Você está na página 1de 16

FUNDAMENTOS DO SERVIÇO SOCIAL:

QUESTÃO SOCIAL NOS ANOS 60-80

CAPÍTULO 4 - DITADURA MILITAR E A QUESTÃO


SOCIAL
Flávio José Souza Silva

68
Objetivos do capítulo
Ao final deste capítulo, você será capaz de:
• Conhecer os rebatimentos da crise do petróleo e a incidência sobre a economia brasileira.
• Refletir sobre o processo do agravamento das expressões da questão social.
• Pensar os índices socioeconômicos do período da ditadura militar.

Tópicos de estudo
• Política econômica do período militar.
• Resultados econômicos do período ditatorial.
• Inflação e poder de compra.
• O milagre econômico.
• Fundo monetário internacional (FMI).
• Indicadores sociais do período.
• Taxas de natalidade e de mortalidade.
• Analfabetismo e evasão escolar.
• Saneamento básico.
• Taxas de empregabilidade.
• Políticas sociais e o trato com a questão social.
• Política de habitação (BNH).
• Políticas voltadas à infância e à juventude.
• Política de saúde.
• Ditadura militar e a crise do petróleo.
• Programa de energias brasileiro.
• Programa nacional do álcool (Proálcool).
• Fortalecimento da Petrobras.

Contextualizando o cenário
O golpe militar de 1º de abril de 1964, apoiado pelo imperialismo estadunidense, por setores conservadores mais
importantes da hierarquia da Igreja Católica, pela burguesia internacional e nacional (principalmente aqueles da
indústria e os representantes do setor financeiro) e pelos proprietários dos grandes latifúndios, barrou o avanço da
organização e mobilização popular, que havia conquistado força para lutar por reformas de base.

O governo João Goulart (1961-1964) fora marcado por características que o colocavam em um espectro político à
esquerda, pois havia preocupação com a justiça social, mas também não tinha a propositura de romper
definitivamente com as amarras do modelo de produção capitalista. No entanto, uma das suas marcas fora o
progressismo, assim, o golpe militar mostrou a resistência do capitalismo às reformas de base, e sobretudo, a de
superação da desigualdade social.

Com a instauração do regime de exceção, novas políticas de Estado foram estruturadas, desse modo, vamos
conhecer os rebatimentos da crise do petróleo e a incidência sobre a economia brasileira, refletir sobre o processo
de agravamento das expressões da questão social, e, por fim, pensar os índices socioeconômicos do período da
ditadura militar. Diante disso, surge a seguinte questão: qual a vinculação entre o projeto de nação, desenvolvido
no período ditatorial, e o agravamento das expressões da questão social?

69
4.1 Política econômica do período militar
O golpe militar, impetrado no Brasil, em 1º de abril de 1964, marcou a necessidade dos setores reacionários e
conservadores do nosso país em barrar o progressismo, que marcou o governo João Goulart (1961-1964). Em um
contexto histórico de disputas ideológicas e políticas, fruto da Guerra Fria, a direção apontada pelo regime era a de
barrar possível guinada à esquerda do Brasil, implodindo, assim, a suposta ameaça comunista.

Fonte: © Cloudy Stock / / Shutterstock.

Assim, a repressão atingiu, de imediato, os setores que vinham ganhando destaque, como bem salienta Santos
(2012, p. 87), sendo estes caracterizados “(...) por posições nacionalistas e de esquerda, no período anterior, a
exemplo dos estudantes, das universidades, das ligas camponesas e dos sindicatos com esse perfil”.

O regime ditatorial brasileiro, portanto, trazia consigo um projeto de sociedade que barrava a propositura de
reformas de base, apostando, então, em uma política econômica pautada na necessidade de medidas austeras
para recuperação da economia. Segundo o jargão usado por Delfim Netto, que fora ministro da fazenda, esperava-
se o bolo crescer para, posteriormente, ser repartido entre todos (SANTOS, 2012).

70
CURIOSIDADE
O ministro biônico, comum na ditadura militar, era um profissional que deveria atender a todas
demandas impostas pelos interesses do exército. Além disso, ele tinha indicação direta dos
governos militares.

Neste sentido, a primeira década do regime lutou para controlar a inflação, com medidas ortodoxas estruturadas
no governo Castelo Branco (1964-1967), que possibilitou o aumento significativo do Produto Interno Bruto (PIB) de
3,4%, em 1964, para 14% em 1973. Contudo, 1974 marcou o início do declínio daquilo que fora conhecido como o
milagre brasileiro. Diante disso, analisaremos as consequências desta política econômica a seguir.

4.1.1 Resultados econômicos do período ditatorial

A política econômica do governo ditatorial, como visto, pautou a possibilidade concreta de, em 1973, o PIB do
Brasil alcançar o crescimento real de 14% ao ano (o crescimento mais alto até hoje registrado). Em contraste,
apesar do país alcançar um suposto milagre, não havia distribuição de renda entre as camadas mais populares.

PAUSA PARA REFLETIR


A distribuição de renda, em um contexto ditatorial, poderia ser possível?

Assim, o ano de 1974 marcou o início da decadência do milagre brasileiro. Neste contexto, Ernesto Geisel (1974-
1979) assumiu a presidência e isso foi recebido com o “(...) descenso dos índices de crescimento econômico,
esvaindo-se o principal pilar de sustentação do regime, que já não poderia calar setores decisivos como a classe
média” (SANTOS, 2012, p. 89).

Os resultados econômicos do período ditatorial brasileiro foram expressivamente ruins, caracterizados pelo:
achatamento do salário mínimo, que estruturou uma política de governo que concentrava renda; o aumento da
desigualdade social e da violência; e a inflação, que no governo Figueiredo (1979-1985), chegou aos alarmantes
235%. Resultando, para a população brasileira, um contexto de muita dificuldade econômica, social que convivia
com um regime político sem participação popular.

71
Fonte: © Monster Ztudio / / Shutterstock.

Logo, os resultados econômicos do período ditatorial se intuiriam, de forma mais concreta na década de 1980,
sendo esta conhecida como década perdida, de acordo com Fausto (1997). A seguir, focaremos em duas
consequências do período: a inflação e o poder de compra.

4.1.2 Inflação e poder de compra

Os resultados objetivos da avassaladora crise do chamado milagre brasileiro expressaram a decaída de diversos
índices sociais e econômicos do país, fazendo com que, cerca de 21,7% da população brasileira, ao final do regime
ditatorial, estivessem situados na extrema pobreza, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA, 1992).

Fonte: © panitanphoto / / Shutterstock.

72
A inflação, registrada na década de 1981, ou seja, na década perdida, saiu de 91,2% e alcançou, em 1985, 217%. A
brutalidade da crise econômica no final do período ditatorial foi sentida nas mais variadas dimensões da vida
social, intensificando a desigualdade social no país. Ao mesmo passo, por meio da crise do regime ditatorial foi
possível a reestruturação das lutas sociais que apontaram para a redemocratização do país.

ESCLARECIMENTO
A inflação refere-se ao aumento dos preços de bens e de serviços, a qual é medida pelos índices
de preços.

Com a inflação chegando a níveis brutais, no final do período ditatorial, o poder de compra do salário mínimo
sofreu um verdadeiro arrocho (encolhimento), chegando ao corte real de 50% em 1985 (SANTOS, 2012). Foram
precisos 30 anos para restaurar uma política de salário mínimo que pudesse, realmente, suprir as necessidades
básicas da grande parcela de trabalhadores no Brasil.

A seguir, trataremos do milagre econômico, apontado as suas principais características.

4.1.3 O milagre econômico

O chamado milagre econômico corresponde a um período histórico entre os anos de 1969 até 1973, momento em
que a economia brasileira cresceu cerca de 11,1% durante todo este período. O PIB brasileiro, nos anos de 1969,
fechou em 9,8% naquele ano. Já em 1973, o PIB chegou alcançou 14%, o maior índice registrado na época
(SANTOS, 2012). Para melhor sistematização e fixação destes dados, observe a imagem a seguir.

Características principais do milagre econômico brasileiro

73
Outra expressão deste milagre foi a queda da inflação de 25,5% ao ano para 15,6%. Isto possibilitou o
desenvolvimento da indústria, durante esse período histórico.

Traço também notório do período foi a entrada no capital financeiro no país, por meio de investimentos diretos
que aumentaram as exportações, em um momento de expansão da economia internacional da nação. Outro
elemento, importante para entender este contexto, estaria na facilidade de captação de empréstimos
internacional, possibilitando o investimento em setores estratégicos no país. Porém, a ditadura militar elevou a
dívida pública em 32 vezes o seu valor inicial.

Apesar destes ótimos índices, o milagre contrastou forte concentração de renda, assim como protagonizou um dos
momentos de maior endurecimento do regime: o Ato Inconstitucional Cinco (AI-5), em 1968. Este representou um
dos momentos mais duros da ditadura no Brasil.

ESCLARECIMENTO
O Ato Inconstitucional Cinco (AI-5) é conhecido como o golpe mais duro do regime ditatorial
brasileiro e foi promulgado pelo General Costa e Silva (1967-1969), em 13 de dezembro de 1968
(SANTOS, 2012).

A seguir, veremos o principal financiador e cobrador da dívida pública brasileira.

4.1.4 Fundo Monetário Internacional (FMI)

O Fundo Monetário Internacional (FMI), foi fundado pela Conferência de Bretton Woods, no Estados Unidos da
América, em 1944, tem o intuito de garantir a estabilidade e o comércio internacionais. Neste sentido, a principal
finalidade do FMI é emprestar dinheiro aos países em desenvolvimento. Sabe-se que a relação entre o Brasil e o FMI
é isenta de conflitos, porém, nota-se que em todas as mudanças de governo essa relação também sofre alterações.

Fonte: © Atstock Productions / / Shutterstock.

74
O regime militar permaneceu, em síntese, seguindo as boas relações com o FMI. Na primeira fase, o Brasil era
independente da entidade, graças aos altos investimentos públicos em infraestrutura. Porém, com a crise mundial
do petróleo, em 1979, o financiamento que permitia ao país bancar estes investimentos começou a minguar. Este
momento, é marcado pelo contexto da decadência do milagre brasileiro.

PAUSA PARA REFLETIR


Será que o Fundo Monetário Internacional se preocupa com o desenvolvimento social dos países
para os quais empresta dinheiro?

É neste contexto, portanto, que a dívida pública brasileira cresceu e, ao fim do regime militar, alcançou 32 vezes o
valor inicial.

4.2 Indicadores sociais do período


Os indicadores sociais, hoje públicos, expressam a veracidade do que aconteceu no período ditatorial. Como é
sabido, os dados eram manipulados, tendo em vista a necessidade do regime de ocultar o desastre econômico e
social que a ditadura causaria com o fim do milagre econômico potencializado pela crise do petróleo em 1973.

Neste sentido, a necessidade de recorrer aos indicadores sociais, tornou-se importantíssima, tendo em vista o
conhecimento real dos efeitos da ditadura social no aumento da desigualdade social, ou seja, extrema pobreza,
concentração de renda e de terras, mobilidade urbana precária, e desigualdade regionais.

Fonte: © Daniel2528 / / Shutterstock.

A seguir, analisaremos as taxas de natalidade e de mortalidade do período.

75
4.2.1 Taxas de natalidade e de mortalidade

A construção do Sistema Único de Saúde (SUS) data a partir da Promulgação da Constituição Federal, em 1988.
Logo, durante o regime ditatorial, não havia nada parecido com o SUS no Brasil. Para ter acesso aos serviços
públicos de saúde, era necessário ter carteira de trabalho assinada, que recolhia a contribuição para o antigo
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

ESCLARECIMENTO
O Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) surgiu em 1966, quando todos os Institutos de
Aposentadorias e Pensões (IAP) foram unificados. A entidade compunha, assim, o que se
conhecia como medicina previdenciária. (OLIVEIRA, 1986)

Assim, metade da população brasileira que não possuía emprego não tinha acesso à saúde previdenciária, já que
esta modalidade somente era adquirida pelos que contribuíam com o INPS. Como expressão deste não acesso da
população à saúde, a taxa de crescimento vegetativo apresentou-se enquanto um dilema neste momento
histórico.

Isto porque, em 1968, o índice de mortes entre cada mil nascidos foi de 89,62%. Este dado, no entanto, só
considerava uma média pelas capitais do país, no entanto, as estatísticas dos Estados da região Nordeste,
configuravam uma problemática muito mais alarmante, tendo em vista que o regime ditatorial tratou de aumentar
a desigualdade entre as regiões do país.

E os problemas não se resgaram apenas nisso. Veremos a seguir, a questão do analfabetismo e da evasão escolar.

4.2.2 Analfabetismo e evasão escolar

A ditadura militar, para além da censura, repressão e da suspensão das liberdades individuais e coletivas, também
se caracterizou pelos altíssimos níveis de analfabetismo e de evasão escolar. Os investimentos em educação básica
eram baixos e, mesmo tendo um avanço do ensino fundamental, não havia estrutura que possibilitasse a
consolidação de uma melhora no longo prazo.

76
Fonte: © Nowaczyk / / Shutterstock.

Segundo dados apontados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,), em comparação aos anos de
1968 a 1974 (período que corresponde ao milagre), a cada 100 crianças 24 não sabiam nem ler e muito menos
escrever. Esta pesquisa do IBGE concentrou-se na faixa etária entre 10 a 14 anos.

A frequência na escola também era bem menor, em 1970. Por exemplo, entre as crianças e os adolescentes na faixa
etária dos 10 aos 14 anos, apenas 67,1% estavam nas escolas. Em relação ao grupo entre 15 a 17 anos, apenas 40%
estavam matriculadas e frequentando o ensino tradicional. Neste sentido, os índices educacionais correspondem a
paralisia no acesso, manutenção e ampliação da oferta de políticas educacionais para a população brasileira.

A seguir veremos outros índices, desta vez, os que dizem respeito ao saneamento básico.

4.2.3 Saneamento básico

Como sabemos, no período ditatorial, não havia nada parecido com o atual SUS. A saúde pública estava associada
a três fatores. Para conhecê-los clique nos ícones a seguir.

As casas de Misericórdias, para os que não poderiam pagar pelos serviços.

À saúde do trabalhador, para os que tinham emprego.

A saúde previdenciária, para os que contribuíam com a Previdência.

Assim, o nível de calamidade na saúde pública era alarmante.

77
Diante disso, o agravamento de infecções também estava associado ao não planejamento dos grandes centros
urbanos, sobretudo, com a ausência de uma política nacional de saneamento básico que atendesse e possibilitasse
qualidade de vida à população. Desse modo, em decorrência do grande êxodo rural (grande parte da população
migrou para as zonas urbanas), proporcionado pelo regime ditatorial, viu-se que as cidades não estavam
estruturadas para um aumento tão significativo de contingente.

Assim, com a implementação do golpe, os governos militares se sentiram obrigados a intervir no saneamento
básico das cidades. Portanto, a partir do Plano Nacional de Saneamento (PLANASA), o governo iniciou uma
política pública que visava melhorar a qualidade de vida dos moradores dos centros urbanos. A implementação do
PLANASA aconteceu em 1971, significando uma revolução no tratamento de água e esgoto durante o regime.

A seguir, traremos alguns dados sobre as taxas de empregabilidade do período.

4.2.4 Taxas de empregabilidade

Vimos que a ditadura militar combinou, por meio do milagre, uma recuperação interessante da economia
brasileira, sendo ela, expressão, sobretudo, das possibilidades concretas de captação de empréstimos
internacionais, assim como, da boa relação com o FMI. Porém, com o cenário de crise do Petróleo, em 1973, o
milagre brasileiro começou a ruir já no ano seguinte.

PAUSA PARA REFLETIR


Por que uma crise internacional se expressa em nosso país de uma forma tão clara a ponto de
ruir a melhoria da qualidade da nossa economia?

Nota-se que o desemprego sempre foi uma característica marcante da estrutura da economia brasileira (SANTOS,
2012). No entanto, durante o regime ditatorial, as taxas de empregabilidade aumentaram. Contraditoriamente, o
achatamento dos salários, bem como a perda do poder de compra foram consequências do desastre do fim do
ciclo expansionista propiciado pelo milagre econômico.

A seguir, iremos apreender como a estruturação das políticas sociais orientavam o tratamento com a questão
social.

