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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA HUMANA

GEOGRAFIA DA INDÚSTRIA

Discente: CLARA VIEGAS PALUMBO VITAL

A DIALÉTICA DO DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA NO BRASIL

Resenha crítica de uma análise histórica e materialista dos desdobramentos da economia


brasileira no século XX e a revolução brasileira

Rio de Janeiro

2023
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1. INTRODUÇÃO:

O texto de Rui Mauro Marini, que será considerado nesta resenha crítica, escrito na
década de 1970, tem como objetivo explicar como veio a se desenvolver o golpe militar de
1964 e a radicalização política anterior e contemporânea a este período para dar base a sua
análise acerca de uma eminente revolução brasileira. Consequentemente, o texto também
contextualiza e introduz o leitor à história política brasileira do século XX, indicando como os
fatos culminaram nos resultados que obtiveram.
Nesta resenha serão considerados os pontos que foram julgados de maior relevância,
tendo em vista a extensão e complexidade do texto.

2. O QUE O TEXTO TEM A NOS DIZER:

O texto começa em uma breve introdução que indica o fato de que, ao chegar no
poder, qualquer político minimamente de esquerda corre o risco de ser sabotado ou deposto
por quem detém o poderio econômico, político e militar (sendo estes representados pelas
burguesias nacional e internacional). Ao longo das páginas o autor exemplifica isso com o
caso de João Belchior Marques Goulart, o presidente eleito anterior ao golpe de 1964.
O tópico “A primeira ranhura na coalizão dominante” contará sobre a ditadura de
Getúlio Vargas, explicando suas medidas econômicas e políticas. O compromisso político que
representava o Estado Novo de Vargas perdura até 1950. A partir deste ano este “contrato
social” se vê ameaçado por uma burguesia que tenta colocar o aparelho estatal e os recursos
econômicos disponíveis a seu próprio favor, ameaçando o “estado de bem-estar social”, as
concessões dadas ao povo durante a ditadura varguista. Isso levou à deterioração das
condições as quais se baseavam essas concessões.
Dificuldades no setor externo levavam a burguesia nacional a ver o desenvolvimento
industrial como oposição ao modelo agrário-exportador, talvez já indicando uma
reprimarização da economia. Diante da força e pressão das massas em busca de novas
conquistas sociais, a burguesia passa a incentivar um ideal nacionalista, baseado nesse
interesse comum das massas. A proposta era de um programa de expansão econômica, que
implicava na geração de novos empregos. Isso permitiu que essa “nova classe dominante”
cativasse a população, ganhando certo controle ideológico. Havia todo um esforço, uma
preocupação em conter e garantir a não existência de sequer um sentimento revolucionário,
pois era importante que essa expansão ocorresse sem maiores problemas, sem qualquer
ameaça. Por isso o campo ideológico assumiu grande importância nas mudanças políticas que
ocorreram. Assim, algumas medidas foram adotadas por Vargas para acalmar estas
preocupações da direita como a Lei de Segurança Nacional, a prorrogação e ampliação do
acordo militar Brasil-Estados Unidos e a Reforma Cambial de 1953. Estas puderam equilibrar
momentaneamente as dívidas do país.
Porém, o que se seguiu foi uma crise do setor externo da economia brasileira, indicada
pela ruptura da complementaridade entre o sistema agrário-exportador e a indústria, portanto,
uma crise cambial (esta gerada pela queda do preço internacional do café e consequentemente
das exportações brasileiras). Internamente, a marcha da inflação leva o movimento trabalhista
a reivindicar reajustes nos salários.
No governo de Café Filho, houve um rompimento com os projetos de Vargas,
retornando ao modelo convencional de obter “estabilidade através da contenção da demanda
global”, estabilidade essa que apenas reafirmava o papel do Brasil na DIT (Divisão
Internacional do Trabalho) como a “fazenda do mundo”. Por conta da crise que ameaçava a
indústria, renuncia-se a postura nacionalista da Era Vargas, concedendo ao capital estrangeiro
ampla liberdade de entrada e ação na indústria nacional.
A seguir, o autor aborda o governo de Juscelino Kubitschek e seu projeto de expansão
econômica: o Plano de Metas, marcado por intensa capitalização. Este que deixa
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consequências como o aumento da influência de grupos econômicos internacionais na


sociedade brasileira como um todo, e consequentemente sobre as relações existentes entre o
setor industrial e o agrário-exportador. Houve, nesta época, uma diminuição da contradição
entre esses dois últimos setores, e o que dá indício ao início de uma contradição
campo-cidade. A produção agrícola não era suficiente para atender à demanda da cidade,
fazendo com que parte da renda urbana fosse transferida para o campo. Fazendo um paralelo
com o texto "Cidade e Campo: Para Além Dos Critérios e Atributos, As Relações e
Contradições Entre O Urbano E O Rural", percebe-se, nesse período, uma inserção do modo
de vida da cidade, o urbano, no campo, acentuando cada vez mais a interdependência presente
nessa relação, diminuindo constantemente as suas diferenças (o que ocorre até os dias atuais).
A estrutura agrária arcaica brasileira entra em conflito com as necessidades sociais e
materiais da população brasileira, levando a uma necessidade urgente de reforma agrária.
Apoiada por boa parte dos grupos de esquerda, o próprio PCB ou até mesmo João Belchior
Marques Goulart (ministro do trabalho na Era Vargas e vice-presidente na era JK).
Jango irá assumir a Presidência da República logo após Jânio Quadros, em 1961.
Ressurgia, em seu governo, o panorama político da Frente Popular (como orientação
estratégica do Partido Comunista, antes tentada por Vargas), tendo como finalidade as
reformas de base (econômica, administrativa, agrária e etc). A política externa do governo de
Jango dava continuidade ao dinamismo de Jânio, porém, ao se tratar da política interna, havia
certa imobilidade. O estancamento da expansão industrial, embora houvesse equilíbrio nas
tensões sociais (por se tratar de um governo de caráter "mais popular", apoiado por
movimentos de esquerda e grupos de trabalhadores), representava uma baixa na taxa de
lucros, algo que não agradou a burguesia.
Em dezembro de 1962, Jango apresenta seu plano econômico, o Plano Trienal de
Desenvolvimento, que tinha a intenção de fazer frente à situação econômica do país (esta que
contava com a diminuição da taxa de crescimento do Produto Nacional e o descontrole nas
taxas de inflação. Tanto que uma das palavras que mais esteve na mídia e na boca do povo
nesse período era "deflação"), além de realizar as tais reformas estruturais. Mesmo diante de
todas essas promessas, o Plano Trienal de Jango falha, não por incompetência ou falta de
planejamento ou por se tratar de uma ideia ruim, mas sim por uma contradição que se
encontrava na base do governo: a curto prazo, o plano tratava-se de disciplinar o mercado,
precisando conter os movimentos das classes trabalhadoras. Isso significava um rompimento
com a marca de um governo popular, fazendo com que movimentos de esquerda como o PCB
se vissem obrigados a condenar o Plano Trienal.
Mais a frente, o tópico "A intervenção militar", o autor reforça o fato de que o
bonapartismo militar, o golpe de 1964 não foi causado somente pela intervenção
estadunidense, mas sim pelas condições materiais e sociais em que se encontrava o país. A
burguesia, que já não se agradava mais com o governo de Jango, apoia os militares (por isso é
chamada de ditadura empresarial-militar), sendo uma expressão disso a Marcha da Família
(movimento político que reuniu massas com o intuito de destituir Jango do cargo da
presidência. O medo até então era de que o país pudesse ser levado a um regime comunista).
A burguesia necessitava de um governo forte, algo que, no capitalismo, apenas a direita
consegue oferecer. Perdendo apoio das massas e da burguesia, Jango deixa um vazio no poder,
que logo foi preenchido pelos militares, que contavam com o apoio tanto da burguesia
nacional e internacional quanto do Pentágono estadunidense.
O período da ditadura inicia-se com o governo de Castelo Branco. Sua política
econômica tinha como objetivo a contenção de salários, a retenção de crédito e o aumento da
carga tributária. As exigências requeridas por esse desenvolvimento capitalista brasileiro se
resumiam a racionalização da economia. Já se tratando da política externa, buscava atender
tanto aos interesses (da burguesia) nacionais quanto à política de hegemonia mundial dos
EUA.
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Castelo Branco também havia criado um Plano Trienal (1964-66) que tinha como
objetivo reativar o nível decrescente do produto interno bruto e conter o aumento geral dos
preços. Porém, outra característica marcante do período ditatorial é a ação estatal reprimir
medidas estruturais. Essa política econômica de Castelo Branco beneficiou amplamente as
grandes empresas (tanto nacionais, quanto estrangeiras).
Ao final do texto, no tópico "Revolução e luta de classes", o autor comenta sobre o
verdadeiro caráter da revolução brasileira. Ele a toma como um processo vindouro, já que o
país vive em uma fase contrarrevolucionária. Porém, é errado tomar a população brasileira
como incapaz de realizar uma revolução, mas sim que as condições materiais e sociais não a
favorecem.
O desenvolvimento capitalista foi, na verdade, o que prolongou a vida do antigo
sistema semi colonial no Brasil, o levando a uma etapa subimperialista (como se fosse um
país imperialista do Sul global que atende às necessidades do imperialismo do Norte global).
Isso implicaria na impossibilidade de um desenvolvimento capitalista autônomo no país.

3. IMPRESSÕES PESSOAIS:

Embora, em uma opinião pessoal, o texto seja denso e nada introdutório sobre o
assunto, o fato de se tratar de uma espécie de um grande resumo sobre a história política
brasileira para explicar sobre a força das massas, das classes dominadas pela burguesia, faz
com que este se torne essencial para compreender, de fato, o caráter de uma revolução no
Brasil.
Cada período escrito pelo autor é relacionado a alguma tendência da economia ou
sociedade brasileira, o que torna o texto atual, uma vez que, em minha concepção, a fase
contrarrevolucionária perdura até os dias de hoje.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

● MARINI, R.M. Dialética do desenvolvimento capitalista no Brasil. IN


Subdesenvolvimento e revolução. Florianópolis: Insular: 2013.;
● TALASKA, Alcione; SILVEIRA, Rogério Leandro Lima da; ETGES, Virginia
Elisabeta. Cidade e Campo: Para Além Dos Critérios e Atributos, As Relações
e Contradições Entre O Urbano E O Rural.

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