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RESUMO:
Este trabalho apresenta a abordagem sobre o projeto de pesquisa “Memória e Ensino de
História: a Ditadura Civil/Militar no Brasil e suas representações por moradores do município
de Conceição do Araguaia” subsidiado pelo edital do PIBICIT N º 010/2019. O presente
trabalho que surgiu a partir do presente momento que a sociedade brasileira passa, de um
grande perigoso revisionismo e negacionismo científico, sobretudo o Histórico, no qual visa
investigar e analisar as representações dos moradores de Conceição do Araguaia-PA, sobre o
governo Civil/Militar que se instalou em 1964 e teve seu fim em março de 1985. A disputa de
narrativas e da memória em torno do assunto configurou até o início do século um cenário de
reconhecimento limitado e contraditório do regime e da tortura.
A metodologia utilizada para a coleta de dados na pesquisa foi a História Oral através
de entrevista e aplicação de questionário seguido de análise do conteúdo coletado. A História
oral que segundo Meihy (2002), se constitui em um conjunto de procedimentos modernos
utilizados nas pesquisas que privilegiam experiências de indivíduos ou grupos, utilizando a
técnica de entrevistas gravadas por meios eletrônicos.
Etapas do processo:
A. Reunião com os discentes, para elaborar o cronograma de atividades, infraestrutura
necessária, fontes de recursos, bibliografia a ser utilizada e ações para a produção de
material didático fim deste projeto;
B. Levantamento bibliográfico acerca da produção memorialística e histórica do município
de Conceição do Araguaia;
C. Organização e Sistematização do levantamento bibliográfico;
D. Pesquisa de campo: entrevistas com moradores locais e sistematização e análise das
entrevistas;
E. Organização e sistematização dos dados produzidos na pesquisa de campo/Relatório
5 REPRESENTAÇÕES DA DITADURA POR MORADORES DE CONCEIÇÃO DE
ARAGUAIA
Conceição do Araguaia é uma cidade com pouco mais de 40 mil habitantes, que fica
localizado no sul do estado do Pará, cerca de 1000km até Belém capital do estado paraense.
Dois moradores conceicionenses colaboraram para a produção dessa pesquisa através de suas
disponibilizações para a realização da entrevista, o primeiro entrevistado foi o senhor José
Alves de Paula que possuía no dia da entrevista 75 Anos, e é sindicalista durante 12 anos em
Conceição do Araguaia, o segundo entrevistado foi o senhor Zé Galdino que possuía 65 Anos
no dia da entrevista, é trabalhador rural e veio para Conceição do Araguaia em julho de 1977.
Durante a entrevista, ao ser questionado como era viver entre 1964 e 1985 (período da
ditadura) em Conceição do Araguaia o senhor José Alves de Paula relata:
“Viver naquela época era vegetar né? Você não vivia você vegetava. Aqui não tinha
nada, até as coisas pra se comer era difícil, chegamos numa época aqui, mais ou menos em 64
que o sal nós comprava em garrafa, era diluído o sal, o comerciante desmanchava, vinha
aquele sal em pedra grande né?! Trazia de navio, aí desmanchava aquele sal e vendia em litro
de água de sal pra gente temperar a comida, tanto litro pra cada família. A cidade era bem
pequenininha, as ruas vinham só até onde é a fundação Bradesco hoje.” (José Alves de Paula,
2019)
Já para o senhor Zé Galdi, viver naquela época (1970-1985) “era tão difícil que não dá
nem para explicar. Primeiro que pobre não tinha vez. Pobre não tinha direito a comer. Hoje
nego fala a ta ruim, ta ruim hoje, nego escolhe o que comer, não anda de pé não, anda de
bicicleta só. Aqui dentro do Pará, donde nós morava na PA era 30 quilômetros, nos ia de a pé
vinha para beira do asfalto. Você sabe até onde que é na Trans Pará só porque nós ficava pra
lá um pouquinho mais como morreu o nome pra lá que era bairro imperial era o ponto que nos
vinha da roça pra pega o ônibus lá e pegava o ônibus daqui pra lá também.” (Zé Galdi, 2019)
Como podemos observar, segundo os relatos dos entrevistados, não era nada fácil no
período do governo Civil/Militar brasileiro em Conceição do Araguaia. No entanto, em
contraste dessas memorações vividas de José Alves de Paula e Zé Galdi, atualmente muitas
pessoas defendem o retorno da Ditadura Civil/Militar como a solução para os problemas do
país, baseados em uma visão pouco aprofundada e construída de que “na época da Ditadura
era melhor”.
5.1 ATOS INSTITUCIONAIS NA DITADURA (1964-1985)
Uma das evidências mais clara desse período, se destaca os Atos Institucionais
publicado pelo governo. O Ato Institucional 1 ou simplesmente AI-1 defende o golpe,
denominado no documento como sendo uma "revolução" que representou não o interesse de
um grupo, mas de toda a Nação.
O primeiro ato institucional foi publicado em 9 de abril de 1964, poucos dias após o
golpe que levou à destituição do presidente Jango e colocou no poder para as Forças
Armadas. Passou a ser assim chamado, AI-1, após a edição do AI-2
Em seu preâmbulo, o AI-1 defende o golpe, denominado no documento como sendo
uma "revolução" que representou não o interesse de um grupo, mas de toda a Nação. Declara
o Poder Constituinte da "revolução vitoriosa" que, a partir dali, destituía o governo anterior e
constituía um novo governo com base na edição de normas jurídicas que não se limitariam à
Constituição vigente, a de 1946.
