitos entre projetos de sociedade no
presente, muitas vezes nublados pelas polêmicas batalhas de memória. Estes conflitos, por sua
vez, criam uma espécie de névoa, uma dificuldade em enxergar e reconhecer os
acontecimentos ou o processo histórico ocorrido, bem como, muitas vezes, a dificuldade de
narrar os traumas (ABREU, 2015).
Diante disso, podemos observar em alguns discursos nos dias de hoje, pessoas que
defendem o retorno da Ditadura Civil-Militar como a solução para os problemas do país,
baseados em uma visão pouco aprofundada e construída de que “na época da Ditadura era
melhor”. Neste contexto, com o agravamento dos direitos e das pautas dentro do qual o
revisionismo se encontra, a historiografia e o ensino de história, até mesmo por sua fluidez e
pela abertura a diferentes perspectivas, são atacados por grupos políticos interessados em
monopolizar as narrativas histórias em prol de seus próprios interesses no presente.
3 OBJETIVOS:

3.1 OBJETIVOS GERAIS:

Contribuir para a desmitificação do período da Ditadura Civil/Militar no Brasil, bem


como promover uma ressignificação da história do regime, a partir da narrativa como
momento de reflexão e memorações do vivido.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

• Promover uma reflexão nos alunos do curso de Licenciatura em História do IFPA


Campus Conceição do Araguaia e das escolas municipais alvo da parte extensiva do Projeto,
para a necessidade e a relevância de se ressignificar as representações sobre a Ditadura
Civil/Militar no Brasil no momento atual;
• Contribuir para o reconhecimento e uso da memória (individual e coletiva), como
fonte para se conhecer o passado (o vivido) e, a partir dela, reconstruir ou ressignificar a
História;
• Demonstrar o risco que um revisionismo sem um cunho estritamente
científico/acadêmico pode oferecer à recente Democracia e ao Estado de Direito brasileiro na
atualidade;
• Promover a reflexão sobre o papel da imprensa na construção dessas representações
sobre a Ditadura.
4 METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a coleta de dados na pesquisa foi a História Oral através
de entrevista e aplicação de questionário seguido de análise do conteúdo coletado. A História
oral que segundo Meihy (2002), se constitui em um conjunto de procedimentos modernos
utilizados nas pesquisas que privilegiam experiências de indivíduos ou grupos, utilizando a
técnica de entrevistas gravadas por meios eletrônicos.
Etapas do processo:
A. Reunião com os discentes, para elaborar o cronograma de atividades, infraestrutura
necessária, fontes de recursos, bibliografia a ser utilizada e ações para a produção de
material didático fim deste projeto;
B. Levantamento bibliográfico acerca da produção memorialística e histórica do município
de Conceição do Araguaia;
C. Organização e Sistematização do levantamento bibliográfico;
D. Pesquisa de campo: entrevistas com moradores locais e sistematização e análise das
entrevistas;
E. Organização e sistematização dos dados produzidos na pesquisa de campo/Relatório
5 REPRESENTAÇÕES DA DITADURA POR MORADORES DE CONCEIÇÃO DE
ARAGUAIA

Conceição do Araguaia é uma cidade com pouco mais de 40 mil habitantes, que fica
localizado no sul do estado do Pará, cerca de 1000km até Belém capital do estado paraense.
Dois moradores conceicionenses colaboraram para a produção dessa pesquisa através de suas
disponibilizações para a realização da entrevista, o primeiro entrevistado foi o senhor José
Alves de Paula que possuía no dia da entrevista 75 Anos, e é sindicalista durante 12 anos em
Conceição do Araguaia, o segundo entrevistado foi o senhor Zé Galdino que possuía 65 Anos
no dia da entrevista, é trabalhador rural e veio para Conceição do Araguaia em julho de 1977.
Durante a entrevista, ao ser questionado como era viver entre 1964 e 1985 (período da
ditadura) em Conceição do Araguaia o senhor José Alves de Paula relata:
“Viver naquela época era vegetar né? Você não vivia você vegetava. Aqui não tinha
nada, até as coisas pra se comer era difícil, chegamos numa época aqui, mais ou menos em 64
que o sal nós comprava em garrafa, era diluído o sal, o comerciante desmanchava, vinha
aquele sal em pedra grande né?! Trazia de navio, aí desmanchava aquele sal e vendia em litro
de água de sal pra gente temperar a comida, tanto litro pra cada família. A cidade era bem
pequenininha, as ruas vinham só até onde é a fundação Bradesco hoje.” (José Alves de Paula,
2019)
Já para o senhor Zé Galdi, viver naquela época (1970-1985) “era tão difícil que não dá
nem para explicar. Primeiro que pobre não tinha vez. Pobre não tinha direito a comer. Hoje
nego fala a ta ruim, ta ruim hoje, nego escolhe o que comer, não anda de pé não, anda de
bicicleta só. Aqui dentro do Pará, donde nós morava na PA era 30 quilômetros, nos ia de a pé
vinha para beira do asfalto. Você sabe até onde que é na Trans Pará só porque nós ficava pra
lá um pouquinho mais como morreu o nome pra lá que era bairro imperial era o ponto que nos
vinha da roça pra pega o ônibus lá e pegava o ônibus daqui pra lá também.” (Zé Galdi, 2019)

Como podemos observar, segundo os relatos dos entrevistados, não era nada fácil no
período do governo Civil/Militar brasileiro em Conceição do Araguaia. No entanto, em
contraste dessas memorações vividas de José Alves de Paula e Zé Galdi, atualmente muitas
pessoas defendem o retorno da Ditadura Civil/Militar como a solução para os problemas do
país, baseados em uma visão pouco aprofundada e construída de que “na época da Ditadura
era melhor”.
5.1 ATOS INSTITUCIONAIS NA DITADURA (1964-1985)

Uma das evidências mais clara desse período, se destaca os Atos Institucionais
publicado pelo governo. O Ato Institucional 1 ou simplesmente AI-1 defende o golpe,
denominado no documento como sendo uma "revolução" que representou não o interesse de
um grupo, mas de toda a Nação.
O primeiro ato institucional foi publicado em 9 de abril de 1964, poucos dias após o
golpe que levou à destituição do presidente Jango e colocou no poder para as Forças
Armadas. Passou a ser assim chamado, AI-1, após a edição do AI-2
Em seu preâmbulo, o AI-1 defende o golpe, denominado no documento como sendo
uma "revolução" que representou não o interesse de um grupo, mas de toda a Nação. Declara
o Poder Constituinte da "revolução vitoriosa" que, a partir dali, destituía o governo anterior e
constituía um novo governo com base na edição de normas jurídicas que não se limitariam à
Constituição vigente, a de 1946.
Também se colocavam como representantes do povo na sua "quase totalidade" para
operar a "obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil", visando a
restauração da ordem interna e do prestígio internacional do país. Para isso, o AI-1 se
colocaria como instrumento não de radicalização, mas de garantia dos poderes necessários ao
executivo para realizar as mudanças propostas e acabar com a ameaça “comunista", já
presente em todas as esferas da administração pública e, por isso, não precisaria ser
legitimado pelo Congresso, visto pelos militares como um dos lugares em que a ‘esquerda” já
tinha representantes. O AI-1 determinava a manutenção das Constituições vigentes, mas
mudava as eleições presidenciais para o dia 11 de abril cujo mandato duraria até 31 de janeiro
de 1966. Essa eleição seria realizada a partir de maioria absoluta dos membros do Congresso
Nacional na primeira votação, e caso não houvesse quórum, seria considerada a maioria
simples dos votos. Nessa ocasião, foi eleito o general Humberto de Alencar Castello Branco.
NAPOLITANO relata o primeiro ato institucional da seguinte forma:
O primeiro Ato Institucional não tinha número, pois, se acreditava, seria o único.
Mas a conjuntura de 1965 apresentava uma crescente insatisfação dentro dos
quartéis como o tom considerado moderado do governo, e, na sociedade, com a
dissolução da coalização anti-Goulart, decepcionada com os rumos do regime. Em
outubro, como reação aos resultados eleitorais na Guanabara em Minas Gerais, que
apontavam outros rumos para a política nacional, o governo promulgou o Ato
Institucional nº 2. (NAPOLITANO 2014)
Durante toda a Ditadura Civil/Militar muitos Atos Institucionais foram feitos, mas o
mais severo e conhecido até os tempos atuais é o AI-5, esse Ato Institucional permitia que
policias e militares não precisasse de um mandado judicial para prender, torturar e interrogar
qualquer pessoa que fosse suspeita de ir contra o governo, também extinto o Habeas Corpus e
não era mais possível solicitar um advogado.
O AI-5 é entendido como o marco que inaugurou o período mais sombrio da ditadura
militar no Brasil. Julia Dias Caneiro em sua obra 50 anos de AI-5: negar ditadura é ignorância
histórica, relata uma série de motivos que faz que esse ato institucional seja lembrado como o
mais severo da ditadura no Brasil, ao afirmar: Decretado no dia 13 de dezembro de 1968, o
Ato Institucional número 5 (AI-5) ficou marcado na história como nível mais extremo a que
chegou o autoritarismo no Brasil e foi ponto de partida para institucionalizar a repressão
política durante a ditadura militar, afirma o historiador Carlos Fico. Em entrevista à BBC
News Brasil, o historiador afirma que discursos que buscam negar a ditadura são expressão de
uma “ignorância histórica”. Para ele, o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que
defende a ditadura, poderá ser marcado por tentativas de reescrever a (HISTÓRIA) sobre o
período, iniciativas que poderão “dar trabalho”, mas não irão prevalecer. “É impossível
ocultar eventos traumáticos, como o Apartheid na África do Sul, ou o nazismo na Alemanha,
ou as ditaduras militares latino-americanas”, afirma Fico, especialista em estudos sobre
ditadura militar e autor de livros como O Golpe de 1964: Momentos Decisivos (Editora FGV,
2014) e Como Eles Agiam – Os Subterrâneos da Ditadura Militar: Espionagem e Polícia
Políticas (Record, 2001).
Em relação ao AI-5 os entrevistados José Alves de Paula e Zé Galdino demonstram o
terror que foi esse período no Brasil da seguinte forma:
Zé Galdino: naquela época não tinha governo para pobre teve governo para pobre para
pobre depois do Lula pra cá o Fernando Henrique abril um pouquinho mais para pobre foi do
Lula pra cá se você não tinha um bom salário você não ia para faculdade se você não fosse
pessoa rica não ia o pobre não tinha direito de nada.
O Senhor José Alves de Paula que também morou em Conceição do Araguaia na
década de 60, fala em sua entrevista o que foi o AI-5 na visão de morador da região: Foi a lei
que mais prejudicou o povo e a maior corrupção do mudo que o AI-5 trouxe pra cá pra nós. eu
vi esses dias aquele filho do Bolsonaro querendo voltar o AI5 de novo, meu Deus esse
negócio não pode existi no Brasil mais não, tortura total.
5.2 GUERRILHA DO ARAGUAIA:

A Guerrilha do Araguaia aconteceu nas regiões sudeste do Pará e norte do então


estado de Goiás (atual Tocantins), abrangendo também terras do Maranhão, na área conhecida
como ‘Bico do Papagaio’. Ocorreu entre meados da década de 1960, quando os primeiros
militantes do Partido Comunista do Brasil (PC do B). Essa Guerrilha também teve impactos
no municipio de Conceição do Araguia, que atraves dos relatos obitidos nas entrevistas orais
dos moradores Zé Galdino e José
Alves de Paula é que vemos a forma que foi essa Guerrilha na região, ao afirmar, Zé
Galdino:
A Guerrilha do Araguaia era coisa da ditadura também. aquilo não era grileiro, não era
guerrilheiro que estava era o pessoal que queria terra para trabalhar, então acabou nas terras
que o governo mandou policial retirar eles, mas não tem nada com guerra, com terrorista que
eles prega terrorista que porra de terrorista terror é igual esta lá no Rio de Janeiro como é que
eles não vão lá bater naquilo igual nos viu na praia aqueles dias passando aí. Não sei se vocês
viu aquilo é terror. Aqueles homens que estava no Xambioá eles estava tentando ganhar o pão
de cada dia tinha nego ali, que tinha mais de 5 anos falando que morava ali teve que saiu de lá
com a mão abanando e não morreu, tem gente desaparecido até hoje da Guerrinha do
Araguaia que foi na região de Xambioá. Veio começar em 72, aquela quando eu cheguei era
polícia descendo direto pra cá mas não tem nada de terrorismo. Não tinha terra para pobre,
não tinha gado para pobre. Pobre comia osso quando sobrava.
Na entrevista feita com o senhor José Alves de Paula também temos o relato de que
esse momento da história teve grande repressão, em um trecho de sua entrevista ele comenta:
Guerrilha do Araguaia começou em São Geraldo, como eu falei, em 70 eu cheguei a
fazer uma reunião, o que mais tinha era soldado né?! E a guerrilha foi assim tão desastrosa
que os coitados que não devia nada que pagaram mais caro, os lavradores perderam tudo que
tinham e foi o mais massacrado, enquanto era apenas um grupo que tava lá defendendo o
direito da bacia amazônica, que eles condenavam de subversivo de terrorista que era um
grupo do PCDOB que tava lá, partido comunista do Brasil, como eles não aceitavam, aí
baixou em cima para prender ou matar, e como tinha gente que era formado, doutorado tudo
no meio prepararam pra guerilham né ?!aí foi aonde entrou a Guerrilha do Araguaia,
Asvaldão, Dina,Nilton miranda, Paulo Froteire são nomes tradicionais , tudo sofreu na unhas
desse povo e a tortura foi terrível.
Para nosso segundo entrevistado Zé Galdino também trás seu relato de como foi esse
periodo:
A Guerrilha do Araguaia minha filha ela era coisa da ditadura também aquilo não era
grileiro, não era guerrilheiro que estava era o pessoal que queria terra para trabalhar então
acabou nas terras que o governo mandou policial retirar eles mais não tem nada com guerra,
com terrorista que eles prega terrorista que porra de terrorista terror é igual está lá no Rio de
Janeiro como é que eles não vão lá bater na quilo igual nos viu na praia aqueles dias passando
ai. Não sei se vocês viu aquilo é terror. Aqueles homens que estava no Xambioá eles estava
tentando ganhar o pão de cada dia tinha nego ali que tinha mais de 5 anos falando que morava
ali teve que saiu de lá com a mão abanando e não morreu, tem gente desaparecido ate hoje da
Guerrinha do Araguaia que foi na região de Xambioá. Veio começar em 72 aquela quando eu
cheguei era polícia descendo direto pra cá mais não tem nada de terrorismo. Não tinha terra
para pobre, não tinha gado para pobre. Pobre comia osso quando sobrava.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este trabalho, esperamos que tenha sido feita ação política a serviço do passado –
às memórias dos esquecidos, dos apagados, dos injustiçados – mas também do presente: para
trazer à tona as imagens do próprio cotidiano e nos fazer lembrar dos esquecidos e dos
injustiçados na contemporaneidade. Desse modo, a preocupação com a verdade do passado
vem da exigência de um presente lúcido e combativo, em que a condição humana não seja
ameaçada pelas violências de governos que não respeita e obedece ao Estado Democrático de
Direito e, consequentemente, aos direitos das pessoas.
7 REFERÊNCIAS:

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mundo contemporâneo”. História e Cultura, Franca, v. 4, n. 2, p. 7-24, 2015.
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