4.3 As políticas sociais e o trato com a questão social


O modelo de proteção social, adotado pelo regime ditatorial, entre os anos de 1960 até meados dos anos 1970,
abandonou o projeto populista marcado pela Era Vargas. Como já fora dito, era uma necessidade barrar os avanços
e a organização das classes populares em torno de reformas de base.

Logo, como destaca Santos (2012), esse contexto impossibilitou a participação popular, propagou forte repressão
aos sindicatos e a todos os questionamentos sociais. A ditadura militar, assim, efetuou forte modernização
conversadora nas políticas sociais, tecnocratizando-as, possibilitando, então, a ampliação disso, visando ao
impedimento da eclosão da questão social (NETTO, 2011).

Dessa forma, as políticas sociais foram funcionais ao regime ditatorial, buscando encobrir a dureza dos anos de
chumbo e, procurando, também, a construção de legitimidade pública.

78
Na sequência, veremos como se estruturou a política nacional de habitação.

4.3.1 Política de Habitação (BNH)

O Banco Nacional de Habitação (BNH) foi construído no primeiro governo Militar - de Castelo Branco (1964-1967),
caracterizando a implementação do Sistema Financeiro da Habitação. A proposta desta política de habitação
consistia na modernização urbana por meio da construção de novas casas e com a valorização do capital
internacional.

Para melhor fixação desses dados, observe a sistematização a seguir.

Marcos da implementação da política de habitação no período ditatorial

Como pode ser visto na esquematização, a construção do BNH esteve associada ao primeiro governo militar, o de
Castelo Branco, que foi o responsável por implementar o sistema Financeiro de Habitação no Brasil.

O objetivo da política habitacional, em síntese, deveria ser o da busca por sujeitos qualificados e que estivessem
aptos a pouparem e a pagarem pelo financiamento de suas casas. Porém, ao mesmo passo que se buscava isso, o
regime também queria construir consensos, cujos trabalhadores contemplados pela política habitacional
pudessem defender e referendar o regime. Assim, o modelo de moradia popular fazia com que os trabalhadores se
comprometessem com a ditadura e com a propriedade privada.

A seguir, iremos trabalhar as políticas voltadas à infância e à juventude, mostrando o quanto as políticas sociais
estiveram associadas, não apenas ao combate por via da força e da repressão policial, mas na construção de
consensos.

4.3.2 Políticas voltadas à infância e à juventude

A estrutura das políticas sociais, como já observado, com a instauração do regime militar, sofreu várias alterações,
se a compararmos ao período reconhecido como democrático (FAUSTO, 1997). Foi já em 1964, que a Escola
Superior de Guerra, por meio da Doutrina de Segurança Nacional, criou a Política Nacional de Bem-Estar do Menor
(PNBEM).

A PNBEM, por sua vez, seria responsável por introduzir a rede nacional da Fundação do Bem-Estar do Menor
(FUNABEM). A entidade trazia a proposta de uma política nacional à infância e à juventude, em um contexto
histórico em que a orientação das políticas públicas seria dada pela repressão e pela violência. Como aponta
Rizzini (1995, p. 160), havia “(...)distância existente entre crianças e menores no Brasil, mostrando que crianças
pobres não tinham sequer direito à infância. Estas estariam em situação irregular".

79
Fonte: © Incredible_backgrounds / / Shutterstock.

Para melhor apreensão, em torno da construção das políticas públicas voltadas à criança e à juventude, vejamos a
seguinte esquematização:

Políticas públicas voltadas à criança e à juventude

Neste sentido, a ditadura militar deixou suas características, no tocante às práticas que violam os direitos humanos
de crianças e adolescentes ainda, até os dias atuais, são usuais por meios dos resquícios de uma política autoritária
e violenta do Estado brasileiro.

A seguir, iremos tratar de outra política pública: a da saúde.

4.3.3 A política de saúde

Vimos ao longo dos nossos estudos que o Sistema Único de Saúde (SUS) é uma conquista da Constituição Federal,
de 1988. Antes dela, havia vários modelos de saúde, sem propriamente orientação pública, e focadas em setores
específicos da população. A grosso modo, para ter acesso aos serviços de saúde, em geral, era necessário ter
dinheiro para pagar pelo serviço. Quem não tinha, recorria às Casas de Misericórdia, sustentadas pela filantropia da
Igreja Católica (PAIM, 2009).