Também se colocavam como representantes do povo na sua "quase totalidade" para
operar a "obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil", visando a
restauração da ordem interna e do prestígio internacional do país. Para isso, o AI-1 se
colocaria como instrumento não de radicalização, mas de garantia dos poderes necessários ao
executivo para realizar as mudanças propostas e acabar com a ameaça “comunista", já
presente em todas as esferas da administração pública e, por isso, não precisaria ser
legitimado pelo Congresso, visto pelos militares como um dos lugares em que a ‘esquerda” já
tinha representantes. O AI-1 determinava a manutenção das Constituições vigentes, mas
mudava as eleições presidenciais para o dia 11 de abril cujo mandato duraria até 31 de janeiro
de 1966. Essa eleição seria realizada a partir de maioria absoluta dos membros do Congresso
Nacional na primeira votação, e caso não houvesse quórum, seria considerada a maioria
simples dos votos. Nessa ocasião, foi eleito o general Humberto de Alencar Castello Branco.
NAPOLITANO relata o primeiro ato institucional da seguinte forma:
O primeiro Ato Institucional não tinha número, pois, se acreditava, seria o único.
Mas a conjuntura de 1965 apresentava uma crescente insatisfação dentro dos
quartéis como o tom considerado moderado do governo, e, na sociedade, com a
dissolução da coalização anti-Goulart, decepcionada com os rumos do regime. Em
outubro, como reação aos resultados eleitorais na Guanabara em Minas Gerais, que
apontavam outros rumos para a política nacional, o governo promulgou o Ato
Institucional nº 2. (NAPOLITANO 2014)
Durante toda a Ditadura Civil/Militar muitos Atos Institucionais foram feitos, mas o
mais severo e conhecido até os tempos atuais é o AI-5, esse Ato Institucional permitia que
policias e militares não precisasse de um mandado judicial para prender, torturar e interrogar
qualquer pessoa que fosse suspeita de ir contra o governo, também extinto o Habeas Corpus e
não era mais possível solicitar um advogado.
O AI-5 é entendido como o marco que inaugurou o período mais sombrio da ditadura
militar no Brasil. Julia Dias Caneiro em sua obra 50 anos de AI-5: negar ditadura é ignorância
histórica, relata uma série de motivos que faz que esse ato institucional seja lembrado como o
mais severo da ditadura no Brasil, ao afirmar: Decretado no dia 13 de dezembro de 1968, o
Ato Institucional número 5 (AI-5) ficou marcado na história como nível mais extremo a que
chegou o autoritarismo no Brasil e foi ponto de partida para institucionalizar a repressão
política durante a ditadura militar, afirma o historiador Carlos Fico. Em entrevista à BBC
News Brasil, o historiador afirma que discursos que buscam negar a ditadura são expressão de
uma “ignorância histórica”. Para ele, o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que
defende a ditadura, poderá ser marcado por tentativas de reescrever a (HISTÓRIA) sobre o
período, iniciativas que poderão “dar trabalho”, mas não irão prevalecer. “É impossível
ocultar eventos traumáticos, como o Apartheid na África do Sul, ou o nazismo na Alemanha,
ou as ditaduras militares latino-americanas”, afirma Fico, especialista em estudos sobre
ditadura militar e autor de livros como O Golpe de 1964: Momentos Decisivos (Editora FGV,
2014) e Como Eles Agiam – Os Subterrâneos da Ditadura Militar: Espionagem e Polícia
Políticas (Record, 2001).
Em relação ao AI-5 os entrevistados José Alves de Paula e Zé Galdino demonstram o
terror que foi esse período no Brasil da seguinte forma:
Zé Galdino: naquela época não tinha governo para pobre teve governo para pobre para
pobre depois do Lula pra cá o Fernando Henrique abril um pouquinho mais para pobre foi do
Lula pra cá se você não tinha um bom salário você não ia para faculdade se você não fosse
pessoa rica não ia o pobre não tinha direito de nada.
O Senhor José Alves de Paula que também morou em Conceição do Araguaia na
década de 60, fala em sua entrevista o que foi o AI-5 na visão de morador da região: Foi a lei
que mais prejudicou o povo e a maior corrupção do mudo que o AI-5 trouxe pra cá pra nós. eu
vi esses dias aquele filho do Bolsonaro querendo voltar o AI5 de novo, meu Deus esse
negócio não pode existi no Brasil mais não, tortura total.
5.2 GUERRILHA DO ARAGUAIA:
Com este trabalho, esperamos que tenha sido feita ação política a serviço do passado –
às memórias dos esquecidos, dos apagados, dos injustiçados – mas também do presente: para
trazer à tona as imagens do próprio cotidiano e nos fazer lembrar dos esquecidos e dos
injustiçados na contemporaneidade. Desse modo, a preocupação com a verdade do passado
vem da exigência de um presente lúcido e combativo, em que a condição humana não seja
ameaçada pelas violências de governos que não respeita e obedece ao Estado Democrático de
Direito e, consequentemente, aos direitos das pessoas.
7 REFERÊNCIAS: