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07/08/2017 O mito do milagre econômico da ditadura militar

O mito do milagre econômico da ditadura militar


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11/12/2016

É comum a alegação de que entre 1968 e 1973 ocorreu a fase do “milagre econômico
brasileiro”. Durante aquele período, o país foi governado pelos ditadores Costa e
Silva e Emílio Médici, mas foi o presidente Castelo Branco, que, logo no primeiro
ano do regime militar (1964), preparou o terreno para o desenvolvimento posterior, ao
lançar o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG).

As medidas do PAEG, auxiliadas pelo contexto internacional, propiciaram a


concretização do alegado “milagre econômico”. Com a inflação operando em queda
durante todo o período, a economia do país cresceu, em média, 10,2% ao ano e o
crescimento anual do PIB saltou de 9,8% ao ano em 1968 para 14% ao ano em 1973.
Esta fase estável da economia, defendida por Delfim Netto com o slogan “primeiro fazer o ‘bolo’ crescer, para
depois dividi-lo”, ocorreu paralelamente aos chamados “anos de chumbo“. Este fora o período mais repressivo da
ditadura, iniciado pela edição do AI-5, no fim de 1968. Tais fatores corroboraram para um expressivo aumento na
concentração de renda.

O ambiente de repressão política e de sindicatos sufocados favoreceu o arrocho salarial, especialmente do


salário mínimo, colaborando para o crescimento do “bolo” de Delfim: o setor privado fazia grandes investimentos,
financiados pela folga financeira proporcionada pela redução de custos da folha de pagamento, além de usufruírem
dos favores concedidos pelos militares a determinados setores econômicos. Esse arrocho foi um vetor importante
do modelo econômico implantado. Nos 21 anos do regime, o salário mínimo perdeu, em termos reais, mais de 50%
do seu valor. “Todo esse controle administrativo sobre os salários, viabilizado pela repressão política, logrou reduzir
a participação do trabalho, especialmente o não-qualificado, na renda nacional, aspecto catalisador do crescimento
da desigualdade social”, explicou Ricardo Zórtea Vieira, mestre e doutorando em Economia Política
Internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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Segundo o estudo feito por Pedro Ferreira de Souza, pesquisador do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) e da UnB, em 1965, a fração recebida pelo 1% mais rico, considerando apenas os rendimentos
tributáveis brutos (só o passível de pagar tributo), era cerca de 10% do “bolo” total. Apenas três anos depois, a cifra
foi a 16%. A cifra alcançou 16% em apenas três anos.
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Por sua vez, o setor público financiava seus investimentos por meio do endividamento externo, aprofundando as
características de uma economia dependente e subordinada. O petróleo, importado a preços baixos no período,
impulsionava ainda mais a economia nacional. Mas, em 1974, ocorreu o primeiro choque do petróleo, quando seu
preço foi elevado abruptamente. “Nessa época, o Brasil ainda não produzia petróleo, e com o enorme salto no
preço dos barris, o governo precisou retirar recursos de programas de desenvolvimento, além de se endividar
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muito, para poder comprá-los”, como narra o professor, mestre em Ciência Sociais e Educação e pós-doutor em
História e Política, José Eudes, acrescentando que essa crise também provocou uma aceleração da taxa de
inflação no mundo todo, principalmente no Brasil, passando de 15,5%, em 1973 para 34,5% no ano seguinte.

O milagre logo se transformava em pesadelo. Ao fim do regime, a dívida externa passou de cerca de US$ 3
bilhões, em 1964, para quase US$ 100 bilhões, em termos nominais. Para pagar essa dívida, eram usados 90% da
receita oriunda das exportações, e o Brasil assim entrou numa fortíssima recessão econômica, que duraria até a
década de 1990.

A maior consequência foi o elevado desemprego, que se agravou com o passar dos anos e apenas declinou nos
anos 2000. A inflação, que já era alta nos tempos de João Goulart, disparou. Ocorreram grandes movimentos
migratórios, de Norte e Nordeste para São Paulo e Rio de Janeiro. e do campo para as cidades. Sem empregos,
renda e direito à moradia nas cidades, que representavam sonho e esperança, as favelas surgiram como uma
alternativa, mas também como um problema urbano e social. Era o fim da utopia dos militares de um “Brasil
Grande Potência”.
07/08/2017 O mito do milagre econômico da ditadura militar

Dívida externa – Fontes: IGP-DI/FGV (1948-1979), IBGE, BCB-Depec.

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