Durante o período do milagre econômico, as mazelas sociais foram escondidas, tendo em vista o avanço que a
economia brasileira alcançou, chegando aos 14% de crescimento do PIB em 1973. No entanto, com a crise do
petróleo, o período expansionista mostrou que nada tinha de milagrosa. Somente no estado de São Paulo, em
1973, de mil crianças nascidas noventa morriam; 72% das pessoas que morriam no país, tinham menos de 50 anos

80
de idade. Doenças como chagas, tuberculose, hanseníase e tantas outras eram verdadeiras epidemias que
eclodiram com o fim do período expansionista (PAIM, 2009).

PAUSA PARA REFLETIR


O milagre econômico ao possibilitar avanços econômicos possibilitaria, também, diminuição das
desigualdades sociais?

Nota-se, neste sentido, que a política do abandono, orientação em que as elites brasileiras organizavam as políticas
públicas, trouxeram resultados assustadores para a política de saúde brasileira. Assim, segundo Paim (2009), havia
uma verdadeira desorganização na política pública brasileira, que só seria melhor pensada a partir de 1988, com a
criação do SUS.

A seguir, trataremos da crise do petróleo na ditadura.

4.4 Ditadura militar e a crise do petróleo


A ditadura militar brasileira, como vimos, vivenciou possibilidades concretas de estímulo à economia e de
desenvolvimento do país, em alguns setores, graças ao momento histórico internacional que possibilitou o
aquecimento da economia. Como dito, era um momento econômico que facilitava investimentos internacionais no
país.

No entanto, com a crise do petróleo, em 1973, a expressão concreta disto seria o fim do milagre econômico
brasileiro, expressando para a sociedade que, na verdade, esse não modificou a estrutura desigual do país, mas,
contraditoriamente, reforçou as desigualdades e a concentração de riquezas.

Neste sentido, a partir de agora, trataremos das expressões deste cenário no Brasil.

4.4.1 Programa de energias brasileiro

Com a implementação do golpe militar, em abril de 1964, havia também a preocupação da construção de um
modelo de Estado que atendesse aos interesses do regime. Neste sentido, várias reformas foram propostas, para
que, assim, possibilitasse ao aparato estatal ter o controle e enfraquecer a luta social.

Como sinalizamos, o ano de 1973 foi o momento em que a crise do petróleo aflorou e expressou, para a ditadura
militar, o fim do ciclo do milagre econômico. A partir disso, havia a necessidade de reorientação da política
econômica brasileira no tocante, especialmente, ao padrão de industrialização, que pudesse afastar-se dos
derivados do petróleo e apostar em novas formas de energia (FAUSTO, 1997). Para melhor fixação deste conteúdo,
vejamos a seguinte esquematização:

81
Características principais e repercussões da crise do petróleo sobre a política econômica brasileira

A crise do petróleo, assim, impulsionou o fim do milagre econômico brasileiro que, por consequência, exigiu a
reorientação da política industrial brasileira e a construção de alternativas de energias no país.

O crescimento industrial e econômico do Brasil, a partir do milagre econômico, foi extremamente significativo e
havia a necessidade de permanecer com estes indicadores. Assim sendo, uma das possibilidades foi a
diversificação da matriz energética brasileira, em sintonia com o que propunha o II Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND). Neste sentido, o PND orientaria o Programa de Energias Brasileiro a diminuir a
dependência de fontes externas de energia, preocupando-se, basicamente, em ampliar e fortalecer o uso de
energias dentro do país.

A seguir, iremos debater o Programa Nacional do Álcool (Proácool), oriundo, neste contexto, de construção de
energias alternativas ao petróleo.

4.4.2 Programa nacional do álcool (Proácool)

Como proposta de criar uma política de governo que estimulasse a produção alternativa de combustíveis e
substituísse o uso de derivados do petróleo, o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) foi desenvolvido em 1975.
Como sabemos, com a crise do petróleo, que se iniciou em 1973, houve consequências sérias para a produção
industrial no país, que vinha crescendo em larga escala.

O objetivo do Proácool, basicamente, era o de estimular a produção de álcool, buscando atender às necessidades
de mercado interno e externo, assim, como a de uma política de combustíveis automotivos no país. Portanto,
alternativas concretas estavam sendo buscadas para que diminuíssem a dependência da indústria e do uso
automobilístico de derivados de petróleo.

Assim, o Proácool permanece enquanto política energética no Brasil até os dias atuais, como uma possibilidade
concreta de desenvolvimento, estudos e elaboração de combustíveis que sejam alternativos à dependência
exclusiva dos derivados do petróleo.

A seguir, por fim, iremos discutir a necessidade do fortalecimento da Petrobrás.

4.4.3 Fortalecimento da Petrobrás

Os impactos causados pela crise do petróleo tensionaram, como visto, a necessidade da construção de uma
política de governo que pudesse pensar em alternativas concretas para dependência externa deste combustível. É
a partir deste contexto histórico que surgiu a necessidade de uma política de governo contínua, de largo
crescimento conquistado pelo Brasil, como fruto do que foi o milagre econômico.

Assim, o plano nacional do desenvolvimento (PND), além de apontar para necessidade de reformas substanciais no
Estado, com o intuito, sobretudo, de enfraquecimento e controle da participação popular, preocupou-se com o
fortalecimento da Petrobrás, buscando, assim, construir uma empresa estatal que fosse altamente competitiva e
que possibilitasse uma certa autonomia em relação às grandes empresas multinacionais.

82
Proposta de atividade
Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore um Mapa Conceitual, procurando
destacar as principais ideias e períodos históricos abordados ao longo do capítulo. Ao produzir seu mapa
conceitual, considere as leituras básicas e complementares realizadas.

Recapitulando
A ditadura militar brasileira representou, sem sombras de dúvidas, um momento na nossa histórica marcada pelo
horror, pela tortura, pela corrupção e pela censura. A questão social, em um contexto tão adverso como este,
sofreu um tratamento de polícia, em sua primeira fase, depois passando por uma revisão e virando um assunto do
Estado, que se preocupo em intervir, elaborando novas formas de dominação.

Neste sentido, o projeto de nação, desenvolvido pelo regime ditatorial, agravou as expressões da questão social,
tendo em vista que este projeto, em nenhum momento, atingiu a essência da desigualdade social que fundou o
nosso país forjado nos privilégios da alta concentração de terras e de riqueza. A distribuição de renda, pelo regime
ditatorial, nem se quer foi pensada enquanto estratégia de dominação, já que o regime expressou a consolidação
das desigualdades sociais e de um Estado autocrático, reverberando a essencialidade desigual da nação.

Para o financiamento da reforma do Estado, buscou-se o financiamento, pelo Fundo Monetário Internacional, que
não se atenta ao desenvolvimento social dos fundos emprestados, mas, apenas, com o pagamento da dívida
adquirida, já que há a necessidade de investir em capital financeiro. A crise do petróleo, assim, mostrou a sua
internacionalização, mesmo acontecendo fora do nosso país, expressou-se em nosso país, pondo fim ao milagre
econômico, que, embora avançasse no desenvolvimento da economia brasileira, aumentaria as desigualdades
sociais, referendando, assim, um passado marcado pela alta concentração de renda e de terras.

Referências
FAUSTO, B. História do Brasil. 5. ed. São Paulo: Edusp, 1997.

NETTO, J. P. Ditadura e serviço social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. 16. ed. São Paulo: Cortez,
2011.

OLIVEIRA, J. A. A. Previdência Social: 60 anos de História da Previdência no Brasil. Rio de Janeiro: Vozes, 1986.

PAIM, J. S. O Que é o SUS? Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009.

RIZZINI, I. A Criança e a lei no Brasil: revisitando a história (1822-2000). Rio de Janeiro: Unicef, Cespi/USU, 2000.

SANTOS, J. S. Questão Socia”: particularidades no Brasil. São Paulo, Cortez: 2012.

SILVA, L. C. E. O que Mostram os Indicadores sobre a Pobreza na Década Perdida. In: Texto para discussão do IPEA.
Rio de Janeiro: IPEA, n. 274, ago.1992. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs
/td_0274.pdf>. Acesso em: 28/06/2019.

83

Você também pode gostar